31 de janeiro de 2011

Clara de Assis e suas irmãs

Uma vida para Deus e para os homens, a serviço da Igreja

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Costuma-se citar de um mesmo fôlego os nomes de Francisco e Clara por serem uma dupla configuração de uma única e idêntica presença nova e dinâmica que a Providência quis suscitar: a vida segundo o Evangelho, segundo a alegre mensagem de Cristo, nosso Senhor e irmão, e de Deus, a quem chamamos de Abba Pai. Evangelho que Francisco não somente ouviu, não somente conheceu, mas que viveu e reviveu de forma a mais cabal, tanto interior quanto exteriormente. Este tal Evangelho encontra em Clara, por assim dizer, sua configuração e irradiação femininas. Destarte, a figura de Clara se torna exemplar para os cristãos de nossos dias, de modo especial para as mulheres que decidiram seguir Francisco tanto na Segunda quanto na Terceira Ordem.

2. Clara nasceu numa casa de nobres de Assis. Desde a infância se mostrou uma pessoa interiorizada. Quando tinha dezoito anos, seus familiares quiseram que ela se casasse. Neste momento já tinha ela se encontrado algumas vezes com Francisco, doze anos mais velho do que ela. Havia ouvido sua pregação e lhe aberto o coração. São largamente conhecidos os episódios de sua vida entre a saída da casa paterna e sua instalação em São Damião. Não precisamos aqui evocá-los. Anteriormente, já os analisamos per longum et latum em textos anteriores.

3. Separada da cidade, no pequeno conventinho de São Damião, Clara esteve ai fechada toda a sua vida numa áspera pobreza, naqueles espaços onde rezava, trabalhava e descansava. Fechada dentro daquelas paredes, ao mesmo tempo era uma claridade que iluminava lugares obscuros. No interior do conventinho, Clara estava longe de ser uma alienada, uma pessoa atrofiada, ou marginalizada. Tem um senso delicado e aguçado da beleza. A alva que confeccionara para Francisco é uma das peças mais preciosas do bordado medieval. Naquele espaço exíguo onde vive, onde livremente escolheu se “desterrar”, Clara é de uma liberalidade assombrosa e de uma surpreendente amplitude de visão. Para si reserva a austeridade, para as irmãs a liberalidade. Clara tem a pureza da compaixão verdadeira, é discreta ao corrigir, moderada nas determinações e ordens, prefere respeitar a ser respeitada. Ao lado disso, risonha e alegre, é mulher de penitência excepcional. Será preciso que Francisco ordene que ela aceite cuidados especiais no tempo da doença. Não prejudique a saúde.

4. Nas poucas cartas que foram conservadas, Clara manifesta uma profundidade madura e nada comum. Poderíamos designá-la de elevação de espírito claramente aristocrática. Sai vencedora pela amabilidade de sua nobreza interior e assombra pela firmeza com que persegue seus objetivos. “Uma vez, o Papa Gregório proibiu qualquer frade de ir sem sua licença aos mosteiros das senhoras. A piedosa madre, doendo-se porque ia ser mais raro para as Irmãs o manjar da doutrina sagrada, gemeu:”Tire-nos também os outros frades, já que nos privou dos que davam alimento de vida”. E devolveu ao ministro na mesma hora todos os irmãos, pois não queria esmoleres para buscar o pão do corpo, se já não tinha esmoleres para o pão do espírito. Quando soube disso, o Papa Gregório deixou imediatamente a proibição nas mãos do ministro geral” (Legenda 37). Clara resistiu ao Papa quando este queria persuadi-la a garantir sua subsistência e das irmãs com pequena posse: “Se temes pelo voto, disse o Papa, nós te dispensamos do mesmo”. Ao que Clara respondeu: “Santíssimo Padre, de maneira alguma quero ser dispensada do seguimento de Cristo” (Legenda, 14).

5. De maneira semelhante a esta autenticidade inquebrantável como pessoa, se mostrou também Clara em seu comportamento como mulher. Deixa de ser esposa e mãe. Não o faz por falta de espírito de sacrifício nem porque seu coração ignorasse o que fosse o amor, mas pela fé, por uma iluminação íntima, pelo fogo do coração de seu Senhor. Sabe ela que esse amor é sem limites. Em sua feminilidade, elevou-se às alturas da exemplaridade. Seu primeiro biógrafo, no Prólogo, afirma: “Que as mulheres imitem Clara, vestígio da mãe de Deus e nova guia das mulheres!”

6. Clara é toda mulher em sua sensibilidade para com os homens, para com tudo aquilo que a comove interna ou externamente, enchendo-a de tristeza ou de alegria. Acolhe a todos e cada um com profunda reverência e tudo em suas mãos se resolve miraculosamente. Com esta reverência acolhe todos os homens, sua individualidade particular, sua consciência, suas fragilidades e sua graça. Deixou que lhe chamassem de abadessa, segundo as prescrições eclesiásticas. Ela mesma se designa de “humilde e indigna serva e servidora”. Assim se designa e assim é. O que sabe e quer: amar servindo e mandar amando. Sua feminilidade se consuma num amor verdadeiramente materno e criador. Refugia-se na solidão, retira-se do mundo e é como se esse mundo se sentisse atraído na sua direção. Como a borboleta errante aspira pela luz, assim as pessoas se sentem atraídas por ela. Procuram-na carregadas de dificuldades e cheias de preocupações. Muitos são curados de enfermidades simplesmente quando Clara traça em suas frontes o sinal da cruz. As pessoas procuram sua sabedoria, suas orientações e instruções. Parece verdadeiramente emblemático que quando a cidade é atacada por bárbaros estes venham a ser derrotados, não pelas armas ou muralhas, mas pela fé, pela grandeza de uma mulher indefesa, uma Clara que reza na solidão. Clara é uma torre de paz, como uma rocha, contra a qual as ondas quebram. (Legenda 21-23).

7. Foi no silêncio da solidão que Francisco colheu toda a força para transformar o ambiente em que vivia, sobretudo um mundo que não tinha mais a harmonia com Deus. Sempre que estava a caminho para pregar a penitência, para proclamar o Reino de Deus e sua paz tinha sempre saudade da vocação à solidão. Certa vez, envolto por esta saudade do recolhimento, pediu que Clara “conversasse” com Deus para saber se seu caminho era o da contemplação retirada do trabalho no mundo. Clara fez saber a Francisco que esta não era a vontade de Deus. Francisco deveria anunciar o espírito e a riqueza vital do silêncio; ela com suas irmãs guardariam o silêncio.

8. Clara sabia muito bem, quando ingressou no silêncio tão sombrio e nada romântico de São Damião, que não se tratava de ganhar algo, mas tudo. Penetrou naquele silêncio porque buscava a proximidade com Deus. Deus não está no estrépito, nem no ruído (cf 1Reis 19,11ss). Ele ama o silêncio, a calma através dos quais se pode penetrar num mundo todo diferente. É o mesmo que acontece com os vitrais e suas cores. Vistos de fora parecem sem vida e escuros. Visto do interior, se iluminam e revelam um colorido e riqueza insuspeitados. De maneira semelhante, nesses muros e nessas paredes desnudas e insensíveis de São Damião se descobre todo um “mundo”. O mundo que está fora é também criação de Deus, é verdade: a beleza da paisagem umbra com suas linhas suaves que flutuam e suas cores discretas. Clara, como Francisco, guarda um olhar lúcido e embelezador diante de tal cenário. Mas, dentro, no interior de São Damião, está o mundo de Deus que não se pode comparar com tudo o que oferece a criação. Ali dentro há outro mundo, o mundo imediato de Deus. Dentro há imutabilidade e imortalidade, há verdade, espírito e vida. Clara foi muito exigente, como só pode ser um grande coração quando se entregou incondicionalmente a esse mundo interior e silencioso. No interior de São Damião ocorre algo curioso que não se costuma levar suficientemente em conta e que talvez não se queira compreender: Sobre este mosteiro das irmãs de São Damião, fechado, aparentemente alheio com relação ao mundo e à vida, parece que está aberto o céu; sobre esta parcela da terra, o céu de Deus, sua graça, sua fidelidade, sua longanimidade e sua misericórdia. No silêncio desta casa sopra aquela brisa ligeira (cf. Reis 19,12) que anuncia a proximidade de Deus. Na tranqüilidade de São Damião, Clara cria um espaço de eternidade com suas irmãs no meio do mundo e para o mundo, um lugar de paz de Deus e de sua salvação. Num tecido enfermiço que desliza para a corrupção, Clara preserva uma célula que é sadia e atua sanando.

