31 de dezembro de 2013

Reflexão - Ano Novo


Um ano novo se desponta diante de nós: hora de relembrarmos os acontecimentos do passado, de escrever novos poemas, novos sonhos… Conhecer pessoas novas, viajar, aprender coisas novas, crescer, amadurecer, rir, chorar, orar. É tempo de recomeçar, de repropor, de acreditar nas pessoas, de seguir novas veredas…

Que esse ano seja realmente diferente: faça de tudo para dar certo, aproveite as oportunidades que a vida se lhe apresentar. É tempo de solidariedade, de ajudar as pessoas, de buscar a Deus com coração sincero e fazer da fé um projeto de vida. Siga em frente, continue algo que não terminou, comece um sonho que não se realizou e viva cada dia como se fosse o único que não se repete…

Feliz restinho desse tempo que ainda estamos… Feliz tempo novo que surge no horizonte!

Frei Paulo Sérgio, ofm

Santa Maria, Mãe de Deus



Rainha da Ordem Franciscana, coroa de todos os Santos.

Maria oferece a todos o caminho da santidade. Todos podemos e devemos fazer-nos santos, com uma condição, que sigamos a Jesus e a Igreja mediante a observância do Santo Evangelho. Ao término do ano nos abre igualmente as portas do céu e nos mostra a glória de todos os santos: “Sim estes se santificaram, por que não poderemos também nos santificar?”.

O mundo em que vivemos, trabalhamos e respiramos, apesar de suas prodigiosas realizações, está atormentado pela inquietude. A resposta nos vem de Maria, que oferece ao mundo angustiado o Único que tem palavras de vida eterna.

Ele que, para todos e para sempre, é “o Caminho, a Verdade e a Vida”. A história dos Magos, que se põem em caminho pelo deserto e na noite veem a luz, que os conduzirá finalmente a encontrar o Menino com a sua Mãe, e a prostrar-se ante ele, é o símbolo desta busca permanente dos homens, necessitados a voltar a encontrar o rosto de seu Salvador e o de sua Mãe.

Maria, Mãe de Jesus e da Igreja, Rainha de todos os Santos, é o celestial arco-íris, o oásis da paz, o refúgio que fraterniza e acolhe aos homens divididos. No meio das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens de hoje, dos pobres e dos que sofrem, temos necessidade de Maria, vida, doçura e esperança nossa.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”

30 de dezembro de 2013

O amor que precisa ser amado


Por Frei Almir Ribeiro Guimarães 

Francisco é o amante do Amado. Não podia se consolar que tão grande amor do Senhor não tivesse reconhecimento por parte dos homens e mulheres tão largamente agraciados. Francisco “chorava em alta voz pela Paixão de Cristo, como se tivesse diante de si constantemente visão dela. Na rua ouviam-se os seus gemidos; lembrando-se das chagas de Cristo, recusava todo consolo” (2Celano 11).

Os discípulos do Senhor, na certeza de terem sido chamados, têm duas posturas: de um lado contemplam o amor do Senhor e de outro se tornam missionários.Desejam impregnar-se do amor do Senhor no silêncio do quarto, na meditação das passagens que falam da superabundância do amor do Senhor. Detêm-se eles de modo especial diante da cruz do Senhor. E Francisco o fez de modo todo particula.

Ficou encantado com esse Senhor tão amante e tão pobre. No alto da cruz, nos momentos de total abandono, o amor se torna total despojamento. Os discípulos fogem e, condenado na solidão inominável, Jesus se contorce de dor de se ver abandonado… aparentemente até pelo Pai.Francisco deseja que os mortais se lembrem de tanto amor.

 Que se abram ao Mistério, que acolham o mundo novo de Jesus em suas vidas, que retribuam tanto amor com amor, que sejam operários de um mundo novo. Que coloquem corpo, voz, anseios, projetos à disposição do projeto de um mundo novo, mundo de justiça, de paz, de fraternismo, de respeito cortês de uns pelos outros.

Francisco chorava por ver que o Amor não era suficientemente amado.

