30 de março de 2010

Palavras de Fé

"Ás vezes, se obtém mais depressa com uma breve oração, o que dificilmente se alcançaria com boas obras".

São Boaventura


29 de março de 2010

SEXTA-FEIRA SANTA - CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR

Enquanto o Esposo dorme, a esposa se cala. Assim, na Sexta-feira Santa e no Sábado Santo, a igreja não celebra os Sacramentos. Debruça-se totalmente sobre o sacrifício da Cruz por meio de uma Celebração da Palavra de Deus. Neste dia, a Liturgia deseja beber diretamente da fonte. Abre a celebração num gesto de humildade. Os ministros prostram-se em silêncio diante do altar e, em seguida, o Presidente, sem mais, diz a oração do dia.

Segue-se a Liturgia da Palavra, onde se destaca a proclamação da Paixão de Jesus Cristo segundo João (Jo 18,1-19,42). Nela aparece o Cristo Senhor, o Cristo Rei, o Cristo vitorioso que vai comandando os diversos passos da Paixão. Entrega-se livremente, faz os guardas caírem por terra e, depois de tudo consumado, entrega o espírito ao Pai. Na morte ele é glorificado. Submete-se à morte para deixar-nos o exemplo de reconhecimento de nossa condição humana de criaturas mortais. Na Liturgia da Palavra, a Igreja curva-se sobre o mistério da Cruz.

A resposta é dada em três momentos. Temos, primeiramente, a Oração universal, realmente ecumênica. A Igreja pede que a fonte de graças que jorra da Cruz atinja a todos, Vai, então, alargando suas intenções. Reza pelo Papa, os bispos e todo o clero, os leigos e os catecúmenos; pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não crêem em Cristo, pelos que não crêem em Deus, mas manifestam boa vontade, pelos poderes públicos, por todos que sofrem provações.

Tendo acolhido a todos no amor reconciliador de Cristo, a Igreja enaltece a árvore da vida, que floriu e deu fruto, restituindo o paraíso à humanidade. É o ritoo da glorificação e adoração da Cruz, seguido do ósculo.

Finalmente, ela se atreve a comer do fruto da árvore, o Pão vivo descido do céu, a sagrada Comunhão como prolongamento da Missa da Ceia do Senhor.

Neste dia não há rito de bênção e envio. Cada participante é convidado a permanecer com Maria junto ao sepulcro, meditando a Paixão e Morte do Senhor até que, após a solene Vigília em que espera a ressurreição, se entregue às alegrias da Páscoa, que transbordarão por cinqüenta dias.

Na Liturgia das Horas e na piedade popular tem início a comemoração da Sepultura do Senhor. Temos o Descendimento da Cruz, seguido da Procissão do Senhor morto, na esperança da ressurreição. Na Liturgia das Horas, merece especial atenção a leitura patrística, em que se narra o enternecedor diálogo entre Cristo, que desceu à mansão dos mortos, e Adão.

28 de março de 2010

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

As testemunhas da Paixão

No ciclo do Ano litúrgico B a Liturgia proclama no Domingo de Ramos e da Paixão a narração da Paixão de Jesus segundo Marcos. Ela distingue-se pelas testemunhas oculares da Paixão. São cinco vezes três testemunhas (cf. Mc 14,1-15,47). A narração da Paixão como tal é precedida, na forma mais longa, pela unção na casa de Simão, a última Ceia, a agonia no Getsêmani, a prisão de Jesus e a negação de Pedro.

A história da Paixão e Morte de Jesus Cristo não é algo distante ou sem interesse. Toda a humanidade e cada indivíduo estão envolvidos nela, dela participam de alguma maneira e dela são chamados a darem testemunho.

Cada pessoa humana pode representar a mulher que tinge o corpo de Jesus, praticando uma obra boa, merecendo sua ação ser recordada onde se proclame o Evangelho (cf. Mc 14,9). Poderá exercer o papel de Judas que se desespera ou o de Pedro que nega o Mestre, mas se deixa atingir pelo olhar misericordioso de Cristo (cf. 14,72). Pode acontecer que façamos o papel de Pedro, Tiago e João. Em vez de vigiarem, adormecem enquanto o Mestre sofre a agonia da sua hora. Seremos talvez, em certas circunstâncias da vida, as testemunhas falsas, os sumos sacerdotes, os anciãos e os escribas,
que não reconhecem nele o Filho de Deus bendito nem o Filho do Homem que verão sentado à direita do Poderoso. Quantas vezes, em vez de ungir o corpo do Senhor, n’Ele cuspimos, cobrimos-lhe o rosto e o esbofeteamos como se não o conhecêssemos.

