31 de agosto de 2013

31/08 - Bem-aventurado Pedro de Ávila


Sacerdote e mártir no Japão, da Primeira Ordem (1592-1622). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

Pedro de Ávila nasceu em Palomero, perto de Ávila, Espanha. Em 1515, em Ávila, nascia Santa Teresa de Jesus, virgem e doutora da Igreja, carmelita ilustre, que fez grandes progressos no caminho da perfeição. Teve revelações místicas. Sofreu muitas dificuldades por causa da reforma de sua Ordem, mas saiu vitoriosa. Escreveu livros de doutrina profunda, fruto de suas experiências místicas. Ela morreu em 4 de outubro de 1582. Dez anos depois, em 1592, perto de Ávila nascia Pedro, que seguiu o ideal franciscano a exemplo de São Pedro de Alcântara, conselheiro espiritual de Santa Teresa.

Eram evidentes na criança e no adolescente Pedro os dons especiais de inteligência e bondade de espírito, que, ainda muito jovem, decidiu seguir o chamado do Senhor, que o queria frade menor na Província de São José. Na vida de oração rígida e ascética, de acordo com as diretrizes do São Pedro de Alcântara, viveu seu franciscanismo. Ordenado sacerdote, dedicou-se ao apostolado da pregação, à direção espiritual, às atividades caritativas e à formação espiritual dos fiéis.

Muitas vezes meditava sobre o mandamento do Senhor aos apóstolos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”. E nas palavras de São Francisco a seus irmãos: “Agora irmãos, ide a todos os lugares pregar o evangelho da paz e do bem.”

Frei Luís Sotelo, um dos mártires mais eminentes do Japão, eleito bispo, convenceu a Frei Pedro a segui-lo em uma grande expedição missionária. Em 1617, 30 franciscanos partiram da Espanha em direção às Filipinas. Eram muito comuns essas expedições dos pioneiros do Evangelho, plenos de ardor seráfico e de valor apostólico.

Dois anos durou a permanência nas Filipinas. Pedro se dedicou a todos os ministérios entre os cristãos filipinos. Em 1619, junto com outros confrades, Pedro foi para o Japão, decidido a consagrar toda sua atividade à evangelização, apesar das duras dificuldades impostas pela perseguição religiosa.

Seu catequista e precioso colaborador foi Frei Vicente Ramirez de São José, irmão leigo franciscano. Ele demonstrou grande zelo em converter e incentivar os vacilantes fiéis. Com prudência e astúcia soube fugir das perguntas dos guardas. No dia 17 de setembro de 1620, os dois missionários foram descobertos na casa do Domingo e Clara Yamanda, que generosamente lhes haviam dado hospitalidade. Eles passaram quase dois anos na prisão de Suzuta, insalubre, estreita, e expostos ao frio inclemente. Seu consolo foi a presença de outros irmãos, com quem viveram em oração e conversas piedosas. Na espera do martírio, com 23 confrades, foram transferidos para as prisões em Nagasaki.

A 10 de setembro de 1622, na colina dos mártires, o bem-aventurado Pedro, cantando o salmo “Louvai ao Senhor, todas as nações!” imolou sua vida em meio a uma fogueira ardente. Ele tinha 30 anos.

30 de agosto de 2013

Reflexão - Vibrações


“Quando você agradece, o medo desaparece e a abundância aparece”. 
 Anthony Robbins

A Lei da Atração responde a qualquer vibração que você emita, seja ela positiva ou negativa, dando-lhe mais dessa mesma coisa. Ela simplesmente responde às suas vibrações. Daí a importância vital de pensar de maneira positiva, de desejar ardentemente com a força da alma, de querer verdadeiramente receber as bênçãos de Deus!

À medida que sua fé se fortalece você descobre que não é mais necessário ter uma noção de controle. Aprende que as coisas vão fluir como deve ser e que você vai fluir junto com elas para seu maior bem e para o bem das pessoas. Então comece agradecendo por todas as coisas que você já recebeu… Respire com intensidade o ar e encha-se com a vida que lhe é dada pelo Criador!

Frei Paulo Sérgio, ofm

Um fim de semana abençoado a todos!

28 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – Conclusão

Por Frei Vitório Mazzuco Fº 

Assim discorremos alguns aspectos da filosofia de vida desta Testemunha do século XII e tão atual, IL Poverello, um simples apaixonado pela sua identidade. Alguém que nos ensinou que mais que um lugar, o céu é Alguém e precisa estar em nosso aqui e agora. Um louco apaixonado pela sua época e por isso é uma eterna permanência, que não fez concorrência, mas realizou  convivência. Que rezou 30 e duas vezes o “Tu” em suas preces que nos deixou por escrito, mas não fez pedidos para o “eu”, porque escutou mais o Tudo e o Todos, e disse que orar assim supera qualquer atividade. Ele foi o santo da Majestade Divina e dos pobres.

 Fez de cada lugar, das grutas, da Porciúncula, dos bosques, do Alverne e das estradas, a casa típica de sua Ordem, a exteriorização do ideal interno de cada Irmão e Irmã que o seguiu. A sua vida é simples; não é complicada, é límpida e livre; tem a originalidade própria do Amor que ele sempre buscou.

Foi um sonhador e por isso mesmo um grande realizador. Por acreditar em seus sonhos foi à frente e continua a puxar para frente a história da humanidade. Inspirou o nome do novo Papa, para ser mais uma vez, aquele que coloca ruínas em pé, com o paciente e artesanal trabalho de reconstruir. Não é um santo do passado, é do futuro, do amanhã e do hoje das nossas mais belas esperanças. Com ele, aprendemos a acordar de manhã e não desfazermos dos sonhos. Ele convoca a um novo jeito de viver a Boa Nova que é exatamente a fazer nova a humanidade. Nisto está a sua profecia, cortesia e delicadeza espiritual. Ele é uma ação humana ética! Um complexo de amor ao Pai. Não brigou com o errado, mas viveu o certo.

Aprendeu com o Senhor que nós mesmos temos que ser o Bem, o Bem Absoluto, o Sumo Bem, mergulhar no Bem. Ele é um fervor da Vida, uma Comunhão Universal, uma Fraternidade. Simples e essencial. Menor, vazio de apegos, completamente despojado, sem negatividades, sem pessimismos, sem dramaticidade. Nasce a cada instante. Concretizou, de um ou outro modo, o seu projeto inicial: ser um Cavaleiro Medieval,  ou melhor, adequou um código de comportamento para um novo ideal humano caracterizado pela nobreza de alma, honradez, coragem, fidelidade, jovialidade, prodigalidade e uma forte espiritualidade. Que São Francisco de Assis resgate em nós o melhor de nós! Paz e Bem!

NOTA

Todas as citações das Fontes Franciscanas e Clarianas que estão nas notas deste artigo com a consequente explicação das Siglas Abreviadas estão em: Fontes Franciscanas e Clarianas, Vozes- FFB, Petrópolis, 2004.

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

26 de agosto de 2013

Reflexão - Aceitação


“O que negas te subordina. O que aceitas te transforma”. 
Carl Gustav Jung

Aprendemos (erradamente) que negar fatos ou até mesmo momentos dolorosos de nossa história é a saída para superar a dor e o sofrimento. Porém, quando mais negamos ou tentamos esconder tais fatos em nossos porões secretos, mais tais conteúdos nos levam a sofrer e roubam energia de nós. Os conteúdos negados continuam vivos e a nos perturba como fantasmas a perturbar nosso sono…

Aceitar o que não pode ser mudado é uma atitude sábia. Aceitar nos faz entender que somos frutos de muitas heranças, algumas boas, outras ruins… A aceitação consciente de quem somos em nossa essência, abre-nos caminhos e nos dá força e vigor para que possamos re-significar nossas vidas a partir de um tempo presente que passa a depender exclusivamente de nós mesmos!