24 de dezembro de 2013

Misterioso cartão de Natal


“Cartinha do Menino Jesus às crianças de hoje”, de Leonardo Boff

O Natal é a festa das crianças e da divina Criança que se esconde dentro de cada adulto. É altamente inspiradora a crença de que Deus se acercou dos seres humanos na forma de uma criança. Assim ninguém pode alegar que Ele é apenas um mistério insondável, fascinante por um lado e aterrador por outro. Não. Ele se aproximou de nós na fragilidade de um recém-nascido que choraminga de frio e que busca, faminto, o seio materno. Precisamos respeitar e amar esta forma como Deus quis entrar no nosso mundo. Pelos fundos, numa gruta de animais, numa noite escura e cheia de neve “porque não havia lugar para ele nas pousadinhas de Belém”.

Mais consoladora é ainda a ideia de que seremos julgados por uma criança e não por um juiz severo e esquadrinhador. Criança quer brincar. Ela se enturma imediatamente com todas as outras, pobres, ricas, japonesas, negras e loiras. É a inocência originária que ainda não conheceu as malícias da vida adulta.

A divina Criança nos introduzirá na dança celeste e no festim que a família divina do Pai, do Filho e do Espírito Santo prepara para todos os seus filhos e as suas filhas, não excluidos aqueles que, um dia, foram desgarrados.

Estava refletindo sobre esta realidade benaventurada quando um um anjo, daqueles que cantaram aos pastores nos campos de Belém, se aproximou espiritualmente e me entregou um cartãozinho de Natal. De quem seria? Comecei a ler. Nele se dizia:


“Queridos irmãozinhos e irmãzinhas:

Se vocês ao olharem o presépio e ao verem lá o Menino Jesus no meio de Maria e de José e junto do boi e do jumento, se se encherem de fé de que Deus se fez criança, como qualquer um de vocês;

Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas a presença inefável do Menino Jesus que uma vez nascido em Belém, nunca nos deixou sozinhos neste mundo;

Se vocês forem capazes de fazer renascer a criança escondida nos seus pais, nos seus tios e tias e nas outras pessoas que vocês conhecem para que surja nelas o amor, a ternura, o cuidado com todo mundo, também com a natureza;

Se vocês, ao olharem para o presépio, descobrirem Jesus pobremente vestido, quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente mal vestidas e se sofrerem no fundo do coração por esta situação e se puderem dividir o que vocês têm de sobra e desejarem já agora mudar este estado de coisas;

Se vocês ao verem a vaquinha, o burrinho, as ovelhas, os cabritos, os cães, os camelos e o elefante no presépio e pensarem que o universo inteiro é também iluminado pela divina Criança e que todos eles fazem parte da grande Casa de Deus;

Se vocês olharem para o alto e virem a estrela com sua cauda luminosa e recordarem que sempre há uma estrela como a de Belém sobre vocês, acompanho-os, iluminando-os, mostrando-lhes os melhores caminhos;

Se vocês se lembrarem que os reis magos, vindos de terras distantes, eram, na verdade, sábios e que ainda hoje representam os cientistas e os mestres que conseguem ver nesta Criança o sentido secreto da vida e do universo;

Se vocês pensaram que esse Menino é simultaneamente homem e Deus e por ser homem é seu irmão e por ser Deus existe uma porção Deus em vocês e por causa disso, se encherem de alegria e de legítimo orgulho;

Se pensarem tudo isso então fiquem sabendo que eu estou nascendo de novo e renovando o Natal entre vocês. Estarei sempre perto, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia em que chegaremos todos, humanidade e universo, na Casa de Deus que é Pai e Mãe de infinita bondade, para morarmos sempre juntos e sermos eternamente felizes”.

Belém, 25 de dezembro do ano 1.
Assinado: Menino Jesus

Por Leonardo Boff

23 de dezembro de 2013

Reflexão - Natal


Por tudo de bom que você possa representar, gostaria de desejar que Deus esteja sempre no teu caminho, no teu coração, na tua mente…  Que os Anjos estejam sempre ao teu redor para que não percas o caminho de Belém. Que possas fazer parte da grande cena no nascimento de Jesus, representando o teu papel e sendo personagem central…

Que as distâncias sejam superadas… Por algo que não se mede, nem pelo tempo, nem pelo espaço…  Lembre-se: mesmo ao longe nossos pensamentos caminham lado a lado em busca de um novo dia! Portanto, siga o caminho da estrela e que ela te conduza à manjedoura… Lá em Belém todos nos encontraremos na festa da alegria, da esperança e da salvação!!!

