29 de abril de 2013

Reflexão - Sucesso



“Uma chave importante para o sucesso é a autoconfiança. Uma chave importante 
para a autoconfiança é a preparação”.
Arthur Ashe.

O sucesso é uma jornada, não um destino. A ação é geralmente mais importante que o resultado. A dedicação, a luta, o empenho, o suor pode, muitas vezes, suplantar o mero talento, quando a este não é associado dedicação. O sucesso é galgar etapas, suplantar metas, ir além de o mero cumprir horário de trabalho.

O trabalho não é uma mera ocupação, mas uma maneira de contribuirmos para a evolução da sociedade humana. Quando trabalhamos de maneira digna colaborar com o próprio Deus, pois sua obra não está pronta. Participamos da criação com nossa inteligência, com os dons e talentos que Ele mesmo nos concede… O reino de Deus pertence a todos (as) que trabalham, que lutam, que se colocam a serviço da humanidade!

Frei Paulo Sérgio, ofm

26 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - XII

Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.


PONTOS DETERMINANTES:

1. A experiência que está na base de qualquer sistema. O pensamento dos mestres franciscanos articulou-se a partir de uma experiência prévia, pessoal e comunitária. A teoria é resultado de uma práxis condicionante.

2. A experiência instalada em uma situação. Contexto histórico social. O fundacional, o originário, o tempo, as circunstâncias da Idade Média.

3. O suporte vital do pensamento franciscano não são as ideias do pensamento grego, mas as verdades reveladas do cristianismo. É uma filosofia na fé.

4. O  horizonte é importante para a compreensão de um texto, de um sistema, da realidade. Colocar-se e compreender a partir dele. O horizonte do franciscanismo consiste em ter vivo o sentido da presença gratuita de Deus e de todo ser criado que é interpretado como linguagem divina. Este sentido de presencialidade gratuita em Francisco e nos pensadores de sua Família lhes dá um modo peculiar de ver, de sentir, de participar, de celebrar a própria vida e de elaborar um sistema filosófico com grande atenção e respeito às diversas realidades que resistem a ser interpretadas a partir dos grandes princípios.

5. Tudo isto dá um  empenho  especial: a vida como um modo de ser espiritual, psicológico e existencial que se traduz num estilo concreto e específico de viver, pensar e de construir um universo mental articulado em sistema filosófico. O humano pode conhecer o mundo, a natureza e todos os seres que há nela, mas tudo isso serviria muito pouco, se ele não descobrir na natureza o vestigium Dei, isto é, as pegadas de Deus, e em si mesmo a imago Dei e o ser capax Dei in homine, se ele não percebe a ação divina no mundo e a capacidade de infinito no ser humano.

6. Um campo inteligível : o modo próprio e original de focalizar os grandes temas de Deus, do humano e do mundo. Um sentido prático de estudo. A reflexão pensada a partir do cotidiano, a partir da própria vida em toda a sua problemática humana, social, ética e política. É um pensar inquieto que constantemente busca. Aberto ao que acontece na vida, todos os seres são interlocutores válidos aos quais se deve escutar. O intelectual franciscano tem mais vontade de escuta do que de suspeita. Não só buscar a razão das coisas, mas a verdade das coisas. Esta verdade só se encontra na humildade e na atitude de escuta e acolhida. No franciscanismo, os grandes problemas ontológicos, antropológicos, religiosos, éticos, epistemológicos e cosmológicos nunca estão definitivamente possuídos, mas convidam a novas “posses” e interpretações. O pensamento franciscano que brota da vida e da experiência inacabada, é sempre um ´pensamento inaugural que vai além da palavra falada e escrita para converter-se em palavra falante.

Continua...

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

25 de abril de 2013

Reflexão - Amizade



“Amizade é tudo aquilo que demonstramos mesmo em silêncio, pois os melhores amigos são aqueles que até no silêncio nos fazem felizes”.
 Gandhi.

Mais uma vez venho falar de amizade, dessa experiência tão rica e tão significativa em nossas vidas. Entendo que tal experiência é única em cada experiência, pois cria a unidade entre dois corações, proporciona momentos de pura confiança, encontros que, por si só, valem uma eternidade. Na experiência da amizade as pessoas podem ser o que são, sem máscaras e nem representações…

Ser aquilo que se é torna-se um grande desafio para cada um de nós, pois somos sempre tentados a ser aquilo que não somos… É preciso assumir-se, ter a audácia e a coragem de dar sentido à própria história, de resignificar aquilo que não dependeu de cada um… E a relação da amizade proporciona-nos tais encontros, faz-nos ver diante do nosso próprio espelho… Faz-nos pessoas mais equilibradas, confiantes e felizes!

Frei Paulo Sérgio, ofm

24 de abril de 2013

III Reunião da Equipe Nacional de Formação




No dia 20 de abril houve a terceira Reunião da Equipe Nacional de Formação. Como de costume a Reunião foi nas dependências do Regional Sudeste III, em São Paulo. O assunto principal da pauta foi o Encontro Nacional de Formadores, que acontecerá de 14 a 16 de junho de 2013, no Centro Sagrada Família, em São Paulo.

O Encontro terá como tema: Ordem Franciscana Secular: Família, Juventude e Comunicação, pois o seu objetivo é fazer com que as Prioridades do Capítulo Nacional cheguem às Fraternidades Locais, para que se mantenha a mesma linha de trabalho, respeitando sempre, é claro, a realidade de cada Região. Foram elaborados os sub-temas e os respectivos assessores.

A falta de Assistentes Espirituais em algumas Regiões tem sido uma grande preocupação do Conselho Nacional, por isso, a Equipe já começou a pensar no Encontro Nacional para Formação de Assistentes Leigos, previsto para o próximo ano.