De repente se manifesta em nós a figura de Pilatos. Ficamos impressionados com a figura de Jesus Cristo, mas, por covardia, acabamos por condená-lo. Seremos ainda o povo, preferindo Barrabás a Cristo. Quantas vezes a humanidade cobre o Filho do Homem de zombarias como os carrascos no interior do pátio do Pretório, não reconhecendo n’Ele o Filho de Deus. Por vezes, talvez contra a vontade, fazemos o papel de Simão Cireneu, ajudando a carregar a cruz de Cristo, pesando nos ombros da humanidade injustiçada e sofrida hoje. Em vez de água, oferecemos-lhe vinho com mirra.

Cada pessoa já terá sentido em si o conflito entre o personagem que faz o Cristo sofrer mais e aquele que se solidariza e procura aliviar os seus sofrimentos. Importa que no Filho do Homem, em cada pessoa humana, reconheçamos como o Centurião: “De fato, este homem era Filho de Deus”. Importa que permaneçamos com o Cristo mesmo no alto da cruz como aquelas mulheres fiéis e corajosas, que prestemos o serviço ao corpo morto de Cristo, como José de Arimatéia, para que, ungido, possa nascer nova vida da terra.

25 de março de 2010

MENSAGEM DE PÁSCOA

Amados fiéis,

É PÁSCOA... É A MAIOR FESTA CRISTÃ! É TEMPO DE RESSURREIÇÃO!

PÁSCOA é tempo de graça. É tempo de meditar, celebrar, sofrer, morrer e RESSUSCITAR COM CRISTO. É tempo de meditar, de buscar, de agradecer, de plantar a paz. É tempo de oração. É tempo de abrir os braços, de dar as mãos e de ser mais irmão.

PÁSCOA é tempo de recomeçar, de libertar, de passar... Das trevas para a LUZ, do ódio para o PERDÃO, do egoísmo para o AMOR, da morte para a VIDA ETERNA.

PÁSCOA é ser capaz de mudar. É partilhar a vida na esperança. É lutar para vencer toda sorte de sofrimento. É ajudar mais gente a ser gente. É viver em constante libertação. É crer na vida que vence a morte.

PÁSCOA é dizer sim ao amor e à vida. É investir na fraternidade. É lutar por um mundo melhor. É vivenciar a solidariedade.

PÁSCOA é renascimento, é recomeço, é crer na vida que vence a morte. É ver que hoje sou melhor do que ontem. É ser capaz de mudar. É dizer sim ao amor e à vida! A vitória será sempre da vida. A última palavra será: RESSURREIÇÃO!

Nesta ocasião, desejo-lhes uma vivência profunda do Mistério Pascal e do amor de Deus! Que o sol da esperança brilhe em suas trevas! Que a certeza da vitória da vida afaste todo desânimo! Que a ressurreição de Cristo seja a certeza que o amor vence sempre!

Tenham uma Feliz, Santa e Verdadeira Páscoa!


Dom Antônio Carlos Félix
Bispo Diocesano de Luz

20 de março de 2010

CLARA BUSCA SEU CAMINHO


Refletindo sobre a vida de Clara servimo-nos da excelente biografia da santa escrita por Chiara Giovanna Cremaschi, Chiara di Assisi. Un silenzio qui grita (p. 30-34)

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Clara sentia em seu interior um chamamento para a entrega total ao Senhor. A realidade eclesial em que Clara se movia poderia lhe oferecer algumas escolhas de consagração na vida religiosa. Enquanto a jovem se acha num processo vocacional, fica sabendo que Francisco de Pietro Beranrdone havia abandonado tudo e estava tentando criar um caminho evangélico novo. Ele e uns poucos companheiros começaram a levar uma vida de comunhão fraterna e extrema pobreza, parecida com a vida dos marginalizados de seu tempo, provocando comentários de todo tipo. Também Rufino, primo de Clara, havia deixado família e bens, riquezas e honras para viver singelamente e anunciar o evangelho de paz. Um dia se lhe apresenta a ocasião de se aproximar da experiência de seu concidadão: Francisco fala aos fiéis na Catedral de São Rufino, ao lado da casa de Clara. A filha de Favorone, ouvindo-o, sente vibrar as fibras do coração em profunda sintonia espiritual.