9. Se falamos de uma enfermidade que afeta o mundo, referimo-nos à agitação, estrépito, desassossego sem motivo, procedimentos ruidosos. Diante deste mundo está Clara, calada, mas exortando e orientando. Clara está a dizer que existe um outro mundo, mundo da tranqüilidade silenciosa, de uma quietude cheia de Deus e com Deus, essa possibilidade de calar e de escutar. Quando o homem está envolto em seu ruído, não se dá conta que Deus faz mais ruído para se fazer ouvir. Experimentará que Deus escondido se esconderá mais ainda, que seu silêncio é como distância que não pode ser vencida, que seu próprio desassossego se coloca diante de um enigma em que Deus e mais e mais se distancia. Quem não é capaz de se calar, vive um aturdimento e está impedido de rezar, porque o núcleo do silêncio é precisamente o que se torna oração possível em nós. Clara esconde toda sua vida no envolvimento do silêncio porque o que contava para ela era encontrar na oração aquela manifestação primordial da vida, o impulso originário do amor que leva a Deus. A razão disto é que Clara aspira à intimidade e à união com seu Senhor. Por isso, a oração é coração de seu silêncio.

10. Clara vive mais de quarenta anos no retiro silencioso. Durante um bom momento, depois das Completas, continua orando com suas irmãs. Enquanto estas se retiram para descansas, ela permanece em oração (Legenda 19). Freqüentemente, Clara se levantava antes das irmãs para acender as lamparinas.

11. O trabalho também faz parte da jornada das irmãs. A esse respeito Clara exorta expressamente na Regra: “As irmãs a quem o Senhor deu a graça de trabalhar com fidelidade e devoção, depois da hora de Terça, em um trabalho que seja conveniente à honestidade e ao bem comum, de modo que afastando o ócio, inimigo da alma, não extingam o espírito da santa oração e devoção, ao qual outras coisas temporais devem servir (Cap.VII). Por isso, Clara quando estava enferma, se fazia recostar em almofadas, para poder costurar. O trabalho também será como que envolvido pela oração. Não se pode perder o espírito da santa oração e da devoção. Depois que as irmãs iam descansar, Clara ainda permanecia em oração. Celano, citando Jó, afirma que Clara, permanecendo em oração, queria perceber furtivamente o sussurro divino (Legenda 19).

12. Uma das características mais significativas de Clara e de suas irmãs é a pobreza estrita: precisamente neste ponto Clara compreendeu perfeitamente a Francisco. Diante dos olhos de Clara está o Evangelho. E o Evangelho proclama, uma página atrás da outra, a graça e a verdade de Jesus Cristo que repousa no seio do Pai, que se fez homem e viveu entre nós. Por meio do Evangelho, Clara se encontra com o Filho de Deus vivo e ele encontra a ela não na grandeza que oprime nem no esplendor que nos torna insensíveis, mas na pobreza e na humildade.

13. Clara, como Francisco, aprendeu do Senhor esta pobreza e humildade. A maneira rigorosa como Clara pratica a pobreza não é renúncia pela renúncia: sua pobreza e sua renúncia a toda propriedade são a proclamação e a expressão de uma dependência absoluta de Deus, de uma entrega total e incondicional a ele. Sua pobreza não é outra coisa senão confiança radical em Deus, em sua fidelidade e em seu amor. A pobreza, tal como Clara concebe e como a vive com suas irmãs, é renúncia incondicional a toda garantia natural e humana, uma renuncia mediante a qual, crendo e amando, desafia a onipotência misericordiosa de Deus. Sua “altíssima pobreza” como ela a designa da mesma forma de Francisco é a esperança perfeitamente entendida e vivida, é confissão cabal e sem reservas de que o ser humano é criatura e como conseqüência desta confissão, é entrega sem limites ao Criador e Senhor. Uma vida em tal tipo de pobreza se converte na concreta e maravilhosa realização das palavras do Senhor: “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será dado em acréscimo” ( Mt 6, 33).

14. Brotando do ser pobre genuíno de todo homem interior, cresce em Clara aquela atitude de humildade que provém do fato de considerar que o homem é criatura, e como tal, pobre. Somente assim pode a criatura permanecer ante o seu Senhor. Este ser pobre foi a forma e a lei do ser cristão de Clara, servir com toda reverência e tomar a sério o outro homem, porque Deus o leva a sério. Amar com a entrega total de si mesma e ser totalamente sincera neste amor. Ser tão firme neste amor que nada possa causar dor.

15. Por mais dura, pesada e isenta de todo romantismo que tenha sido esta vida de Santa Clara e de suas irmãs, nada tinha de sombria. Não se esvai em tristeza e descontentamento. Pelo contrário, fazia nascer alegria do homem redimido que pode ser “colaborador” de Deus na obra da redenção (Carta III, 2). Também aqui Clara compreendeu cabalmente o pai espiritual, São Francisco, penetrando cada vez mais no segredo da perfeita alegria. Tal alegria alcançou sua expressão mais cabal da morte da santa. Durante dezessete dias, Clara não pode tomar alimento algum. Encontrava-se, no entanto, tão forte que podia confortar em seu serviço a todos os que chegavam até ela e despedi-los consolados. Nas últimas horas de sua vida, absorta em Deus, se podia ouvir: “Vá segura que você tem uma boa escolta para o caminho. Vá, porque aquele que a criou também a santificou; e guardando sempre como uma mãe guarda o filho, amou-a com terno amor. E bendito sejais vós, Senhor, que me criaste” (Legenda , 46).

16. Estas são as palavras de Clara moribunda. Diz isso depois de ter levado uma vida distante de toda acomodação ao espírito do mundo. Diz isso depois de ter renunciado a tudo que pudesse massagear seu egoísmo, e a todo humana pretensão, depois de uma vida de sofrimento e enfermidades. Ali, em São Damião, onde Clara viveu, podemos ainda vê-la e compreendê-la hoje. A casa, acanhada e desnuda, o coro onde as irmãs rezavam e sem ornamentação , a sala onde comiam, com mesas rústicas e piso gasto, a outra sala onde dormiam debaixo do madeirame do texto E como se isto não bastasse Clara usa uma saia de penitência confeccionada por ela mesma. Seu alimento era pão e água. Dormia sobre o chão duro e algumas vezes sobre galhos secos. Como apoio para a cabeça tinha uma pedaço de madeira. E esta Clara, na presença da morte, tendo um semblante sorridente, se encontra com estas palavras nos lábios: “Bendito sejas, Senhor, por haveres criado!”

17. Gostaria de terminar estas reflexões com palavras de André Vauchez, um grande medievalista e profundo conhecedor do movimento franciscano. “Clara não reivindicou para si e suas irmãs o direito de pregar ou ensinar, mas desejava ardentemente continuar vivendo em simbiose com os irmãos menores e rejeitava com veemência ver sua comunidade transformada num mosteiro de virgens fechadas e dotadas de rendas. Mesmo tendo aceito o estilo de vida semelhante à reclusas, conservavam contato com o mundo que as rodeava. Foi intransigente na questão da pobreza, porque o fato de viver numa precariedade permanente constituía o ponto sobre o qual sua fundação podia, diferenciando-se do monaquismo beneditino, permanecer fiel ao espírito do Pobrezinho e, através dele, às aspirações evangélicas que haviam animado os movimentos laicos dos séculos XII e começos do século XII”.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/artigos/clara/08.php acesso em 14 jan. 2011.

