28 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


Cada dia que recebemos das mãos do Criador é uma nova oportunidade, é um novo tempo dentro do tempo de nossa existência. Aprendemos a contar os dias na tentativa de controlar o tempo, esse “deus” que nos possui e domina. O “Krónos” (deus do tempo) continua devorando aqueles que não conseguem entender seu reinado e sua proposta. O dia de hoje chama-se “presente”, pois ele é uma verdadeira dádiva que recebemos das mão do Pai.

No tempo vamos construindo a eternidade, pois eternidade se faz presente em cada instante, em cada riso, em cada dor, em cada lágrima... Viver no tempo e, ao mesmo tempo, caminhar na direção da eternidade liberta-nos da escravidão do próprio tempo. Permite-nos construir o céu aqui na terra, e faz a eternidade acontecer no aqui e agora. Viva, pois, o dia de hoje com amor e intensidade. Não permita que a ansiedade pelo amanhã retire de você o prazer e alegria de viver este novo dia...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

24 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


Amar alguém é viver o exercício constante de não querer fazer do outro o que a gente gostaria que ele fosse. A experiência de amar e ser amado é, acima de tudo, a experiência do respeito. Respeitar é aceitar o outro como ele é. Somente numa atitude amorosa a correção terá sentido, fará o outro crescer, sem magoá-lo.

Deus nos quer felizes aqui e, depois, na plenitude com Ele. Seja mensageiro desta grande notícia e não se canse de testemenhuar, pela sua vida, pela sua palavra, pelos seus gestos que a vida é uma celebração do amor e da misericórdia de Deus. Isso será uma grande notícia para muitos corações...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

22 de fevereiro de 2011

CLARA E SUAS IRMÃS VAO ESTRUTURANDO SUA VIDA


Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Continuamos a acompanhar os passos de Clara e de suas irmãs. Sempre diante de nossos olhos a biografia da santa escrita por Chiara Giovanna Cremaschi (Chiara di Assisi. Un silenzio che grida). Hoje veremos como foram se esboçando as primeiras estruturas para a vida das irmãs. Bom seria que os leitores tomassem conhecimento dos textos publicados até o momento neste site (clique aqui). Assim, poderão melhor se situar no contexto desta página.

1. A vida das pobres irmãs de São Damião, das clarissas, precisou ganhar estruturas. Normal que os primeiros momentos de um carisma, marcados por um entusiasmo generoso, não necessitem de leis e de enquadramentos mais explícitos. Aos poucos, em benefício do grupo, a vida precisa ir se estruturando, sendo instituída. Provavelmente nessa altura, as irmãs fossem em número sete. Pode ser que algumas tenham entrado e falecido e seus nomes não constem do Processo de Canonização que é a mais rica fonte dos tempos primeiros. Crescendo o número de irmãs, foram necessárias algumas modificações. Não era mais possível simplesmente seguir a Regra dos Eremitérios com a alternância entre mãe e filhas. Permanece, no entanto, o esquema diário com muitas horas consagradas à contemplação. Normal que um grupo que vai crescendo necessite de uma pessoa responsável. A esta cabe ajudar as irmãs a viverem a obediência, dimensão profunda da pobreza, que se expropria da vontade própria para dá-la ao Senhor através da mediação humana que será a figura da responsável. A plantinha do Seráfico Pai era uma autoridade viva que ensinava o caminho a ser percorrido simplesmente por seu exemplo. Clara, na verdade, talvez não achasse necessário uma “superiora”. O grupo não precisaria de uma autoridade jurídica. Mas o bom senso apontava na linha da nomeação de uma abadessa.

2. A caridade que circula entre as irmãs, parece a Clara, como sendo o vinculo da perfeição, o estilo evangélico que faz com que cada uma se sinta serva da outra, a viver o sentido profundo do lavar os pés umas das outras pedido por Jesus. Clara está persuadida do apelo que lhe foi dirigido para servir e ser a última, vivendo até o fim aquele minorismo que via patenteado na vida de Francisco. A experiência pessoal de Francisco fez com que ele compreendesse que não se pode viver uma vida religiosa sem um ponto de referência definido. Está convencido de que a primogênita dos Favarone poderia muito bem ser a pessoa indicada para assumir este papel na nascente comunidade de São Damião. Clara tem suas reticências em aceitar o cargo. Francisco insiste e quase a obriga. Irmã Pacífica assim fala do assunto: “A testemunha disse que, três anos depois que a sobredita Dona Clara entrou na religião, recebeu o regimento e o governo das irmãs, a pedido e por insistência de São Francisco, que praticamente o obrigou” (Processo 1,6). Tal poderia se situar em 1214.

3. Tendo recebido este novo chamamento, representado pelo cargo de autoridade, Clara descobre logo que assim terá possibilidade de servir melhor às irmãs, de dar-se sem reservas a todas e a cada uma. A mãe, e Clara será mãe até o final, será uma solicitude que sempre se dá, favorecendo o crescimento espiritual da outra. Melhor esse serviço amoroso do que mandar. As irmãs aprendem com seu bom exemplo. Clara exala “autoridade” em seu modo de ser e de agir. No momento adequado fará “suaves exortações” às irmãs (Processo 12,6). Formava as irmãs no amor de Deus (Processo 8,3), incentivava no seguimento do Cristo pobre. Quando a situação requeria, não hesitava em fazer a correção fraterna (Processo 12,6). A caridade de Clara era autêntica e amava as irmãs como a si mesma (Processo 4,18). Não acoberta os desvios que fazem parte da fragilidade humana, mas coloca-os a descoberto para que tudo seja límpido e transparente e tudo se oriente para a realização do desígnio do Pai. “Instruía as irmãs com muita mansidão e benevolência, mas quando era necessário, não deixava de repreendê-las” (Processo 6,4). Não havia aspereza em suas exortações porque Clara exalava a doçura que recolhia no colóquio constante com o Amado. O ardor com que falava do Senhor, quando se dirigia às irmãs, falando das exigências de uma vida sem outra posse senão o Senhor nada tinha de áspero. Queria as irmãs degustassem a doçura da intimidade com o Senhor. Seu espirito materno se tornava mais forte quando uma irmã adoecia ou mostrava turbamento interior. Ela se via possuída daquela misericórdia que sempre contemplara em Cristo. Compadecia-se das irmãs que sofressem. “Tinha grande compaixão para com as aflitas; era bondosa e liberal para com todas as irmãs” (Processo 11,5). Assim agia a abadessa de São Damião.

4. Detenhamo-nos agora na Igreja do tempo de Inocêncio III. Os primeiros tempos da vida do mosteiro de São Damião coincidiram com o pontificado do Papa Inocêncio III, grande pontífice aberto aos sinais dos tempos, homem capaz de compreender e de abençoar a novidade evangélica franciscana. Neste contexto nos perguntamos se houve, da parte do Papa, sinal de aprovação para a vida de Clara. Há uma alusão à pessoa de Inocêncio no Testamento de Clara. Ao falar da pobreza, ela escreve: “Para maior segurança, tive a preocupação de conseguir do senhor papa Inocêncio, em cujo tempo começamos, e dos outros seus sucessores que corroborassem com seus privilégios nossa profissão na pobreza...” (Processo 42). Os autores discutem se houve uma aprovação oficial. O que se pode dizer é que deve ter havido uma aprovação oral por parte de Inocêncio.

5. Em 1216, no tempo que morreu Inocêncio III, houve um prelado que veio do norte da Europa para ser ordenado bispo, Tiago de Vitry, que em seu país de origem havia seguido de perto a trajetória das beguinas. Alegrou-se ao descobrir na Úmbria a existência de um novo movimento evangélico que havia nascido do espírito de Francisco e pode mesmo ter visitado algum mosteiro das irmãs pobres. Tiago se mostra alegre com essa florescência evangélica. O carisma de Clara vai se dilatando. Vai deixando São Damiao para surgir em outras regiões. Era um fermento de renovação. A fama de Clara começava a dilatar-se, sem dúvida, através dos frades menores. Os primeiros companheiros de Francisco ficaram impressionados com a coragem e a estatura espiritual desta jovem mulher e sempre encontraram nela um ponto de referência e profundo apoio em sua vida evangélica.

6. Em 1217, ingressa em São Damião Irma Balbina, filha de Martinho de Coccorano, sobrinha de Clara, que no seu testemunho por ocasião do Processo dirá: “por ser sobrinha carnal de Clara observava atentamente sua vida e costumes” (Processo 7,11). Os parentes e os próximos passam a olhar com mais atenção essa que agora é abadessa. Não se sabe, com certeza, se ela assumiu este título ou se o costume posterior é que a designou com esta palavra desde que entrou no mosteiro. Clara nunca usará o título. Ela se designará de serva. Deve-se dizer que o aumento de pessoas ligadas por vínculos de sangue ingressando em São Damião não parece ter criado problemas ao caminho da sororidade. A característica destas mulheres era a busca do seguimento de Cristo. A proximidade do sangue talvez tenha mesmo facilitado. Havia um cálida proximidade e estima recíproca.

Meditação Diária


Amizade é, antes de tudo, certeza e presença. O(a) amigo(a) age de maneira segura e sua esperança tranqüiliza. Ele não apenas traz segurança. Ele é um pouco do que somos e, por isso mesmo, nos assegura que nunca estamos sem apoio. Amigo não concorda em tudo... Ele á capaz dizer verdades que doem, mas também dizem verdades que curam! Corre até o risco de perder uma amizade, mas não deixa de sempre dizer a VERDADE!