2. A moça procura encontrar-se com Francisco. Não podemos esquecer que nesse momento o filho de Pietro Bernardone , aos olhos de muitos, não passa de um aventureiro, alguém exaltado e exagerado. Clara começa a elaborar um projeto escondido e que não pode revelar aos seus parentes. Vai ter com Francisco acompanhada de Buena de Guelfuccio, sua fiel amiga, e ele a recebe com um de seus companheiros, Filipe Longo. O Poverello fala da seqüela de Cristo, da alegria de pertencer somente a ele na pobreza mais total e Frei Filipe, que tem o dom de transmitir e de explicar a Palavra com sabedoria espiritual, fala com as brilhantes palavras que lhe são próprias. As palavras dos dois vão ao coração de Clara e encontram lá o eco de seus desejos. Francisco conhecia a boa fama de Clara. O santo vê qualquer coisa de divino no desejo de Clara e ela vê em Francisco um caminho de discernimento.

3. No final de sua vida, narrando os acontecimentos de sua conversão, a sua plantinha dirá que Francisco, quando não tinha nem irmãos, nem companheiros, reedificou São Damião em vista da vinda de umas senhoras. Em tal contexto, ela dá a entender que nesta época, fazendo uma profecia, já conhecia a sua boa fama. Nesse momento, Clara começa a ser discípula de Francisco. Evidentemente, nesse momento, lhe era impossível falar desses pensamentos a seus familiares. Estava claro que Clara desejava viver o Evangelho com modalidade semelhante à do jovem convertido. Na realidade, aquilo que Francisco parece propor já estava no coração de Clara sugerido pelo próprio Espírito Santo.

4. Nasce, assim, no coração de Clara a vontade firme de tudo abandonar pelo Senhor Jesus Cristo, descoberto e amado não somente no coração e na oração, mas também através do caminho e do rosto de Francisco, que lhe mostra a via: o Filho de Deus. Clara descobre nos olhos de Francisco o brilho da luz do Amor e ele passa a ser para Clara o espelho de seu Senhor. Através dele, ela atinge diretamente a pessoa de Jesus Cristo. Há qualquer coisa de indizível que crescerá com os anos e dará origem a um relacionamento de comunhão fundado no único Amor derramado no coração de ambos. Em tudo não se trata de coisa sentimental, como muitos afirmaram e escreveram. Não se pode esquecer que no momento em que o filho de Pietro Bernardone começa seu itinerário de conversão, Clara é uma criança de uns dez anos, na iminência de partir para Perugia. O que vemos descrevendo se passou depois da volta da cidade de Perugia. Nesse momento, o filho de Pietro Bernardone e a primogênita dos Favarone já tinham colocado em Deus todo o objeto de seu amor. “Além disso, não se pode esquecer que Clara, vivendo muitos anos depois da morte de Francisco, deixa transparecer o que ele representou para ela e suas irmãs; enquanto nos Escritos do Poverello, nunca é mencionada, mas sua presença está sempre ligada à da sororidade. Trata-se de um relacionamento de comunhão que envolve dois grupos humanos, indo além da relacionamento de um homem e de uma mulher” (p.33).

5. Podemos dizer que o fogo do Espírito, que anima Francisco e Clara os convocou a realizar uma obra de profunda renovação espiritual na Igreja. A obra dos dois não se apoia em seguranças humanas: somente o abandono confiante nas mãos do Pai celeste abre o coração à ação do Espírito e dá a franqueza típica dos apóstolos de todos os tempos.

6. Podemos encontrar no jovem convertido a intuição de alguma coisa grandiosa nesta moça sedenta de Deus, na qual ele encontrou a imagem concreta da pobreza que ele tinha abraçado. Em certo sentido se poderia supor que ele tivesse entrevisto na filha de Favarone a mulher nova capaz de começar na Igreja, reedificando-a com a oferta total de si. São hipóteses que tentam jogar um pouco de luz naqueles começos, semelhantes às sementes pequenas de que falam os Evangelhos.