Meditação Diária


Pior que o ódio é a passividade e a indiferença com que pessoas instruídas e conhecedoras dos valores diminuem e zombam dos fracos e pequenos deste mundo. São os pobres de coração os preferidos de Deus, os bem-aventurados (cf. Mt 5, 3) que Jesus enaltece no célebre Sermão da Montanha. Os bem-aventurados são aqueles (as) que não se conformam com a violência, o ódio, a guerra, a fome, a dor, a morte... Os bem-aventurados querem trazer o céu para a terra, por isso, já o antecipa neste mundo.

A indiferença e insensibilidade precisam dar lugar ao amor, à misericórdia, à capacidade de ver e perceber Jesus nos olhos dos sofredores, dos desvalidos, dos pobres... Eles são os preferidos de Deus, pois aqui na terra sofrem toda forma de sofrimento, mas jamais perdem a esperança no reinado de Deus. Procure, pois viver e praticar o amor e a misericórdia: são o caminho da transformação do mundo!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

28 de janeiro de 2011

Meditação Diária



A noite é o espaço do descanso, do re-fazer as forças, do re-colhimento. Na colheita ceifamos os frutos semeados; no re-colhimento, aquilo que ficou esquecido, escondido. No re-colhimento da noite é o momento de respigar as ações do dia, celebrar o prazer do dia vivido, de des-acelerar o ritmo do coração. No silêncio da noite refazemos nossas forças no repouso, no sono, no inconsciente da vida.

Muitos dizem que não existe nada melhor do que um dia após o outro. É bom lembrar que entre um dia e outro é preciso uma noite para fazer brotar, para receber a luz indireta da lua, para os momentos de cuidar da amizade e fazer florescer o amor que une os corações. Procure, pois, celebrar a noite em seus mistérios e aproveite as estrelas, a lua, o descanso... É assim que se cultiva um novo amanhecer!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

27 de janeiro de 2011

Fraternidade Franciscana Secular: Evangelho para o Mundo de Hoje?

Francisco, leigo penitente, “já inteiramente mudado de coração, e quase mudado no corpo, andava um dia pelos arredores da igreja de São Damião, abandonada e quase em ruínas. Levado pelo Espírito, entrou para rezar e se ajoelhou devotamente. Tocado por uma sensação nova para ele, sentiu-se diferente do que tinha entrado. Pouco depois, coisa inaudita, a imagem do Crucificado mexeu os lábios e falou com ele. Chamando-o pelo nome, disse: ‘Francisco, vai e repara a minha casa que, como vês, está toda destruída’. A tremer, Francisco espantou-se não pouco e ficou fora de si com o que ouviu. Tratou de obedecer e se entregou todo à obra. Mas, como nem ele mesmo conseguiu exprimir a sensação inefável que teve, também nós vamos nos calar. Desde essa época, domina-o enorme compaixão pelo Crucificado, e podemos julgar piedosamente que os estigmas da paixão desde então lhe foram gravados não no corpo mas no coração” (2Cel 10). “E, sem preguiça, tratou de fazer o resto, trabalhando sem cessar na restauração daquela igreja. Porque, embora lhe tivesse falado daquela Igreja que Cristo conquistou com seu próprio sangue, não quis ir de repente ao alto, porque devia passar aos poucos da carne para o espírito” (2Cel 11).

Com tal experiência sobrenatural, a atuação divina faz-se presente na missão entregue a Francisco. Possui ele uma força interior misteriosa que, como se fora um ímã, atrai as pessoas a seguirem seu exemplo no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, “inspirador de sua vida com Deus e com os homens”. Isso acontece com os Irmãos ou Frades Menores, as senhoras Pobres e com os Irmãos e as Irmãs da Penitência. Os últimos são os leigos, que dele “receberam inspiração e orientação para viverem segundo o Evangelho” (Carta dos quatro gerais da família franciscana), o que constitui a maior originalidade de Francisco naquela época, pois a mentalidade medieval concebia a santidade como privilégio só dos que a buscassem nos mosteiros, conventos e eremitérios.

Assim, os leigos têm conversas, encontros periódicos com ele. Mais importante ainda é terem sido agraciados com um documento cujo conteúdo é o de um programa com intuitos pastorais. Trata-se da Carta aos fiéis, exortação escrita provavelmente entre 1215 e 1223. Constitui verdadeiro tesouro de espiritualidade bíblica, impregnado das palavras odoríferas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Seu valor está nas idéias centrais com que Francisco vai concretizar a vida dos Irmãos e das Irmãs da penitência. Seu objetivo é, acima de tudo, promover a união entre os que são impulsionados pelo Espírito Santo ao mesmo ideal, “a fim de serem santificados na unidade” (Jo 17,25). Por isso, o estilo de vida em fraternidade caracteriza seus projetos, ilumina o plano e a organização de sua obra. Para os leigos, porém, que vivem em suas próprias casas, solteiros ou casados, pertencentes às diversas camadas sociais, Francisco planeja a Fraternidade mista, conforme se dirige aos destinatários da Carta aos Fiéis. Com certeza ele sonha com famílias, também vocacionadas para viverem o Evangelho, dos avós até os netos, pois considera esta forma de vida como um dom do Altíssimo.

O convívio entre os irmãos e as Irmãs, idosos e jovens, deve ser marcado pelo amor a Deus e aos irmãos: “Quão felizes e benditos são aqueles que amam o Senhor ‘de todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças’ (Mc 12,30) e ao próximo como a si mesmos (cf. Mt 22,39), odiando seus corpos com seus vícios e pecados, recebendo o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e produzindo frutos dignos de penitência. Felizes e benditos os que assim fazem e assim perseveram, porque sobre eles repousará o Espírito do Senhor’ (cf. Is 11,2) “(1CtFi 1-2).

Francisco explica com sabedoria o sentido do ódio ao corpo com seus vícios e pecados: “E odiemos o nosso corpo com seus vícios e pecados, porque quer viver carnalmente e privar-nos assim do amor de Nosso Senhor Jesus Crista e da vida eterna” (RNB 22,5). Aconselha, no entanto, aos irmãos a amarem a Deus com as forças do corpo: “Amemos todos, de todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito, com toda nossa capacidade e força, com todas as virtudes do espírito e do corpo (Dt 6,5)...o Senhor nosso Deus que nos deu a nós.., todo o nosso corpo” (RNB 23,23-24).

Quanto aos que recebem o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo recomenda: “E assim, contritos e confessados, recebam o corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com grande humildade e respeito, recordando que o próprio Senhor disse: ‘Quem come e bebe meu sangue possui a vida eterna’ (Jo 6,55)”(RNB 20,7-8). A Eucaristia é, para Francisco, “nova Encarnação” (Adm 1,19-23).

Francisco, adorado “em espírito e verdade” (Jo 4,23-24), baseia a vida da fraternidade na co-participação da vida de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, Trindade Una na pluralidade de Pessoas. Os Irmãos e as Irmãs são filhos do Pai celestial (Mt 5,45) cujas obras fazem e são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo Espírito Santo (Mt 12,50). Somos seus irmãos quando fazemos a vontade do Pai que está nos céus (Mt 13,50). Somos mães, quando o trazemos em nosso corpo (1Cor 6,20) pelo amor divino e por uma consciência pura e sincera; e o damos à luz pelas obras santas que, pelo exemplo, devem ser luz para os outros (Mt 5,16) (cf. lCtFi 3-7). As citações dos evangelhos e de São Paulo fundamentam a importância das relações interpessoais e a riqueza que confere à existência humana o viver uns com os outros e para os outros, numa integração fraterna. Mas, de repente, Francisco interrompe o assunto e deixa extravasar sua sensibilidade mística. Explode em amor na mais alta e inefável contemplação: “Como é glorioso, santo e sublime ter um Pai nos céus! Como é santo, consolador, belo, admirável ter um tal esposo! Como é santo e dileto, agradável, humilde, pacifico, suave, amável e sobretudo desejável ter tal irmão e tal filho: Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele entregou sua vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10,15)”(lCtfi 8-9).