As mais bonitas sementes de uma amizade são plantadas em um coração puro onde horizontes não possuem barreiras e o infinito é apenas o começo. Compartilhe com quem você ama seus momentos alegres e felizes; compartilhe também os momentos de perdas e sofrimento. Celebre sempre a vida e seja dom de Deus para aqueles (as) que você ama...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

19 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


Quando oramos juntos somos acolhidos pelo amor de Deus de uma maneira mais intensa, pois "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei Eu no meio deles" (Mt 18,20). Na construção de uma verdadeira amizade vamos experimentando uma confiança mútua, pois descobrimos a Imagem de Deus que está na outra pessoa e vamos revelando a Imagem de Deus que está em cada um de nós.

Procure partilhar seus encontros. A vida é um grande mistério. Ela é um grande dom, um grande presente. Procure vivenciar esse mistério e acolher cada dia na sua própria luz e no seu próprio encanto. Quem é capaz de perceber o amor de Deus em tudo aquilo que é belo, será capaz de se encantar-se com o nascer do sol, com uma noite de lua cheia, com a imensidão do mar...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

16 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


Coragem é a resistência ao medo, o domínio sobre o medo, não a ausência do medo. A coragem nos dá a capacidade de usarmos a energia do medo (tão grande em nós) como catapulta para irmos além,para vencermos, em nós, tantas batalhas na direção de nossas metas. A coragem nos impulsiona para toda ação, para toda prática do bem e do amor.

Somente os corajosos são capazes de amar verdadeiramente, pois a arte de amar implica sofrimento, dor e até perdas. Como nos admoesta Mahatma Gandhi: “um covarde é incapaz de demonstrar amor; isso é privilégio dos corajosos”. Utilize a força da coragem que está dentro de você. Não deixe que o medo o paralise. Utilize-o como força para suplantar seus obstáculos e suas incertezas...

“A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as outras”.

(Aristóteles)

14 de fevereiro de 2011

Carta por ocasião do 8º Centenário da Fundação da Ordem de Santa Clara

Carta por ocasião do 8º Centenário
da Fundação da Ordem de Santa Clara

No próximo Domingo de Ramos, 17 de abril de 2011, terá início o VIII Centenário da Consagração de Santa Clara na Porciúncula e, de certo modo, o 8º Centenário de fundação da Segunda Ordem Franciscana, a das Irmãs Pobres de Santa Clara. Para celebrar este momento, os Ministros Gerais da Primeira Ordem e da TOR escreveram uma carta, que está na íntegra abaixo, e também para lembrar a celebração da 15ª Jornada Mundial da Vida Consagrada e como preparação para o jubileu das Clarissas.

CONFERÊNCIA DOS MINISTROS GERAIS
DA 1ª ORDEM E DA TOR

CARTA POR OCASIÃO DO OITAVO CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA ORDEM DAS IRMÃS POBRES DE SANTA CLARA


O Senhor conceda a paz a todas vós, Irmãs Pobres de Santa Clara.

É ainda forte o eco da celebração da fundação da 1ª Ordem Franciscana e agora estamos todos voltados para o ano 2012, para dar graças ao Senhor pelos 800 anos da consagração de Clara na Porciúncula. O acontecimento não é uma comemoração de um passado glorioso, mas um evento em
que se faz memória, com o intuito de “obter também da história ulterior um impulso para renovar a vontade de servir à Igreja.”(1)

Chamadas pelo Espírito a seguir o Cristo pobre, crucificado e ressuscitado, vivendo o santo Evangelho em obediência, sem nada de próprio e em castidade, vós sois guardiãs do carisma clariano, mulheres consagradas que interagem com o mundo, contemplando os sinais que o Espírito
semeia e difunde na historia. Na escuta de Deus, vós falais ainda hoje ao coração dos homens e das mulheres do nosso tempo com a linguagem do amor, cujas palavras se fundam na raiz da existência habitada por Deus.

MANTENHAM FIRME O PONTO DE PARTIDA
Fazer memória da própria vocação é uma ocasião de rever as motivações do sim pessoal a Deus. Relendo a sua história vocacional, retornais ao encontro com o Senhor que aconteceu através da Palavra, de uma pessoa, de um acontecimento, de uma experiência. Após as dificuldades iniciais,
vós decidis seguir Jesus Cristo, deixando-se determinar por Ele e por seu Evangelho. A experiência de Francisco e de Clara as atraiu e, hoje, o sim deles a Cristo se prolonga no tempo através de vós.
Conscientes de que várias vicissitudes favoreceram ou condicionaram a pureza da vossa “Forma de vida”, e que diversas sedimentações seculares transformaram por vezes a intuição original, estamos convencidos de que o aniversário de fundação da vossa Ordem não pode limitar-se a uma simples recordação.

O que queremos celebrar juntos: a recordação de uma regra ou a memória da história de Deus que caminha convosco, perpetuada no tempo e que ainda hoje suscita em vós a paixão para “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade”? (2) Como trazer novamente à luz, na sua totalidade, a Forma de vida que torna visível e credível a todos que “para nós o Filho de Deus se fez caminho que nos mostrou e ensinou com a palavra e com o exemplo o nosso beatíssimo padre Francisco, o seu verdadeiro e apaixonado imitador”.(3)

Como vós podeis ainda hoje ser, na igreja e para toda a família franciscana, memória viva daquilo que todos nós, como batizados, somos chamados a viver? Sabemos que vós dedicais as melhores energias afim de serem fiéis àquilo que escolheram e prometeram e, justamente por isso, percebemos a urgência de reler junto convosco, neste momento histórico, as coordenadas da vossa vida de Irmãs Pobres colocadas por Deus na Igreja, na Família Franciscana e no mundo.

> PARA VIVER O EVANGELHO...
Em uma sociedade bombardeada por imagens, onde o indivíduo é impulsionado a buscar uma contínua representação de si, vós sois chamadas pelo Espírito a serem um simples sinal da presença de Deus. Sabemos que não é sempre fácil, sobretudo quando isso exige uma continua conversão evangélica da mente, do coração, do comportamento, das estruturas de personalidade, para serem significativas e para não caírem na fácil competição mundana, sem negociar o essencial da vossa
vida.

Enquanto a mensagem comunicada pelo testemunho de vocês é expressa através das estruturas, dos sinais e símbolos, a Regra escrita por Clara pede hoje às suas filhas uma vida evangélica vivida na pobreza sine glossa. Sabemos que nas fraternidades o Espírito de Deus impulsiona a buscar, a
discernir evangelicamente, para manter alerta a atenção e avaliar as estruturas que não permitem o reflexo imediato da presença de Deus. Vós sois, pois, chamadas a reler os sinais e símbolos a fim de que sejam compreensíveis, neste tempo em que tudo é questionável. Também o sagrado, que não remete para a alteridade de Deus, corre o risco de cair na lógica do consumo.

Aos consagrados e consagradas se pede de manifestar o absoluto de Deus. Vós, de um modo particular, sois chamadas a viver uma vida fundada sobre os sinais e os símbolos que não remetem ao vazio de um estéril doutrinamento, ritualismo ou ativismo, mas que saibam conjugar hoje as
raízes do passado e a profecia do futuro: estruturas, sinais e símbolos que simplesmente fazem ver Deus.

Como podeis ser testemunhas da sua presença através da Forma de vida que um dia o Espírito confiou a Clara e que continua a confiar a vocês neste tempo em que parecem faltar os parâmetros mais elementares da existência?

Enquanto o mundo gira vertiginosamente, vós, na estabilidade, manifestais Deus sempre à escuta dos homens e das mulheres do nosso tempo, para amá-los.

Alimentando-se da Palavra de Deus, vós a encarnais no cotidiano através da obediência na fé (4). A fé em Cristo não é um acontecimento adquirido uma vez por todas, mas é um dom do Espírito. Essa fé pede uma educação permanente, e por esta razão é celebrada, professada e vivida. Através do
cuidado na liturgia, vós testemunhais que Deus, o Pai que se faz próximo de toda criatura, chama a humanidade a estar na história, na sua presença. Vós vos tornais, no cotidiano, presença visível da busca do rosto de Deus, como os peregrinos no mundo e os mendigos de sentido.
Se a liturgia dá forma a nossa fé, esta, por sua vez, para ser credível deve encontrar respaldo no cotidiano da vida em nível pessoal e fraterno. Não é suficiente, de fato, pensar que basta crer, é necessário que o Mistério celebrado assuma em cada um e cada uma o rosto de Cristo. Ainda hoje
está presente a idéia da separação entre fé e vida.

Vós nos ajudais a rever as nossas celebrações: o cuidado com a Liturgia das Horas e com a Eucaristia, enquanto constantemente orientado ao louvor de Deus, deve permitir a quem participa experimentar, através da simplicidade clariana, a graça da presença do Senhor ressuscitado.
Deixando-se transformar pelo Espírito e moldar pelo Evangelho, sois mulheres consagradas que se entregam a Deus. Através do exemplo de Francisco e Clara, vós, Irmãs Pobres, conservais, como a Virgem, Aquele que contém cada uma e todas as coisas (5). Testemunhais no silêncio a “contemplação do Cristo do Evangelho, amando-o intensamente, imitando as suas virtudes(6)”.