Frei Paulo Sérgio, ofm

21 de dezembro de 2013

O Natal ao modo de Francisco de Assis

Por Frei Edson Matias, OFMCap.


A espiritualidade franciscana está fundamentada em três momentos da vida de Jesus: nascimento, eucaristia e cruz. Aproximamos nesses dias de um desses pilares que é o Natal. Francisco quis celebrar o Natal diferentemente. Quis vivenciá-lo. Na espera da solenidade pediu para organizar a festa.

Francisco colocou animais e pessoas em um presépio vivo para despertar em si e em todos as sensações daquele momento. Ele quis vivenciar, ‘fazer experiência’. Quis sentir em seu próprio corpo como foi/é o nascimento do salvador. O santo não busca simplesmente entender com a mente, com construções teóricas e/ou doutrinais estabelecidas. Em sua simplicidade quer ‘ver’. Francisco é afeto. Quer vislumbrar, sentir em si a doçura do menino Deus.

Ao debruçar sobre a manjedoura devia querer/fazer a mesma vivência que teve com o leproso. Quis se colocar no lugar, ‘ver’ nos olhos do menino, como nos do leproso, o reflexo de Deus revelado. Na manjedoura pôde contemplar – sem formular qualquer ideia – a gratuidade de Deus e estende-la a toda criação.

A gratuidade de todas as coisas no resplendor do modo de ser de Deus. O rio que corre, a flor que desabrocha, o pássaro que voa, etc.. Todas as coisas em harmonia. Essas não procuram ser vistas ou admiradas, simplesmente são. Assim se apresentou Deus a Francisco. Um Deus diferente dos dogmas, dos grandes discursos, mas um Divino de poucas palavras e de grande envolvimento afetivo.

O natal é este tempo do resgate dessa vivência originária de nosso carisma. Aquilo que foi despertado em Francisco de Assis está bem ali em ‘Belém’. Em um estábulo, gratuitamente, nasce nosso Salvador. Não é um deus-rei rico ou poderoso. Não nasce em berço de ouro ou em palácio. O Reino de Deus se fez na manjedoura, no lava pés e na cruz. Na ‘história’ de Jesus não há trono, não há ‘reino’, nem servos subservientes. O imaginário religioso franciscano deve purificar-se de toda tentativa de fazer de Jesus um Imperador aos moldes dos cargos imperiais e estadistas. Somente assim se conseguirá adentrar no modo de operar do Espírito intuído pelo pobrezinho de Assis.

A celebração do natal nos leva a contemplar os grandes mistérios de Deus. Este Jesus próximo, humano, que nos dignifica, humaniza e diviniza. Presépio, lava pés e cruz, nosso modo de ser franciscano, revelando a maneira de agir de Deus: a gratuidade.

Que neste natal possamos aprender com a gratuidade de Deus revelado no presépio. Que
nosso coração esteja aberto para esse menino que nasce. 
T

10 de dezembro de 2013

Reflexão - Advento


“Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam”.
Carlos Drummond de Andrade

Estamos fazendo um percurso na direção de Belém. Esse caminho vai nos proporcionar um grande encontro: vamos poder contemplar o amor que fez gente, o amor de Deus que Se encarnou e veio fazer morada no meio de nós. Esse tempo chamado advento que ser um caminho que mudança de vida, para que possamos realmente nos abrir ao novo, à luz, ao amor de Deus que precisa entrar em nossos corações…

Procure desfazer de coisas velhas, mas principalmente esvazie seu coração, fique pronto (a) para a vida, para novos relacionamentos, para o amor que chega em forma de criança… Lembre-se: somos seres “apaixonáveis”, somos capazes de amar muitas e muitas vezes. Afinal de contas, nós trazemos em nós a semente do amor… somos o reflexo do amor de Deus!