Num dos parágrafos da Carta, retomando a oração sacerdotal de Jesus, fala da unidade (lCtFi 9-15).

Francisco dirige-se então aos Irmãos e Irmãs que não vivem em espírito de penitência. Não recebem o Corpo e o Sangue do Senhor. Conscientemente praticam o mal e perdem deliberadamente a salvação. Para estes e estas usa de drástica advertência, abrasado por zelo indescritível. Mas pede-lhes que recebam benignamente as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo que são espírito e vida, fazendo que cheguem ao conhecimento de todos.

Para quem tenta conhecer o pensamento e a criatividade apostólica de Francisco é possível ver claramente a coincidência de sua abertura aos leigos e a forma de vida que lhes dá com as orientações dadas pelo Concilio Vaticano II no momento atual.

Hoje, os Irmãos e as Irmãs da penitência são chamados franciscanos seculares. Procuram “voltar à origem, à experiência espiritual de Francisco de Assis e dos Irmãos e das Irmãs da penitência”. Tal propósito vem sugerido pela inserção da Carta aos fiéis na Regra da ordem Franciscana Secular.

Texto de Celina Braga de Campos, OFS – Belo Horizonte

Meditação Diária


Se existe amor, há também esperança de existirem verdadeiras famílias, verdadeira fraternidade, verdadeira igualdade e verdadeira paz. Se não há mais amor dentro de você, se você continua a ver os outros como inimigos, não importa o conhecimento ou o nível de instrução que você tenha, não importa o progresso material que alcance, só conseguirá colher confusão e desequilíbrio.

O fundamento de toda prática espiritual é o amor. Que você seja praticante dessa virtude sublime: amar de maneira desinteressada, amar porque tal prática é divina... Permite o amor de Deus fluir através de você. Semeie amor, pois, cedo ou tarde, você haverá de colher coisas boas e felicidade em sua vida!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

25 de janeiro de 2011

Palavras de Fé

"Nossos irmãos pássaros estão louvando o criador; associemo-nos a eles para também nós cantarmos nossos horas canônicas e os louvores do Senhor."

São Francisco De Assis

22 de janeiro de 2011

Meditação Diária


O começo é fundamental. Iniciar, começar, principiar.. Daí vem a dis-posição para toda ação. No começo está o sonho, o desejo, a fantasia, a arte, o planejamento, o desenho daquilo que virá a ser... Começar bem já é metade do caminho andado, pois nele está toda energia do desejo de querer fazer bem, de fazer algo novo, diferente. Por isso, procure começar bem seu dia, sua tarefa, sua missão, seu trabalho.

Continuar bem é não perder o foco daquilo que foi projetado. Retirar de dentro de você mesmo a energia que o faz caminhar, mesmo que muitas coisas aconteçam diferente do que foi planejado. Perseverar no caminho e na missão fará com que você alcance a meta final: terminar bem, comemorar, celebrar com os (as) amigos (as) e com aqueles (as) que você ama mais uma etapa vencida.

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

E DEUS CRIOU O HOMEM, SIM, PARA O LOUVOR DE SUA GLÓRIA

E DEUS CRIOU O HOMEM, SIM, PARA O LOUVOR DE SUA GLÓRIA

De fato, Deus é único autor da obra da criação, nem tem como duvidar disso, pois, seu Amor e Sabedoria não têm limites e a tudo e todos sustenta com o seu Poder Eterno; e mesmo se duvidarmos nem assim deixamos de fazer parte de sua obra, porque Ele sempre espera uma resposta nossa. Porém, contemplar e acolher essa graça inefável, é reconhecer a quem de direito nos dá a vida e nos sustenta nela, é amá-lo com o devido amor com que fomos criados; mais ainda, é viver a dimensão da filiação divina neste mundo, isto é, viver como filhos de Deus com todos os atributos que tal reconhecimento nos dá.

Por isso, precisamos entender, pelo dinamismo que move todas as coisas, que a vida humana é um crescente para Deus, ou seja, estamos aqui, mas não somos daqui e nem ficaremos aqui por muito tempo, haja vista que esse dinamismo sagrado nos impulsiona, atraindo-nos para Si a todo instante de nosso viver até atingirmos a plenitude do que somos em Deus. Aí sim, o Senhor terminará a obra que em nós começou (Cf. Sl 137,8). Em outras palavras, de nossa parte, só há um caminho a ser percorrido, é o de vivermos, nos movermos e sermos para Deus; porque isso já acontece conosco, mesmo se não percebemos pela fé, como disse São Paulo: “Porque é em Deus que temos a vida, o movimento e o ser...” (At 17,28a).

É interessante notar que todos os ensinamentos da Lei e dos profetas, são advindos do exemplo da vivência do ser humano em geral e do povo de Deus, e dizem respeito à atitude de alma que tinham em relação ao Senhor. E mesmo nessa nossa sociedade secularizada, Deus ocupa e sempre ocupará o centro da vida e não tem como não ser assim, porque a nossa pratica existencial nos leva impreterivelmente à comunhão com Ele ou não; mesmo que alguém afirme, seja por palavras ou atitudes, que não é assim, tal afirmação não muda em nada o propósito divino, visto que somos dependentes cem por cento e essa nossa dependência requer de nós uma fé incondicional em Deus. É por isso que o ser humano nunca encontra respostas para os grandes por quês que nos questiona, porque está sempre buscando essas respostas na finitude que “somos” e sentimos ao nosso redor, negando como isso sua origem divina, implicando na sua relação e comunhão com Deus. Eis o real de nossa vida, fomos criados para vivermos em comunhão permanente com Deus, não viver isso é perdemos o sentido eterno da vida.

CONCLUSÃO

E Deus criou o homem, sim, para o louvor de sua glória, queira o homem ou não, sua história de vida é e será sempre uma saga que naturalmente termina aqui com a morte temporal, mas que tem seu desenrolar além-túmulo, devido à imortalidade de sua alma, feita à imagem e semelhança de Deus. A alma humana, falando numa linguagem cibernética, é uma espécie de HD (disco rígido) onde nela fica gravado tudo o que o homem vive, pensa e faz acontecer; é algo inusitado, obra excepcional das mãos do Criador; de modo que, no dia eterno, Deus assistirá conosco todo o nosso viver sem escapar nada do que foi vivido, algo que só a Sabedoria do Senhor é capaz. Assim somos nós, a humanidade inteira, em nossas relações entre nós e com Deus.

Uma vez que, ante cada ato humano, a partir do seu interior, está presente o amor e o ódio, a verdade e a mentira, a justiça e a injustiça, a honestidade e a desonestidade, a vida e a morte, a escolha é nossa, pois, tudo depende de nossas decisões. É importante salientar que todas essas escolhas são encontro e permanência em Deus ou não, porque tudo o que fazemos na vida tem relação direta ou não com a Fonte que nos gerou; é algo, digamos assim, que vai além do entendimento natural, porém, por causa dos resultados experimentados interiormente, sabemos de que lado nós estamos ou quais os frutos de nossas escolhas, isto é, com quem comungamos. Se comungarmos com Deus, nossas escolhas serão sempre baseadas nas virtudes eternas mencionadas; caso contrário, todo desajuste e confusão se impregnam na alma trazendo como resultado: insônia, depressão, agressividade, mal humor, doenças incuráveis e toda espécie de vícios e desequilíbrios, tornando a vida um abismo infernal...