Vós nos narrais, assim, com a vossa vida aquilo que escutais; aquilo que vedes com vossos olhos, Aquele que contemplais e o que vossas mãos tocam do Verbo da Vida (7). Continuais a anunciar com a vossa existência, vivendo a dimensão mística, que Deus existe, que Deus é amor.(8)

Neste mundo que parece indiferente a Deus, sois chamadas a serem referência da presença do Mistério que tem o rosto do Pai. Somente buscando com paixão o Cristo e seu Reino é que podemos
nos aproximar dos homens e das mulheres do nosso tempo com esperança no coração, conscientes de fazer parte da mesma caminhada. Vós nos fazeis ver a beleza de sentir-nos sempre como pessoas
a caminho, que a cada dia comprometem a vida com Deus na história.

A experiência contemplativa de Clara nos interroga. Assim como ela convida Inês a colocar-se por inteira na imagem de Jesus Cristo (cf.3In 12-13), ainda hoje pede a vós a deixar-se transformar pela contemplação, a doar a vossa existência, na busca incessante de Deus, a fim de libertar-se de tudo o que ocupa o lugar de Deus e de amar até o fim.

Se o hoje de Deus pede aos cristãos de serem adultos na fé, com maior razão a vós, mulheres consagradas, é exigida uma fé adulta, que saiba contar a experiência inédita do encontro com o Senhor, para responder com esperança, em qualquer lugar em que estiverem, às inquietações mais
profundas dos homens e das mulheres do nosso tempo. Somente quem continuamente caminha sob o olhar de Deus pode colocar-se na escuta dos que buscam um sentido para a vida.

Obrigado pela vossa busca incansável de Deus: a liberdade vivida nele é um convite a mergulhar todos os dias no Mistério, a crer que Deus existe, porque o encontraram.

> COMO POBRES…
Nestes tempos em que alguns poucos no mundo navegam na abundância e grande parte das pessoas não tem com o que comer; a vós, Irmãs Pobres de S. Clara, Francisco continua a confiar sua última vontade:

“Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima e perseverar nela até o fim. E rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho para que vivais sempre nesta santíssima vida e pobreza. E estai muito atentas para, de maneira alguma, nunca vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém.(9)”

Vós, Irmãs Pobres de S. Clara, sois colocadas por Deus em uma realidade concreta para serem sinais de contradição; não porque defendeis as estruturas, mas porque escolhestes, como pobres, viver a cada dia a radicalidade do Evangelho.

Cada fraternidade se torna sinal alternativo nos lugares de opulência e sinal de esperança entre aqueles que vivem na precariedade, através do testemunho da própria entrega e da confiança no Pai, revelado por Jesus Cristo. Não uma pobreza ideológica ou intelectual, mas um estilo de vida que testemunha a confiança total no Pai, que toma forma no cotidiano da existência. Não faltam, de fato, no mundo algumas experiências de fraternidades que escolhem “testemunhar uma vida extremamente sóbria, para serem solidárias com os pobres e confiarem somente na Providencia,
viver cada dia da Providencia, na confiança de colocar-se nas mãos de Deus(10)”

Não permitais que nada nem ninguém as desviem do seu propósito. Verifiquem, antes, se a diversidade de pensamentos no interior da Ordem se fundamenta na busca conjunta de serem fiéis a Jesus Cristo e ao seu Evangelho, ou se a defesa de estilos de vida não remete mais ao Altíssimo.
Deus continua a chamar alguns para serem profetas, não para auto-promover-se, mas para serem sinais do seu amor, da sua proximidade à humanidade. “O Senhor disse: Eu vi a miséria do meu povo no Egito e ouvi o seu clamor... conheço o seu sofrimento.(11)”

Vós nos falais, a partir de um estilo de vida pobre, sóbrio e humilde, da vossa fé na Providência de Deus: - “A pobreza é o sinal de pertença a Ele, é uma garantia de credibilidade de que o Reino já se faz presente em meio a nós. Um sinal sempre mais convincente aos nossos dias, quando se trata de uma pobreza vivida em fraternidade, com um estilo de vida simples e essencial, expressão de comunhão e de abandono à vontade de Deus(12) “

Vós nos ajudais a degustar a alegria da liberdade porque, contemplando, vocês vêem Deus em cada aspecto da vida. Demonstrais-nos que não seguem as modas de hoje, que não estão em concorrência com o mundanismo, onde as aparências, a auto-exacerbação, individualismo, a auto-referência pretendem desvanecer a obra-prima de Deus. Vós nos contais a sua história com Deus que se nutre do silêncio, da escuta, da profundidade espiritual.

Vivendo na estabilidade, vós nos indicais o que é verdadeiramente essencial, belo, autêntico. Sabemos que Deus é a verdadeira riqueza do coração humano (13) e que a pobreza nos faz livres da escravidão das coisas e das necessidades artificiais para as quais a sociedade de consumo nos empurra: vós nos ajudais a redescobrir que Cristo é o único tesouro pelo qual vale a pena viver verdadeiramente.(14). Para Clara e para Francisco, a “santíssima pobreza” não é simplesmente uma virtude, nem somente uma renúncia às coisas, mas é sobretudo um nome e um rosto: o rosto de Jesus Cristo Pobre e Crucificado (cfr. 2 LAg 19). Para os dois, a contemplação de Cristo pobre não se reduz a uma bela teoria mística do distanciamento do mundo, mas se encarna em uma pobreza real, concreta, essencial.(15) Vejamos o testemunho deles: todos os dois amaram a pobreza para seguir Cristo com dedicação e liberdade total e continuam a ser, também para nós, um convite a cultivar a pobreza interior para crescer na fidelidade a Deus, unindo também um estilo de vida sóbrio e um
desapego dos bens materiais.(16)

Chamadas a seguir, na forma, o Cristo pobre, a abraçar pois a liberdade, deveis encontrar, se necessário, novas formas para exprimi-la (17) com espírito profético, através de «um testemunho mais claro de pobreza pessoal e coletiva [...] (18) », assim como fizeram Francisco e Clara. A inculturação de algumas fraternidades que partilham com os pobres sua vida é algo que às vezes impressiona. Quando partilhais com os que nada possuem, quando escolheis viver do estritamente necessário, quando não acumulais, quando vos confiais à fraternidade, vós fazeis crer na escolha da pobreza, porque viveis a sua fé em Deus Pai que cuida da humanidade.

> EM SANTA UNIDADE
O mundo atual, imerso na aldeia global, arrisca de se tornar um palco cênico, onde todos e, ao mesmo tempo, ninguém se move. A multidão, de fato, arrisca permanecer embriagada na rede do anonimato: indivíduos que perdem o sentido de pertença à família, ao grupo, à história, e parecem
avançar sem ter um nome próprio e sem reconhecer que existe um tu.

Vós, ainda que em um mosteiro, viveis neste mundo, onde se multiplicam os “não-lugares” e onde tudo concorre para estruturar a vida fora do tempo e sem sentido. As pessoas com freqüência giram sem consciência da própria identidade, pobres na comunicação com os outros com quem
estabelecem relacionamentos que se nutrem freqüentemente da superficialidade.

Vós, na estabilidade, refletis na historia a presença de Deus que dá sentido ao viver cotidiano. Sois um sinal importante na Igreja, na Família Franciscana e no mundo, porque neste tempo em que cada um reivindica os próprios direitos, ou vive em função de si próprio, vós continuais a narrar, através de suas relações fraternais, que é ainda possível apostar no amor.

Em um mundo que quer reduzir o individuo a um ser consumista, imerso nas leis do grande mercado, apostais no relacionamento autêntico, que se nutre do silêncio, da escuta, da espera, do perdão, da gratuidade, do dom, da entrega na fé, do respeito pela diversidade de papéis, de relações
que tem por objetivo fazer com que a pessoa cresça na liberdade, segundo a estatura de Cristo. Hoje, de fato, enquanto a mentalidade corrente é de andar na direção do nivelamento dos papéis, demonstrais como ser “esposa, mãe e irmã (19)” nas suas fraternidades, conjugando firmeza e doçura, autoridade e empatia, responsabilidade e liberdade, autonomia e confiança.

Acolhendo cada irmã como única e insubstituível, revelais ao mundo a obra-prima de Deus, que faz parte da obra da criação que vós salvaguardais. Amais a cada pessoa na sua integralidade, no nível biológico, psicológico e espiritual, iluminada pelo Espírito, e que não pode ser reduzida a uma única
dimensão.

Aos exemplos sempre mais presentes de intolerância, de desrespeito, de suspeita, de opressão, respondeis caminhando umas com as outras, e juntas como fraternidade, no coração dos homens e das mulheres do nosso tempo, em diálogo com todos aqueles que batem a sua porta. Vós nos ajudais a tornar-nos pessoas de escuta, a incentivar relações evangélicas, profundamente humanas; que buscam a acolhida de cada outra pessoa. É significativo para nós ver que nas coisas simples
buscais sempre mais a felicidades dos outros, desejam “ser” para o outro.(20)

Chegando na contemplação a um novo modo de ser mulher consagrada, aprendeis na escola do Espírito a conjugar a constante atenção a Deus e às irmãs. Percebemos em vós um contínuo caminho para libertar-se de toda forma de egoísmo. Não vos preocupais em estar, a todo custo, no
centro do universo: viveis segundo a economia do dom, segundo a espiritualidade da comunhão, sem quantificar o amor e sem pretender nenhuma coisa dos outros. O que vos caracteriza é a alegria doada na gratuidade aprendida da experiência do amor de Cristo.