Tenha uma ótima, iluminada e abençoada semana!

Frei Paulo Sérgio, ofm

25 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XXI


Por Frei Vitório Mazzuco Fº 

Francisco de Assis nos ensina que viver é despojar-se de qualquer sofisticação e beber mais do puro aberto do natural. Ir mais aos detalhes da vida e ver seus muitos gestos de doação e acreditar numa novidade originária. Ele é o homem que voltou ao Paraíso.  Que ele nos dê novamente esta imensa saudade do Paraíso do qual nós mesmos nos expulsamos. Ele é a Poesia da Vida e a Poesia do Humano. E o humano que anda leve no movimento sem pressa do caminho, percebendo ritmo e o verso do próprio passo. Franciscanismo e Poesia não se separam porque estiveram sempre juntos na percepção da sua identidade, mergulhados no Natural. E por falar em Poesia, vamos encerrar este ponto com o grande Drumond, poeta de Itabira, de Minas, do Rio e do Mundo:

“Francisco operário madrugador na construção de igrejas,
(não de edifícios de renda, longe disso).
Tantas coisas pra lhe contar, daqui de baixo!
Mas você não cansou, em sete séculos e meio,
de ouvir a eterna queixa, o monocórdio estribilho
de nossa falta de humildade cortesia ternura nudez?
Veja por exemplo os bichos (só a eles me refiro
porque não falam por si). Arvoro-me em secretário
do mico-estrela, da tartaruga, da baleia,
de todos, todos. Dos mais espetaculares aos mínimos,
tão míseros.
De irmãos você os chamava. Repare: aterrorizados.
fogem de nós, com muita razão e longos medos.
E um e outro, isolados, gostamos.
Coisa nossa, brinquedo. É gosto sem gostar,
feito de posse-domínio.
Veja as infinitas coleções
de animais que padecem em todos os chãos e águas da Terra
e não podem dizer que padecem, e por isso padecem duas vezes,
sem o suporte da santidade.
Pior, Francisco: o padecimento deles
é de responsabilidade nossa, humana? Desumana.
Nós os torturamos e matamos
por hábito de torturar e de matar
e de tornar a fazê-lo, esporte,
com halalis, campeonatos, medalhas, manchetes,
pólvora cheirando festa,
ouro pingando sangue...


Continua...

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

24 de agosto de 2013

24/08 - Bem-aventurado Pedro da Assunção


Sacerdote e mártir no Japão, da Primeira Ordem (+1617). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

Pedro da Assunção, mártir no Japão, nasceu na pequena cidade de Cuerba, Arquidiocese de Toledo. Tendo entrado na Ordem dos Frades Menores, depois da ordenação foi Mestre de Noviços por um longo tempo. Encorajado pela animação missionária de João, o Pobre, decidiu partir para o Extremo Oriente, na companhia de muitos confrades. Após uma breve estadia nas Filipinas, desembarcou no Japão em 1601, desenvolvendo um intenso apostolado na região de Nagasaki, onde mais tarde dirigiu o convento franciscano.

Por sua santidade de vida era muito estimado e procurado. Em seu confessionário recorreram muitos fiéis, prendendo-o neste ministério por horas e horas todos os dias. Em 1611, a situação religiosa no Japão tornou-se crítica: por ordem das autoridades, missionários estrangeiros tiveram que deixar o território japonês. Frei Pedro preferiu permanecer com roupas comuns para ajudar e encorajar os cristãos em um momento difícil. Mas por prudência se mudou para o lugar vizinho a Nagasaki; Chichitzu, um apóstata, o traiu, por que ele foi capturado e levado às prisões de Omura e depois para Cori.

Ali teve como companheiro João Batista Machado; juntos estiveram na prisão por mais de um mês, de 20 abril a 22 maio, em penitência, oração e conversa espiritual. O anúncio da sentença de morte foi recebida com alegria: “Esta é a graça que eu pedi a Deus nestes últimos nove dias, celebrando a Santa Missa”.

Em 21 de maio, festa da Santíssima Trindade, o Senhor revelou ao bem-aventurado Pedro, enquanto celebrava a Missa, que aquela seria a última Missa a ser presidida. Os dois mártires, Pedro e João Batista cantaram o “Te Deum” para agradecer a Deus por uma graça tão grande, se confessaram um ao outro entre em lágrimas, e passaram a noite em oração.

 Ao entardecer, eles foram obrigados a caminhar para o local da execução. Padre Pedro estava segurando um crucifixo e a Regra de São Francisco. Durante a viagem, eles cantaram a Ladainha da Virgem; então, ao encontrarem com os cristãos, exortaram-os à perseverança.
Ao chegar ao local da execução, o bem-aventurado Pedro pediu para ser autorizado a falar com pessoas que assistiam a sua morte. Então, os dois se abraçaram e se ajoelharam, com as mãos postas e os olhos voltados para o céu esperando o momento supremo em que o carrasco cortou a cabeça dele. Era 22 de maio de 1617.

23 de agosto de 2013

Reflexão - Testemunho


“Nos momentos de dificuldade de minha vida, lembrei-me que na história da humanidade o amor e a verdade sempre venceram”.
Mahatma Gandhi

Não tente adivinhar e nem se preocupe com aquilo que as pessoas pensam a seu respeito. Faça a sua parte, se doe sem medo. O que importa mesmo é o que você é. Mesmo que outras pessoas não se importem. Atitudes simples podem melhorar sua vida. Por isso, seja simples, seja amável, seja você mesmo!

Ninguém marca as pessoas somente pelas palavras, mas principalmente pelas atitudes e pelo testemunho. Daí que sua vida deve ser um sinal, como placas que indicam o caminho… O amor e a verdade são buscas do ser humano, mas tais virtudes precisam ser praticadas: para receber amor é preciso amar; para alcançar a verdade é necessário ter atitudes verdadeiras…

Frei Paulo Sérgio, ofm

21 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XX


Por Frei Vitório Mazzuco Fº 

Francisco de Assis pisou a terra e confraternizou-se com o solo. Olhou e cantou a vida por isso o horizonte da sua janela era mais amplo e fazia desaparecer problemas. Quem olha com profundidade apaixona-se pelo que vê; quem não olha com profundidade apenas usa; talvez este seja o olhar industrial que vai demolindo os sistemas vivos que dão suporte à vida. Nunca se falou tanto em meio ambiente, em consciência ecológica e planetária como hoje. Quantos seminários e palestras, livros e tentativas de soluções técnicas. Procura-se o remédio e a marca do remédio, mas ninguém quer entrar na causa da doença. A verdadeira causa é mais profunda, é uma questão de cosmovisão. Sobrevoamos paisagens belíssimas, mas fechamos as janelas do voo. A maioria das pessoas não enxerga o mundo. 

Que São Francisco de Assis nos proteja e nos ajude a não entulhar estradas e calçadas com detritos, que a mansão não jogue lixo no terreno baldio, que os esgotos não escorram nos mananciais, que o mundo não termine na cerca de nossos limites, que a Amazônia não seja conhecida pelo exótico, que os ecossistemas e biomas nos salvem, que as nossas escolas formem para existir prestando atenção na torneira que escorre, que as universidades, cada vez mais técnicas não formem profissionais de visão estreita, mais Biologia e menos fobias, que a gente ame e não brigue com a Criação ou, então, cantemos com São Francisco o seu famoso Cântico das Criaturas:
“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão sol,o qual é dia, e por ele nos iluminas. E ele é belo e radiante com grande esplendor, de ti, Altíssimo, traz o significado.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas no céu as formaste claras e preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e por todo tempo, pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água que é muito útil e humilde e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo pelo qual iluminas a noite e ele é belo e agradável e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a mãe terra que  nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas.”
Continua ...