Frei Paulo Sérgio, ofm

8 de dezembro de 2013

Imaculada Conceição de Maria - Devoção franciscana a Maria - Maria Santíssima na Piedade Franciscana





Do Dicionário Franciscano


A vida segundo o Evangelho serve, para Francisco, de base em vista de uma compreensão da revelação cristã: exige unidade entre esforço cotidiano e oração, encontro com Deus na vida cotidiana neste mundo e com os outros. Francisco nunca emite um pensamento de fé, um conceito teológico sem conexão com atitude vital global e sintética que possa abarcar a totalidade da existência.
Sua espiritualidade está estruturada em suas ntuições básicas e concatenadas, a saber:
a) penitência ou conversão da vida carnal, ou seja, egocêntrica, para encontrar Cristo e Deus no irmão esquecido e abandonado à mercê das forças de morte presentes no mundo e na sociedade;
b) o consequente distanciamento destas forças, associando-se aos “menores”;
c) a – pobreza voluntária para obrigar a sociedade a reconhecer, respeitar e honrar, através do retomo à Justiça, a dignidade ofendida dos pequenos; e, finalmente, a alegria ao pensar nas promessas escatológicas de Deus, em sua presença onde está o amor e na atualização da Páscoa em nossas celebrações.
São estes aspectos que Francisco encontra, reverencia, canta e Invoca em Maria.
Maria é, para Francisco, a “Senhora” pobre (2Cel 83) e Deus, escolhendo-a por Mãe, compartilha a pobreza com ela (2CtFi4-5) como caminho em vista da salvação dos homens, levando-os a viver a paternidade divina a partir de uma fraternidade humana renovada, que consiste na solidariedade real com os pobres, uma vez que, como dizia Francisco, é dignidade real e insígne nobreza “seguir o Senhor que, sendo rico, se fez pobre por nós” [2Cel 73) e partilham a pobreza salvífica de Jesus da qual devem participar todos os seus seguidores.
Ao exigir a pobreza dos frades, Francisco os coloca em relação com Cristo que foi “pobre e peregrino e vivia de esmola, ele mais a bem-aventurada Virgem e seus discípulos” (RNB 9,6). E a tua última vontade é “seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e nela perseverar até o fim (UIV 1).

Era com lágrimas nos olhos que Francisco meditava na pobreza do Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe (2Cel 2,00: LM 7, 1). Este pranto amargurado de Francisco diante do que Cristo e Maria passaram será mal entendido se não for colocado junto com a escolha de pobreza voluntária que fez e com
a honra que tributava a todos os pobres: a pobreza voluntária, unida à alegria que a acompanha, provém do fato de que para Francisco o Evangelho do Reino e da presença misteriosa de Deus em nosso meio se tomaram mais importantes do que os próprios interesses, e, para acolhê-los, é preciso
mesmo esquecer os interesses próprios, “converter-se”, “fazer penitência”.
O Deus que decidiu partilhar a pobreza com Maria tornando-se seu filho é o Deus novo que transforma em supremo o que é ínfimo, é o Deus diferente, que não age a partir de nossa lógica, que escolhe a pobreza e o pobre como seu “sacramento”, como seu sinal e seu símbolo.

Celano o diz com multa felicidade ao falar da compaixão de Francisco para com os pobres. Francisco “se derretia todo pelos pobres”. Desejava sempre “estender a mão (aos pobres)”. Celano observa que ele “era de uma clemência nata” que tinha sido redobrada teologalmente: “redobrada pela piedade infusa”. “Qualquer carência ou penúria que visse em alguém dirigia seu pensamento em rápida conversão para Cristo.