7. “Os encontros secretos produzem logo seus frutos; tudo é predisposto para que Clara possa abandonar a casa paterna e embrenhar-se na aventura evangélica. Os passos a serem dados ainda não decididos. Dia após dia, o Senhor haverá de iluminar. Não é andar às cegas... O Bispo de Assis, que tinha acolhido sob seu manto o jovem Francisco quando em praça pública havia deixado tudo, inclusive as roupas, está a par da decisões tomadas por Clara sob a orientação do penitente filho de Pietro Bernardone e dá sua bênção.

11 de março de 2010

"Se não vos converterdes, todos perecereis"

Disse Jesus nos evangelhos: "Se não vos converterdes, todos vós perecereis". Quis dizer: "Se não mudardes de modo de ver e de agir, todos vós perecereis". Nunca estas palavras me pareceram tão verdadeiras como quando assisti a Crônica de Copenhague, um documentário da TV francesa e passada num canal fechado no Brasil e, suponho, no mundo inteiro. Na COP-15 em Copenhague em dezembro último, se reuniram os representantes das 192 nações para decidir a redução das taxas de gases de efeito estufa, produtores do aquecimento global.

Todos foram para lá com a vontade de fazer alguma coisa. Mas as negociações depois de uma semana de debates acirradíssimos chegaram a um ponto morto e nada se decidiu. Quais as causas deste impasse que provocou decepção e raiva no mundo inteiro?

Creio que, antes de mais nada, não havia suficiente consciência coletiva das ameaças que pesam sobre o sistema-Terra e sobre o destino da vida. É como se os negociadores fossem informados de que um tal de Titanic estaria afundando sem se dar conta de que se tratava do navio sobre o qual estavam, a Terra.

Em segundo lugar, o foco não estava claro: impedir que o termômetro da Terra suba para mais de dois graus Celsius, porque então conheceremos a tribulação da desolação climática. Para evitar tal tragédia, urge reduzir a emissão de gases de efeito estufa com estratégias de adaptação, mitigação, concessão de tecnologias aos países mais vulneráveis e financiamentos vultosos para alavancar tais medidas. A preocupação agora não é garantir a continuidade do status quo, mas dar centralidade ao sistema Terra, à vida em geral e à vida humana em particular.

Em terceiro lugar, faltou a visão coletiva. Muitos negociadores disseram claramente: estamos aqui para representar os interesses de nosso país. Errado. O que está em jogo são os interesses coletivos e planetários, e não de cada país. Isso de defender os interesses do país é próprio dos negociadores da Organização Mundial do Comércio (OIT), que se regem pela concorrência e não pela cooperação. Predominando a mentalidade de negócios funciona a seguinte lógica, denunciada por muitos bem intencionados, em Copenhague: não há confiança, pois todos desconfiam de todos; todos jogam na defensiva; não colocam as cartas sobre a mesa por temerem a crítica e a rejeição; todos se reservam o direito de decidir só no último momento como num jogo de pôquer. Os grandes jogadores se omitiram: a China observava, os EUA calavam, a União Européia ficou isolada e os africanos, as grandes vítimas, sequer foram tomados em consideração. O Brasil no fim mostrou coragem com as palavras denunciatórias do Presidente Lula.

Por último, o fracasso de Copenhague -bem o disse Lord Stern lá presente- se deveu à falta de vontade de vivermos juntos e de pensarmos coletivamente. Ora, tais coisas são heresias para espírito capitalista afundado em seu individualismo. Este não está nada interessado em viver juntos, pois a sociedade para ele não passa de um conjunto de indivíduos, disputando furiosamente a maior fatia do bolo chamado Terra.

Jesus tinha razão: se não nos convertermos, vale dizer, se não mudarmos este tipo de pensamento e de prática, na linha da cooperação universal jamais chegaremos a um consenso salvador. E assim iremos ao encontro dos dois graus Celsius de aquecimento com as suas dramáticas consequências.

A valente negociadora francesa Laurence Tubiana no balanço final disse resignadamente: "os peixes grandes sempre comem os menores e os cínicos sempre ganham a partida, pois essa é a lógica da história". Esse derrotismo não podemos aceitar. O ser humano é resiliente, isto é, pode aprender de seus erros e, na urgência, pode mudar. Fico com o paciente chefe dos negociadores Michael Cutajar que no final de um fracasso disse: "amanhã faremos melhor".