Caríssimos, vale a pena repetir com o salmista: “Só em Deus a minha alma tem repouso, porque Dele é que me vem a salvação! Só Ele é meu rochedo e salvação, a fortaleza, onde encontro segurança! Todo homem a um sopro se assemelha, o filho do homem é mentira e ilusão; se subissem todos eles na balança, pesariam até menos do que o vento: não confieis na opressão e na violência, nem vos gabeis de vossos roubos e enganos! E se crescerem vossas posses e riquezas, a elas não pendais o coração! Uma palavra Deus falou, duas ouvi: “O poder e a bondade a Deus pertencem, pois pagais a cada um conforme as obras”. (Sl 61,2-3.10-12).

“Aguardemos, pois, a bendita esperança e a vinda gloriosa do Senhor”. (liturgia das Horas).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

20 de janeiro de 2011

Papa Bento XVI fala sobre a importância da oração e da unidade entre os cristãos

"Todos os crentes em Cristo são convidados a unir-se em oração para testemunhar o profundo vínculo que existe entre si e invocar o dom da plena comunhão”, foi o que disse o papa Bento XVI durante a catequese nesta quarta-feira, 19, na ocasião da Semana da Unidade dos Cristãos (Souc), celebrada pela Igreja no hemisfério norte.

Inspirado no livro dos Atos dos Apóstolos, o tema da Souc 2011 é "Unidos no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações”. A partir do deste tema, o papa elencou quatro características que definem a comunidade cristã de Jerusalém como lugar de unidade e amor. “Primeira característica, ser unida e firme no ouvir o ensinamento dos Apóstolos, depois na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. Como disse, esses quatro elementos são ainda hoje as pilastras da vida de toda a comunidade cristã e constituem também o único fundamento sólido sobre o qual progredir na busca da unidade visível da Igreja”, citou Bento XVI.

Durante a catequese, o papa disse ainda que todos os cristãos têm responsabilidade comum diante do mundo e que a unidade se dá principalmente através da oração. “A oração é sempre a atitude constante dos discípulos de Cristo, isto é, aquela que acompanha a vida cotidiana em obediência à vontade de Deus”.

Na próxima terça-feira, 25, o papa vai presidir, em Roma, a missa que marca a conclusão da Semana de Oração, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. A cerimônia acontece na Solenidade Litúrgica da Conversão de São Paulo, quando estarão presentes representantes de outras igrejas e comunidades eclesiais de Roma.

Semana da Unidade dos Cristãos

No hemisfério sul, as celebrações começam na semana após a festa da Ascensão do Senhor e vai até o Domingo de Pentecostes. Na Europa, a Semana acontece entre 18 e 25 de janeiro, datas que marcam, respectivamente, a festa da Cátedra de São Pedro e a de São Paulo.

A cada ano, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) convida os parceiros ecumênicos de uma determinada região do mundo para prepararem um texto simples sobre um tema bíblico. Em seguida, um grupo internacional de participantes patrocinados pelo CMI (protestantes e ortodoxos) e os católicos romanos editam este texto e garante que ele está relacionado com a busca de unidade entre as igrejas.

O texto é publicado conjuntamente pelo Pontifício Conselho para Promoção da Unidade dos Cristãos e CMI, através de sua Comissão de Fé e Ordem, que também acompanha todo o processo de produção de texto. O material final é enviado às igrejas-membro e dioceses católicas romanas, que são convidadas a traduzir e contextualizar o texto para seu próprio uso.

19 de janeiro de 2011

Ordem Franciscana Secular POR QUÊ? PARA QUÊ?

1. Vivemos a hora dos leigos na Igreja. Nunca se falou tanto deles. Nunca os documentos da Igreja tanto marcaram sua importância. Muitos leigos ingressam em grupos de vivência cristã onde buscam acertar os passos e perseguir o ideal da santidade no meio do mundo. Entre esses tantos grupamentos de leigos estão os franciscanos seculares. Pertencem eles à Ordem Franciscana Secular (OFS). Esses seculares franciscanos respondem a um apelo. Sentem um chamado. Não entram numa associação piedosa, mas ingressam no seio de uma família, de uma Mãe, de uma Ordem que os acolhe, recebe sua profissão/ promessa de seguimento do Evangelho no meio do mundo e se dispõe a levá-los, se eles colaborarem, a uma santidade de vida, à maneira de Francisco e de Clara. Falar em seio é falar em vida. A Ordem é dom, escola, graça que Deus concede à Igreja. Os seus membros desejam também santificar o mundo. Se deixassem de responder a essa vocação sua vida humana e cristã seria menos luminosa. A vocação é um chamamento que exige respostas e empenho dos que são chamados.

2. A Fraternidade Franciscana Secular é constituída por pessoas que vivem no mundo, mas se reúnem regularmente para refletir, pensar, rezar e armar as estratégias de sua ação do mundo. Os irmãos buscam sua realização humana, são pessoas que estão num processo de amadurecimento, mas que vivem no mundo. Vivem em suas famílias, no trabalho, nos lugares de lazer, na política, lá onde borbulha a vida.

3.Arde no coração dessas pessoas uma sede de viver no cotidiano a aventura do Evangelho. Buscam a perfeição da caridade, ou seja, a santidade com as cores de Francisco, Clara, de Isabel da Hungria e tantos outros e tantas outras. Querem fazer, em suas vidas, a experiência do Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor, do Bem, do Sumo Bem.

4. “No seio da família franciscana, ocupa posição específica a Ordem Franciscana Secular que se configura como uma união orgânica de todas as fraternidades católicas espalhadas pelo mundo e abertas a todos os grupos de fiéis. Nelas, os irmãos e as irmãs, impulsionados pelo Espírito a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, são empenhados pela Profissão, a viver o Evangelho à maneira de Francisco e mediante a Regra confirmada pela Igreja” ( Regra da OFS, n.2).

5. Os que ingressam na OFS tudo receberam: graças, irmãos, inspiração de Francisco e de Clara, a maneira bonita de seguir o Cristo franciscana e clarianamente. Sentem-se cobertos de graças e por isso desejam retribuir o que receberam, restituir o que de graça lhes foi concedido. Essa gratidão se manifesta na oração de ação de graças, na dedicação aos irmãos, mormente os mais abandonados, na disponibilidade em difundir o Evangelho e construir um mundo à maneira de Francisco. Os franciscanos seculares são zelosos e ativos, sem se perderem em ativismo. Impregnam tudo com o perfume do Evangelho.

6. Os leigos ingressam na Ordem Franciscana Secular para mudarem de vida, ou seja, para fazer penitência. Penitência não é, em primeiro lugar, impor-se sacrifícios e asperezas. A conversão é realidade mais profunda. Trata-se transformar o coração. Supõe um sério distanciamento do pecado e de tudo aquilo que nos destrói, destrói a harmonia, fere a dignidade profunda de cada ser humano e desrespeita o amor incondicional do Altíssimo. A conversão supõe uma mudança de mentalidade. Estão num processo de conversão os pobres de coração, os sedentos das coisas de Deus, os famintos do bem, os construtores da paz, os praticantes da misericórdia, aqueles que são capazes de sofrer alguma coisa pelo amor do amado que não é amado. Converter-se é ir abandonando um comodismo individualista, uma maneira pragmática ou interesseira de viver, é ir se revestindo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus que foi simples, atencioso para com os outros e dedicado ouvinte da vontade do Pai. O franciscano secular vive repetindo com Francisco: “Senhor, o que tu queres de mim?”

7. Os franciscanos seculares dispõem de reuniões e de encontros, da Regra, do exemplo de irmãos, dos sacramentos e dos retiros, do cansaço e da cruz para mudar de vida. São membros de uma Ordem de Penitentes.