A pedido do Ministro Nacional, foi feito uma lista de material de formação que a OFS do Brasil deverá encaminhar para as Irmãs Clarissas Capuchinhas de Moçambique, que estão dando acompanhando à OFS naquele local. Esta solicitação foi feita ao Conselho Nacional pelo CIOFS.

Foi tratada a questão do espaço para a Formação no SITE do Nacional e revista a seqüência dos artigos para a Revista Paz e Bem.

Encerramos dando glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo pelo trabalho realizado e, em seguida fomos para o merecido almoço fraterno.

Maria Bernadette Nabuco do Amaral Mesquida
Coordenadora Nacional da Formação Integrada

23 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - XI




Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.


- O pensamento filosófico-teológico dos mestres franciscanos possui plena coerência na elaboração e estruturação de um sistema cosmovisional, em sintonia com os princípios – chave do franciscanismo.



- O pensamento franciscano, por ser luminoso, é sumamente simples, imediato e coerente. Desenvolve-se em forma circular até chegar ao centro ôntico de sentido, em torno do qual se movem, gravitam e se explicam todas as esferas referenciais.

- A arqueologia viva do franciscanismo é Francisco de Assis e a experiência primitiva de fraternidade, que são como que o código genético que condiciona e quase determina o conteúdo e a expressão do pensamento elaborado posteriormente. É somente partindo desta arqueologia prévia e do código genético comunitário, que se gesta na experiência compartilhada do grupo, que poderemos compreender aquilo que se chama pensamento franciscano.

- O franciscanismo não é um sistema teológico-filosófico elaborado especulativamente a partir de princípios puramente racionais e abstratos, mas nasce, potencializa-se e amadurece a partir de uma experiência vivida e compartilhada; e só é compreensível e apreensível em contato com essa experiência pessoal e comunitária.

- Não se deve esquecer que o franciscanismo primordialmente é vivência, mas ao ser vivência partilhada se converte em convivência.

- Não é o pensamento pensado dos escritores franciscanos que forma e conforma o conteúdo ou o estilo do pensamento pensante franciscano e que orienta e configura sua forma e seu estilo de viver, mas é a dimensão existencial franciscana, a existência transformada em convivência que atua como energia espiritual e como pensamento do pensamento.

- Um pensamento que nasce e se descobre na sua identidade de propósitos e na sua fidelidade ao espírito do Evangelho em cada pensador, reconhecível comunitariamente. Se forja e se nutre na fraternidade.

- A presença é uma realidade fontal, originante e configurante.

- O franciscanismo tem um corpo doutrinal, mas, ao mesmo tempo é trabalho, é núcleo e é desdobramento, é vivência e é projeto.

- Tem a força de criar um universo simbólico, que brota da raiz comum do próprio grupo e sua interpretação específica do mundo vivido e pensado.

Continua...


Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

22 de abril de 2013

Reflexão - Disposição





"O bom da vida se esconde no inesperado. Hoje só quero a rotina de uma vida feliz". Padre Fábio de Melo

A nossa existência é permeada pela rotina, pelos ritos, pelo cotidiano, pelo ordinário. E isso pode ser um peso, pois pode se tornar um fardo, um fado (destino, vaticínio uma sorte) e um en-fado! Na verdade, não é fácil ajustar nossas vidas ao cotidiano, mas ela passa por ele. Cabe a nós a criatividade de fazer de maneira diferente e nova aquilo que parece enfadar ou cansar nossos dias! Cabe a nós o desejar, o querer e o fazer… Cabe a cada um (a) dis-posição e coragem de multiplicar seus talentos!

É preciso saber fazer do ordinário algo extraordinário! Como? permeando nossas ações pelo amor oblativo, pelo amor-serviço, pelo amor-doação… Cada dia, em si, é algo extraordinário, pois ele traz a novidade do próprio tempo. É preciso que aprendamos a tirar o prazer dos afazeres, o prazer de trabalhar, o prazer de participar da evolução da humanidade… Cada pessoa é única e insubstituível. Cada pessoa pode (e deve) colaborar, com seu jeito e com seus dons, para a beleza da vida…

Frei Paulo Sérgio, ofm

21 de abril de 2013

Reflexão - Otimismo



“O otimismo é a fé em ação. Nada se pode levar 
a efeito sem otimismo”.
Helen Keller

Procure semear otimismo e plantar sementes de paz, justiça, de solidariedade… Diga o que pensa, com esperança, e evite toda forma de achismo. Pensa sempre naquilo que faz, pois a reflexão proporciona maiores acertos do que erros. Faça sempre o que deve ser feito, com amor e não se deixe contaminar pelos erros e fraquezas das pessoas.

Procure se esforçar para ser melhor a cada dia, pois Deus conta com sua capacidade e deu-te dons e talentos. Sê perseverante em seus sonhos e não desista diante das dificuldades. Se o vento parece contrário, não reclame e nem cruze os braços… Erga as velas do teu barco e aproveita essa energia para avançar…

Frei Paulo Sérgio, ofm

19 de abril de 2013

Reflexão- Gratidão



“Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida”. Sêneca

A gratidão desbloqueia a abundância da vida. Ela torna o que temos em suficiente, e muito mais… A gratidão a torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em claridade. Ela pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo. A gratidão vai transformando nossas ações e nos fazendo mais humanos, mais generosos, mais felizes.

A gratidão dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã. A gratidão transforma nossos corações e nos faz enxergar beleza onde não víamos e encontrar sossego e bem estar nas coisas simples e no cotidiano da vida. A gratidão permite-nos olhar da janela e ver os campos, os vales e as montanhas… com o olhar de Deus!

Frei Paulo Sérgio, ofm

18 de abril de 2013

Papa Francisco, promotor da consciência ecológica?