Desta vez a única alternativa salvadora é pensarmos juntos, agirmos juntos, sonharmos juntos e cultivarmos a esperança juntos, confiando que a solidariedade ainda será o que foi no passado: a força secreta de nossa melhor humanidade.


** Leonardo Boff

10 de março de 2010

Palavras de Fé

Ó Jesus, o abismo da Vossa misericórdia derramou-se na minha alma, que é apenas o abismo da miséria. Agradeço-Vos, Jesus, pelas graças e pelos pedacinhos da Cruz que me dais a cada momento da vida”.

Santa Faustina

5 de março de 2010

1ª SEXTA-FEIRA DO MÊS-NA MORADA DO CORAÇÃO

O Senhor nos acolheu em seu regaço e Coração, fiel ao seu amor. (Antífona do Benedictus da Solenidade do Coração de Jesus)

1. Sempre de novo os cristãos são convidados a viver profundamente unidos a Cristo. Ao longo de nossa vida o Ressuscitado vai nos tocando, sempre chamando nossa atenção para sua presença e fazendo com que nos lembremos das ternuras que ele nos manifestou durante a sua vida terrena. Os grandes místicos sempre olharam para o Coração do Mestre como um abismo de graça e de bênçãos. Frei Tiago de Milão, frade menor, talvez de maneira um pouco afetada para nosso gosto, descreve seu encantamento com o coração do Senhor no alto da cruz. O texto que temos diante de nossos olhos é uma tradução de Fr. Urbano Plenz, falecido há poucos anos, texto que apareceu nos Cadernos Franciscanos de Belo Horizonte (1984, n.4).

2. “Ó morte amável, ó morte deliciosa! Quem me dera ter estado no lugar desta cruz, pregado junto do Cristo com minhas mãos e meus pés. Eu teria certamente dito a José de Arimatéia: Não o tires de mim, põe-me junto dele na sepultura. Não quero mais ficar separado dele. Uma vez que não posso agir assim com meu corpo, quero, pelo menos, fazê-lo com o meu coração”. - Aquele que sente tocado pelo amor de Cristo quer ficar unido ao Amado. Paulo, o Apóstolo, dizia-se pregado na cruz com Cristo. Na medida em que uma pessoa vai fazendo, no plano da fé, uma experiência de convivência com Cristo ( vida de oração e meditação, participação profunda na eucaristia diária, intuições e graças peculiares) sente-se como que una com Cristo. Numa figura literária bela Tiago pede a José de Arimateia não o prive do corpo do Senhor. Lembra um pouco Madalena que fala com o jardineiro: “Roubaram o meu Senhor, onde o puseram?”.

3. “É bom ficar com ele. Nele eu vou fazer três tendas: uma em suas mãos, outra em seus pés, e uma terceira, permanente, em seu lado. Lá eu quero descansar e dormir, comer e beber, ler e rezar. Lá falarei ao seu Coração e tudo dele receberei”. A maneira como o místico fala lembra a cena da Transfiguração: Pedro queria fazer três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e uma terceira para Elias. Estamos em pleno clima de mística. Permanecer, ficar são verbos que exprimem vontade de perpetuar uma experiência, no caso presente, experiência da proximidade de Deus que em Cristo tem seu peito aberto. Frei Tiago fala de uma série atividades que quer exercer nessas tendas. Não estaria ele descrevendo, de alguma forma, o espírito da contemplação ou mesmo da Regra de São Francisco para os eremitérios? Uma vida só para Deus: rezar, ler, comer, descansar...

4. Vem então desenvolvida a idéia da casa, da morada. O místico não quer mais abandonar Cristo: “É lá que eu moro;lá me alimento da comida que ele come, e lá me embriago com a sua bebida;lá experimentarei uma tão grande doçura que nem dá para explicar”. Morar com significa intimidade. Ele, aquele que a alma ama, tem como alimento fazer a vontade do Pai. Em Cristo, fazendo a vontade do Pai, quem ama tem o mais sólido e indispensável alimento. A bebida pode lembrar o vinho/sangue na Eucaristia, sangue/vinho derramado para a vida do mundo. Frei Tiago não encontra palavras para descrever o que pensa e o que vive ou o que deseja viver misticamente em Cristo. Minha comida é fazer a vontade do Pai.

