31 de julho de 2011

ORDEM FRANCISCANA SECULAR POR QUÊ? PARA QUÊ?


Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM (*)

1. Vivemos a hora dos leigos na Igreja. Nunca se falou tanto deles. Nunca os documentos da Igreja tanto marcaram sua importância. Muitos leigos ingressam em grupos de vivência cristã onde buscam acertar os passos e perseguir o ideal da santidade no meio do mundo. Entre esses tantos grupamentos de leigos estão os franciscanos seculares. Pertencem eles à Ordem Franciscana Secular (OFS). Esses seculares franciscanos respondem a um apelo. Sentem um chamado. Não entram numa associação piedosa, mas ingressam no seio de uma família, de uma Mãe, de uma Ordem que os acolhe, recebe sua profissão/ promessa de seguimento do Evangelho no meio do mundo e se dispõe a levá-los, se eles colaborarem, a uma santidade de vida, à maneira de Francisco e de Clara. Falar em seio é falar em vida. A Ordem é dom, escola, graça que Deus concede à Igreja. Os seus membros desejam também santificar o mundo. Se deixassem de responder a essa vocação sua vida humana e cristã seria menos luminosa. A vocação é um chamamento que exige respostas e empenho dos que são chamados.

2. A Fraternidade Franciscana Secular é constituída por pessoas que vivem no mundo, mas se reúnem regularmente para refletir, pensar, rezar e armar as estratégias de sua ação do mundo. Os irmãos buscam sua realização humana, são pessoas que estão num processo de amadurecimento, mas que vivem no mundo. Vivem em suas famílias, no trabalho, nos lugares de lazer, na política, lá onde borbulha a vida.

3. Arde no coração dessas pessoas uma sede de viver no cotidiano a aventura do Evangelho. Buscam a perfeição da caridade, ou seja, a santidade com as cores de Francisco, Clara, de Isabel da Hungria e tantos outros e tantas outras. Querem fazer, em suas vidas, a experiência do Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor, do Bem, do Sumo Bem.4. “No seio da família franciscana, ocupa posição específica a Ordem Franciscana Secular que se configura como uma união orgânica de todas as fraternidades católicas espalhadas pelo mundo e abertas a todos os grupos de fiéis. Nelas, os irmãos e as irmãs, impulsionados pelo Espírito a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, são empenhados pela Profissão, a viver o Evangelho à maneira de Francisco e mediante a Regra confirmada pela Igreja” ( Regra da OFS, n.2).5. Os que ingressam na OFS tudo receberam: graças, irmãos, inspiração de Francisco e de Clara, a maneira bonita de seguir o Cristo franciscana e clarianamente. Sentem-se cobertos de graças e por isso desejam retribuir o que receberam, restituir o que de graça lhes foi concedido. Essa gratidão se manifesta na oração de ação de graças, na dedicação aos irmãos, mormente os mais abandonados, na disponibilidade em difundir o Evangelho e construir um mundo à maneira de Francisco. Os franciscanos seculares são zelosos e ativos, sem se perderem em ativismo. Impregnam tudo com o perfume do Evangelho.6. Os leigos ingressam na Ordem Franciscana Secular para mudarem de vida, ou seja, para fazer penitência. Penitência não é, em primeiro lugar, impor-se sacrifícios e asperezas. A conversão é realidade mais profunda. Trata-se transformar o coração. Supõe um sério distanciamento do pecado e de tudo aquilo que nos destrói, destrói a harmonia, fere a dignidade profunda de cada ser humano e desrespeita o amor incondicional do Altíssimo. A conversão supõe uma mudança de mentalidade. Estão num processo de conversão os pobres de coração, os sedentos das coisas de Deus, os famintos do bem, os construtores da paz, os praticantes da misericórdia, aqueles que são capazes de sofrer alguma coisa pelo amor do amado que não é amado. Converter-se é ir abandonando um comodismo individualista, uma maneira pragmática ou interesseira de viver, é ir se revestindo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus que foi simples, atencioso para com os outros e dedicado ouvinte da vontade do Pai. O franciscano secular vive repetindo com Francisco: “Senhor, o que tu queres de mim?”7. Os franciscanos seculares dispõem de reuniões e de encontros, da Regra, do exemplo de irmãos, dos sacramentos e dos retiros, do cansaço e da cruz para mudar de vida. São membros de uma Ordem de Penitentes.8. Nossas Fraternidades são espaços de reflexão sobre os grandes temas do mundo e da Igreja e não refúgio de pessoas cansadas e rotineiras. As Fraternidades preparam os irmãos para o seu ir pelo mundo. Estudam os temas desafiadores: violência e paz, sexualidade e casamento, respeito pela vida e cuidado com o criado. As pessoas, assim , vão ficando afiadas em seu trabalho: evangelizar a família, presença nos diversos campos da pastoral, vivência cristã do trabalho e da profissão, enquanto vão se tornando íntimos de Deus por vida de límpida oração.