Via o Filho da pobre Senhora em todos os pobres, pois o levava nu em seu coração como ela o tinha carregado em seus braços” [2Cel 83). Neste aspecto também Francisco revela ter sido o pai dos teólogos franciscanos que não conhecem outra teologia, outra cristologia ou mariologia senão aquela que, refletindo sobre a vida de Cristo e de Maria, neles descobre aquilo que torna nossa existência melhor.
Francisco tem consciência que a salvação de Deus é para todos, mas sabe também que a maneira como ela se manifesta não é igual para todos: Deus, na encarnação – “kénosis”, assumindo a condição pobre de sua Mãe e aceitando o sofrimento inerente à finitude humana, exalta os pobres e os humilhados, os fracos e os sofredores que, depois da glorificação de Cristo e de Maria, são o espelho no qual se Imprime e se perpetua a Imagem de Deus que se exprimiu entre nós, em Cristo e Maria, pobres e sofredores: “Quando vês um pobre, meu irmão, tens à frente um espelho do Senhor e de sua pobre Mãe. Também nos doentes deves ver as enfermidades que ele assumiu por nossa causa” (2Cel 85).
Por outro lado, Deus mesmo ao decidir manifestar-se a nós na pobreza de Jesus e de Maria e manifestando-se agora nos pobres e sofredores de todos os modos contesta o – mundo desumano, a fim de que todos os que são responsáveis por criar e manter esta situação desumana e, portanto, indigna da família de Deus, redescubram sua humanidade, afastando-se de tal situação como fez, de modo radical, Francisco com sua pobreza voluntária.

A devoção mariana permite ao Poverello viver esta dimensão teologal da pobreza e as mais profundas raízes da alegria dos “menores”. Estes, em sua própria pobreza e na dos outros, experimentam como mais importante do que todos os interesses particulares, a presença de Deus no mundo e o seu Reino que vem.
É precisamente nesta alegria franciscana, pela presença divina, que a pobreza não é somente uma teoria, mas de grande eficácia: o Deus da alegria é o Deus que reverencia os pobres e denuncia forças tenebrosas que são causa de tanto sofrimento. Ao realizar esta denúncia Deus não prega o ódio aos que encarnam tais forças e se tornam seus instrumentos, aos que cedem a cobiças e ambições, mas partilhando com Maria a pobreza.

Francisco compreende a força presente na prática da pobreza evangélica, sem agressividade e ódio. Ao pobre que encontrou em Collestrada de Perúsia e que amaldiçoava “com ódio mortal” o patrão “que lhe havia tirado os bens”, Francisco diz: “Irmão, pelo amor de Deus perdoa teu patrão: assim haverás de salvar tua alma…” (2Cel 89).

O amor cavaleiresco de Francisco por Maria certamente não é uma fantasia. Esta expressão, no entanto, é ambígua e pode levar a pensar numa devoção feita de “galanteios”, quando na realidade se trata de expressão de uma piedade caracterizada pela participação na alegria de Maria que, em sua pobreza, se torna solidária dos pobres para participar na obra da encarnação de Deus, cuja paternidade só pode ser fundamentalmente invocada por aqueles que se unem a Cristo, e a tudo o que ele fez para que pudéssemos vencer a desumanidade do que sofre e possibilitar o nascimento de uma nova humanidade sob a única soberania de Deus.

Fonte: Dicionário Franciscano


Maria Santíssima na Piedade Franciscana


Por Frei Constantino Koser, OFM


O intenso amor a Cristo-Homem, qual o praticara São Francisco e qual o legara à sua Ordem, não podia deixar de atingir Maria Santíssima. Já as razões do coração católico de São Francisco e seu cavaleirismo o levavam a amor aceso da virgem Mãe de Deus. “Seu amor para com a bem-aventurada Mãe de Cristo, a puríssima Virgem Maria, era de fato indizível, pois nascia em seu coração quando considerava que ela havia transformado em irmão nosso o próprio Rei e Senhor da glória e que por ela havíamos merecido alcançar a divina misericórdia. Em Maria, depois de Cristo, punha toda a sua confiança. Por isto a escolheu para advogada sua e de seus religiosos, e em sua honra jejuava devotamente desde a festa de São Pedro e São Paulo até à festa da Assunção”.

São Francisco não é apenas um santo muito devoto, muito afeiçoado à Mãe de Deus, mas é um dos santos em que a piedade mariana aparece numa floração original e singular, sem contudo se afastar, por pouco que seja, das linhas marcadas pela Igreja. A Idade Média, da qual é Filho, teve uma piedade mariana cheia dos mais suaves encantos, porque fundada toda sobre a nobreza de sentimentos e a cortesia de atitudes de cavaleiros. Os cavaleiros se consideravam paladinos da honra e da glória de Maria Santíssima.