Por Leonado Boff (*)


Cresce mais e mais a consciência de que entramos numa fase perigosa da vida na Terra. Nuvens escuras nos ocultam as estrelas-guias e nos advertem para eventuais tsunamis ecológicos-sociais de grande magnitude. Faltam-nos líderes com autoridade e com palavras e gestos convincentes que despertem a humanidade, especialmente, as elites dirigentes, para o destino comum da Terra e da Humanidade e para a responsabilidade coletiva e diferenciada de garanti-lo para todos.

É neste contexto que a figura do bispo de Roma, Francisco, poderá desempenhar um papel de grande relevância. Ele explicitamente se religa à figura de São Francisco de Assis. Primeiramente, pela opção clara pelos pobres, contra a pobreza e pela justiça social, nascida inicialmente no seio da Igreja da libertação latino-americana em Medellin (1968) e Puebla (1979) e feita, segundo João Paulo II, patrimônio da Igreja Universal. Esta opção, bem o viram teólogos da libertação, inclui dentro de si o Grande Pobre que é nosso planeta superestressado, pois a pisada ecológica da Terra foi já ultrapassada em mais de 30%. Isso nos remete a um segundo ponto: a questão ecológica, vale dizer, como devemos nos relacionar com a natureza e com a Mãe Terra? É neste particular que Francisco de Assis pode inspirar a Francisco de Roma. Há elementos em sua vida e prática que são atitudes-geradoras. Vejamos algumas.

Todos os biógrafos do tempo (Celano, São Boaventura, Legenda Perugina e outros) atestam “o terníssimo afeto que nutria para com todas as criaturas”; “dava-lhe o doce nome de irmãos e irmãs de quem adivinhava os segredos, como quem já gozava da liberdade e da glória dos filhos de Deus”. Recolhia dos caminhos as lesmas para não serem pisadas; dava mel às abelhas no inverno para que não morressem de frio ou de escassez; pedia aos jardineiros que deixassem um cantinho livre, sem cultivá-lo, para que ai pudessem crescer todas as ervas, inclusive as daninhas, pois “elas também anunciam o formosíssimo Pai de todos os seres”.

Aqui notamos um outro modo-de-estar no mundo, diferente daquele da modernidade. Nesta, o ser humano está sobre as coisas como quem as possui e domina. O modo-de-estar de Francisco é colocar-se junto com elas para conviver como irmãos e irmãs em casa. Ele intuiu misticamente o que hoje sabemos por um dado de ciência: todos somos portadores do mesmo código genético de base; por isso, um laço de consanguinidade nos une, fazendo que nos respeitemos e amemos uns aos outros e jamais usemos de violência entre nós. São Francisco está mais próximo dos povos originários, como os yanomamis ou os andinos que se sentem parte da natureza do que dos filhos e filhas a modernidade técnico-científica para os quais a natureza, tida como selvagem, está ao nosso dispor para ser domesticada e explorada.

Toda modernidade se construiu quase que exclusivamente sobre a inteligência intelectual; ela nos trouxe incontáveis comodidades. Mas não nos fez mais integrados e felizes porque colocou em segundo plano ou até recalcou a inteligência emocional ou cordial e negou cidadania à inteligência espiritual. Hoje, faz-se urgente amalgamar estas três expressões da inteligência se quisermos desentranhar aqueles valores e sentimentos que tem nelas o seu nicho: a reverência o respeito e a convivência pacífica com a natureza e a Terra. Esta diligência nos alinha com a lógica da própria natureza que se consorcia, inter-retro-conecta todos com todos e sustenta a sutil teia da vida.
Francisco viveu esta síntese entre ecologia interior e a ecologia exterior a ponto de São Boaventura chama-lo de “homo alterius saeculi” “um homem de um outro tipo de mundo”, diríamos hoje, de outro paradigma.

Esta postura será fundamental para o futuro de nossa civilização, da natureza e da vida na Terra. O Francisco de Roma dever-se-á fazer o portador dessa herança sagrada, legada por São Francisco de Assis. Ele poderá ajudar toda a humanidade a fazer a passagem deste tipo de mundo que nos pode destruir para um outro,vivido em antecipação por São Francisco, feito de irmandade cósmica, de ternura e de amor incondicional.

(*) Leonardo Boff é autor de A oração de São Francisco pela paz, Vozes 2009.

17 de abril de 2013

Reflexão - Cordialidade




“Cordialidade é quando amamos muito uma pessoa e tratamos todo mundo da maneira que a tratamos” 
Luiz G. Pinheiro.

Ser uma pessoa cordial faz parte de um aprendizado. Não nascemos cordiais, corteses, educados… Tornamo-nos! A cordialidade é uma afeição sincera, um jeito de ser que permeia as atitudes e o trato com as pessoas com a força do coração. Na palavra cordial temos o radical latino ‘cor, cordis’ (coração), o que designa um modo de ser e agir que passa pela ausculta do coração, ou seja, ações permeadas pelo amor, pela sensibilidade.

A cordialidade é uma categoria sócio psicológica que se opõe, num eixo à indiferença, em outro, à particularidade da ocorrência do amor, como a simpatia. Então, a cordialidade se constrói numa busca sincera e adequada de agir com delicadeza e educação, sem perder o contato com a verdade e nem com o vigor de uma existência marcante.

Frei Paulo Sérgio, ofm

16 de abril de 2013

É possível um exercício do papado diferente


Por Leonardo Boff (*)

A grave crise moral que atravessa todo o corpo institucional da Igreja fez com que  o Conclave elegesse alguém que tenha autoridade e coragem para fazer profundas reformas na Cúria romana e inaugurar uma forma de exercício do poder papal que seja mais conforme o espírito de Jesus e adequado à nova consciência da humanidade. Francisco é o seu nome.