8. Nossas Fraternidades são espaços de reflexão sobre os grandes temas do mundo e da Igreja e não refúgio de pessoas cansadas e rotineiras. As Fraternidades preparam os irmãos para o seu ir pelo mundo. Estudam os temas desafiadores: violência e paz, sexualidade e casamento, respeito pela vida e cuidado com o criado. As pessoas, assim , vão ficando afiadas em seu trabalho: evangelizar a família, presença nos diversos campos da pastoral, vivência cristã do trabalho e da profissão, enquanto vão se tornando íntimos de Deus por vida de límpida oração.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM é Assistente Nacional para a OFS

18 de janeiro de 2011

Bento XVI manifesta solidariedade às vítimas das chuvas no Rio de Janeiro

O papa Bento XVI enviou, nesta sexta-feira, 14, mensagem de solidariedade às vítimas das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Em telegrama assinado pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcísio Bertone, o papa se diz “consternado com as trágicas consequências das fortes chuvas que atingiram a região serrana do Estado do Rio de Janeiro, particularmente Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo”.

Bento XVI manifesta sua “solidariedade espiritual ao querido povo fluminense, nessa hora difícil” e "recomenda as vítimas a Deus misericordioso e implora a assistência e consolação divina para os desalojados e quantos sofrem física e moralmente, enviando-lhes uma propiciadora bênção apostólica”. O telegrama foi enviado ao bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro.

Os números da maior tragédia climática do país não param de crescer. Os mortos já passam de 580 e são milhares de desabrigados e desalojados na região serrana do Rio. A presidente Dilma Rousseff decretou ontem luto oficial de três dias pelas vítimas dos temporais que assolaram vários municípios do País. Neste sábado, o governador do Rio, Sérgio Cabral, decretou luto oficial de sete dias no Estado.

Solidariedade
A solidariedade vem de toda parte do país. O bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro, e o de Nova Friburgo, dom Edney Gouvêa Mattoso, percorreram as áreas atingidas de suas respectivas dioceses cujos padres, seminaristas e religiosos estão trabalhando no atendimento às famílias desabrigadas ou desalojadas. As paróquias e casas religiosas estão recebendo as famílias que perderam tudo e não têm onde dormir e como se alimentar. Também se transformaram em postos de arrecadação de donativos.

Os seminaristas da diocese de Petrópolis passaram o dia 13 doando sangue para o atendimento emergencial dos feridos mais graves. Foi aberta também uma conta chamada “SOS Serra”, no Bradesco – agência 4014, conta 114134-1 – da mitra diocesana.

"A situação na Diocese de Petrópolis é dramática, sobretudo nos dois focos da própria cidade de Petrópolis, em particular Itaipava, no Vale de Cuiabá, e em Teresópolis, onde o desastre é ainda maior. Os padres estão todos mobilizados, as igrejas estão à disposição, recolhendo desabrigados em primeiro lugar, dando primeiros socorros, as refeições diárias e recolhendo mantimentos", ressaltou Dom Filippo Santoro.

A CNBB e a Caritas Brasileira também lançaram a campanha SOS SUDESTE. As doações podem ser feitas pelas contas Caixa Econômica Federal - Agência 1041 – OP. 003 - Conta Corrente 1490-8 ou
Banco do Brasil - Agência 3475-4 - Conta Corrente 32.000-5.

17 de janeiro de 2011

17/01 de 2011- Santo Antão -VIDAS CONSAGRADAS A DEUS

As leituras de hoje nos falam das exigências do mundo novo que Jesus veio construir. O autor da Epístola aos Hebreus fala do Cristo que, na consumação da vida, tornou-se salvação pela sua obediência a Deus por tudo o que sofreu. No Evangelho aparece Cristo como esposo no meio dos seus.

Hoje, comemoramos a festa de Santo Antão, tido como pai da vida monacal em particular e, de modo mais amplo, da vida religiosa.

Desde sempre na comunidade dos que seguem a Jesus houve um desejo de viver séria e radicalmente as exigências do Evangelho. Houve momentos de desafio e que pediam coragem dos seguidores de Cristo.

Pensamos aqui no tempo das perseguições. Os cristãos se escondiam ou eram levados às arenas. Nesses momentos, a fé ganha vigor e força. Terminado o tempo das perseguições, alguns dos seguidores de Cristo sentiram que os cristãos se tornavam fragilizados, mais do que isso, medíocres. Por isso, alguns, como Antão, resolveram afastar-se do burburinho e refugiar-se no deserto. Nascia, assim, a vida religiosa consagrada que deverá existir sempre na Igreja como um constante convite a que os cristãos vivam no mundo como se não fossem do mundo.

Antão, com efeito, vai para o deserto. Vende tudo o que possui. Vive modestamente e, devido à sua alta estatura espiritual, atraía pessoas que queriam viver o Evangelho sem dobras e pela metade. Saía de um mundo e criava um mundo novo.

Fazia cestos de vime, ganhava o necessário para viver e antecipava o futuro com sua vida e com os votos que professava: pobreza, penitência, jejuns, castidade. Ele e seus primeiros companheiros traziam para o hoje o fim dos tempos quando ninguém mais se casa, onde Deus é tudo em todos.

Vida consagrada, vida religiosa! Um cristão se sente chamado a deixar tudo o que o prende às penúltimas coisas. Quer viver aqui e agora aquilo que vivem os santos da glória. Normalmente, a vida religiosa consagrada consiste no seguimento mais radical possível de Cristo.

Os religiosos se expropriam de bens e de seus interesses. São pessoas livres de apegos. Buscam uma tal intimidade como Cristo esposo que, sem desprezar a santa instituição do casamento, vivem no amplexo radical com Cristo esposo. Tendo-se expropriado de si são ouvintes atentos dos desejos do Senhor. Vivem, as mais das vezes, em fraternidades ou comunidades que são espaços de atenções mútuas. Boa parte de seu tempo é dedicada ao colóquio com o Senhor e à contemplação. E todos, mesmo os contemplativos, sentem-se enviados. São ardorosos missionários.

A Igreja em nossos dias necessita de cristãos que tenham a alegre ousadia de viver uma pobreza que seja pobreza, que comece no coração, homens e mulheres livres para ouvir e realizar a vontade de Deus em suas vidas e no mundo, homens e mulheres livres que amem de verdade o Senhor, com um amor esponsal e puro, transparente e fecundo, homens e mulheres que vivem buscando um tesouro do evangelho nos campos da vida.

15 de janeiro de 2011

Meditação Diária


As boas recordações da tua infância será sempre um portal de abertura para muitos sonhos e projetos. Procure não trabalhar demais e nem adiantar o serviço do dia seguinte. Movimente-se num espaço cujo tamanho te serve; alcance seus limites com as mãos, pois é nele que te instalas e vives com a maior integridade possível. Procure não cansar tanto e divirta-se mais!

A vida foi-te concedida como um grande presente embrulhado num lindo pacote. Procure abri-lo com a mesma alegria e intensidade de uma criança. Abra-o com prazer e brilho nos olhos... Lembre-se que amanhã Deus te concederá outro presente, pois cada dia é um maravilhoso, sonhado e desejado presente de Deus!.

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

14 de janeiro de 2011

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos,

A DISCIPLINA DO JEJUM DE CLARA NOS
PRIMÓRDIOS DA VIDA EM SÃO DAMIÃO

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Sempre temos diante dos olhos a biografia de Clara escrita por Chiara Giovanna Cremaschi, clarissa de boa cepa. Hoje, nos deteremos na prática do jejum vivido por Clara (p. 58-60). Não estamos fazendo uma tradução ad litteram, mas captando o essência do livro Chiara d’Assisi. Un silenzio che grida.