Precisamos obter dos vossos “laboratórios” de cultura, que se fundamenta no Evangelho, um método que nos ajude a conjugar os valores éticos com os valores sociais, para poder viver radicalmente segundo o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó... de Jesus Cristo e sermos portadores do
Evangelho através de uma cultura de justiça e de paz.

Significativo é o cuidado que demonstrais para com a formação. Não permitis que essa seja somente uma simples instrução, mas objetivais um “saber ser”. Vós penetrais com inteligência emotiva naquilo que aprendeis e que retendes como significativo para a sua existência e para a existência
dos outros. Testemunhais no cotidiano, através da maturação humana que surge da conversão contínua, que é possível seguir Jesus como irmã pobre.

Vós representais para muitos um Oasis de paz, onde os homens e as mulheres podem se interrogar sobre o mistério que envolve e atravessa a vida. Sois chamadas a fazer acreditar que o desejo de Deus reside no mais íntimo de cada criatura e que Deus procura constantemente o homem e a
mulher, para estabelecer com cada um deles, na liberdade, um relacionamento fundado no amor.
Sabemos o quanto vós vos encarregais das preocupações do mundo e como continuais a interceder junto a Deus. Vendo-vos, nos recordamos que é necessário sonhar juntos para tornar visível um mundo evangélico.

Estamos convencidos de que o testemunho da “santa unidade” pede hoje uma reflexão sobre o relacionamento entre a Primeira e a Segunda Ordem. Não podemos ignorar que « um só e mesmo Espírito tinha tirado deste mundo tanto os frades como aquelas senhoras pobrezinhas (21) »
Que validade tem esta verdade em nossa vida? Estamos convencidos de que a santa « [...] unidade nos permite assumir, na diversidade das vocações, uma profunda plenitude das dimensões da Igreja, que o Concilio define perfeitamente fervorosa na ação e dedicada à contemplação [...] Se não é aceitável que o ramo feminino seja submetido ao masculino, mesmo assim a total separação não representa uma solução aceitável; pelo contrário, isso seria um dano tanto para os frades quanto para as irmãs. As nossas Ordens podem, ao invés disso, oferecer à Igreja e ao mundo o testemunho de uma sã e necessária complementaridade, vivida entre os dois ramos com uma atitude de grande e mútuo respeito, mas ao mesmo tempo, de comunhão e de recíproca ajuda, que seja imagem da
Igreja–comunhão (22)».

Talvez tenha chegado o momento de consolidar um relacionamento que saiba conjugar autonomia e reciprocidade. Estamos conscientes de que não é na substituição, nem na tutela que se vive o carisma da santa unidade, mas num comportamento de escuta recíproca, no respeito mútuo, na atitude contemplativa, para tornar visíveis as riquezas comuns e a diversidade que manifestam a beleza da própria especificidade e também credível o testemunho vivido em Deus, sem confusão nem dependência.

> O SENHOR VOS BENDIGA E VOS PROTEJA

Queremos sonhar convosco, para que Clara possa ver realizada a Regra na sua totalidade entre as suas filhas. Se a atualidade de Francisco e Clara estão sob o olhar de todos, é porque ainda hoje Deus continua a se comprometer conosco, e particularmente convosco, afim de que a inspiração originária que o Espírito confiou um dia aos nossos fundadores possa tomar forma hoje. Quem sabe qual incidência poderia ter ainda neste tempo o testemunho das Irmãs Pobres de Santa Clara sobre a Igreja e sobre o mundo!...

Com Francisco queremos renovar convosco o nosso compromisso: « Visto que por divina inspiração vos fizestes filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho, quero e prometo, por mim e por meus irmãos, ter sempre por vós diligente cuidado e especial solicitude, como tenho por eles.23». E juntamente com Clara, pedimos a vós de serem “sempre solícitas a observar tudo quanto prometeram ao Senhor. (24)”

Para o louvor de Cristo.

Fr. José Rodríguez Carballo,OFM
Ministro Geral

Fr. Mauro Jöhri, OFMcap
Ministro Geral
Fr. Marco Tasca, OFMconv
Ministro Geral

Fr. Michael Higgins, TOR
Ministro Geral

Roma, 02 de fevereiro de 2011

11 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


O ser humano é fruto do desejo: ele surge no desejo de vir-a-ser; é no desejo que ele se faz e se per-faz. Todos nós vivemos na dualidade desejar e ser desejados. A partir dessa pulsão primordial vamos construindo nossa jornada, construindo, em nós, a consciência daquilo que somos, do nosso projeto individual, de nosso lugar no mundo.

Somos, por natureza, insaciáveis, Queremos sempre mais, nunca estaremos completamente satisfeitos, pois somos um projeto infinito. É Deus que nos cria e coloca em nós esse sentimento de busca da eternidade. Quem se contenta com aquilo que atingiu, começa a estagnar na individuação. Querer mais, significa, aqui, buscar o porvir, ir além dos muros, transcender...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

9 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


A vida é ousadia, é coragem de vencer, é impulso que segue em frente, é sonho de viar-a-ser, é transcendência! Na aventura da existência humana precisamos ser fortes para suplantar muitos obstáculos, vencer muitos traumas e desafios. Nessa jornada, precisamos estar possuídos de um desejo intenso de querer-ser, de construir, de re-construir... e, por que não, de demolir e de refazer!

Atreva-se a compor sua história, a compor seus versos e canções. Trabalhe na urdidura dos fios da sua existência com intensidade e emoção. Procure fazer as coisas que estão diante de ti com amor e na certeza que você faz parte de um jogo maior, onde Deus tudo governa e faz tudo caminhar para um equilíbrio universal

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

8 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


Deus-amor está presente nas pessoas e no mundo, assim como a seiva está na planta, o fermente na massa, a vida no corpo. Nossa missão é reencontrá-lo, amá-lo, lutar a seu lado para libertar o homem (a pessoa). A nós cumpre a missão de revelá-Lo, de apresentá-Lo, de testemunhá-Lo às pessoas que vão cruzando nossos caminhos...

Comece, pois, por percebê-Lo em seus caminhos... Tire tempo para contemplar o pôr-do-sol, para meditar numa noite de lua cheia, para perceber a grandeza e a beleza do universo que o rodeia. Deus está no sol, na lua, na beleza da natureza... Deus está presente no rosto de cada de pessoa... Deus está presente em você!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos.


A comunidade de Clara vai crescendo

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Continuamos a acompanhar o desenvolvimento do grupo de irmãs que passaram a viver em São Damião, junto de Clara no começo desta aventura toda original. Estamos fazendo este relato sempre tendo diante dos olhos o texto Chiara d’Assisi , Un silenzio che grida, de Chiara Giovanna Cremaschi, publicado pela Ed. Porziuncola, da cidade de Assis, na Itália. Veremos os passos dados depois dos primórdios, ou seja, o crescimento da comunidade (p.60-65)

1. O Senhor dá o crescimento - Fazendo a descrição dos inícios da vida em São Damião, Clara atribui ao Senhor o aumento numérico da sororità (fraternidade de irmãs). Olhando as coisas do lado humano vemos, na realidade, que pouco a pouco, foi se espalhando a notícia do novo estilo de vida abraçado por estas três mulheres. Depois de alguns meses, isto é, em setembro do ano da instalação, uma nova irmã chega para se agregar às outras: Benvinda (Benvenuta) de Perúgia, uma jovem que conhecera a primogênita dos Favarone durante o seu exílio perusino, quando moravam na mesma casa. Pelo fato de terem morado juntas nasceu entre ambas um laço de afeto que perdurava e haveria de ganhar uma nova dimensão com a marca do amor de Cristo. O relacionamento humano, acrescido de uma grande estima pela iniciadora da nova sororità, está muitas vezes na base do caminho de iluminação interior que levará muitas mulheres a São Damião.

2. A Forma vivendi dada por Francisco -
No começo da germinação dessa vida nova indiscutivelmente o fundamento era o Evangelho, o seguimento de Cristo como vem proposto pelas páginas do Evangelho. Qualquer modalidade de consagração vivida por um grupo na Igreja, no entanto, tem necessidade de umas poucas indicações que orientem o ritmo cotidiano de vida por sobre sólida base espiritual. Com tal finalidade Francisco prepara para as irmãs uma breve Forma de vida. Evita-se usar o termo Regra por ter um significado jurídico. A intenção do Poverello é a de dar a Clara e a suas irmãs algumas linhas fundamentais sem a preocupação de descer a pormenores que as próprias necessidades da vida se encarregam de propor. Não temos a totalidade deste texto dado por Francisco que, provavelmente seguiu o mesmo itinerário do que conhecemos como Regra não bulada para os frades, desenvolvendo-se com as necessidades da vida e de maneira paralela com o caminho dos frades. Podemos afirmar que o sentido profundo dessa nova realidade se concentra nas palavras do Poverello que Clara, no final de sua vida inserirá, na sua própria Forma de vida. Por aquele momento as orientações de Francisco eram suficientes e constituíam uma síntese do que se vivia em São Damião.