20 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XIX



Por Frei Vitório Mazzuco Fº 


Abraça todas as coisas com o afeto de inaudita devoção, falando com elas sobre o Senhor e exortando-as a louvá-lo. Poupa os candeeiros, lâmpadas e velas, não querendo com sua mão extinguir o fulgor que era sinal da luz eterna. Anda com reverência sobre a pedra em consideração daquele que é chamado de Pedra. Quando precisa recitar aquele versículo: Vós me exaltastes sobre a pedra, para expressá-lo mais reverentemente, diz: “Vós me exaltastes aos pés da Pedra”.

Proíbe aos irmãos que cortam lenha cortar pelo pé toda árvore, para que tenha esperança de brotar de novo. Manda que o hortelão deixe sem cavar a faixa de terra ao redor da horta, para que, a seu tempo, o verdor das ervas e a beleza das flores apregoem que é belo o Pai de todas as coisas. Manda traçar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e que produzem flores, para que elas evoquem os que as contemplam à recordação da suavidade eterna.

Recolhe do caminho os vermezinhos, para que não sejam pisados, e manda que sejam servidos mel e ótimos vinhos às abelhas, para que elas não morram por falta de alimento no rigoroso frio do inverno. Chama com o nome de irmão todos os animais, conquanto entre todas as espécies de animais prefira os mansos. Quem seria capaz de narrar tudo? Na verdade, toda aquela bondade fontal, que há de ser tudo em todos, já se manifestava a este santo como tudo em todos”.
Quem escreveu o Gênesis, certamente, andou primeiro pela natureza. Francisco não tem uma relação romântica com as coisas, como podemos pensar, mas sim uma relação de consanguinidade. Ele não conquistou o mundo das criaturas pelo intelecto, mas sim pelo Amor que tinha no coração. Era um artista da vida, e o artista é aquele que pinta a estrutura num quadro de paisagem, e põe na tela a sua profundidade. Francisco é o artista e sábio que deu sabor às estruturas. A veste que vestiu seu corpo não deu apenas a beleza da veste, mas a beleza do corpo, mente, alma e coração. Francisco revestiu-se da vida. Suas palavras eram em função da verdade das coisas; ele sabia usar a informação para ser um aprendiz das verdades de todas as coisas que estavam ali no cotidiano, aos pés do familiar, bem próximo. A pátria do humano é o que está mais percebido e valorizado. Ao pensar as coisas, as imagens, os símbolos, Francisco conquistou as coisas não para o uso, mas para o louvor.

A pós-modernidade vive no esquecimento das coisas mais familiares e tem medo das ruas e estradas. O medo esconde o olhar e prende os passos. Francisco nos liberta e destrava para que possamos voltar a uma devoção às coisas da terra. Ele é o gênio do gosto, do belo e do bom; ele é o padroeiro da comunidade dos que amam a Beleza e quer que toda a ação humana seja um esplendor. Quem vê a beleza em tudo o que existe está sendo sempre vendo o celestial. Quem vê o limpo e transparente, vê bem a profundidade. A civilização pós-moderna não permite mais a beleza dos pés descalços. Francisco marcava o chão com seus pés ou com uma surrada sandália; nós deixamos as marcas das grifes de nossos caríssimos tênis. O humano de hoje já não sente mais o chão, então, como dizer que aqui passou alguém? Se tivermos medo da espessura do caminho, não iremos muito longe.

Continua...

17 de agosto de 2013

Reflexão - Criação


“Se você é bastante criativo para imaginar um problema, seja suficientemente inteligente para descobrir uma solução”

Desde pequenos somos acostumados a pensar verticalmente. Na escola, como em casa, sempre nos ensinaram que devemos fazer tudo certinho, que devemos ser objetivos, práticos, eficazes, e que a “ousadia” é um perigo que pode custar muito caro. Somos educados para utilizar exclusivamente o lado esquerdo do cérebro – o lado da razão e do raciocínio lógico.

É preciso, porém, aprender a usar o lado direito do cérebro. É justamente nesse lado que se concentram todas as nossas potencialidades criativas. Faz-se necessário explorar esse mundo de talento que você tem na cabeça. Desenvolvendo tão-somente o seu raciocínio lógico, certamente você se tornará uma pessoa muito inteligente, porém, talentoso e criativo você só será quando desenvolver toda sua capacidade de “imaginar” e de “ousar”…

Tenha um ótimo e repousante fim de semana!

Frei Paulo Sérgio, ofm

15 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XVIII


Por Frei Vitório Mazzuco Fº 

Francisco de Assis deixou-se conduzir por Deus, mas sempre mergulhado na terra, irmão de toda criatura. Não quis ser dono ou senhor de nada e de ninguém, quis apenas ser o irmão da água, do fogo, do sol, da lua, dos pássaros, das florestas e das plantas, captando assim que a vida é parte de um todo. Colocou-se na esteira admirável do engrandecimento e respeito por todo ser criado, nada destruindo, nada ferindo, nada prejudicando, quase que pedindo licença para pisar a terra, desculpando-se com seus irmãos e irmãs criaturas por não servi-los bastante. Vejamos o que nos dizem as Fontes Franciscanas:

“Quanta alegria julgas que a beleza das flores lhe trazia à mente, quando ele via a delicadeza da forma e sentia o suave perfume delas? Voltava logo o olhar da consideração para a beleza daquela flor que, brotando luminosa no tempo da primavera da raiz de Jessé, ao seu perfume ressuscitou milhares de mortos. E quando encontrava grande quantidade de flores, de tal modo lhes pregava e as convidava ao louvor do Senhor, como se elas fossem dotadas de razão. Assim também, com sinceríssima pureza, admoestava ao amor divino e exortava a generoso louvor os trigais e vinhas, pedras e bosques e todas as coisas belas dos campos, as nascentes das fontes e todo verde dos jardins, a terra e o fogo, o ar e o vento. Enfim, chamava todas as criaturas com o nome de irmão e, de maneira eminente e não experimentada por outros, percebia com agudeza as coisas ocultas do coração das criaturas, como quem já tivesse alcançado a liberdade gloriosa dos filhos de Deus”.

“Tendo pressa de sair deste mundo como de um exílio de peregrinação, este feliz itinerante era auxiliado pelas coisas que estão no mundo, e realmente não pouco. Usava o mundo como campo de batalha, mas também o usava, com relação a Deus, como espelho limpidíssimo de sua bondade. Em qualquer obra de arte, ele exalta o Artífice e atribui ao Criador tudo o que descobre nas coisas criadas. Exulta em todas as obras das mãos do Senhor e intui, através dos espetáculos do encantamento, a razão e causa que tudo vivifica. Reconhece nas coisas belas aquele que é o mais Belo; todas as coisas boas lhe clamam: “Quem nos fez é o Melhor”. Por meio dos vestígios impressos nas coisas ele segue o Amado por toda parte e de todas as coisas faz para si uma escada para se chegar ao trono.

Continua...

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

13 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XVII

FRANCISCO E A QUESTÃO AMBIENTAL

Por Frei Vitório Mazzuco Fº 

Francisco é aquele, que ao receber a convocação para reconstruir a casa, de um modo imediato põe-se em ação. A Idade Média nos legou este seu modelo vivo e grandioso, um humano enamorado pela vida e pelo Deus da vida. E os dias de hoje o que tem para nos oferecer? Certamente, existem muitas pessoas envolvidas com o cuidado da nossa casa, o belo planeta terra; por outro lado, se hoje vivemos a assim chamada crise ecológica é porque existe muita gente que não sabe estar em casa. Há uma crise de relação entre o humano e a natureza, e isso afeta valores e identidade. Aqui, também, entra a provocação de Francisco. Ele está lá onde floresce a verdade, a formação de um humano total, onde viceja a fraternidade, amor, ternura, comunhão com tudo e com todos.