1. O jejum sempre fez parte do elenco das disciplinas ascéticas dos cristãos, mormente daqueles que abraçam a vida religiosa consagrada. No passado houve exageros. Hoje, a prática parece tida em pouco apreço. Clara consegue não tocar em alimento algum três dias por semana. Nos outros dias se alimenta com grande parcimônia. Dorme pouco e sua cama é constituída de ramos de videira. Melhor fora se dormisse no chão. Usava uma roupa de pele de porco em contato com o corpo. Algumas irmãs, experimentando a vestimenta, tinham-na como impossível de se ser usada. Uma mulher de penitência. No Processo de Canonização da santa, as testemunhas falam de tais comportamentos como sinais de santidade. Algumas das irmãs achavam que Clara exagerava. Lembram que a Plantinha nunca impôs tal tipo de penitência às irmãs. Ao contrário, era compreensiva e bondosa para com elas. Estas, embora fizessem penitência, não chegavam ao nível praticado por Clara.

2. Num determinado momento, Clara começa a ficar doente devido ao excessivo jejum. Francisco sente-se na obrigação de intervir. Pede que, nos três dias de jejum absoluto, Clara coma ao menos um pão. Parece que, sempre tão afeita à obediência, não escutou a advertência. Francisco busca auxílio junto ao bispo Guido. A insistência desta mulher é querer viver só de Cristo e para Cristo. Neste momento de sua caminhada talvez ela não tenha ainda compreendido o que significava padecer com Cristo. O jejum e o sofrimento físico aproximariam Clara de Cristo, padecente e ressuscitado. Alguns admitem, neste aspecto, uma certa diferença entre Francisco e Clara. São duas sensibilidades. Francisco, é verdade, fazia uma série de quaresmas cheias de penitências e jejuns. Mas, ao mesmo tempo, andava, caminhava, se cansava, suava, dormia mal. Acolhia as “penitências” que aconteciam. Ao mesmo tempo, tinha que recorrer ao expediente humilhante de bater de porta em porta para ter o pão de todos os dias. Era seu jeito de fazer penitência e unir-se ao Cristo sofredor.

3. Clara, ficando em casa, permanecendo o tempo todo no mesmo lugar, não tem essas ocasiões de “fazer penitência”, de acolher os incômodos que a própria vida se encarregava de colocar. Vive envolvida com seu corpo na oração, no trabalho, no cuidado com as irmãs. Isto parece não lhe bastar. Há um fogo dentro dela. Ela quer se aproximar e se assemelhar ao Cristo crucificado. Por isso, insiste nos jejuns e penitências corporais. Estamos diante de uma jovem mulher que ainda não aprendeu a ter para com seu próprio corpo aquela benevolência que ela mesma derramava sobre ela e suas irmãs. “Não se pode esquecer a dimensão mística do amor pelo Esposo Crucificado, que é contemplado no abismo de seu doar-se por nós, pequenas criaturas e leva ao desejo ardente de sofrer com ele, numa partilha total de seus sofrimentos que só chega a compreender aquele que ama”

4. Ainda a propósito do jejum em São Damião devemos sempre ter em mente sua estreita ligação com a pobreza. Em sua Forma de vida Clara adota a Regra de Hugolino. Que as irmãs jejuem em todo o tempo (RSC 3,8). Clara dá a esta afirmação uma interpretação um tanto diversa. A preocupação do cardeal Hugolino era de ordem ascética. Tem em mente dizer aquilo que as irmãs devem comer cada dia. Para Clara, a preocupação era outra: partilhar a condição das pessoas da classe mais pobre que passou a ser a sua. Nessa classe se come uma só vez ao dia. Assim, os alimentos quaresmais consumidos em São Damião eram os mesmos que os pobres comiam. Assim, as excessivas penitências de Clara devem ser entendidas como esforço de participar da vida dos últimos da sociedade.

5. E o grupo foi crescendo. Relatando a graça dos começos Clara atribui ao Senhor o aumento do grupo das irmãs. Olhando as coisas do lado humano, vemos que, aos poucos, vai se difundindo o estilo de vida abraçado por estas três irmãs. Depois de alguns meses, em setembro, um nova irmã vem se juntar às outras: Benvenuta de Perugia, uma jovem que conheceu Clara no exílio perugino, morando então na mesma casa. Criaram-se entre as duas, com o contato em comum, laços que não foram rompidos, mas como fundamento de um liame maior, estabelecido a partir do amor de Cristo. Os laços de amizade, de relacionamentos humanos estarão na base da iluminação interior que levará muitas mulheres a São Damião.

13 de janeiro de 2011

Meditação Diária


Quando morremos, nada pode ser levado conosco, com a exceção das sementes lançadas por nosso trabalho, do amor plantado no coração das pessoas e do conhecimento socializado. A medida generosa do amor será sempre a mais bela semente que podemos deixar pelos caminhos da nossa vida. Sigamos, pois, semeando: essa é a nossa missão. Deus é quem faz tudo crescer!

Sabemos que o sofrimento é inerente à existência humana, pois ele nos faz mais solidários e mais humanos. Não precisamos correr atrás da dor e nem fugir dela. A própria vida vai nos dando a medida do sofrimento necessário e possível para carregarmos. O amor, muitas vezes, nos faz sofrer... Mas, mesmo assim, não podemos deixar de amar, pois o amor é o sentimento mais profundo da nossa existência..

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

10 de janeiro de 2011

Meditação Diária


O carisma é a expressão da alma. Quando a alma fala, sua essência espiritual e divina se manifesta, e a pessoa brilha, conquista, aparece... É nela que reside sua força e poder. Negá-la é preferir a obscuridade e refugiar-se no medo que nos impede de sair de nós mesmos. Quando atingimos a alma das pessoas nossa fala é escutada, nosso amor é sentido, o coração pulsa na mesma sintonia.

Nascemos para voar e nossa existência humana é uma grande preparação para o vôo infinito... Muitos preferem o solo, o chão e cercam-se de proteção: esquecem-se de que são águia para ganhar o infinito do céu. Não esqueça, pois, dos seus sonhos e de escutar os desejos de sua própria alma... É nela que você vai encontrar o verdadeiro sentido de sua vida.

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

8 de janeiro de 2011

Meditação Diária


A vida não deve ser uma vela curta. Ela é um tipo de tocha esplêndida a qual estou segurado, neste momento; e quero fazer com que ela queime tão brilhantemente quanto possível antes de passá-la para as próximas gerações. Daí que a vida é esse mistério que nos envolve e nos faz inquietar com aquilo que vem. O porvir é uma conseqüência do aqui e agora: ”somos nós que fazemos a vida, como der, ou quiser ou puder”! (Gonzaguinha)

Aproveite, pois o tempo: Deus nos espera na eternidade! Cante, plante uma rosa, ria, dance, apaixone, ame... Seja feliz como puder, mas acima de tudo, faça acontecer um pedacinho do céu ode você estiver, por onde você andar, por onde você viver!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

7 de janeiro de 2011

1ª sexta-feira do mês - O MESTRE QUE AMA E CHAMA

O MESTRE QUE
AMA E CHAMA

1. “Se Jesus propõe discretamente seu coração como centro de atração para aqueles que buscam a verdade, explica-se pelo fato de que, para ele, a fé não é adesão a uma verdade abstrata, mas antes de tudo afeto por uma pessoa. É seu coração, e não sua inteligência que procura comunicar a mensagem. Há uma corrente afetiva que se estabelece entre o Mestre e seus discípulos” (Jean Galot, SJ).

2.
Jesus quer discípulos. Os evangelhos nos mostram um Mestre itinerante que chama e que convoca. Através de todos os tempos, no coração da Igreja, albergue do Ressuscitado, o Senhor Jesus, aquele que fala, é o que convoca. Insistimos no Cristo ressuscitado. No hoje do mundo, nas encruzilhadas da vida, nos grupos de jovens, numa celebração dominical, o Ressuscitado chama e ama. Há o apelo feito pela palavra proclamada, bela beleza do texto de Lucas ou a força do estilo de João. Há essa leitura feita no sacrário da intimidade ou junto ao rosto de um doente, imagem do Cristo entre nós. E os corações dos passantes, dos distraídos se fixa nesse que vive, que arrasta, que atrai, que é o Ressuscitado.