A figura do Papa é talvez o maior símbolo do Sagrado  no mundo Ocidental. As sociedades que pela secularização exilaram o Sagrado, a falta de líderes referenciais e a nostalgia  da figura do pai como aquele que orienta, cria confiança e mostra caminhos, concentraram na figura do Papa estes ancestrais anseios humanos que podiam ser lidos nos rostos dos fiéis na praça de São Pedro. Por isso é importante analisar o tipo de exercício de poder que o Papa Francisco vai exercer. Disse em sua primeira fala que vai “presidir na caridade” e não como os anteriores com poder judicial sobre todas as igrejas.

Para os cristãos é irrenunciável o ministério de Pedro como aquele deve “confirmar os irmãos e as irmãs na fé”, segundo o mandato do Mestre. Roma, onde estão sepultados Pedro e Paulo, foi desde os primórdios, referência de unidade, de ortodoxia e de zelo pelas demais as igrejas. Esta perspectiva é acolhida também pelas demais igrejas não-católicas. A questão toda é a forma como se exerce tal função. O Papa Leão Magno (440-461), no vazio do poder imperial, teve que assumir a governança de Roma. Tomou o título de Papa e de Sumo Pontífice que eram do Imperador, incorporou o estilo imperial de poder, monárquico, absoluto e centralizado, com seus símbolos, as vestimentas e o estilo palaciano. Os textos atinentes a Pedro, que em Jesus tinham um sentido de serviço e de primazia do amor, foram interpretados como  estrito poder jurídico. Tudo culminou com Gregório VII que com o seu “Dictatus Papae” (a ditadura do Papa) arrogou para si os dois poderes, o religioso e o secular. Surgiu a grande Instituição Total, obstáculo ao caminho da liberdade dos cristãos e da sociedade.

A partir daí, o Papa emerge como um monarca absoluto com a plenitude de todos os poderes como o cânon 331 bem o expressa. Levanta a pretensão de subordinar ao seu poder toda as demais igrejas. Esse exercício absolutista foi sempre questionado, especialmente, pelos Reformadores. Mas nunca foi amenizado. Como reconhecia João Paulo II, este estilo de exercer a função de Pedro é o maior obstáculo ao ecumenismo e à aceitação pelos cristãos que vêm da cultura moderna dos direitos e da democracia. Para suprir esta falta, os últimos dois Papas organizaram uma espetacularização da fé, com viagens e eventos massivos  como a dos jovens a se realizar  no Rio.

Esta forma monárquica e absolutista representa um desvio da intenção originária de Jesus e agora com Francisco deve ser repensada à luz da intenção de Jesus. Será um Papado pastoral e de serviço à caridade e à unidade e não mais um Papado do poder jurídico absolutista. O Concílio Vaticano II estabeleceu os instrumentos para uma reformulação no governo da Igreja: o sínodo dos bispos, esvaziado e feito até agora apenas consultivo, quando foi pensado para ser deliberativo. Criar-se-ia um órgão executivo que com o Papa governaria a Igreja. Criou-se pelo Concílio a colegialidade dos bispos, quer dizer, as conferências continentais e nacionais ganhariam mais autonomia para permitir um enraizamento da fé nas culturais locais, sempre em comunhão com Roma. Representantes do Povo de Deus, cardeais, bispos, clero e leigos e até mulheres ajudariam a eleger um Papa para toda a cristandade. Faz-se urgente uma reforma da Cúria na linha da descentralização. Certamente o que fará o Papa Francisco. Por que o Secretariado para as religiões não cristãs não pudesse funcionar na Ásia? O Dicastério da unidade dos cristãos em Genebra, perto do Conselho Mundial de Igrejas?  O das missões, em alguma cidade da África? O dos direitos humanos e justiça, na América Latina?

A Igreja Católica poderia se transformar numa instância não autoritária de valores universais, do cuidado pela Terra e pela vida sob grave ameaça, contra a cultura do consumo, em favor de uma sobriedade condividida, enfatizando a solidariedade e a cooperação a partir dos últimos contra a exacerbação da concorrência. A questão central não é mais a Igreja mas a humanidade e a civilização que podem desparecer. Como a Igreja ajuda em sua preservação?   Tudo isso é possível e realizável, sem renunciar em nada asubstância da fé cristã. Importa que o Papa Francisco seja um João XXIII do Terceiro Mundo, um “Papa buono”. Só assim poderá  resgatar a credibilidade perdida e ser um luzeiro de espiritualidade e de esperança para todos.

(*) Leonardo Boff  é  teólogo, filósofo e escritor

13 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - X


Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.


- Há uma Teologia Franciscana porque seus pensadores souberam e lograram articular uma reflexão sistemática do cristianismo a partir da sensibilidade e da vontade própria da família.

- São diversos os autores desta escola, neles se harmonizam a originalidade, as diferenças nas abordagens e as críticas construtivas.

- A Teologia Franciscana não é patrimônio exclusivo desta família, mas pertence ao patrimônio da Igreja e ao campo da cultura universal.

- “No suceder-se das gerações sempre cresce o conhecimento da verdade” (Duns Scotus ).

- É surpreendente que a partir de Francisco, com quem conviviam simples e letrados, se criara e se articulara uma autêntica escola de pensamento que é solidária com os temas tratados nas demais escolas de seu tempo, embora fosse singular e diferente o modo de fazê-lo.

- Paris, Oxford, Agnello de Pisa, Roberto Grosseteste, Adam de Marsch, Tomás de York, Roger Bacon, Duns Scotus, Guilherme de Ockham, Alexandre de Hales, João de la Rochelle, Odo Rigaldi, Guuilherme de Meliton, Boaventura de Bagnoreggio, um significativo grupo de filófosos e teólogos, que se sintonizavam numa cosmovisão comum e num modo peculiar de ver a existência  e de interpretar a vida e o que há e acontece nela.