3. Ouçamos as palavras de São Francisco
mencionadas na Regra de Clara: “Visto que, por divina inspiração vos fizestes filhas e servas do Altíssimo e divino Rei, o Pai celeste, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho, quero e prometo, por mim e por meus irmãos, ter sempre por vós diligente cuidado e especial solicitude, como tenho por eles” (RSC 6,3-4). Observamos imediatamente que Francisco procura ter para com as irmãs um cuidado e uma diligência especiais. Essa atitude brota da admiração que tem por essas irmãs, chamadas por Deus para esse caminho. Neste escrito, o mais antigo que possuímos de Francisco, ele emprega uma fórmula trinitária equivalente àquela usada, algum tempo depois, numa antífona que dirigiu à Mãe de Deus (Ofício da Paixão).


4. Chiara Giovanna Cremaschi desenvolve assim esse pensamento: “Daqui deriva uma afirmação de fundo: a vida de Clara e das irmãs renova a vida de Maria, é um colocar-se diante de Deus na mesma atitude da Serva do Senhor, acolhendo a Palavra na humildade e na pobreza, deixando-se impregnar por ela. Estas mulheres foram encaminhadas para esta trilha por divina inspiração. Foi a força do Espírito Santo que conduziu e iluminou o seu caminho. Francisco usa a expressão vós vos fizestes, que quer dizer vos pusestes numa atitude de disponibilidade total, porque filhas já pelo batismo, tornando-se agora filhas a um novo título, pela adesão sem reserva à sua vontade que as constituiu servas, numa pertença total ao Senhor. Esposas do Espírito Santo é uma expressão insólita, porque o Esposo é Jesus Cristo e Clara viverá sempre unida a ele em estreitíssimo vinculo nupcial. Esposa do Espírito Santo é Maria. Com isso Francisco afirma: vós vos fizestes Maria.

5.
A escolha de viver segundo a perfeição do Evangelho não é outra coisa senão o seguimento de Cristo, mais precisamente do Cristo pobre, vivido num amor sem reserva que se traduz na altíssima pobreza. Convém colocar em destaque outro elemento importante: a fórmula trinitária exprime a realidade de uma vida de contemplação, que é penetrar sempre mais no mistério do Deus trino, é realizar a comunhão amorosa que, com Cristo e em Cristo, leva ao seio do Pai. Daqui nasce também a dimensão fraterna. Esta transborda do Amor no seio da Trindade. Estamos no universo do amor trinitário e transbordante. Compreende-se que sejam dispensáveis pequenas e particulares prescrições: a caridade que circula entre as irmãs, ou seja, o Espírito que as anima, se encarrega de indicar as modalidades concretas por meio das quais Clara é instrumento visível, Francisco o sustento e auxilio na contínua abertura ao desígnio de Deus.

6. O episódio do azeite
- A centralidade da dimensão trinitária vive-se na confiança sem limite no Pai misericordioso que provê cuida dos pequenos. Em São Damião, o cotidiano é costurado com episódios de sabor evangélico, que indicam que a oração penetra espontaneamente no tecido cotidiano da vida. Certa vez, transcorrido mais ou menos um ano do início do caminho das primeiras irmãs, acontece faltar azeite. Clara chama um frade esmoler. Esse fato prova que desde o início, ela e as companheiras, levavam em São Damião um gênero de vida que não previa o sair de casa. O esmolar ficava a cargo dos frades. Eles constituem a mão visível da Providência. No que se refere à questão da falta de óleo, Irmã Pacífica assim se exprime: a bem-aventurada Madre chamou um frade da Ordem dos menores que ia pedir esmolas para elas, chamado Frei Bentevenga, e lhe disse que fosse procurar azeite. Fica evidente que ele era encarregado de esmolar para as irmãs. Clara pede que procure azeite e este respondeu que lhe preparassem um vasilhame. Ela lava um recipiente adaptado e colocou sobre uma mureta que se achava perto da saída da casa. A partir desta descrição é difícil dizer como era então São Damião. Pode-se bem imaginar que não se tratava de um muro alto, mas apenas algo que delimitava o lugar em que as irmãs habitavam. Trata-se de um espaço em que os frades se apresentavam para prestar serviço às irmãs, de maneira corrente e ordinária. Nesse tempo talvez a plantinha estava exercendo a função de Marta, ocupando-se das necessidades materiais. Cerca de uma hora depois Frei Bentevenga vem tomar o vaso para pedir que benfeitores o enchessem de azeite e o encontra completamente cheio. Diante do fato pensou que fosse uma brincadeira. Terminado o interrogartório não se sabe quem teria enchido o recipiente. Imagina-se que o milagre tenha acontecido devido à santidade de Clara e por isso Irmã Pacífica faz questão de relatá-lo no processo de canonização. Mesmo que, se por acaso, alguém que passasse tivesse ouvido a solicitação e enchido o vaso, podemos dizer que o episódio mostra como a providência divina cuidava das irmãs.

7. A “sororità” cresce
- Traduzir sororitá por irmandade parece pouco. O grupo das irmãos crescia. Da resposta dada pela testemunha, ficamos sabendo quantas irmãs vivem em São Damião naquele momento: Irma Inês, irmã de Clara, irmã Balvina e Irmã Benvenuta (Benvinda) de Perugia. Nesse entretempo havia também entrado Irmã Balvina que, na época do Processo, já havia morrido. No ano seguinte, portanto, em 1914 chega Irmã Cecília de Spello que ingressa por meio de exortações de Clara e de Frei Filipe. Este é o companheiro que está junto de Francisco em seus colóquios reservados com a jovem filha dos Favarone. À moça que encontra ao acaso de sua pregação numa cidade bem perto de Assis, Francisco fala da novidade de São Damião e a leva a Clara. A respeito do que foi dito nada se sabe, mas se pode bem imaginar que se tenha falado do seguimento do Cristo pobre. Nesse mesmo período, segundo outras fontes, deve ter vindo integrar a sororitá também Ginevra di Giorgio di Ugone di Tebalduccio, que se tornou Irmã Bendita e que, depois da morte de Clara, levaria a comunidade das irmãs para dentro dos muros de Assis. Esta será a primeira abadessa a substituir Clara. Poucos meses depois chega também Filipa de Leonardo de Gislerio, nobre filha do senhor de Sassorosso que conhecia Clara desde a infância. Ela mesma conta como tomou a decisão de entrar em São Damião. Podemos, desta forma, compreender como Francisco fazia conhecida a “sororità” de São Damião: “... disse sob juramento que quatro anos depois que a santa veio para a Religião por pregação de São Francisco entrou na mesma religião porque a predita santa lhe fez ver como Nosso Senhor Jesus Cristo suportou a paixão e morreu na cruz para salvação do gênero humano. Assim, a testemunha, compungida, consentiu em estar na Religião e fazer penitência junto dela”

8.
Observemos que o elemento essencial é o olhar voltado para o Crucificado, pelo dom de sua vida para nossa salvação. E isto que leva á decisão de fazer penitência, palavra chave para descrever o gênero de vida a ser levado que, até esse momento, não tem muitos elementos diferentes do caminho das mulheres penitentes. A expressão compungida indica a consciência da própria situação de pecadora que leva esta irmã a começar seu caminho de conversão, em comunhão fraterna com as outras que, juntas, já fizeram um pedaço desse caminho.
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/artigos/clara/11.php acesso em 14 jan. 2011.

5 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


Penso que há duas maneiras de ser plenamente humano entre as pessoas: a primeira consiste em cultivar a diferença (buscar construir a individualidade); a segunda, em cultivar a comunhão. Quando cultivamos a nossa individualidade, entramos pelo caminho do auto-conhecimento: quem sou? Qual minha missão nessa vida? Qual a contribuição que devo dar para melhorar as pessoas e o mundo?

A partir dessa busca intensa vamos descobrindo que na comunhão vamos re-significando nossa própria jornada, pois somos seres que buscam a comunhão: somos uns-com-os-outros! Daí que o caminho consiste em nos amar por primeiro; depois, amar as pessoas como a nós mesmos. Esse, na verdade, é o mandamento por excelência de nosso Mestre Jesus Cristo!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

4 de fevereiro de 2011

1ª sexta-feira do mês

A CARIDADE DO CORAÇÃO DO REDENTOR

1. Uma tradição secular faz com que, nas primeiras sextas-feiras de cada mês, quando a liturgia o permite, o celebrante possa tomar o formulário da Solenidade do Coração de Jesus. Não se trata de querer salvar uma devoção tida por alguns como cheia de sentimentalismo e pouca teologia. Na verdade, algumas orações de determinados grupos, falam do Coração de Jesus de uma forma sentimental demais. Ora, pensar no Coração do Mestre é deter-se num coração de alguém que soube amar até o fim. Um coração cheio da verdadeira caridade.

2. São Clemente de Roma, na sua carta aos coríntios, escreve assim a respeito da caridade em geral e do amor de Jesus: ”A caridade não tolera a divisão, não provoca revolta. A caridade faz tudo na concórdia. Na caridade, todos os eleitos de Deus são perfeitos. Sem a caridade, nada é aceito por Deus. Na caridade, Deus nos assumiu para si. Pela caridade que tem para conosco, nosso Senhor Jesus Cristo, obediente à vontade divina, por nós entregou seu sangue, a sua carne, por nossa carne, a sua alma, por nossa alma” (Liturgia das Horas, III, p. 74).