Ecologia é o discurso sobre a casa, seu cuidado e preservação. Nunca se falou tanto em defender, promover, valorizar e estar ao lado da vida. Se existe esta fala e as ações em função das questões ambientais, é porque há evidências e consequências de que a nossa Irmã e Mãe Terra, como chamava Francisco, está agredida, usada, ameaçada, explorada de um modo desenfreado e desumano. A questão ambiental é o grande tema do momento e gera grandes congressos, fóruns, cúpulas, debates e preocupações. Ocupa as razões da ética e a argumentação holística, traz a reflexão mais aguçada para a totalidade humana. Teria sentido uma ecologia que esqueça a antropologia? O paradigmático Salmo 8 proclama: “Senhor, nosso soberano, como é grandioso teu nome em toda terra! Quando contemplo o céu, obra de teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste, o que é o homem, para que te lembres dele, o ser humano, para que com ele te ocupes?”

Francisco de Assis pregou e viveu a fraternidade como uma relação e não deixou a parte o relacionamento de todo ser vivente. Viver a fraternidade universal é dar condições de vida a tudo o que vive, é sentir-se irmanado com animais, minerais, vegetais, macrocosmo e microorganismos. Relacionar-se para cuidar e transformar para o melhor, equilibrar o potencial da vida. “São Francisco de Assis, uma tão elevada personalidade, mostrou ao mundo o que significa exercer uma subjetividade integrada e solidária com os seres e suas fragilidades, sem restringir o acolhimento a quem quer que seja, celebrando a profunda vibração da vida que está no recôndito da existência. Acima das ideias e ideologias, medos e apegos, estava ali a receptividade, simplicidade e equilíbrio dinâmico do humano no mundo”.

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Texto extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

12 de agosto de 2013

Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XVI


Por Frei Vitório Mazzuco Fº 

Como Francisco aparece nesta verdade? Ele tem bilhete de entrada em todas as culturas e em todas as religiões porque é alguém reconciliado com a vida, com as pessoas, com o verme da estrada, e apaixonado a ponto de transformar o seu Deus na Senhora Dama Pobreza e casar com este projeto. Ele é um santo que viveu tão intensamente o seu tempo que atravessou épocas. Reconstrói a casa da existência calejando as mãos erguendo as ruínas de São Damião. Deu um sentido fraterno e coletivo à existência. Integra todos os significados e símbolos. Há algo de sadio em suas sandálias, hábito, cordão, Tau, cruz, Porciúncula, estigmas e aquele jeito de dizer as criaturas. Porque aprendeu que orar nos bosques pode ir melhor ao Papa. Pregou aos pássaros e praças cheias de gente. Conheceu as dores morais e materiais dos desfavorecidos. Sua escolha religiosa tinha uma missão: melhorar a humanidade a partir do protótipo do humano divinizado, Jesus Cristo! A partir daí foi ao mundo do ocidente e do oriente pregando a paz e o bem. Não foi às Cruzadas para dialogar com espada e lança. Foi para procurar pacificar com o escudo da fé. Quem vive bem Santa Maria dos Anjos pode ser bem recebido na tenda do sultão. É um itinerante com coração de monge, um fundador de uma Ordem com o hábito de camponês, um cantor do Irmão Sol e das glórias do Altíssimo. Um dia saiu de Assis e foi a Damieta, no Egito; passou pelas fileiras dos Cruzados em campo de batalha e foi conversar com Melek-el-Kamil:

“E o sultão, vendo no homem de Deus o admirável fervor de espírito e a virtude, ouvi-o com prazer e convidava-o com insistência a morar com ele”.
“Não somente os féis de Cristo, mas também os sarracenos (...), admirando-lhes a humildade e perfeição, quando por causa da pregação se aproximam deles intrepidamente, recebem-nos com boa vontade, providenciando as coisas necessárias com ânimo grato. Vimos que o primeiro fundador e mestre desta Ordem - a quem  todos os outros obedecem como a seu prior gera -, homem simples e iletrado, amado por Deus e pelos homens, chamado Frei Francisco, foi levado a tal excesso de ebriedade e fervor de espírito que, quando chegou ao exército dos cristãos diante de Damieta, na terra do Egito, dirigiu-se intrépido e munido com o escudo da fé ao acampamento do sultão do Egito. Como o tivessem detido no caminho, disse: “Sou cristão, conduzi-me ao vosso senhor”. (...) Os sarracenos ouvem de bom grado os mencionados frades menores todo o tempo que pregam a fé em Cristo e a doutrina evangélica, enquanto não contradizem manifestadamente com sua pregação a Maomé”.

Continua...

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

7 de agosto de 2013

NESTA FESTA DE SANTA CLARA VAMOS LER AS CARTAS QUE ELA DEIXOU

Por Frei Vitório Mazzuco Fº

Santa Clara torna-se mãe de muitas discípulas. Sua fama de santidade encanta e convoca. A clausura não é obstáculo para visitar os corações de tantos que moram fora do claustro. Se não há presença física pode-se escrever. Clara corresponde a este anseio através de muitas cartas. Temos quatro para Inês de Praga e uma enviada a Ermentrude de Bruges que queremos deixar aqui para a reflexão. Amizade e espiritualidade se encontram nestas palavras. Uma vida de busca lúcida do Amado, da Palavra Sagrada e da Vida Religiosa. Iluminar a escolha e ter a nitidez na vocação.Ser perseverante em imitar a Pobreza do Esposo. Seguir um caminho divino por Amor. Olhar-se no Espelho.

O caminho de Clara é o caminho de suas discípulas: recusar propostas de algum envolvimento temporal e vibrar por uma única paixão: Seguir Jesus Cristo Pobre, Humilde, nascido no Presépio, Crucificado num seguimento humilde feito Fraternidade à luz do Evangelho. Nestas cartas temos fortes palavras místicas ditas com segurança e ternura. A ternura garante espessura humana à vida, cria relações e ligas as pessoas em profundidade. Onde falta a ternura entra o enrijecimento e desaparece a alegria de viver. Em Clara e no seu Mosteiro não há aquele véu de tristeza e rigidez que aparece em tanta gente que diz viver uma espiritualidade e criam vida em comunidades de gente triste e cheia de culpa. Clara, em suas cartas, revela o que sempre foi: terna, afável, cortês, hospitaleira, irmã e amiga, serva atenciosa e solícita, mestra da alma. Acolhe sem reservas o Amor do Esposo e ao Esposo, e faz dele a sua resposta de amor para a humanidade. O que escreve nas cartas está escrito em seu coração. Aqui uma junção de textos de cinco cartas. Leia e olhe-se neste Espelho e deixe que estas cartas leiam a sua alma:

Fragmentos das Cartas de Santa Clara à Inês de Praga

Portanto, irmã caríssima, porque sois esposa, mãe e irmã do meu Senhor Jesus Cristo, ficai firme no santo serviço do pobre Crucificado, ao qual vos dedicastes com amor ardente. Ele suportou por todos nós a paixão da cruz e nos arrancou do poder do príncipe das trevas.

Ó piedosa pobreza, que o Senhor Jesus Cristo dignou-se abraçar acima de tudo, ele que regia e rege o céu e a terra, ele que disse e tudo foi feito! Pois disse que as raposas têm tocas e os passarinhos têm ninhos, mas o Filho do homem, Jesus Cristo, não tem onde reclinar a cabeça. Mas, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Portanto, se tão grande e elevado Senhor, vindo a um seio virginal, quis aparecer no mundo desprezado, indigente e pobre, para que os homens e as mulheres, paupérrimos e miseráveis, na extrema indigência do alimento celestial, nele se tornassem ricos possuindo os reinos celestes, vós tendes é que exultar e vos alegrar muito, repleta de imenso gáudio e alegria espiritual, pois tivestes maior prazer no desprezo do século que nas honras, preferistes a pobreza às riquezas temporais e achastes melhor guardar tesouros no céu que na terra, porque lá nem a ferrugem consome nem a traça rói, e os ladrões não saqueiam nem roubam.