(*) Frei Almir R. Guimarães, OFM é Assistente Nacional e Assistente Regional da OFS do Sudeste II

30 de julho de 2011

DEVOÇÃO MARIANA EM SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO








A devoção é um ato de amor que prestamos àqueles Deus santificou; ora, Maria, a Mãe de Jesus, foi santificada por Deus desde o ventre materno, pois ela é Imaculada desde sua concepção em vista do Filho de Deus que nasceu de seu ventre santo, como nos revela São Lucas em seu Evangelho: “Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35).

Logo, com imensa satisfação os filhos e filhas de Deus lhe prestam atos de amor e piedade pela devoção com que invocam o seu nome pedindo sua intercessão para a santificação de suas almas. Como nos ensinou ainda São Lucas em seu Evangelho: “E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações”. (Lc 1,46-49).

De fato, um dos filhos prediletos da Virgem Maria, a Mãe do Senhor, é Santo Afonso Maria de Ligório. Para ela escreveu um tratado completo sobre o seu papel no plano de salvação de nossas almas, chamado: “As Glórias de Maria”. Dizia que Maria, por ser tão amada por Deus e corresponder plenamente ao Seu amor, se tornou nosso modelo perfeito de vida cristã. “Segundo sua biografia, a devoção a Maria vem desde a infância e a Ela dedicou sua vida, seu amor e uma grande obra para que pudéssemos, como ele, amá-La com a mesma intensidade”.

Por isso, de modo muito especial, Santo Afonso insistia para que rezássemos a Maria, nossa Mãe abençoada, pois dizia: “Ela é cheia de graça; porém, esta plenitude não foi concedida apenas para si, mas também para que compartilhasse conosco.” Porque, segundo suas reflexões, “a Virgem adianta-se às nossas orações, ampara-nos nas aflições, protege-nos, dá-nos santas inspirações para vivermos profundamente a caridade. Mais ainda, ela anima-nos e nos fortalece nos momentos de desânimo e angústia, é fiel defensora de seus filhos nos embates da vida e quando recorremos a Ela nas tentações, sempre a temos ao nosso lado, mesmo sem a ela recorrermos”.*

Esse grande homem de Deus deixou-nos uma obra exemplar, ele é fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, popularmente chamados de Missionários Redentoristas, C.Ss.R., cujo carisma e missão é fundamentalmente a pregação de missões populares e o atendimento dos menos favorecidos; é sua congregação que cuida dos santuários de Nossa Senhora Aparecida e do Divino Pai Eterno entre outros em nosso país e no mundo. Eles são os responsáveis pela divulgação da devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e de sua novena permanente.

ORAÇÃO À SANTA MÃE DE DEUS COMPOSTA POR SANTO AFONSO

Toda Sois formosa e em Vós não há mancha. Ó pomba puríssima, toda cândida, toda bela, sempre amiga de Deus! Dulcíssima, amabilíssima, imaculada Maria, Vós que sois tão bela aos olhos do Senhor, não recuseis olhar com Vossos piedosíssimos olhos as chagas tão asquerosas de minha alma. Olhai-me, compadecei-Vos de mim, e curai-me. Ó belo ímã dos corações, atraí para Vós também este meu miserável coração. Tende piedade de mim, que não só nasci em pecado, mais ainda depois do batismo manchei minha alma com novas culpas, ó senhora, que desde o primeiro instante de Vossa vida aparecestes bela e pura aos olhos de Deus.

Que graça Vos poderá negar o Deus que Vos escolheu para Sua Filha, Sua Mãe e Sua esposa, e por essa razão Vos preservou de toda mancha? Virgem Imaculada, a Vós compete salvar-me, dir-Vos-ei com S. Filipe Néri. Fazei que me lembre de Vós; e não Vos esqueçais de mim. Parece tardar mil anos o momento de ir contemplar Vossa beleza no Paraíso, para melhor louvar-Vos e amar-Vos, minha Mãe, minha Rainha, minha Amada, belíssima, dulcíssima, puríssima, imaculada Maria. Amém.” (Tratado "As Glórias de Maria" de Santo Afonso Maria de Ligório).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