3.
Quando alguém se decide a seguir Jesus? Pensamos aqui num seguimento que seja bem outra coisa do que o simples fato de ter o seu nome num registro paroquial. Pensamos aqui nessa revolução que uma pessoa pode experimentar quando se sente convocada a deixar tudo e a seguir o Mestre. Esse é um momento de graça. Ele pode acontecer quando alguém se depara com pessoas que se estimam de verdade. O famoso “vede como eles se amam” pode ser um convite ao seguimento. Uma dor profunda pode questionar a existência de uma pessoa a ponto de deixar um mundo e abraçar um outro. Em todas as situações o seguimento é graça do apelo de Cristo no meio da vida.

4.
“ A pessoa divina de Jesus investe e envolve de tal modo o que é chamado que lhe muda o projeto de vida, o modo de viver, de pensar e de agir. Lentamente o discípulo se encontra com um novo estilo de vida, um novo modo de escolher e de avaliar as coisas, as pessoas e os acontecimentos. O mestre Jesus exerce sobre o discípulo tal poder de atração que se torna irresistível. O apostolo Paulo dirá que foi “agarrado” por Jesus Cristo” (Fl 3,12). (Ubaldo Terrinoni, Projeto de pedagogia evangélica, Paulinas, p. 47).

5.
A contemplação do amor do Mestre até o final é ponto decisivo no amadurecimento da vocação do discípulo. Alguém pode ter começado o seguimento de Cristo a partir de um determinado ardor de juventude. Ora, na medida em que o discípulo vai aprofundando seu conhecimento existencial de Cristo o seguimento ganha outras base. Esse que veio das alturas, que se aninhou no seio da Virgem Maria, que chorou e sorriu, que falou e viveu foi levado até um momento chave: seu corpo foi pregado num madeiro e erguido diante de algumas pessoas. Naquele momento de solidão profunda e de dor indescritível Jesus consegue reunir suas forças e fazer o dom de si para a vida do mundo. “Minha vida, dirá ele, ninguém me tira. Sou eu que dou livremente”. Preso, amarrado, pregado, sem roupas, sem amanhã, sem apoio, sem nada, absolutamente pobre Jesus faz a crua e nua entrega de si, sem aparato, sem plateia, sem alvoroço. E morto, deixa que um soldado lhe abra o coração. O discípulo segue a Cristo muito mais pelo dom amoroso de sua vida, do que pelo encadeado de suas doutrinas. Um coração que se esvaziou de si e amou até o fim.

6.
Jean Galot, já citado, continua: “A abertura do lado é como a materialização da abertura do coração, abertura que significa um dom total. Essa fenda aberta no lado de Cristo nada tinha de doloroso porque Jesus já estava morto. Ela permanece, no entanto, como o sinal de um coração que nada reteve para si e que quis derramar todas as suas íntimas riquezas. O sangue e a água são os símbolos das graças que resultam do sacrifício. Mais tarde reconheceu-se neles um alusão à eucaristia e ao batismo. Seu derramamento realiza de modo discreto o anúncio dos rios de água viva que deviam jorrar do seio do Messias (Jo 7,37-38).

5 de janeiro de 2011

Meditação Diária


As criaturas que habitam esta terra em que vivemos, sejam elas seres humanos, animais, vegetais (e até minerais) estão aqui para contribuir, cada uma com sua maneira peculiar, para a beleza e prosperidade do universo. Nós, humanos, criaturas preferidas por Deus temos uma missão maior: fazer com que a Beleza de Deus transforme a realidade e até que ela seja plenamente Reino de Deus...

Então, amigo (a), peço a você algo perfeitamente possível: coloque amor nas suas ações, nos seus afazeres, no seu trabalho, na sua casa e na sua família. Permita que o óleo santo do amor possa ungir sua mente, seus pensamentos, seu coração. Permita que a Luz Divina invada sua alma para que você viva, hoje e sempre, envolvido e abraçado pelo amor de Deus...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

3 de janeiro de 2011

3 de Janeiro - Santíssimo nome de Jesus

O Santíssimo Nome de Jesus, invocado pelos Cristãos desde os princípios da Igreja, no século XIV começou a ser venerado nas celebrações litúrgicas. São Bernardino de Sena e seus discípulos propagaram com empenho o seu culto em toda parte, pela Itália e por toda a Europa; no século XVI, sua festa foi introduzida na Liturgia. Assim, no ano de 1530, pela primeira vez o Papa Clemente VII concedeu à Ordem dos Frades Menores celebrar o Nome de Jesus com Ofício eclesiástico.

ORAÇÃO - Ó Deus, que constituístes o vosso Filho Unigênito, Salvador de toda a humanidade, e mandastes que fosse chamado Jesus, concedei que, venerando o seu santo Nome na terra, gozemos de sua presença nos céus. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Meditação Diária


Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo; eu sei que não é fácil, mas tente, experimente... de maneira consciente. É dentro de você que o ano novo surge e espera para nascer. Procure, então, fazê-lo desabrochar dentro de você: sonhe, realize, conquiste!

Elabore seus planos e projetos para esse novo tempo. Trace algo possível, tangível, alcançável... Coloque isso por escrito na sua agenda de primeiro de janeiro. Consulte-a cada dia: releia, medite, refaça seus planos e projetos. O mais importante: coloque-os em prática! Seja uma pessoa melhor, mais evoluída... mais feliz!!!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

1 de janeiro de 2011

MENSAGEM PARA O ANO NOVO

A vida é sempre nova porque o Senhor que renova todas as coisas não nos deixa parados é por isso que estamos a caminho da eternidade, isto é, do Reino dos Céus, onde a verdade e a justiça prevalecerão para sempre.

Caríssimos, estamos começando um novo ano, espero que a palavra “novo” tenha pleno significado em nossa trajetória existencial durante esse novo ano de 2011 a ser percorrido por todos nós que aqui estamos, naturalmente, desejosos de que aconteça somente o bem. O novo na vida diz respeito ao sentido que se dá à vida; quem a vive por viver, não sente o verdadeiro prazer que ela proporciona quando vivida por amor a Deus, Fonte Eterna de toda vida. Porque a nossa vida humana, vai em direção à Fonte Divina que a criou e a sustenta, como o rio que corre em direção ao mar. Sei que essa analogia natural é simples, porém, carregada de um profundo significa teológico, pois, existimos porque somos obras das mãos de Deus e é para Deus estamos indo a cada instante do nosso viver.

Normalmente, com a proximidade da mudança de ano, aumentamos as nossas expectativas sobre os acontecimentos que poderão ocorrer - e aqui, chamo a atenção para não acreditarmos nas falsas previsões que os charlatões, juntamente com a mídia, tentam nos fazer crer. E ainda, traçamos, quem sabe, novos projetos de vida, de trabalho ou outro anseio benéfico que desejamos; prometemos mudanças de atitudes e criamos também toda uma atmosfera de melhoria existencial, dado ao otimismo que nos acompanha por a felicidade ser um desejo inato que carregamos nas entranhas de nossas almas.

De fato, quem planta o bem, isso mesmo colherá; porém, como do mal praticado nenhum bem podemos colher, evitemos toda espécie de mal. É como nos ensinou São Paulo: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé”. (Gal 6,710).

Então, façamos acontecer o novo em nossa vida nesse novo ano que se aproxima ou se já estivermos nele, isto é, pratiquemos o viver de Jesus com nosso viver, porque não existe o novo sem aquele que renova todas as coisas (Cf. Ap 21,5), exatamente como escreveu São João: “Aquele que diz que Nele (Jesus) crê, deve viver como Ele viveu” (1Jo 2,6); ou seja, fazendo em tudo a Vontade de Deus Pai, porque é para isto que estamos aqui neste mundo.

Feliz Ano Novo!

Paz e Bem!