São Francisco, que em sua concepção específica da vida religiosa partia deste ideal e que considerava os seus como “cavaleiros da Távola Redonda”, cultivou com esmero e com intensidade toda sua o serviço da Virgem Santíssima nos moldes do ideal cavaleiroso, condicionado pelo seu conceito e pela sua prática da pobreza. Nada mais comovente e delicado na vida deste Santo, que a forte e ao mesmo tempo meiga e suave devoção à Mãe de Deus. Derivada do amor de Deus e de Cristo, orientada pelo Evangelho e vazada nos moldes e costumes do cavaleirismo medieval, transposto a uma sobrenaturalidade, pureza e força singularíssima, esta piedade mariana do Santo fundador é parte integrante do que legou à sua Ordem e aí foi cultivada com esmero.

São Francisco fez dos cavaleiros de “Madonna Povertá” os paladinos dos privilégios e da honra da Mãe de Cristo. As fontes da vida e da espiritualidade de São Francisco são unânimes em narrar quanto a igrejinha da Porciúncula minúscula, pobre e abandonada na várzea ao pé de Assis, igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos – atraía as atenções de São Francisco e prendia a sua dedicação. Atraiu as suas atenções, quando estava para cumprir, segundo a interpretação que lhe dava, a ordem de Cristo de reconstruir a Igreja Santa. O edifício ameaçava ruínas. São Francisco pôs mãos à obra e em pouco tempo, com pedras e cal de “Madonna Povertá”, restituiu a estrutura da capela: “Vendo-a (a capela) São Francisco em tão ruinoso estado, e movido por seu indizível e filial afeto da soberana Rainha do universo, se deteve ali com o propósito de fazer quanto fosse possível para a sua restauração… Fixou neste lugar a sua morada, movido a isto pela sua reverência aos santos anjos, e muito mais pelo entranhado amor da Mãe Bendita de Cristo”.

Depois de assinalado por Cristo com os sinais gloriosos, mas dolorosos da Paixão, São Francisco voltou à Porciúncula. De lá partia novamente para pregar, mas voltava sempre. Os irmãos, apreensivos pela sua saúde combalida, obrigaram-no a permitir o levassem aonde melhor podiam atender ao tratamento reclamado pelo eu estado. Quando, porém, ia findar o tempo que Deus lhe concedera, e sabia quando findaria, São Francisco pediu que o levassem novamente à capelinha da Virgem dos Anjos. À sombra da igrejinha entregou sua alma a Deus no trânsito incomparável que foi o seu. Maria Santíssima, tão agraciada por Deus, possui encantos mil e à semelhança do seu Filho Divino é tão rica que um coração humano não pode venerar de uma só vez todas as prerrogativas de que foi cumulada pela generosidade divina.

Há desta forma a possibilidade das mais variadas devoções da Virgem, há a possibilidade de cada qual venerá-la e amá-la sob o aspecto que mais o comove, que mais o inflama.

(Extraído do Livro “O Pensamento Franciscano”, Editora Vozes)


6 de dezembro de 2013

“Aquele instante de silêncio”



Texto de Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Nós, discípulos do Senhor Jesus, que devotamos ao Coração de Cristo toda veneração e adoração, gostamos de refletir sobre algumas situações vividas  nos últimos momentos de sua vida entre nós. Contemplamos a solidão de Getsêmani e o abandono na cruz, antes que seu peito fosse aberto pela lança do soldado.

Ficamos impressionados com a solidão experimentada pelo Senhor no Jardim das  Oliveiras. Jesus tem a impressão que até mesmo o Pai foi se tornando distante. José  Antonio Pagola  (Jesus, Aproximação histórica, Vozes)  descreve a cena com muita propriedade:  “A solidão de Jesus é total.  Seu sofrimento e seus gritos  não encontram eco em ninguém:  Deus não lhe responde; seus discípulos “dormem”. 