- Um modo peculiar de ver, de interpretar e de avaliar a vida e os problemas existenciais.

- Deus, o Humano, o mundo e a história articulados numa metafísica e em uma epistemologia específicas.

- Máxima liberdade de pensamento, a capacidade de pensar em oposição para o devido crescimento, a crítica aberta entre os seus próprios membros.
- Sensibilidade intelectual.

- O que lhe dá originalidade é sua consistência vital e temperamental, sua intuição e sua sensibilidade que oferecem uma visão e interpretação de Deus, do Humano e do Mundo em sintonia com a Espiritualidade do Fundador desta Família.

Continua...

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

12 de abril de 2013

Reflexão - Criação Divina


“O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha. Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaro”.
 Cecília Meireles.

E a vida deve ser sempre viva e nossas atitudes também. O medo de perder, frequentemente, tira-nos a vontade de lutar… e de ganhar! Quem perdeu os sonhos e as esperanças já deixou de viver, ainda que exista biologicamente. Mas isso já não é existir, é apenas um arrastar-se pela vida. E, se o vento sopra, traz também frescor, pois ele também é hálito que vivifica e nos dispõe a uma vida grandiosa.

Estar insensível é não ser mais atingido pela sensibilidade da vida, pela beleza da criação divina; é não ser atingido pelo sorriso de uma criança, é não querer entrar na ciranda da vida e compartilhá-la com aqueles (as) que conosco caminham. Esteja, pois, aberto ao sopro de vida do Criador e tenha um coração grandioso e grato pela vida que pulsa dentro de você!

Frei Paulo Sérgio, ofm

11 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - IX


Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.

O estudo está em função da pregação. Os frades que não vão pregar não necessitam dedicar-se aos estudos. O estudo pelo estudo não faz sentido. Ser um bom frade é mais do que ser um estudioso:

“Admoesto e exorto que os irmãos se acautelem de toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo, detração e murmuração; e os que não sabem ler não se preocupem em aprender; mas atendam a que, acima de tudo, devem desejar possuir o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar, rezar sempre a ele com o coração puro e ter a humildade e paciência na perseguição e na enfermidade e amar aqueles que nos perseguem, repreendem e censuram(...) (RB 10).



IDÉIAS PRESENTES NO MANUAL DE TEOLOGIA FRANCISCANA:

- O patrimônio doutrinal e cultural de uma escola serve na medida em que continua alimentando o pensamento das diversas gerações e é capaz de oferecer uma cosmovisão válida para cada época.

- Um pensamento criador articulado, quando é original, tem a força de estimular a continuar criando, não só demonstra seu vigor, mas também sua capacidade de sugerir que se avance pelos rumos de um mesmo horizonte espiritual.

- Todo grande pensamento fecundo é explícito no que afirma e no que evoca.

Continua...

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

9 de abril de 2013

Francisco se fez nu para cobrir a nudez do Papa


Texto de Leonardo Boff
Sabem os historiadores que o Papa do tempo de São Francisco, Inocêncio III (1198-1216), levara o Papado a um apogeu e esplendor como nunca antes na história eclesiástica. Hábil político, conseguiu que todos os reis, imperadores e senhores feudais, a exceção de apenas alguns, fossem  seus vassalos. Sob a sua regência estavam os dois poderes supremos: o Império e o Sacerdócio. Era pouco ser sucessor do pescador Pedro. Declarou-se “representante de Cristo”, não do Cristo pobre, andando pelas poeirentas estradas da Palestina, profeta peregrino, anunciador de uma radical utopia, a do Reino do amor incondicional ao próximo e a Deus,  da justiça universal, da fraternidade sem fronteiras e da compaixão sem  limites. Seu Cristo é o Pantocrator, o  Senhor do Universo, cabeça da Igreja e do Cosmos, o Rei universal.
Esta visão exaltatória favoreceu a construção de uma Igreja monárquica, poderosa e rica mas absolutamente secularizada, contrária a tudo o que é evangélico. Tal realidade só podia provocar uma reação contrária entre o povo. Surgiram os movimentos pauperistas, de pobres e de leigos ricos que se faziam pobres. Por sua conta pregavam o evangelho na língua popular: o evangelho da pobreza contra o fausto das cortes, da simplicidade radical contra a sofisticação dos palácios, da adoração do Cristo de Belém e da Crucificação contra a exaltação do Cristo Rei todo poderoso. Eram os albigentes, os valdenses, os pobres de Lyon, o seguidores de Francisco, de Domingos e dos sete Servos de Maria de Florença, nobres que se fizeram mendicantes.
Apesar deste fausto, Inocêncio III foi sensível a Francisco e aos doze companheiros que o visitaram, esfarrapados, em seu palácio em Roma, pedindo licença para viverem segundo o Evangelho. Comovido e com remorsos, o Papa lhes concedeu uma licença oral. Corria o ano 1209. Francisco nunca esquecerá este gesto generoso do Papa imperial.
Mas a história dá as suas voltas. O que é verdadeiro e imperativo, chegado o momento de sua maturação, se revela com uma força vulcânica.  Tal se revelou em 1216 em Perúgia para onde fora o Papa Inocêncio III a um de seus palácios.
Eis que ele morre subitamente, depois de 18 anos de pontificado triunfante. Logo sons lúgubres de canto gregoriano se fazem ouvir, vindos da catedral pontifícia. Executa-se o grave planctum super Innocentium(“o pranto sobre Inocêncio”).
Mas nada detém a morte, senhora de todas as vaidades, de toda a pompa, de toda glória e de todo o triunfo. O esquife do Papa jaz à frente do altar-mr: coberto de ouropéis, joias, ouro, prata e os signos do duplo poder sagrado e secular. Cardeais, imperadores, príncipes, abades, lomgasfilas de fiéis se sucedem na vigília. É o bispo Jacques de Vitry vindo de Namur e depois feito Cardeal de Frascati que o conta.
É meia-noite.  Todos se retiram pesarosos. Apenas o bruxulear das velas acesas projetam fantasmas nas paredes. O Papa, outrora, sempre cercado por nobres, está agora só com as trevas. Eis que ladrões penetram sorrateiramente na catedral. Em poucos minutos espoliam seu cadáver de todas as vestes preciosas, do ouro, da prata e das insígnias papais.
Aí jaz um corpo desnudo, já quase em decomposição. Realiza-se o que Inocêncio deixara exarado num famoso texto sobre “a miséria da condição humana”. Agora ela é demonstrada com toda a sua crueza em sua própria condição.
Um pobrezinho, fétido e miserável, se escondera num canto escuro da catedral para vigiar, rezar e passar a noite junto ao Papa que lhe aprovara seu modo de vida pobre. Ele tirou  a túnica rota e suja, túnica de penitência. E com ela cobriu as vergonhas do  cadáver violado. Era Francisco de Assis.
Sinistro destino da riqueza, grandiosidade do gesto da  pobreza. A primeira não o salvou do saque, a segunda o salvou da vergonha.
Concluíu o Cardeal Jacques de Vitry: ”Entrei na igreja e me dei conta, com plena fé, quanto é breve a glória enganadora deste mundo”
Aquele que todos chamavam de Poverello e de Fratello nada disse nem pensou. Apenas fez. Ficou nu para cobrir o nu do Papa que um dia mostrou compreensão por sua decisão de viver segundo o evangelho da pobreza radical. Esse Francisco de Assis emerge como fonte inspiradora de Francisco de Roma,o bispo da cidade e Papa.