3. Nunca nos cansaremos de contemplar os últimos momentos de vida de Jesus de Nazaré. Ele, no vigor de seus anos, teve que enfrentar a dura realidade da morte violenta. Uma coisa é morrer serenamente num canto, outra coisa é entregar o espírito suspenso entre o céu e a terra, num abandono inominável. Assim aconteceu com Jesus. Romano Guardini assim escreve: “Ninguém morreu como Cristo porque ele era a própria vida. Ninguém expiou como ele o pecado porque ele era a própria pureza. Ninguém caiu tão baixo como ele no nada – até essa terrível realidade evocada pelas palavras: “Deus, ó Deus por que me abandonaste”, porque ele era Filho de Deus. Ele aniquilou-se verdadeiramente. Teve que morrer quando ainda era jovem. A sua obra foi sufocada quando teria podido florescer. Os seus amigos foram-lhe arrancados, sua honra foi maculada. Não tinha mais nada e não era nada mais. “Um verme e não um homem”. Num sentido inexprimivelmente profundo, 'desceu aos infernos', o reino onde impera o nada” ( O Senhor, p.401).

4. Esse sim de Jesus, com esta entrega no alto da cruz, esse gesto dos gestos num momento de total abandono, é a Caridade. O mais belo dos filhos dos homens e o Filho de Deus, retomando São Clemente, “obediente à vontade divina, por nós entregou o seu sangue, a sua carne por nossa carne, a sua alma, por nossa alma”. Aquele sim varou o coração do Pai. A frágil natureza de Jesus, adquirida no seio da Virgem, feita obediência, atinge o Pai. O amor do filho de Deus feito carne, a caridade de Cristo, renova o mundo e atinge a todos. Somos invadidos e ensopados dessa caridade divina. Não se trata apenas de lembrar que um dia, crianças ainda, fomos batizados e nos revestimos desta caridade. Trata-se de fazer da existência um hino de ação de graças pelo amor que nos toca aqui e agora, de modo particular no sacrário de nossa interioridade, na nudez de nossa verdade, no doído arrependimento de sermos medícores. Não na superfície de orações barulhentas, nem de ritos frios. Contemplando a caridade de Cristo somos levados a dar uma resposta de amor. Esse pensamento não nos larga: assim como Senhor deu a vida por todos, tenho que dar a vida por ele e pelos outros.

5. Ora, precisamente esta é a finalidade da devoção ao Coração do Redentor. Ele, quando vivo foi se entregando, amando, criando um mundo novo, mundo da graça que seria derramada na história de cada um. Depois de morto, o toque da lança no seu peito nos fez “ver” a profundidade de amor de seu Coração. Nada. Jesus é nada. Aniquilou-se. Desse nada, nasceu o tudo. Os devotos do Coração do Redentor, evidentemente, são contemplativos. Gostam de fechar a porta do quarto e estar com aquele que os amou de forma estrema. Há algum mal nisto? Quem ousará dizer que isso é alienação? Ao mesmo tempo, os que se sentem agraciados, cobertos por esta Caridade, não descansam, não se aposentam, falam, andam, dão testemunho, são corajosos. Evangelizam, sem burocracia mas dando a vida pela vida dos outros, como fez o mártir do Gólgota. Conclusão: a caridade do Coração do Redentor proíbe toda sorte de aposentadoria.

3 de fevereiro de 2011

Meditação Diária


A verdadeira felicidade provém de um sentimento de paz e contentamento que, por sua vez, tem que ser alcançando através do cultivo do altruísmo, do amor, da com-paixão e da eliminação da cobiça e do egoísmo. Quando planejamos uma boa ação, criamos uma imensa energia positiva que sai na direção daquela pessoa que estamos pensando, mentalizando e transmitindo nosso amor.

Para atingirmos a tão desejada felicidade precisamos desejá-la, buscá-la, criar situações e tomar atitudes. A felicidade é uma conquista humana quando é construída na solidariedade, na capacidade de amar as pessoas como elas são, de rezar por todos aqueles (as) que sofrem no mundo inteiro: a felicidade está na fraternidade, na alegria, no espírito de gratidão a Deus por tudo aquilo que Ele nos concede...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

2 de fevereiro de 2011

COMO FORMAR UM AUTÊNTICO FRANCISCANO SECULAR HOJE?

Pintura de Frei Geraldo Roderfeld no Seminário
Frei Galvão de Guaratinguetá (SP)
COMO FORMAR
UM AUTÊNTICO
FRANCISCANO SECULAR HOJE?
Reflexões para aqueles
que têm o ministério de
promover a formação
dos irmãos nas Fraternidades


Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)

Introduzindo

Em seu Testamento, Francisco fez uma releitura de sua vida como um itinerário progressivo movido pela iniciativa gratuita de Deus e selado pela sua misericórdia. Um tal caminho o levou ao encontro com o Senhor Jesus e seu Evangelho através de um processo de discernimento e de transformação que conheceu também crises, passagens dolorosas, momentos de dificuldade e de incerteza. Em tudo isso Francisco cresceu no desejo de alcançar um cada vez mais radical e apaixonado seguimento do Cristo pobre e crucificado. Quando se olha para São Francisco, “forma minorum”, a vocação do Frade Menor se apresenta como um caminho em constante devir e nunca acabado, até o encontro com nossa “irmã morte”. Nesse crescimento o Frade é guiado pelo Espírito do Senhor, do Evangelho e da Regra, cujas Constituições Gerais oferecem uma releitura para o mundo atual, apresentando sempre de novo os elementos essenciais do carisma franciscano: “...os irmãos são obrigados a levar uma vida radicalmente evangélica, isto é, viver espírito de oração e devoção e em comunhão fraterna; dar um testemunho de penitência e minoridade; anunciar o Evangelho ao mundo inteiro em espírito de caridade para com os homens; pregar por obras de reconciliação, a paz e a justiça; e mostrar o respeito pela criação”
(Doc. Sobre a Formação permanente na Ordem dos Frades Menores, Roma 2008, n. 1).


1. O texto que abre nossas reflexões, evidentemente, se dirige aos Frades Menores. As CCGG da OFS, no entanto, vão, basicamente, na mesma linha. Os franciscanos seculares se comprometem, pela profissão, a viver o Evangelho segundo a espiritualidade franciscana, na própria condição secular. Procurem aprofundar, à luz da fé, os valores e as opões da vida evangélica, segundo a Regra da OFS: um itinerário continuamente renovado de conversão e de formação; abertos às exigências que vêm da sociedade e das realidades eclesiais, “passando do Evangelho à via e da vida ao Evangelho”, na dimensão comunitária deste itinerário” (CCGG OFS art. 8).

2. Os dois textos falam da formação que vai até o fim da caminhada. Esta não acaba nunca. É um processo, um itinerário. Formar-se, falando cristã e franciscanamente, significa tender à perfeição, os formandos do começo e de sempre, ou seja da formação inicial ou da formação permanente. Fala-se de processo de transformação de discernimento, caminho, itinerário, crises, alegrias e decepções e tudo desembocando no encontro com a irmã morte. A pergunta que nos ocupa é esta: Como formar um franciscano secular hoje? As presentes reflexões não têm a pretensão enganosa,de forma alguma, de dar uma resposta exaustiva a esta complexa questão. Desejam apenas animar os formadores e formadores em seu indispensável ministério.

3. Nossas Fraternidades estão em estado de formação. Nossas reuniões não são constituídas de aulas e discursos, mas de pessoas desejosas de crescer inteiramente, de serem formadas pelo Espírito. Os formadores e as formadoras são agentes, instrumentos, servos de uma Presença maior que atua lá onde existe fome de plenitude e corações vivendo em estado de vigília. Forma a vida de oração, forma a conversa entre os irmãos, forma a vida com seus desafios. Estamos todos convencidos de que um dos grandes desafios da Ordem Franciscana, tomada no seu todo, em nossos tempos, como também para outras famílias espirituais da Igreja, é o delicado tema da formação. O último Capítulo Geral da OFS, realizado em Budapest em meados de novembro de 2008, em suas conclusões afirma: “A formação permanente permanece sendo a prioridade por excelência do Capítulo para toda a Ordem”. Não podia ser de outro modo. Insiste-se na formação permanente. Certamente merece atenção também a formação inicial.

4. Complexo todo o tema que abordamos. Há a figura do formador, a pessoa do formando, a dinâmica dos encontros, a Fraternidade que vive ou não um momento de sede de Deus e de entusiasmo, os conteúdos essenciais, os textos que já existem como instrumento de formação, aqueles temas que se mostram urgentes devido a diversas circunstâncias. Dispomos, na OFS, de um documento, simples, breve mas essencial sobre o tema: Diretrizes de Formação, publicado em 2002. O curso ministrado pelo CIOFS tem uma aula especial sobre este tema. Importa sempre de novo dizer e afirmar que a formação em nossa vida, de modo especial, no caminho dos franciscanos seculares é de fundamental importância. Muitas de nossas observações serão tiradas das páginas do capítulo: O que é a formação? Nossa intenção é nos deter mais no formando e nosso processo de formação. Parece, no entanto, bom tecer algumas considerações a respeito da figura do formador.

5. Há, pois, o formador, pessoa de boa vontade, nem sempre preparada suficientemente para sua tarefa. A prática nos diz que no momento dos Capítulos eletivos por vezes não se pensa com a necessária antecedência nos nomes que deverão ser propostos para essa tarefa. Nunca esqueceremos que a tarefa de formação na etapa inicial e na permanente tem como mestre e formador o Espírito Santo. Não se pode também deixar de levar em consideração que a Fraternidade tomada como um todo forma os irmãos e as irmãs. Sabemos também que o Ministro e seu Conselho exercem uma função formadora.