Vossa recompensa será enorme nos céus, e merecestes ser chamada com quase toda a dignidade de irmã, esposa e mãe do Filho do Pai Altíssimo e da gloriosa Virgem. (...)

Por isso achei bom suplicar que vos deixeis fortalecer no seu santo serviço, crescendo de bem para melhor, de virtude em virtude, para que aquele que servis com todo desejo do coração digne-se dar-vos os desejados prêmios.

Não perca de vista seu ponto de partida, conserve o que você tem, faça o que está fazendo e não o deixe, mas, em rápida corrida, com passo ligeiro e pé seguro, de modo que seus passos nem recolham a poeira, confiante e alegre, avance com cuidado pelo caminho da bem-aventurança. Não confie em ninguém, não consinta com nada que queira afastá-Ia desse propósito, que seja tropeço no caminho, para não cumprir seus votos ao Altíssimo na perfeição em que o Espírito do Senhor a chamou.

Se alguém lhe disser outra coisa, ou sugerir algo diferente, que impeça a sua perfeição ou parecer contrário ao chamado de Deus, mesmo que mereça sua veneração, não siga o seu conselho. Abrace o Cristo pobre como uma virgem pobre.

Com o desejo de imitá-lo, mui nobre rainha, olhe, considere, contemple o seu esposo, o mais belo entre os filhos dos homens feito por sua salvação o mais vil de todos, desprezado, ferido e tão flagelado em todo o corpo, morrendo no meio das angústias próprias da cruz.

Se você sofrer com Ele, com Ele vai reinar; se chorar com Ele, com Ele vai se alegrar; se morrer com Ele na cruz da tribulação vai ter com Ele mansão celeste nos esplendores dos santos. E seu nome glorioso entre os homens, será inscrito no livro da vida.

Vejo que são a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que a levaram a abraçar o tesouro incomparável escondido no campo do mundo e dos corações humanos, com o qual compra-se aquele por quem tudo foi feito do nada. Eu a considero, num bom uso das palavras do Apóstolo, auxiliar do próprio Deus, sustentáculo dos membros vacilantes de seu corpo inefável.

Quem vai me dizer, então, para não exultar com tão admiráveis alegrias? Por isso, exulte sempre no Senhor também você, querida. Não se deixe envolver pela amargura e o desânimo, senhora amada em Cristo, gozo dos anjos e coroa das Irmãs.

Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma, no esplendor da glória. Ponha o coração na figura da substância divina e transforme-se inteira, pela contemplação, na imagem da divindade.

Desse modo também você vai experimentar o que sentem os amigos quando saboreiam a doçura escondida, que o próprio Deus reservou desde o início para os que o amam. Deixe de lado tudo que neste mundo falaz e perturbador prende seus cegos amantes e ame totalmente o que se entregou inteiro por seu amor, aquele cuja beleza o sol e a lua admiram, cujos prêmios são de preciosidade e grandeza sem fim. Prenda-se à sua dulcíssima Mãe, que gerou tal Filho que os céus não podiam conter, mas que ela recolheu no pequeno claustro do seu santo seio e carregou no seu regaço de menina.

Assim como a gloriosa Virgem das virgens o trouxe materialmente, assim também você, seguindo seus passos, especialmente os da humildade e pobreza, sem dúvida alguma, poderá trazê-lo espiritualmente em um corpo casto e virginal. Você vai conter quem pode conter você e todas as coisas, vai possuir algo que; mesmo comparado com as outras posses passageiras deste mundo, será mais fortemente seu.

Feliz, decerto, é você, que pode participar desse banquete sagrado para unir-se com todas as fibras do coração àquele cuja beleza todos os batalhões bem-aventurados dos céus admiram sem cessar cuja afeição apaixona, cuja contemplação restaura, cuja bondade nos sacia, cuja suavidade preenche, cuja lembrança ilumina suavemente, cujo perfume dará vida aos mortos, cuja visão gloriosa tornará felizes todos os cidadãos da celeste Jerusalém, pois é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o espelho sem mancha.

Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente, vestida e cingida de variedade, ornada também com as flores e roupas das virtudes todas, ó filha e esposa caríssima do sumo Rei. Pois nesse espelho resplandecem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, como, nele inteiro, você vai poder contemplar com a graça de Deus.

Preste atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos anjos repousa numa manjedoura. No meio do espelho, considere a humildade, ou pelo menos a bem-aventurada pobreza, as fadigas sem conta e as penas que suportou pela redenção do gênero humano. E, no fim desse mesmo espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa.

Assim posto no lenho na cruz, o próprio espelho advertia quem passava para o que deviam considerar: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há outra dor igual à minha. Respondamos a uma voz, num só espírito, ao que clama e grita: Vou me lembrar para sempre e minha alma vai desfalecer em mim.

Tomara que você se inflame cada vez mais no ardor dessa caridade, ó rainha do Rei celeste! Além disso, contemplando suas indizíveis delícias, riquezas e honras perpétuas, proclame, suspirando com tamanho desejo do coração e tanto amor: Arrasta-me atrás de ti! Corramos no odor dos teus bálsamos, ó esposo celeste!

Vou correr sem desfalecer, até me introduzires na tua adega, até que tua esquerda esteja sob a minha cabeça, sua direita me abrace toda feliz, e me dês o beijo mais feliz de tua boca.

Que mais? No amor por você, cale-se a língua de carne, fale a língua do espírito.

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

3 de agosto de 2013

Reflexão - Encontro


“Nunca deixe passar uma oportunidade para dizer uma coisa meiga e animadora a uma pessoa ou a respeito dela”. (Mandamentos da Boa Convivência).

Procure manisfestar interesse nas pessoas, em suas ocupações, seu bem-estar, seus lares e famílias. Seja alegre com os que riem e lamente com os que choram. Deixe cada pessoa com quem encontra, sentir que você lhe dispensa importância e atenção. Isso engendra o amor nas relações e permite que as pessoas sintam-se valorizadas, amadas e importantes. E isso não é tarefa difícil e nem está longe de nosso alcance. Basta permitir as fruição do amor de Deus em você…

Cada pessoa que entra em nossa vida é única e temos a missão de transmitir toda bondade, gentileza e afeto. Cada encontro é inédito e fantástico, pois pode ser o primeiro, o único e o último encontro. Portanto, não devemos perder tempo com coisas pequenas e negativas. Procure exaltar a bondade que há em cada pessoa, levantando a autoestima e proporcionando transformação positiva. Procure ser você com todos os valores que você traz e permita que a outra pessoa seja ela mesma, atingida pela bondade e pelo amor que está em você…

Frei Paulo Sérgio, ofm

2 de agosto de 2013

“Aquele que deseja matar nossa sede”,


Será que existe sede de Deus no mundo?

Por Frei Almir Guimarães

Eles me abandonaram, a fonte de água viva para cavar para si cisternas, cisternas rachadas que não podem reter água (Jr 2, 13). 

1. Não é tão evidente que tenhamos sede de Deus, do Absoluto, do Transcendente.  Jesus, com seu coração aberto do qual emana água, suplica o olhar dos sedentos. No alto da cruz, ele tinha sede da resposta amorosa dos homens. Será que nosso tempo tem sede de Deus? Olha com ternura para o Coração aberto do Redentor? Há os que buscam satisfazer essa sede de felicidade que nos habita  bebendo água de fontes que estão mais a seu alcance, que estão mais na moda. Nossa sociedade de mercado apresenta mil alternativas. Há os que dizem que buscar a Deus e seu  Cristo é postura alienante e acrítica. Os que foram formados numa sociedade racionalista dão a impressão de dispensar a ideia e a realidade de um Deus. Seriam capazes de compreender o amor de Deus manifestado em  Jesus, sobretudo em sua paixão, morte e ressurreição?