5. O místico continua desenvolvendo a idéia da morada e exprime medo de abandonar essa casa querida : “Aquele que por causa dos pecadores morou no seio virginal, hoje digna-se carregar-me, a mim miserável, em suas próprias entranhas. Tenho medo de que venha um dia o parto, quem me privaria das delícias de que estou gozando”. Estamos de cheio no linguajar da mística. Podemos não apreciar as imagens e palavras, talvez melosas para nossos ouvidos. Mas a realidade da íntima comunhão com Cristo está bem clara. O Verbo veio morar em nossa carne e carrega nosso corpo. Nada de estranho. O Verbo encarnado que acolhe a carne pecadora. Há um medo de perder o calor do ninho. Talvez ter que descer da montanha. Medo de chegar a hora do parto e sair de Jesus e Jesus sair do místico. Mas é inevitável. Ainda não estamos no tempo da comunhão definitiva. Estamos nas ante-salas dos definitivos esponsais místicos.

6. Talvez o texto seguinte seja o mais afetado. Não importa. Sempre de novo essa tentativa de descrever por imagens o mistério da união. “Sem dúvida se ele me põe no mundo, precisará, como uma mãe, dar-me o leite de seu seio, lavar-me com suas mãos, carregar-me em seus braços, consolar-me com seus beijos, aquecer-me sobre o seu peito”. Quando a mãe dá à luz ela olha para a cria, dá-lhe leite, calor e força. Os que fazem a experiência mística sabem que nascem de novo e que Deus não os largará no mundo.

7. Finalmente temendo a necessidade de descer da montanha, ele descobre uma porta, ou várias portas por onde pode entrar: as portas das feridas do corpo do amado, de modo particular, daquela do coração. “Sei bem o que eu vou fazer: ele me pode fazer sair dele quantas vezes quiser, sei que suas feridas estão sempre abertas. Por elas, penetrarei de novo em seu seio, e para lá voltarei cada vez, até que eu esteja inseparavelmente unido a ele”. O contemplativo sabe que a comunhão definitiva e o pleno êxtase não são para o momento. É tempo de peregrinar. Mais tarde. Enquanto isso é possível morar, pela fé, nas chagas do Cristo mormente naquele espaço privilegiado, expressão de amor sem limites, que é o Coração do Mestre.


A ORDEM TERCEIRA FRANCISCANA

Muito cedo no seu ministério, São Francisco viu a necessidade de incluir, dentro de seu movimento de reforma e renovação, pessoas de todas as categorias da vida. O trabalho de seguir a Cristo em simplicidade, amor e júbilo, o qual é a vocação de todos os Cristãos, não pode ser restringido à vida tradicional dos Frades e Freiras. Isto era assim no século XIII, e é assim hoje.

A Terceira Ordem, uma ordem religiosa dentro da Sociedade de São Francisco, consiste em aqueles homens ou mulheres, casados ou solteiros, clérigos ou leigos – que, embora seguindo as profissões ordinárias da vida, são chamados à dedicação através de voto e disciplina por vida. Como os Frades e Freiras da Primeira Ordem, e as Irmãs da Segunda Ordem (Clarissas), eles se dedicam a Nosso Senhor como instrumentos de sua paz. Os terciários buscam cumprir os propósitos especiais da Terceira Ordem através das Três Formas de Serviço.

OS TRÊS PROPÓSITOS da Terceira Ordem são:


Tornar Nosso Senhor conhecido e amado em toda parte.
Por palavra e exemplo, os Terciários testemunham a Cristo em suas vidas diárias. Por meio de oração e sacrifício, ajudam a avançar o trabalho de Deus em qualquer lugar onde Ele os chamar.

Propagar o espírito de amor e unidade dentro da família de Deus.
Trabalhando felizmente com pessoas de diferentes raças, cores, crenças, educação e oportunidade, os Terciários procuram romper as divisões no mundo. Tentam viver no espírito da oração de São Francisco: “Senhor, faze-nos instrumentos de tua paz”.