Leonardo Boff é autor do livro Francisco de Assis: ternura e vigor (Vozes) 1999.

8 de abril de 2013

Reflexão - Plenitude




“Plenitude é quando a vida cabe no instante presente, sem aperto, e a gente desfruta o conforto de não sentir falta de nada.” (Ana Jácomo).

O que a maioria de nós leva para o relacionamento não é a plenitude, mas a carência. A carência implica uma ausência dentro de si… A carência é uma força poderosa, capaz de criar ilusões e relações dependentes, frágeis. A carência nos impele à outra pessoa para buscarmos satisfação, pois ela (carência) é falta, buraco, vazio…

Ninguém pode realmente entrar dentro de você e substituir a peça que está faltando. A plenitude quer fazer-nos inteiros, sem a necessidade de ir ao encontro com o desejo de sermos supridos. A plenitude vai ao outro para servir, para se colocar à dis-posição, para ser presença significativa, que ajuda a outra pessoa a ser também. Como já dizia Sócrates: “O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar”!

Frei Paulo Sérgio, ofm

6 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - VIII


Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.


No seu Testamento diz: “E a todos os teólogos e aos que ministram as santíssimas palavras divinas devemos honrar e venerar como a quem nos ministra espírito e vida” ( Test 13).

No primeiro grupo de Companheiros de Francisco, temos Bernardo de Quintavalle, que era “notaio”, isto é, escrivão; e Pedro  Cattani, jurista, formado em Direito na Universidade de Bolonha. Homens letrados e homens simples encontraram na Ordem o seu espaço para o aprendizado e o ensinamento; e muitos estudaram para o sacerdócio dentro da Ordem. Os frades sacerdotes, na Ordem, assumiam a pregação; e esta não era uma tarefa fácil: a pregação era feita em praça pública, com disputas, questionamentos e afrontas do público que parava, interessadamente, para ouvir. Não podemos esquecer que pairava no ar medieval a psicose da heresia. Os hereges e suas ideias atacavam os pregadores. A questão do estudo, do preparo, do testemunho, eram o modo de preparar-se para este embate. Era típico do medieval de fazer bem o que devia ser feito.

Francisco exigia uma boa preparação de  seus frades pregadores. Eles deviam ser cuidadosamente examinados pelos Ministros. Ofício da pregação e exemplo de vida não se separam:
“Não preguem os irmãos na diocese de algum bispo, quando este lhes tiver proibido. E absolutamente nenhum dos irmãos ouse pregar ao povo, se não tiver sido examinado e aprovado pelo Ministro Geral desta fraternidade e se não lhe tiver sido concedido pelo mesmo o ofício da pregação. Admoesto também e exorto os mesmos irmãos a que, na pregação que fazem, seja sua linguagem examinada e casta, para a utilidade e edificação do povo, anunciando-lhe, com brevidade de palavra, os vícios e as virtudes, o castigo e a glória; porque o Senhor, sobre a terra, usou de palavra breve” (RB 9).

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Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

5 de abril de 2013

O caminho de volta à pátria.



A fresta do Coração daquele que desceu à mansão dos mortos.


Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como  Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado.  Meu sono vai arrancar-te do sono da morte.  Minha lança deteve a lança  que estava dirigida contra ti.

(De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo)

1. Semana passada  vivemos em nossa Igreja os dias abençoados da Semana Santa. Temos bem vivas em nossas retinas as cerimônias  do tríduo pascal.  Ano após ano, no Ofício da Liturgia das Horas, lemos no sábado  santo,  uma  bela homilia  que fala da descida de Jesus  à mansão dos mortos, onde ele foi encontrar-se com nossos primeiros pais e todos os que antes  dele haviam morrido e estavam esperando o tempo da ressurreição e da renovação de todas as coisas.  Sempre  ficamos profundamente tocados com o abandono do Mestre na cruz, sua solidão, a  fuga de todos os seus com medo e falta de confiança. Impressiona-nos o grito de abandono do Senhor na cruz.