2. A ideia de Deus ficou no imaginário como alguma coisa anterior ao Vaticano II: um Deus todo poderoso,  juiz  que premia os bons e castiga os maus, um Deus barbudo e meio com jeito de policial a espreitar nossos mínimos deslizes. Há os que abandonaram a busca do Altíssimo  porque na catequese lhes foram apresentadas caricaturas de Deus. A Igreja  hierárquica, para não poucos,  está longe da vida real e dos verdadeiros problemas das pessoas e assim perdeu sua credibilidade. Muitos acreditam que ela não ajuda a buscar, de fato, esse que nos transcende.

3. Vivemos numa sociedade agnóstica, mesmo indiferente. Muitos questionam o mal perante o qual Deus parece ser indiferente, bem como o sofrimento dos inocentes e a injustiça estrutural.  Assim, muitos pensam que não valha a pena buscar um Deus. Afirmam haver uma contradição entre a realidade do mal e a existência de um Deus bom.

4. Nossa sociedade é individualista e fragmentada, típica do sistema  cultural e econômico que se globalizou, o neoliberalismo, que se caracteriza pelo consumo extremo apoiado nos meios de comunicação. Estamos sempre sendo bombardeados com muitas imagens e sensações. Sentimo-nos aturdidos. A vida se passa com velocidade. O que nos move é a busca de resultados imediatos. Alcançados alguns objetivos, logo surgem outros. Estamos sempre  com a sensação de  estarmos saciados. Buscamos alguma coisa nova que nos  faça sentir bem: sucesso, prazer, diversão,  quase sempre num estado de  fuga.

5. Isto nos faz  seres dispersos,  identificados com tantas coisas, sempre  muito entretidos… Recebemos muitas informações e impactos sem nos darmos conta. Tudo isso vai se apoderando de nossa sensibilidade, de nossos sentimentos e de nossa liberdade. Somos navegantes que nos deixamos levar pelas ondas…  Não temos capacidade de decidir. Damos a impressão de estarmos tão ocupados que não nos sobra tempo para  nos preocuparmos com a  busca do sentido da vida.

6. Também dificulta o surgimento dessa sede de Deus,  uma cultura que foi se instalando em nossos dias com a total falta de ideais e sem utopia, cultura egocêntrica e narcisista, sem interesse pelo passado e sem planos plano para o futuro. O grande valor que ela defende é a liberdade no sentido de cada um fazer o que bem lhe apetece, sem limites, sem levar em conta o bem comum.  Cultura que não percebe que o coração do homem foi feito para transcender-se a si mesmo. As pessoas se instalam nas pequenas coisas, tornam-se prisioneiras das coisas debaixo. Algumas  podem ser despertadas no momento de uma grave enfermidade ou de um revés completamente inesperado.  Nessas circunstâncias, por vezes muito doloridas, acordam do torpor.

7. E, no entanto, ai está  Jesus, com seu Amor até o fim, com o coração aberto manifestando amor sem limites e  convidando-nos para entrarmos em sua intimidade pela brecha do peito aberto.  Como na  verdade  experimentar sede de Deus?  A maioria das pessoas, mais cedo ou mais tarde, faz experiências religiosas,  percebe o brilho de centelhas de eternidade  em coisas que fascinam e iluminam.  Há experiências de amor, de autenticidade, de liberdade, de beleza e de bondade. Por vezes, o transcendente aparece na experiência de amar e de ser amado. No coração de tais experiências há setas apontando para o Transcendente,  este que se aproxima de nós no Coração aberto do Redentor.

8. Mesmo a experiência do amor humano, por mais densa e preciosa  que possa ser, não acalma totalmente  nossa sede.  Esta experiência convive com uma sensação de solidão nunca satisfeita porque temos uma capacidade de relação infinita que só o mistério de alguma coisa transcende é capaz de satisfazer.

9. Nós, cristãos, cremos que no fundo da realidade há um mistério último que é o amor. Foi o que nos revelou  Jesus,  um Deus Pai,  Filho e Espírito que cria por amor com a única finalidade do bem de suas criaturas, tendo como único limite sua inevitável finitude.  Toda a realidade tão complexa não é fruto do acaso nem está destinada a desaparecer, mas é habitada por uma energia que a cria e a sustenta.  Além disso, o  Senhor atua em suas criaturas e conta conosco para que seu projeto se torne  realidade no  mundo.

10. Para poder transmitir esta presença, para que se torne palpável, temos que experimentar  Deus como Pai, sentir sua  bondade, sua compaixão, experimentar a confiança total em sua misericórdia, encher-nos de sua oferta de amor para refletir em nossa própria vida  o rosto desse Deus  no qual se pode colocar nossa esperança última.

11. Os tempos mudaram e a Igreja precisa de outra linguagem que manifeste esse Amor que está simbolizado no peito aberto de Jesus. “Necessitamos apresentar outras imagens  (de Deus), outras figuras alternativas que motivem para se buscar uma vida mais autêntica  e que possa inspirar uma felicidade profunda.  Vida de gente digna de crédito no contexto atual. Necessitamos de cristãos  bem formados, capazes de resistir ao embate da sedução  dos valores em voga com uma interioridade forjada, fruto da contemplação. Homens e mulheres que mostrem com suas vidas, com sua proximidade, por meio de valores como a solidariedade e gratuidade, pequenos sinais concretos de esperança  de que um outro mundo é possível e que há outros  caminhos alternativos  para alcançar a sonhada  “felicidade”.  Saber que há a esperança do sentido.  Homens e mulheres cuja presença e cuja vida sejam uma mola  que façam vir à tona as perguntas que  carregamos no coração”  (Maria José  Cancelo Baquero, La sed de Dios, in Sal Terrae 76 (1998), p. 455).

12. Talvez de tanto jogar lixo no Manancial  tenha desaparecido de nossa consciência esta sensação que tão bem descreveu  Santo Agostinho:  Senhor nos criaste para ti, e nossa alma estará inquieta enquanto não descansar em ti.  Ele que nos criou com tanto amor, que em Jesus, no alto da cruz  nos amou até o fim, anda inquieto até o deixemos habitar em nosso interior. Voltemos a Maria José  Cancelo  Baquero:  “Ele sempre estará ao nosso lado, batendo à nossa porta, provocando encontros  pelos nossos caminhos.  Ele  sim parece estar  como que sedento de nosso amor, até que por fim  nos deixemos refazer, recriar, renovar em seu amor livre e gratuito, de tal modo que só valha a pena viver  respondendo-lhe com amor generoso,  amor esse que ele mesmo colocou em nossos corações, vivendo uma vida entregue por amor a todas as criaturas” (p.457).  Ora, esse é a missão do devoto do Coração  do Senhor:  pela vida anunciar amor do Amado.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, Ofm