6. O texto do curso ministrado pelo CIOFS faz algumas observações que merecem ser destacadas:
• a tarefa de formar passa por instrumentos vivos, os formadores, que tentam viver o que ensinam;
• o formador chama os candidatos e irmãos à conversão, acompanha-os em seu processo ou caminho de vida espiritual;
• o formador presta atenção a cada candidato, levando em conta a personalidade única de cada um;
• desaparece da cena e deixa que o Espírito atue nas pessoas;
• dá seu tempo à Fraternidade e à formação sem nada esperar de volta;
• não desanima;
• tem um plano de formação, mas é capaz de fazer as necessárias adaptações;
• o texto usa três palavras: informação, formação e transformação (sendo esta última, ou seja a transformação, um trabalho da graça de Deus).

7. As Diretrizes da Formação descrevem assim os traços ou características do formador:
• Preparado e disponível com capacidade de comunicar e transmitir conteúdos, culturais, teológicos e espirituais;
• Arraigado ao carisma do fundador para exprimi-lo à luz dos sinais de hoje e das novas exigências eclesiais e sociais;
• Consciente de exercer um “mandato” a ele confiado pela Fraternidade;
• Preocupado com a inserção dos candidatos na Fraternidade;
• Tratando de estabelecer relacionamentos com o Conselho, o Assistente, sendo alegre, acolhedor, otimista, simpático, como convém a franciscanos;
• Corresponderá à confiança que nele foi depositada.

8. Há, é claro, a figura do formando. Fazemo-nos muitas perguntas a seu respeito. Que motivos profundos fazem com que ele busque a Fraternidade? Veio ele de um encontro vocacional, foi trazido por um dos irmãos da Fraternidade? Quem é esse que vem até nós? Que formação cristã teve e que caminhada humana fez em sua história? Quais as visitas que já recebeu de Deus através do Cristo vivido à maneira de Francisco? As pessoas chegam às nossas Fraternidades com caminhadas espirituais diferentes.
• Alguns provêem de movimentos de Igreja que os marcaram profundamente, mas que gostariam de caminhar cristãmente à maneira de Francisco. Sentem-se chamados a uma santidade de vida franciscanamente.
• Há têm uma boa formação cristã já tendo participado de cursos de aprofundamento bíblico, catequético em suas paróquias ou dioceses.
• Alguns são pessoas que foram marcadas por movimentos na linha da renovação carismática ou de outras espiritualidades. O que buscam na OFS? Não ficaram satisfeitos com o que tinham nos encontros daqueles movimentos? Por que nos buscam? Serão eles capazes de se interessar de verdade pelo caminho franciscano? Outros ou outras são pessoas super-ativas que tudo assumem, por vezes num mecanismo de fuga.
• Não se deve esquecer que muitos de nossos simpatizantes não tiveram uma verdadeira família. Lutaram para sobreviver humana e psicologicamente. Não poucas vezes nossos candidatos carregam traumas e manifestam um certo desequilíbrio afetivo.
• Alguns têm uma vida cristã exemplar e quase mística. Como eles são, efetivamente recebidos e para onde os pretendemos levar? Ou melhor: para onde o Espírito os leva e que contribuição podemos dar para que eles sejam bem sucedidos.
• Há pessoas que não vivem bem o casamento, que desejam fugir do mundo e buscam no campo religioso um oásis de paz ou um lugar onde possam ter vez e voz.

9. Formação vem de forma. Preciso será prestar atenção: a formação não quer colocar as pessoas numa camisa de força. Trata-se de fazer uma proposta que incide numa liberdade. Pretendemos formar o homem, o cristão, o franciscano, o missionário. Desejamos que os formandos possam atingir uma maturidade em todos os sentidos. Não queremos formar clones, cada pessoa é única e que não se repete, única em seu patrimônio genético, única aos olhos de Deus. Formar é acompanhar a pessoa no seu crescimento, no seu ritmo próprio, tentando propor-lhe instrumentos que favoreçam esse crescimento. Não se pode negar que se trata da transmissão de conhecimentos. Mas não somente. A formação passa pela vida. Portanto, há as trocas de experiências e as partilhas de vida. O tempo da formação, ou todo e qualquer formação, forçosamente passa pelos encontros... Os que estamos num processo de formação, assimilados o dito ou vivido e o levamos para a oração. A finalidade da formação é sempre de levar a pessoas e os irmãos à santidade de vida.
• Tendo em vista a formação cristã e franciscana precisamos sempre olhar os grandes desafios do mundo moderno. Tentemos fazer uma enumeração que não pretende ser exaustiva:
• vivemos num mundo globalizado: as idéias do mundo inteiro chegam ao mais recôndito canto de um país;
• as jovens gerações são marcadas pelos meios eletrônicos;
• as pessoas não conseguem amadurecer: humana e cristãmente;
• por vezes vivemos uma certa superficialidade, tempo da pressa, de fazer tudo e nada;
• tempo que gosta do provisório;
• num contexto complexificado, tudo vale, vale tudo, tudo é relativo;
• conhecemos o tema do consumismo;
• pansexualismo;
Os documentos da OFS insistem sempre na secularidade, na presença dos franciscanos no mundo. A formação levará isso em consideração:
• Família é realidade do mundo, do século. Os franciscanos construirão sua família e se engajarão com a pastoral familiar. A formação permanente não poderá esquecer esse aspecto: construção do casamento, diálogo conjugal e familiar, educação para a sexualidade, estar junto das famílias desfeitas e refeitas, compreensão do sacramento do matrimônio, viver uma família num estilo despojado. Trabalhar que as famílias tenham casa e dignidade.
• Os franciscanos seculares haverão de se interessar pela realidade atual do mundo e para tanto serão formados. Elencamos alguns campos de ação ou problemas delicados:cuidado pelo meio ambiente, preocupação com o aquecimento global, com o respeito e preservação da natureza em todos os sentidos; cuidados especiais para com a vida que é ameaçada em todas as suas formas; desarmamento das pessoas e dos espíritos diante de tanta violência; empenho no sentido de que a paz se instaure com a eliminação da violência, etc.
• Há algumas preocupações relativas à formação no campo da Igreja. Os franciscanos seculares sentir-se-ão profundamente ligados à diocese e à paróquia, expressões da vida da Igreja. Francisco tinha um carinho todo especial pela Igreja e, de modo particular, por seus representantes. Em nossa formação será preciso transparecer a necessidade de pertencer efetivamente às comunidades eclesiais, colocando-se à disposição dos responsáveis para serviços pastorais e missionários. Os franciscanos seculares estão presente em toda parte: catequese, animação da liturgia, ministério da caridade, serviço da Palavra. O programa de vida de uma Fraternidade inclui o engajamento dos seus membros na vida da Igreja, sem os exageros que podem acontecer. Estamos dentro do campo de uma formação para a vida na Igreja e em Igreja. Os franciscanos seculares precisarão ser peritos na arte da pastoral: catequistas que conhecem as etapas do surgimento e crescimento da fé, conhecedores do mistério de Cristo que se manifesta na liturgia e não meros tocadores de obras, etc...
• No conjunto geral da formação dos franciscanos seculares poderíamos agora refletir sobre os meios e instrumentos da formação:
• A pessoa está sempre num caminho de formação (ou de deformação).
• O outro é sempre um mistério a ser acolhido com respeito. Não se pode ser indiscreto.
• O lugar privilegiado da formação é a vida cotidiana onde a pessoa estabelece relacionamentos com os outros e com seu ambiente.
• O formador convidará sempre o formando a dialogar com o mundo, com as coisas e com seus anseios.
• Na vida aparecem as crises ao longo dos tempos, as decepções, as surpresas. Dialogar-se-á com eles e elas.
• Importância da reunião da Fraternidade e da reunião de formação inicial, quando for o caso.
• Possível esquema para as reuniões de formação dos iniciantes: momentos de acolhida (10 minutos) onde se procurará conhecer a vida do iniciante; exposição do tema, se possível com uma folha resumo, troca de idéias finalizando com um momento de oração.
• Cuidar do espírito de oração e de devoção que não pode ser perdido: provocar momentos de profunda experiência de oração, ensinar o formando a ter uma vida de oração pessoal que não se restrinja ao terço; inicia-los nas técnicas da meditação; despertar neles apreço pelo ano litúrgico; pedir que se preparem para a missa de domingo; fazer com que apreciem o silêncio; promover na Fraternidade celebrações da Reconciliação; de quando em vez fazer a leitura orante com todos; cobrar de todos a presença em retiros que sejam retiros e não encontros barulhentos.
• A formação para a vida fraterna não se fará com discursos com gestos práticos: momentos de partilha de vida, ajuda concreta aos necessitados de dentro e de fora, especial atenção aos irmãos doentes, revisão de vida, correção fraterna.
• A comemoração das festas franciscanas não pode ser feita com superficialidade e rapidez. Cada uma destas grandes é momento de formação (reflexão, celebração, oração, tomadas de decisão). Pensamos aqui nas grandes festas: Chagas e Solenidade do Pai Francisco, Santa Clara, Santa Isabel da Hungria, São Luis e outros. Podemos aqui nos fazer uma pergunta: Que frutos na linha da formação pudemos lucrar com as comemorações dos centenários de Clara de Assis e Isabel da Turíngia?
Em todo o processo formativo lugar privilegiado ocupam a Regra e as Fontes Franciscanas. Não duvidamos da importância da Regra para iluminar todas as situações da formação (humana, cristã, franciscana e eclesial missionária). Quando são abordados trabalho, paz, família, dinheiro e todas as realidades, estas serão iluminadas, de modo particular pela luminosidade dos artigos da Regra. Se temos que nos voltar sempre às Fontes, entre elas haveremos de prestar atenção particular aos Escritos de Francisco (Regras, Testamento, Admoestações). Sugestão: Poder-se-ia de quando em vez, numa tarde, reunir todos os irmãos e irmãs e ler comunitariamente, por exemplo, a Legenda dos Três Companheiros!!!
• Dever-se-á prestar atenção às diferentes idades no tempo da formação. Há Fraternidades que têm jovens solteiros na formação inicial. Certamente eles serão orientados a fazer um projeto de vida, a discernir sua vocação para o casamento ou vida consagrada (ou sacerdotal). A experiência diz que os irmãos que fizeram a profissão deveriam merecer atenção. São os professos de pouco tempo. Uma que outra vez deveriam fazer um dia de recolhimento separadamente e serem encorajados a estudar as Fontes e apresentar seus trabalhos à Fraternidade. A experiência fala de uma crise no meio dia da vida, ou seja, pelos 50 anos. Não se deveria, a nível de distrito, fazer encontros da 2ª. Idade? Há uma formação mais adaptada aos doentes e aos que estão envelhecidos. T udo isso é formação.
• Um adendo. Falando da formação permanente no começo da 3ª. idade, o Documento sobre a formação dos OFM já mencionado assim se exprime: “O caminho da formação permanente na terceira idade e no começo da velhice deve levar os irmãos a saborear a beleza de uma vida cristã que vai chegando ao seu termo. A lembrança que se tem do seguimento de Jesus e da fidelidade do Pai, ilumina uma atual tentação de pessimismo com relação a si mesmo aos outros, a si mesmo e à sua atividade pessoal. A reconciliação com sua história pessoal e suas feridas, por meio de uma abertura mais generosa ao perdão, permite que venhamos a colher os mais belos frutos que o Espírito Santo nos reserva: a alegria, a benquerença e a ternura (Doc.Formação, p. 104).