27 de julho de 2011

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos


CLARA CORAJOSA MESMO DOENTE
As irmãs trabalharão sem perder o espírito do Senhor


1. Em 1224 acontece alguma coisa que passou a marcar profundamente a realidade de São Damião. Clara fica doente. Tal fato poderia até ter posto termo à aventura de São Damião. Não sabemos qual teria sido essa doença. Do Processo nada se pode deduzi de muito preciso a esse respeito. O que se sabe é que Clara precisava ficar de cama, por períodos mais ou menos prolongados. No dito Processo Pacífica diz: “Interrogada desde quando tinha começado esta longa enfermidade de Santa Clara, respondeu que pensava que fossem vinte e nove anos”. Esse dado é importante. Tudo o que Clara realizou durante longo tempo foi feito por uma pessoa enferma. Em tal condição, ela consegue admiravelmente orientar uma “sororidade” sempre mais numerosa, sustentar uma luta incessante na defesa de seu estilo de vida e preparar uma Regra. Em seus depoimentos no Processo, as irmãs sempre têm a enfermidade como ponto de referência. Relatam fatos que se deram antes ou depois do começo da doença. Até aquele momento era a Madre que cuidava das irmãs doentes, a partir de então são as irmãs que dela cuidam Suas co-irmãs lhe oferecem um colhão de palha, dão sumiço nos instrumentos de penitência e Clara aceita tudo persuadida de viver assim na obediência

2. Ela nunca se queixará de sua enfermidade física. Nesse momento, no entanto, sofre de outro sofrer, ou seja, com o agravamento do estado de saúde de Francisco depois dos acontecimentos que se tinham dado no monte La Verna. Pensemos, nesse contexto, no fato de que Francisco compôs os Louvores ao Deus Altíssimo naquelas condições, o que revela o abismo da mística vivida por Francisco naquele momento. Ele cantou o Deus altíssimo, no meio de seus sofrimentos com todo o coração, com todos os adjetivos e superlativos. À Clara chega eco de todos esses acontecimentos. Com sua intuição, ela vai mais longe, compreende muito bem a profundidade da experiência de Francisco e pressente o fim que se avizinha. O Poverello não revela os segredos do Rei. Clara adivinha o que se passa no coração de Francisco mesmo antes que ele chegue a São Damião. Os dois se estimavam e se conheciam.

3. Estamos na primavera de 1225. Não sabemos como aconteceu o encontro com Francisco. Ele sofre terrivelmente com a doença das vistas que o tornou cego e incapaz de voltar-se para a luz. Em todo caso os dois se encontram no amor de Cristo que se entregou inteiramente, tanto a um como ao outro. São dois irmãos no pleno sentido da palavra. Clara e Francisco, neste momento, vivem a graça de participarem, os dois, dos sofrimentos de seu amado. Na cabana ao lado de São Damião, Francisco vive num constante nevoeiro, não somente pela cegueira, mas também pela angústia de ver os ratos passando por seu corpo. Numa noite de aflita súplica àquele que tudo pode, Francisco obtém de Deus a certeza da salvação. Exteriormente, nada tinha mudado, mas seu coração é habitado por uma nova alegria. Nesse momento, o Poverello canta louvando o Senhor por aquelas criaturas que agora ele não pode ver. Nasce a mística poesia do Cântico do Irmão Sol.

4. Tudo isso está acontecendo a dois passos da casa de Clara. Espontaneamente nos perguntamos porque ela não está presente nas palavras de seu irmão e pai? Chiara Giovanna Cresmaschi assim tenta explicar: “Tal ausência pode ser uma confirmação da disparidade existente entre o sentir de Francisco e de sua plantinha, que ele nunca menciona em seus escritos. Vários autores, no entanto, viram no Cântico veladamente a humilde Senhora de São Damião com suas irmãs na irmã lua e nas estrelas. Todas essas claridades fazem pensar em Clara. Da mesma forma se pode ver clara na água muito útil e humilde e preciosa e casta”.

5. Para além de tudo isto, elementos que apontam para Clara, pode-se dizer que ela seja a alma do Cântico. Francisco está imerso nas trevas da cegueira. Nesse contexto, ele consegue compor um poema-oração cheio de claridade, como alguém que naquele momento estivesse vendo flores e verduras, sol e lua. Clara certamente entregava a Deus a história e a vida de Francisco e também o destino de sua comunidade. Tudo isso é claridade, luz divina que esteve presente na hora da composição de uma das mais belas obras literárias de todos os tempos. Clara ali estava também, sempre discretamente.