Extraído de: http://www.franciscanos.org.br/

1 de agosto de 2013

Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula: O perdão de Assis


Mensagem do Papa Paulo VI e Carta do Papa João Paulo II sobre a Porciúncula

Mensagem de Paulo VI
Ao Revmo. Padre Constantino Koser, Vigário Geral da Ordem dos Frades Menores, na passagem do 750º ano da “Indulgência da Porciúncula”, concedida pelo Papa Honório III a São Francisco.
Ao dileto filho, saudação e bênção apostólica. A sacrossanta igreja da Porciúncula, que São Francisco “amou acima de qualquer outro lugar no mundo” , tornou-se dia após dia mais célebre no mundo católico, porque ali o seráfico Pai maravilhosamente disse e fez muitas coisas, mas sobretudo porque foi enriquecida com especial indulgência, que por isso é chamada de “Indulgência da Porciúncula”, e que há muitos séculos é lucrada por aqueles que piedosamente visitam aquela igreja.
Nestes dias em que se celebra o 750º ano desta indulgência, segundo a tradição concedida a São Francisco por Honório III e muitas vezes confirmada, no decorrer dos séculos, por nossos Predecessores, é para Nós um prazer dirigir-nos aos fiéis cristãos que, continuando o costume e o uso dos antepassados, dirigem-se à Porciúncula, que refulge por insigne antigüidade, para ali procurarem uma mais perfeita e pronta reconciliação com Deus, onde “quem orar com devoção alcançará o que pedir” .
Para repetirmos as palavras que recentemente escrevemos movidos por solicitude pastoral, “somente podemos achegar-nos ao Reino de Cristo pela ‘metanoia’, isto é, mediante a íntima transformação de todo o homem, pela qual ele começa a pensar, a julgar e a regular sua vida sob o impulso da santidade e caridade de Deus, ultimamente manifestadas no Filho e plenamente comunicadas a nós” .
Ora, é exatamente aos fiéis, que levados pela penitência se esforçam por chegar a esta ‘metanoia’, para que, após o pecado, alcancem a santidade com a qual foram vestidos em Cristo pelo batismo, que a Igreja vai ao encontro também com a distribuição das indulgências, como que para sustentar com o materno abraço de sua ajuda a fragilidade de seus filhos enfermos.
Portanto, a indulgência não é o caminho mais fácil pelo qual possamos evitar a necessária penitência dos pecados; mas é antes um apoio que os todos os fiéis, humildemente conscientes de sua fraqueza, encontram no corpo místico de Cristo, que “colabora para a sua conversão com caridade, exemplo e orações” .
Um ensinamento claríssimo de tal vontade de penitência, unida à consciência da própria enfermidade nos foi deixado pelo próprio São Francisco, aquele que se apresenta a nós tão perfeitamente expresso como “o novo homem que foi criado por Deus em justiça e verdadeira santidade” . Com efeito, ele não só nos dá um exemplo de sua radical conversão a Deus e de uma vida verdadeiramente penitente, mas em sua Regra também manda que se admoestem os homens “a perseverarem todos na verdadeira fé e penitência, porque de outra forma ninguém poderá salvar-se” ; igualmente, na explicação da oração do Senhor, assim implora ao Pai que está nos céus: “perdoai-nos as nossas ofensas: por vossa inefável misericórdia e o inaudito sofrimento de vosso dileto Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, e pela poderosa intercessão da beatíssima Virgem Maria, bem como pelos méritos e súplicas de todos os vossos eleitos”.
Com razão, cremos que estas exortações de São Francisco, como também a admirável caridade que o levou a pedir para todos os fiéis a indulgência da Porciúncula tenham nascido do desejo de comunicar aos outros a doçura de espírito que ele mesmo experimentou após pedir a Deus o perdão dos pecados. É o que Frei Tomás de Celano, o principal escritor da vida deste homem seráfico, nos narra com delicadíssimas palavras: “Admirando a misericórdia do Senhor nos muitos benefícios que executava por seu intermédio, e desejando que o Senhor se dignasse mostrar-lhe o progresso que ele e os seus fariam na perfeição, foi para um lugar de oração, como fazia com freqüência. Lá ficou bastante tempo rezando com temor e tremor, diante do Senhor de toda a terra. Relembrando com amargura os anos que aproveitara mal, repetia sem cessar: ‘Deus, tende piedade de mim que sou pecador’. O íntimo de seu coração começou a extravasar sensivelmente uma alegria incontável e uma suavidade sem tamanho. Sentiu-se desfalecer, dissipando-se os temores e as trevas que se tinham juntado em seu coração por medo do pecado, e lhe foi infundida uma certeza da remissão de todos os pecados e uma confiança de que viveria da graça” .
Ora, o primeiro fruto da penitência é a consciência dos nossos pecados: “Se queres que Deus te perdoe, reconhece-te pecador. Sê juiz de teu pecado, não advogado” .
Por isso, fazendo-nos acusadores de nós mesmos diante da Igreja, à qual Jesus Cristo entregou as chaves do reino dos céus , receberemos a remissão da culpa e da pena; todavia, isso não deve retardar o caminho de nosso retorno a Deus. Devemos assumir o jugo de Cristo, sua cruz que encontramos ou que abraçamos voluntariamente pela mortificação; pelas boas obras e sobretudo pelos frutos da caridade fraterna, é preciso que demonstremos a sinceridade de nosso retorno à casa do Pai e nossa mais plena e nova inserção no corpo de Cristo, que é a Igreja.
O fiel penitente que faz essa renovação do espírito, como dissemos acima, não está só, pois “de certo modo é purificado pelas obras de todo o povo e é lavado e limpo interiormente pelas lágrimas de todo aquele que é redimido do pecado pelas orações e lágrimas do povo. Porque Cristo deu à sua Igreja o poder de redimir um fiel por meio de todos, o deu a ela, que mereceu a vinda do Senhor para que todos fossem redimidos por meio de um” .
A indulgência que a Igreja concede aos penitentes é manifestação da admirável comunhão dos Santos, que une misticamente no vínculo da caridade de Cristo a Beatíssima Virgem Maria e o conjunto dos cristãos triunfantes no céu ou que permanecem no purgatório ou que peregrinam na terra. Com efeito, a indulgência que é concedida por ação da Igreja diminui ou abole totalmente a pena que, de algum modo, impede o homem de conseguir uma mais estreita união com Deus; por isso, nesta especial forma da caridade eclesial, o fiel penitente encontra um válido auxílio para despir-se do velho homem e revestir-se do novo, “que vai se renovando para o conhecimento segundo a imagem de quem o criou”.
Em base a estas reflexões, desejamos que o 750º aniversário da concessão desta indulgência seja de tal modo celebrado que a Porciúncula seja realmente o santuário do pleno perdão e da garantida paz com Deus.
Bem sabemos que no decorrer de tantos séculos grande número de peregrinos acorreram à igreja da Porciúncula, através de longas e difíceis viagens, para encontrarem nos braços da Rainha dos Anjos, a quem a capela e a basílica da Porciúncula é dedicada, a serenidade de espírito pelo perdão dos pecados e pela renovação da graça divina. Sabemos também que ainda hoje, mas especialmente na festa da dedicação da mesma capela, dia em que a indulgência da Porciúncula é estendida a todas as igrejas da Ordem Franciscana, muitos peregrinos chegam à Porciúncula, não levados pela curiosidade ou pelo prazer, mas somente para pedir a Deus o perdão dos pecados, para depois sentir-se mais na intimidade do Pai celeste. Realmente, são estes os peregrinos que verdadeiramente nos mostram o significado da grande peregrinação da vida do homem: uma longa e árdua caminhada que nos conduz a Deus.
Realmente, seria de desejar que as peregrinações, individuais ou de grupos, tornadas mais freqüentes pela facilidade dos meios de transporte, não perdessem o caráter de piedade e de penitência, mas conservassem este sentido de um esforço profundamente religioso.
Queira Deus que não seja interrompida a secular tradição da peregrinação à igreja da Porciúncula, devotamente empreendida por nosso imediato Predecessor João XXIII, mas antes cresça o número dos fiéis que, neste santuário vão ao encontro de Cristo, Senhor misericordioso, e de sua Mãe, que é poderosa intercessora junto a Ele.
Esperando que tudo aconteça conforme o nosso desejo, a ti, dileto filho, a toda a família franciscana e a todos que se reunirão no santuário da Porciúncula para celebrar solenemente este aniversário, com prazer concedemos no Senhor a bênção apostólica.
Dada em Roma, junto a São Pedro, no dia 14 do mês de julho, de 1966, quarto ano de nosso Pontificado.
PAPA PAULO VI