Concluindo:
De maneira sintética, sem pretensão de ser exaustivo, eis alguns elementos que aparecem no semblante de um franciscano bem formado:
• Uma pessoa que quer estar de bem consigo e com a vida, sedenta de fraternidade e desejosa de Deus, que já atingiu ou está atingindo relativa maturidade.
• Alguém que quer ir além de um cristianismo rotineiro, sacramentalista e legalista. Pessoa que está fazendo um encontro profundo com a figura do Cristo ressuscitado.
• Pessoa que tem um cuidado todo especial em alimentar a amizade com Cristo: leitura dos Evangelho, missa se possível diária, intimidade como Cristo na Eucaristia.
• Pessoa que tem uma piedade cristocêntrica e trinitária e não devocionalista e lateral.
• Alguém que tem o hábito de rever a caminhada: gosto pelo silêncio, exame de consciência freqüente, apreço pelo sacramento da reconciliação.
• Pessoa que não separa fé da vida, que vive a fé na vida: casamento, vizinhos, desprezados, oprimidos, água, ar, gente indiferente a tudo, mundo da violência, sofrimento, abundância...... Fé e vida...
• Aquele que em seu agir pastoral respeita a ação de Deus nos sacramentos, nas celebrações e se deixa guiar pelas orientações da Igreja. Não quer se protagonista no lugar de Deus e de Cristo.
• Alguém que compreendeu que o mistério pascal envolve sua vida: está sempre morrendo com Cristo e com ele ressuscitando.
• Pessoa que não pode viver isolada, mas necessita do ar da fraternidade: irmãos que se reúnem, que escutam a Palavra, que estendem a mão uns aos outros, que visitam os leprosos de hoje e que vão pelo mundo dizendo que o amor não é amado.

“A formação nunca poderá coincidir com a simples leitura de um livro, de um Manual mesmo quando estes forem bem feitos. Na formação entram em cena a disponibilidade do coração e do espírito daquele que se forma e a experiência vibrante do formador, seu concreto testemunho de vida e sobretudo a presença e a ação do Espírito de Vida que é Deus e a docilidade daquele que se deixar guiar e encher de sua Graça. Trata-se de um fogo que deve se propagar, fogo que deve contagiar. Não se acende uma chama com o pensamento. Necessário se faz que nos aproximemos com uma chama já acesa, vigorosa e forte e , assim, acendamos a chama do outro. Não esqueçamos que somos filhos e irmãos do Pai “seráfico” São Francisco. Seráfico quer dizer ardente e, como São Francisco, haveremos de “arder”, arder de um amor inflamado por Deus e pelos irmãos e nós mesmos chegarmos a ser verdadeiras “sarças ardentes” que ardem sem se consumar, a não ser de amor” (Introdução ao Manual de Formação do CIOFS).


(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM é Assistente Nacional para a OFS

1ª sexta-feira do mês

CONSERVAR O AMOR DO SENHOR NA MENTE E NO CORAÇÃO

Ama-me como eu te amo. Conserva-me em tua mente e em tua memória; em tua vontade, em teu suspiro; no gemido e no soluço” (Balduíno de Cantuária, bispo do sec. XII).

1. Muitos cristãos têm o hábito de prestar uma atenção especial ao amor de Deus manifestado aos homens através do lado aberto do Salvador no alto da cruz. Manifestam esta delicadeza, de modo particular, às primeiras sextas-feiras de cada mês. Na realidade, dia após dia, na celebração e na participação da Eucaristia, manifestamos esse apreço ao Redentor. A Eucaristia, com efeito, segundo lúcida teologia dos Padres da Igreja, nasceu do peito aberto de Cristo Jesus. Por isso, essa atenção devota que prestamos ao Coração de Jesus nada tem de sentimentalismo balofo, mas visa adorar o Filho de Deus que nos amou até o fim. Cabe-nos transformar nossa vida num hino de gratidão ao Filho de Deus que por nós nasceu e por nosso amor por nós se entregou à morte de cruz. A contemplação do peito aberto do Senhor nos leva a sentimentos de agradecimento e propósitos de torna-lo conhecido, reconhecido e amado. Somos contemplativos e missionários.

2. Os sinceros devotos do Coração de Jesus, sem tirarmos os pés do chão, sem deixarmos de lavar as chagas do Cristo que se esconde nos doentes e abandonados, vamos tomando gosto por momentos de oração mais contemplativa e silenciosa. Na verdade, sabemos que a vida de oração conhece etapas e profundidades distintas ao longo da história de uma pessoa. De tanto exercitarmo-nos no despojamento interior e de muito meditar no aniquilamento do Senhor vamos simplificando nossa vida espiritual. Passando talvez por noites escuras e percorrendo terrenos de aridez, chegamos a uma mais densa intimidade com o Senhor que se chama via unitiva.

3. Balduíno de Cantuária, inventa uma fala de Jesus com a alma: “Ama-me como eu te amo. Conserva-me em tua mente e em tua memória; em tua vontade e em teu suspiro; e no soluço. Lembra-te, homem, de que forma te fiz, quando te pus acima de outras criaturas, com que dignidade de enobreci, como te coroei de glória e de honra, coloquei-te pouco abaixo dos anjos, como tudo submeti a teus pés”. O bispo Balduíno, evoca pois, os gestos da criação do homem que aparecem em salmos e outros textos da Escritura. Mas são as linhas seguintes que tocam fundamente o íntimo daquele que contempla Jesus: “Lembra-te não apenas quanto fiz por ti, mas quantas crueldades e afrontas por ti suportei. Reconhece que ages mal contra mim quando não me amas. Quem assim te ama, senão eu? Quem te criou, senão eu? Quem te remiu, senão eu?” (Liturgia das Horas IV, p.60).

4. O discípulo do Coração do Redentor é, pois convidado, a amar aquele que tem o peito dilacerado e o lado aberto. Como, praticamente, se concretiza esse amor. Antes de tudo, numa tentativa de conformação de sua vida com a vida de Cristo. Aquele que terminou os dias no alto da cruz não quer que nossa vida seja um fracasso. Tanto nos amou para que respondêssemos ao seu amor vivendo em nós o grande mistério da vida de Jesus: ser para os outros, dar a vida pelo ser humano, sair da dianteira da cena e ter as tintas do Cristo em nosso semblante. Isso se faz através de uma “imitação” dos mistérios de Cristo em nossa vida, de modo particular no humilde despojamento. Tal se realiza vivendo em nossa carne os mistérios do amor que precisa ser amado. Assim, o devoto do coração daquele que teve o seu lado aberto se torna coração aberto para o mundo. Fiel ao Amado, ama-o até o fim.

5. O mesmo Balduíno de Cantuária continua sua meditação. No trecho que transcrevemos é a alma que se dirige ao Cristo num afetivo solilóquio e em palavra nitidamente compungidas: “Arranca de mim, Senhor, o coração de pedra. Tira o coração de pedra, tira o coração incircunciso; dá-me um coração novo, coração de carne, coração puro. Tu, purificador dos corações e amante dos corações puros, apossa-te de meu coração e nele habita, envolvendo-o e enchendo-o, Tu, superior ao que tenho de mais alto, interior ao que tenho de mais íntimo! Tu, forma de beleza e selo de santidade, marca meu coração com tua imagem” (Idem, p. 61)..


EXTRAIDO DE : http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/primeirasexta/