Capturado  pelas forças de segurança do templo, Jesus não tem dúvida:  o Pai não ouviu seus desejos de continuar vivendo; seus discípulos fogem procurando a própria segurança.  Ele está só!  Os relatos deixam entrever essa solidão ao longo de toda a sua paixão. A atenção  dos habitantes de Jerusalém e daquela multidão de peregrinos  que enche as ruas não está naquele pequeno grupo  que vai ser executado nas imediações da cidade. No templo tudo é agitação e azáfama. A estas horas, milhares de cordeiros estão sendo sacrificados no recinto sagrado. As pessoas movimentam-se febrilmente concluindo os últimos preparativos para a ceia pascal. Somente os que se encontram em seu caminho com o cortejo dos condenados ou passam perto do  Gólgota  ou prestam atenção. Como é habitual nas sociedade antigas,  são pessoas familiarizadas com o espetáculo de uma execução pública. Suas reações são diversas: curiosidade, gritos, zombaria, desprezo e um que outro comentário de  lástima.

  Da cruz,  Jesus provavelmente só percebe rejeição e hostilidade”  (p. 479).  E Jesus guarda silêncio.

No alto da cruz,  Jesus continua fazendo a experiência da ausência do Pai. Escuta o silêncio do Pai. Segundo Eloi Leclerc  (Deus sem limites, Ed. Franciscana, Braga),  Jesus não experimenta descrença, mas fé, uma fé mantida na mais escura das noites, no mais profundo dos abismos. O grito de Jesus com voz forte  é uma oração. O seu relacionamento com o Pai não está interrompido. A comunicação continua com a ponte da fé. Essa ponte  é lançada sobre o abismo da ausência.

E. Leclerc observa que o mais importante não é o grito, mas o longo momento de silêncio subsequente quando Jesus não pediu mais nada.  Leclerc cita Georges Bernanos: “No alto da cruz, Jesus orou, gritou, chorou, suspirou, rangeu os dentes, como fazem os moribundos. Mas há coisa mais importante e preciosa: o minuto, o longo minuto de silêncio, depois do qual tudo foi consumado”  Nesse momento, nesse minuto em que Cristo é o silêncio no meio do mundo, toda a humanidade se concentra nele, e por ele é acolhida e nele recolhida.

Será preciso penetrar nesse silêncio.  Temos de penetrar nesse silêncio para o entendermos. Quando a palavra se faz silêncio  transforma-se em palavra. E o que diz esse silêncio? Que só  a pobreza, a pobreza imensa da noite pascal, se encontra à altura do mistério de Deus.
Bendito o silêncio de Jesus entre o grito forte brotou de seu peito e o inclinar a cabeça na hora da morte.  Os devotos do coração de Jesus nada têm a fazer senão guardar um silêncio adorante diante do majestoso silêncio de Jesus  quando, na fé, reencontrou o Pai que parecia ausente.


Extraído de:  http://www.franciscanos.org.br


5 de dezembro de 2013

Reflexão - Sonhos


“O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio”.
José Saramago

Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Há ocasiões que é mil vezes preferível fazer de menos que fazer de mais, pois assim estarás mais focado naquilo que buscas. Procura conhecer melhor tua inteligência racional e, assim, procederás segundo o que mais convêm à perfeição dos instantes seguintes. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais.

Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por omitir… É melhor arrepender-se por algo que se tentou e não deu certo do que se culpar por não ter feito algo que poderia ter dado novo rumo à vida… Sonhe, trace metas, eleja prioridade e trabalhe com afinco, mas não se esquece de vivenciar cada momento com muita alegria!

Frei Paulo Sérgio, ofm 


4 de dezembro de 2013

“Francisco 1223 – Francisco 2013″. O Natal no Vaticano.

napolitano

Cidade do Vaticano – “Francisco 1223 – Francisco 2013”.

Este é o título escolhido para o presépio do primeiro Natal do Papa Bergoglio. Neste ano o Natal no Vaticano será enriquecido por um presépio napolitano, muito apreciado e amado em todo o mundo e que pela primeira vez, estará na Praça São Pedro. O Presépio foi doado ao Cardeal Crescenzio Sepe, Arcebispo de Nápoles, que por sua vez decidiu homenagear o Papa Francisco. 16 pastores, vestidos com trajes típicos napolitanos do século XVIII, farão parte do cenário que evoca o nascimento do Menino Jesus, enquanto a paisagem representará um local tradicional da região da Campania italiana.