6. Em 1225, quando entrou no mosteiro Irmã Angeluccia de Messer Angeleio de Espoleto, disse sob juramento que “dona Clara de santa memória estava enferma e que, apesar disso se levantava do leito e vigiava em oração com muitas lágrimas. E fazia o mesmo de manhã por volta da Terça”. A religiosa assinala que ficava impressionada com o cuidado da Madre no tocante à oração e à centralidade de Deus em sua vida. As lágrimas que acompanhavam a oração são assinaladas por muitas das irmãs: indicam a condição de pecadora perdoada, continuamente mergulhada na misericórdia do Pai, de outro lado, Clara foi cada vez mais penetrando no mistério da Paixão de Cristo e nessa mística do padecer com o Senhor. Não devemos ver nessas lágrimas manifestação de um vazio sentimentalismo. Quando uma pessoa se entrega a Deus o faz com toda a sua interioridade, toda a sua pessoa é envolvida e entra no dinamismo pascal. Irmã Angeluccia evoca dois momentos de oração: a noite, tempo propicio para vigiar colocando-se ao lado de Jesus em Getsêmani e a Terça, nove da manhã, momento em que se deu a descida do Espírito Santo, invocado ao longo da jornada, como primeiro protagonista da vida interior, do deixar-se amar por Deus.

7. Durante o dia Clara, sentada em sua paupérrima cama, dedica-se assiduamente ao trabalho como testemunham várias de suas irmãs. Ouçamos irmã Pacífica: “disse que depois que ela ficou doente, de não poder levantar-se da cama, fazia com que a erguessem para ficar sentada e sustentada por alguns panos por trás das costas e fiava, tanto que com o seu trabalho fez confeccionar corporais e os enviou para quase todas as igrejas da planície e dos montes de Assis – Interrogada como sabia dessas coisas, respondeu que a via fiando e fazendo o pano e quando as Irmãs o costuravam, eram mandados por mãos dos frades às sobreditas igrejas e eram dados aos sacerdotes que lá apareciam” (Proc 1, 11) em São Damião.

8. Transparece nesse depoimento uma das dimensões da vida da comunidade de São Damião que era a do trabalho. “As irmãs a quem o Senhor deu a graça de trabalhar trabalhem com fidelidade e devoção, depois da hora de Terça, em um trabalho que seja conveniente à honestidade e ao bem comum, de modo que afastando o ócio, inimigo da alma, não extingam o espírito da sana oração e devoção, ao qual as outras coisas temporais devem servir” (Regra 7, 1-2). Para Clara, o trabalho é uma graça, um dom que Deus concede no sentido se se trabalhar na obra da criação. Essa graça não deseja perder mesmo no tempo da doença. Em São Damião, as irmãs se dedicam ao trabalho a partir das nove da manhã. Não se diz quando ele terminava. Havia interrupção para recitação da hoje Sexta até pelas quatro da tarde, quando eram recitadas as vésperas, cujo inicio variava segundo as estações porque ligado ao por do sol. As fontes não dizem que, no verão, havia uma pausa para o descanso.

9. Voltando ainda ao trabalho de Clara devemos reter que para Clara era de máxima importância não extinguir o Espírito, mas deixar-se guiar por ele num contínuo dom de si, num estar constantemente na presença do Senhor que o rezar sem cessar. Ocupava-se da atividade de fiar, trabalho tipicamente feito por mulheres até o início do século XX, mas com uma finalidade específica: atender as igrejas pobres da região. Pelo depoimento de Irmã Pacífica ficamos sabendo que as irmãs costuravam o tecido fiado por Clara. Como se tratassem de alfaias de igrejas, provavelmente deviam esses corporais terem também bordados. Provavelmente eram os frades esmoleres que levavam aos padres os trabalhos feitos pelas irmãs.

10. Irmã Pacífica acrescenta que alguns sacerdotes vinham pessoalmente a São Damião. Talvez eles tenham sabido que as irmãs faziam esses corporais e como nunca os tivessem recebido vinham buscá-los pessoalmente. Pode mesmo ser que esses padres frequentassem o lugar para oração ou então viessem buscar aconselhamento. O trabalho realizado pelas irmãs era tarefa que correspondia a uma necessidade. Vejamos o testemunho de Irmã Benvinda de Perúgia: “Dos corporais feitos com o que fiava, disse o mesmo que tinha sido por Irmã Pacífica, testemunha já ouvida. Mas acrescentou que ela mandou fazer bolsas de cartão para guarda-los, as fez forrar com seda e mandou benzê-las pelo bispo” (Proc 2,11). Essas observações nos deixam acreditar que as irmãs iam se tornando especialistas na confecção de trabalhos destinados ao culto. A alusão à bênção do bispo parece dizer que o contacto com ele nunca foi interrompido. A propósito dos corporais, Irmã Francesca observa ter contado cinquenta (Proc 9,9). Insistimos: todo esse trabalho era benévolo.