Viver simplesmente
Reconhecendo que tudo pertence a Deus, procuram usar os dons de Deus sabiamente e exercer a boa mordomia sobre esta terra frágil, nunca destruindo ou desperdiçando o que Deus fez. Providenciam as coisas necessárias para si e suas famílias sem exigir o luxo. Procuram nunca esquecer das necessidades dos outros.

OS TERCIÁRIOS SERVEM A NOSSO SENHOR nestas três formas:


Oração.
Os Terciários são chamados à vida de oração – de abertura a Deus e aos outros. A Eucaristia é o coração da oração.

Estudo
Embora os Terciários dêem preeminência ao estudo das Sagradas Escrituras, também procuram ampliar a compreensão da missão da Igreja, da própria formação franciscana e do mundo de Deus.

Trabalho
Os Terciários buscam descobrir o que Deus quer deles. Em seus trabalhos e vidas diárias, procuram servir a Deus e trabalhar para o bem dos outros. O melhor serviço que podem oferecer é refletir o amor de Cristo, e mostrar seu prazer e sua paz aos outros pelo exemplo.

A REGRA DA TERCEIRA ORDEM
A Sagrada Eucaristia
Já que vêem a Eucaristia como o coração de sua oração, sua regra pessoal os chama à participação freqüente deste Sacramento.

Penitência
É necessário o exame regular de sua obediência a Cristo. Para ser reconciliadores, é preciso ser primeiro profundamente reconciliados com Deus. Praticam o auto-exame diário e fazem uso regular do Sacramento da Reconciliação de um Penitente.

Oração Pessoal
Marcam um tempo definido para a oração cada dia para estar com Deus, para orar pelos outros, para meditar e expressar a sua gratidão.

Negação de Si Mesmo
Esta é a disciplina de dizer “Não” a si mesmo, pondo Deus em primeiro lugar. Também procuram eliminar as maneiras de usar os outros para seus próprios interesses.

Retiro
Retiros em silêncio e “dias quietos”, de reflexão e interiorização oferecem uma oportunidade de relaxar fisicamente e de crescer mentalmente e espiritualmente. Pelo menos uma vez por ano, participam em retiros organizados ou privados.

Estudo
Todos nós precisamos aprender mais sobre Deus e sua vontade para nós. O estudo das escrituras e da espiritualidade franciscana é importante para o crescimento cristão do Terciário. A regra faz explícita a intenção do estudo regular.

Simplicidade de Vida
A simplicidade os chama à dádiva deles mesmos, tanto quanto a das coisas materiais. Nossas vidas estão cheias de bagunça, de preocupações sobre posses e o que os outros pensam de nós, tudo o que podem interferir com nosso relacionamento com Deus e com nossos irmãos e irmãs. Os Terciários são chamados a uma vida de simplicidade, eliminando aqueles aspectos deles e de suas vidas que os distanciam da ampla expressão do amor de Deus.

Trabalho
O serviço sempre foi uma parte importante da vocação franciscana. O trabalho diário é uma maneira em que os Terciários servem a Deus e os outros; são também freqüentemente chamados a servir a Deus e aos irmãos e irmãs em seus ministérios individuais, seja a oração, seja o ativismo social.

Obediência
Todos os Terciários são obedientes às decisões do Capítulo da Terceira Ordem. Fazem os Ofícios Diários, apoiam uns aos outros pela oração, assistência às reuniões de Fraternidade, e uma promessa financeira à Terceira Ordem. Reportam regularmente à Ordem sobre o cumprimento da sua Regra. Alguns tem um Diretor Espiritual com quem se reunem várias vezes ao ano.


A FORMAÇÃO DE UM TERCIÁRIO

O processo de formação consiste em:

· Um postulantado variável, não acima de 6 meses, e
· Um noviciado de 24 meses.

Durante a formação, o postulante ou noviço assiste às reuniões da Fraternidade, compartilhando com seus irmãos e irmãs os problemas e os sucessos no cumprimento da sua Regra.

Ao finalizar o noviciado, o noviço pode pedir eleição à profissão pelo Capítulo da Terceira Ordem. Na profissão, o Terciário faz um voto simples com intenção de vida, o qual é renovado anualmente.

Todos os Terciários devem estar sob direção espiritual.

FRATERNIDADES

Aonde for possível, todos os terciárias se reúnem para oração, estudo e comunidade. Estas fraternidades são uma fonte importante de suporte mútuo em viver a vida franciscana.