Os personagens do Presépio serão os seguintes: São José com a Virgem Maria e o Menino Jesus, um homem que toca flauta, os Reis Magos, dois homens (1 com capuz e um nobre oriental); um pobre; uma mulher idosa e uma cigana que se inclina diante do Menino Jesus; uma menina nobre acompanhada por uma jovem e uma criança. As imagens terão a cabeça, as mãos e os pés em terracota policroma e os olhos em cristal; o corpo dos personagens será em ferro soldado e borracha, revestidos com tecidos típicos do século XVIII, confeccionados à mão e enriquecidos com acessórios tradicionais. 

A área onde será ambientado o Presépio mede 7,00 x 12,00 metros, e 6,00 de altura. Os custos serão bancados por benfeitores, limitando o máximo possível os custos a cargo do Governatorato. O Presépio foi idealizado e realizado pelo mestre Antonio Cantone e pela loja Cantone & Costabile, especialistas em presépios do século XVIII. No dia 6 de dezembro, por outro lado, chegará à Praça São Pedro a grande árvore de Natal vinda da Baviera, doada pela comunidade de Waldmunchen.

O abeto de 25 metros, com 98 cm de base e pesando 7,2 toneladas, foi cortado na segunda-feira (02) e já está a caminho de Roma. Após o desmanche da árvore, a madeira do tronco, como acontece há alguns anos, será utilizada para realizar pequenos objetos de uso cotidiano e brinquedos.  

A IGREJA TEM QUE SER ALEGRE

A Igreja tem que ser sempre alegre como Jesus. Esta a principal mensagem do Papa Francisco na missa desta terça-feira (3/12) na Capela da Casa de Santa Marta. Desenvolvendo a sua homilia a partir do binómio paz e alegria o Santo Padre refletiu sobre as leituras do dia.

O profeta Isaías diz-nos que a paz leva-nos ao Messias. No Evangelho encontramos o coração alegre de Jesus: “Nós pensamos sempre em Jesus quando pregava, quando curava, quando caminhava, andava pelas ruas, mesmo durante a Última Ceia… Mas não estamos muito habituados a pensar num Jesus sorridente, alegre. Jesus era cheio de alegria. Naquela intimidade com o seu Pai: ‘Exultou de alegria no Espírito Santo e louvou o Pai’. É precisamente o mistério interno de Jesus, aquela relação com o Pai no Espírito. É a sua alegria interna, a sua alegria interior que Ele nos dá.” 

Jesus ama tanto o Pai que não pode falar d’Ele sem alegria. E esta é a verdadeira paz. A paz cristã é plena de alegria. Também assim deve ser a Sua Igreja: muito alegre – afirmou o Papa Francisco: “Não se pode pensar uma Igreja sem alegria e a alegria da Igreja é mesmo isto: anunciar o nome de Jesus. Dizer: ‘Ele é o Senhor. O meu esposo é o Senhor. É Deus. Ele salva-nos, Ele caminha connosco’. E aquela é a alegria da Igreja, que nesta alegria de esposa torna-se mãe. Paulo VI dizia: a alegria da Igreja é precisamente evangelizar, andar em frente e falar do seu Esposo. E também transmitir esta alegria aos filhos que ela faz nascer, que ela faz crescer.”  

Extraído de: http://www.franciscanos.org.br/

2 de dezembro de 2013

Reflexão : Sabedoria



“Sem a escuridão, a luz não só seria irreconhecível, como não poderia existir” (Franz Bardon).

A sabedoria não depende da razão e da memória, mas da maturidade, da pureza e da perfeição da personalidade de cada um. A sabedoria é algo que se conquista no caminho da própria vida, que se busca num espírito de humildade, que se constrói numa vida de doação e de serviço às pessoas… Quem a deseja com ardor e sinceridade sempre a encontra na porta de sua própria casa.

Sábio é aquela pessoa que aprendeu a “saborear” a vida, que teve os olhos atingidos pela Beleza, que se alegra com as coisas pequenas e miúdas da vida. Sábio é quem é capaz de sempre agradecer a Deus por aquilo que já possui e que não se infla da vaidade humana… Sábio é quem se dispõe a caminhar e fazer o percurso da vida com sorriso nos lábios e esperança no coração…

Uma iluminada semana!

Frei Paulo Sérgio, ofm