2. José  Antonio Pagola, refletindo sobre os últimos momentos da vida do Senhor  comenta a frase  “Meu Deus, meu  Deus, por que me abandonaste?”. “Estas palavras, pronunciadas em aramaico,  língua materna de Jesus, e gritadas no meio da solidão e do abandono total são de uma sinceridade esmagadora. Se Jesus não as tivesse pronunciado, ter-se-ia   alguém na comunidade cristã  atrevido a pô-la nos seus lábios? Jesus morre numa solidão total. Foi condenado pelas autoridades do templo. O povo não o defendeu. Os seus  fugiram. A seu redor só houve zombarias e desprezo. Apesar dos gritos ao Pai no Horto do Gêtsemani,  Deus não veio em sua ajuda. Seu Pai querido o abandonou a uma morte ignominiosa.  Por quê?  Jesus não chama Deus de  Abba, sua expressão habitual e familiar. Chama-o de  Eloi, “meu Deus”,  como todos os seres humanos. Sua invocação não deixa de ser uma expressão de confiança: Meu Deus! Deus continua sendo Deus, apesar de tudo.  Jesus não duvida de sua existência e de seu poder para salvá-lo. Queixa-se do seu silêncio:  onde está? Por que se cala? Por que o abandona precisamente no momento em que mais precisa dele?  Jesus morre na noite mais escura.  Não entra na morte iluminado por uma revelação sublime. Morre com um “por quê”  nos lábios.  Tudo fica agora nas mãos do Pai” ( Jesus.  Aproximação históric a,  Vozes, p. 483-484).

3. Cremos que, depois de tão tormentosa paixão, Jesus ressuscitou e vive entre nós. Na cruz ele adormeceu. E um soldado toca-lhe o lado. Por causa da humanidade, a lança ainda penetra o  Coração do  Senhor.  Tudo já consumado.  Mas há ainda  o sacramento do lado aberto. Lado aberto do Coração que é albergue e pousada dos que estão cansados.  Lado aberto que é ninho onde a esposa se esconde com o  Esposo para  inaugurar as núpcias do  Cordeiro.  Esse sono da cruz  vai continuar no sono da sepultura.  Lá ele vai acordar a  humanidade que dormia o sono da morte.

4. Antes de morrer, antes de ser descido da cruz e levado ao sepulcro, no ápice do abandono, quando  a noite descia sobre o calvário e o hóspede da cruz, há um dialogo de Jesus com um homem de coração arrependido, aquele que designamos com o delicado nome de  “bom ladrão”.  Há um caminho aberto quando  Jesus se entrega ao Pai calado. São Leão Magno fala  de uma porta aberta, de um  entrada. Porta da Paixão, porta do Coração aberto. Esse caminho empreendeu o ladrão bom:  “O povo cristão é convidado a gozar as riquezas do paraíso, e para todos os batizados está aberto  no caminho de volta à pátria perdida, desde que ninguém queira fechar para si próprio aquele caminho que se abriu  também à fé do ladrão arrependido”.

O povo cristão é convidado a gozar as riquezas do paraíso, e para todos os batizados está aberto o caminho da volta à pátria perdida,  desde que ninguém queira fechar para si próprio aquele caminho que se abriu também à fé do ladrão.  (São  Leão Magno,  LH II,  p. 280)

Frei Almir Ribeiro Guimarães - OFM

4 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - VII


Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.


Para Francisco de Assis, a “Sabedoria do Mundo” não significa a “Ciência Profana”. O estudo da Teologia torna-se “ciência profana” se for usada para dominar ou sobressair. Mas qualquer ministério pode ser usado para impor a dominação de quem sabe:

“E disse que se deviam lamentar os pregadores que muitas vezes vendem o que fazem pela moedinha do vão louvor. E por vezes tratava os tumores deles com este antídoto: “Por que vos gloriais da conversão dos homens que os meus irmãos simples converteram com suas orações? (...) E não gostava muito daqueles que desejam ser louvados mais como oradores do que como pregadores, que falam com ornato das palavras e não com afeto. E dizia que fazem má distribuição aqueles que aplicam tudo à pregação e nada à devoção. Na verdade, louvava o pregador, mas aquele que por sua vez saboreava e degustava a pregação” ( 2 Cel 164 ). ( cfr. também RnB 17)

Diz também, a respeito dos que ministram a Palavra:

“Queria que os ministros da palavra fossem de tal modo dedicados aos estudos espirituais que não fossem impedidos por outros ofícios. Dizia que eles foram escolhidos por um grande rei para transmitir aos povos os editos que recebessem de sua boca. E afirmava: “O pregador deve haurir nas orações secretas aquilo que depois vai difundir em palavras sagradas; deve antes aquecer-se por dentro para não proferir palavras frias”. Dizia que este ofício devia ser respeitado e que aqueles que os exercem deviam ser venerados por todos. Dizia: “ Eles são a vida do corpo, são eles que combatem os demônios, eles são a lâmpada do mundo”. E considerava os doutores na Sagrada Teologia dignos de mais amplas honras. De fato, certa vez, mandou escrever de modo geral: “A todos os teólogos e aos que nos ministram as palavras divinas devemos honrar e venerar como a quem nos ministra espírito e vida” ( 2 Cel 163 ).

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Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

3 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - VI

Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº.


Francisco de Assis é fundador de uma Ordem sem ter diploma, sem ser um intelectual, sem ter passado pelos horizontes do conhecimento humano onde está a filosofia, a física, o direito, a astronomia, a medicina... Mas tudo isto está implícito em sua grande percepção da vida. A Fraternidade por ele fundada não tinha um direcionamento da busca e da atividade intelectual. Acolheu pessoas simples, letradas ou não com uma única proposta: os dons existem para viver e servir segundo a Boa Nova. Entrar na Ordem, mesmo sendo douto, era renunciar o status da cientificidade. Unir a todos pelo amor fraterno e não pela bagagem da ciência.