Carta do Papa João Paulo II sobre a Porciúncula
Ao Reverendíssimo Padre
Giacomo Bini
Ministro geral
da Ordem Franciscana dos Frades Menores

1. A reabertura da Basílica e da Capela da Porciúncula, após os restauros realizados em conseqüência do terremoto de 1997, oferece-me a agradável oportunidade de dirigir uma afetuosa saudação a você, Irmão amado, e à Comunidade franciscana que, em Assis, desempenha um precioso serviço eclesial e zela pelo decoro dos lugares caros à memória do Poverello de Assis e pelos fiéis e peregrinos que chegam à terra de Francisco e Clara para uma experiência espiritual intensa. Os pés dos fiéis se detêm às portas de Assis, que, por tantas maravilhas de misericórdia ali realizadas, com razão é definida como “cidade predileta do Senhor (LegSC 21).
Hoje, a Capela da Porciúncula e a Patriarcal Basílica que a guarda reabrem suas portas para receber as multidões de pessoas atraídas pela saudade e pelo fascínio da santidade de Deus, copiosamente manifestada no seu servo Francisco. O Poverello acreditava que “a graça divina podia ser concedida aos eleitos em todos os lugares; mas sabia, por experiência, que o lugar de Santa Maria da Porciúncula estava repleto de uma graça mais fecunda [...] e, por isso, muitas vezes dizia aos frades: [...]Este lugar é verdadeiramente santo, morada de Cristo e da Virgem, sua Mãe” (EspPf 83). Para Francisco, a humilde e pobre igrejinha tornou-se a imagem de Maria Santíssima, a “Virgem feita Igreja” (SaudVM 1), uma humilde e “pequena porção do mundo” (2Cel 18), mas indispensável para que o Filho de Deus se fizesse homem. Por isso o Santo invocava Maria como tabernáculo, casa, manto, serva e Mãe de Deus (cf. SaudVM 4-5).
Exatamente na Capela da Porciúncula, que ele havia restaurado com as próprias mãos, Francisco, iluminado pelas palavras do capítulo 10 do Evangelho de Mateus, decidiu abandonar a precedente breve experiência eremítica, para dedicar-se à pregação entre o povo, “com a simplicidade de sua palavra e a generosidade de seu coração”, como atesta o primeiro biógrafo, Tomás de Celano (1Cel 23). Assim, deu início a seu típico ministério itinerante. Mais tarde, é na Porciúncula que se dá a vestição de Santa Clara e se funda a Ordem das “Pobres Damas de São Damião”. Aqui também, Francisco impetrou de Cristo, mediante a intercessão da Rainha dos Anjos, o grande perdão ou “indulgência da Porciúncula”, confirmada por meu venerável Predecessor, o Papa Honório III, a partir de 2 de agosto de 1216. A partir de então teve início a atividade missionária, que levou Francisco e seus frades a alguns países muçulmanos e a várias nações da Europa. Aqui, enfim, cantando, o Santo recebeu “nossa irmã a Morte corporal” (CantS 12).

2. A igrejinha da Porciúncula conserva e difunde uma mensagem e uma graça muito especiais da experiência do Poverello de Assis; mensagem e graça que perduram até hoje e que constituem uma fonte de apelo espiritual para os que se deixam fascinar por seu exemplo. Nesse sentido, é importante o testemunho de Simone Weil, a filha de Israel fascinada por Cristo: “Enquanto estava sozinha na pequena capela românica de Santa Maria dos Anjos, incomparável milagre de pureza e onde Francisco rezou tantas vezes, pela primeira em minha vida, alguma coisa mais forte do que eu me obrigou a ajoelhar-me” (Autobiografia espiritual).
A Porciúncula é um dos lugares mais veneráveis do franciscanismo, caro não só à Ordem dos Menores, mas também a todos os cristãos que aqui, como que esmagados pela intensidade das memórias históricas, recebem luz e estímulo para uma renovação de vida, sob o sinal de uma fé mais enraizada e de um amor mais genuíno. Por isso, para mim é muito caro destacar a mensagem especial que brota da Porciúncula e da indulgência a ela ligada. É uma mensagem de perdão e de reconciliação, isto é, de graça, que, se estivermos bem dispostos, a bondade divina derrama sobre nós, porque Deus é verdadeiramente “rico em misericórdia” (Ef 2,4). Como não reavivar diariamente em nós a humilde e confiante invocação da redentora graça de Deus? Como não reconhecer a grandeza desse dom que ele nos ofereceu em Cristo “uma vez para sempre” (Hb 9,12) e nos repropõe continuamente com imutável bondade? É o dom do perdão gratuito, que nos dispõe à paz com Ele e com nós mesmos, infundindo-nos renovada esperança e alegria de vida. Considerando tudo isso, é fácil compreender a austera vida de penitência de Francisco e por que somos convidados a ouvir o apelo a uma constante conversão, que nos separe de uma conduta egoísta e, com decisão, oriente nosso espírito para Deus, ponto focal de nossa existência.

3. Tenda do encontro de Deus com os homens, o Santuário da Porciúncula é casa de oração. “Quem rezar com devoção neste lugar conseguirá o que pedir” (1Cel 106), gostava de repetir Francisco, depois que pessoalmente havia feito experiência disso. Dentro dos velhos muros da pequena igreja, todos podem saborear a doçura da oração em companhia de Maria, a mãe de Jesus (cf. At 1,14), e experimentar sua poderosa intercessão. Naquele edifício restaurado com suas mãos, o homem novo Francisco ouviu o convite de Jesus que o chamava a modelar a própria vida “segundo a forma do santo Evangelho” (Test 14) e a percorrer as estradas dos homens, anunciando o Reino de Deus e a conversão, em pobreza e alegria. Dessa forma, aquele lugar santo se tornara, para Francisco, “a tenda do encontro” com o próprio Cristo, Palavra viva de salvação. A Porciúncula é, particularmente, “terra do encontro” com a graça do perdão, que amadureceu numa íntima experiência de Francisco que, como escreve São Boaventura, “um dia, quando, [...] a chorar, deplorava amargamente os anos passados, sentiu-se invadido pela alegria do Espírito Santo e teve a certeza de que seus pecados tinham sido plenamente perdoados” (LegM III,6). Querendo que todos participassem de sua pessoal experiência da misericórdia de Deus pediu e obteve a indulgência plenária para aqueles que, arrependidos e confessados, peregrinassem à igrejinha para receber a remissão dos pecados e a superabundância da graça divina (cf. Rm 5,20).

4. A todos que, em autêntica atitude de penitência e reconciliação, seguem as pegadas do Poverello de Assis e recebem a indulgência da Porciúncula com as requeridas disposições interiores, desejo que experimentem a alegria do encontro com Deus e a ternura do seu amor misericordioso. Este é o “espírito de Assis”, espírito de reconciliação, de oração, de respeito mútuo que, de coração, espero que seja para todos um estímulo à comunhão com Deus e com os irmãos. É o mesmo espírito que marcou o encontro de oração pela paz com os representantes das religiões do mundo, que acolhi na Basílica de Santa Maria dos Anjos, a 27 de outubro de 1986; um acontecimento do qual guardo uma viva e grata recordação.Com estes sentimentos, também eu me dirijo em peregrinação espiritual para esta celebração da indulgência da Porciúncula na restaurada Basílica da Bem-aventurada Virgem, Rainha dos Céus, na iminência do Grande Jubileu da encarnação de Cristo. A Nossa Senhora, filha eleita do Pai, confio aqueles que em Assis e em todas as partes do mundo querem receber hoje o “Perdão de Assis”, para fazer do próprio coração uma morada e uma tenda para o Senhor que vem.

A todos a minha bênção, Castel Gandolfo, 1° de agosto de 1999, vigésimo primeiro de Pontificado.