Diz Tomás de Celano: “Ele sempre teve o constante desejo e o vigilante esforço de perseverar entre os filhos o vínculo da unidade, para que fossem afagados em paz ao colo de uma única mãe os que foram trazidos pelo mesmo Espírito e gerados pelo mesmo pai. Queria que os maiores se unissem aos menores, que os sábios se ligassem aos simples com afeto de irmão de sangue, que os distantes se associassem entre si pelo laço de amor” (2Cel 191, 1-3 ), Cfr. também 2Cel 192, 193 e 194 (Nova tradução das Fontes pgs. 419 a 421).

Não possuía apego aos livros por uma questão de desapego e desapropriação; ter livros era caro e privilégio de uns poucos.Seu livro era o Evangelho e o seguimento apaixonado do Deus presente na Experiência de Jesus Cristo. Acolheu com naturalidade os intelectuais na Ordem; acolheu-os com a mesma abertura que recebeu nobres e pobres (cfr 1 Cel 31). Muitos de seus frades estudaram e ensinaram nas universidades já em seu tempo.

Fazia um confronto entre a sabedoria do mundo, onde giravam os estudos, mas também a instrumentalização do saber para dominar, acumular, vangloriar-se, ser superior aos demais, ascender socialmente e distinguir classes. Ele não queria que o poder do saber desviasse da Minoridade (cfr 2Cel 189).

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Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

2 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - V


Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº

Da vida de Francisco nasce um movimento em Assis que vai transformar-se em Ordem e exercer forte influência na arte, no pensamento, na mística e espiritualidade, na teologia, na poesia, no teatro, cinema e música. Ele escreveu textos do próprio punho e ditou a Frei Leão outros tantos. Sobre ele surgiram muitas legendas. Escritos e legendas revelam a  fidelidade criativa e uma fértil produção de obras. As Fontes Franciscanas são ricas e dão uma identidade e um rosto para o que é o verdadeiro franciscanismo.

A inteligência de Francisco é perspicaz, aguda e precisa. Vejamos o relato de seu biógrafo (1Cel 83), que diz: “Quão belo e esplêndido, quão glorioso se manifestava na inocência de vida, na simplicidade das palavras, na pureza de coração, no amor a Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no serviço cordial, no aspecto angelical. Delicado nas maneiras, tranquilo por natureza, afável na palavra, muito convincente na exortação, fidelíssimo ao que era confiado, previdente na deliberação, eficiente no trabalho, simpático em tudo. Sereno no pensar inteligente, brando no ânimo, sóbrio no espírito, absorvido pela contemplação, assíduo na oração e fervoroso em tudo. Firme no propósito, estável na virtude, perseverante na graça e sempre o mesmo em tudo. Veloz para perdoar, lento ara irar-se, inteligência livre, memória brilhante, sutil em discutir, circunspecto em escolher e simples em tudo. Rigoroso para consigo mesmo, compassivo para com os outros, discreto para com todos”

A sabedoria de Francisco está na busca do essencial; o mergulho no essencial o torna simples. A simplicidade é consanguínea da sabedoria. Quem possui uma, necessariamente tem a outra. Diz ele em seu escrito, “Saudação às Virtudes”: “ Ave, rainha sabedoria, o Senhor te salve com tua irmã, a santa e pura simplicidade.”

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1 de abril de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - IV

Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº

Nas Fontes Franciscanas e em toda a tradição de estudos, que gira em torno destas Fontes, fala-se que Francisco tinha uma certa aversão aos estudos; podemos aceitar isto como verdade?  Como, então, falar sobre ou justificar a existência de uma Escola de Teologia Franciscana com forte cunho intelectual?  Francisco não é alguém contrário aos estudos, o que ele não queria era a sedução do status do poder de quem sabe; que o frade teólogo não se inchasse de orgulho e santa presunção, já que na Idade Média a teologia era considerada a ciência de todas as ciências; e o saber, na época, era portador de status e poder.

Ao exercitar a desapropriação, a vivência da pobreza, a minoridade, ele se dizia ignorante, idiota, iletrado, simples e totalmente despojado de qualquer domínio que possa vir da intelectualidade. Não queria estar acima de ninguém. Ser ignorante era o seu jeito convicto de ser Menor. Para a nossa compreensão, ignorante é analfabeto. Para o mundo medieval era comum o analfabetismo; 80% da população não sabiam ler, nem escrever.


Saber ler e escrever era privilégio de uns poucos: nobres, monges e clero com suas instâncias hierárquicas. Como filho de um notável mercador de Assis, Pedro Bernardone, e participando da classe nos novos ricos de seu tempo, ele tem a oportunidade de estudar junto à Escola Episcopal (uma espécie de escola paroquial) que ficava na igreja de San Giorggio (hoje Basílica de Santa Clara).

Lá, ele estudou os rudimentos de latim e gramática com monges beneditinos que prestavam este serviço aos filhos privilegiados da nobreza e da burguesia crescente. Os monges usavam como cartilha a Sagrada Escritura e os Hinos Litúrgicos, sobretudo as antífonas e os salmos. A repetição constante de textos bíblicos e litúrgicos era o método de alfabetização. Francisco aprendeu não mais que umas trezentas palavras em latim. Não era um analfabeto; tinha algum conhecimento de matemática pois ajudava nas contas dos negócios de seu pai; aprendeu com Bernardo de Quintavalle e Pedro Cattani algumas noções de Direito Comercial. Conhecia também rudimentos da língua francesa; sua mãe era da França e seu pai tinha verdadeira paixão pela França, para onde viajava frequentemente a negócios. Com a mãe aprendeu canções de gesta da cavalaria francesa, valores e costumes da corte, o “sprit de finesse”; e com o pai palavras precisas da comunicação formal em francês.

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Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/