11. Por meio dessas observações, as irmãs colocam em destaque o amor e dedicação de Clara ao trabalho, do qual não se sente dispensada mesmo com a doença. Clara e Francisco não têm a ideia de retribuição como nos a temos. O senso de gratuidade que caracteriza a madre faz com que cresça na gratuidade e no reconhecimento da acolhida dos dons da Providência. Através da Forma de Vida de Clara se deduz um outro tipo de trabalho realizado pelas irmãs e ao qual se dava uma recompensa depois distribuída em proveito de todas.


*Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

25 de julho de 2011

Páginas Franciscanas

O VOTO DE POBREZA

Nossa Página Franciscana é da autoria de Frei Giacomo Bini. Ele escreve sobre o voto de pobreza (A Ordem hoje. Reflexões e perspectivas, p. 35-37)

Portanto, nada de vós retenhais para vós, para que totalmente vos acolha aquele que totalmente a vós se oferece (Carta a toda a Ordem, 29).

    1. O voto de pobreza nos liberta da avidez do acúmulo, da sede insaciável de ter o mais possível, o melhor e logo, porque encontramos nossa “suficiente riqueza” (EV 4). Protege-nos contra qualquer tipo de posse e, por isso, não absolutizamos a casa em que vivemos nem o trabalho que fazemos nem as compensações que “merecemos”, sejam elas materiais ou psicológicas. “Quem não renuncia a tudo o que tiver...”: o Senhor não exige renúncia de alguma coisa, mas de tudo, para tornar-se o tudo do homem. “Os frades não se apropriem de nada, nem de casa nem de lugar nem de qualquer outra coisa” (RegB 6,1). Não se trata de ascese egocêntrica, mas de uma caminhada de justiça, solidariedade, amor pelos outros e com os outros; de uma caminhada de liberdade pessoal e comunitária, que tornará mais fidedigno o nosso anúncio missionário.

    2. O Mestre e Senhor da messe e da vinha nos enviou a evangelizar como peregrinos, sem apropriar-nos de “nosso” trabalho, de “nossa” gente ou de “nossos” resultados. Certamente devemos trabalhar com generosidade e seriedade, fazendo frutificar as qualidades e os dons que o Senhor nos deu, mas o sucesso não é o único critério de medida a ser considerado: devemos sempre confrontar-nos com o projeto evangélico e comunitário de vida para que se torne testemunho e sinal que pertencemos ao Senhor e não ao “nosso” trabalho de forma a estarmos prontos, como Abraão, os apóstolos e Francisco, a “deixar a nossa terra” para buscarmos horizontes desconhecidos. Com frequência, nossas relações fraternas são perturbadas pela falta de liberdade em relação ao dinheiro e às coisas. Algumas vezes, já não conseguimos distinguir o necessário, do útil e do supérfluo. Facilmente nos deixamos prender pela lógica consumista do mundo, pecando por injustiça ou por falta de solidariedade em relação aos que não têm o necessário, esquecemos de “restituir” tudo a Deus, como quer Francisco (RegNB 17,17) e negligenciando a dependência dos outros no uso do dinheiro.

    3. Alguns irmãos (não são muitos) têm dificuldades em pôr em comum a recompensa recebida por seu trabalho (muitas vezes desejado e procurado porque rentável!) ou qualquer doação tornando-se, assim administradores diretos de “seus bens”: isso não é conforme a Regra e pode destruir a vida fraterna. Quantos abusos com o dinheiro; quantos irmãos sacrificados por estruturas pouco evangélicas e sem vida: que Deus nos perdoe!

    4. A liberdade na pobreza, facilmente, nos torna homens de comunhão, de solidariedade, de partilha e nos ajuda a sermos criadores de relações novas, alegres e proféticas no meio dos homens de nosso tempo.

22 de julho de 2011

Meditação Diária


"Construa sua felicidade na prática do bem e da solidariedade. Seja feliz com a vida que Deus te concedeu"

(Frei Paulo Sérgio)

Construação lembra ação de fazer, edificar, lançar fundações. Assim deve ser nossa vida: uma construção que se edifica no solo da nossa própria história, algo que se faz em cada momento, em cada respiro, em cada estação. È no ordinário e no ferial de cada semana que o domingo ganha seu sentido de festa, de alegria, de ressurreição...

Não há receirta para a felicidade, mas há práticas, ações e movimentos que fazem com que nossa existencia torne-se abertura, caminho e sinal. Amar a vida e fazer dela uma missão redentora dá sentido aos vazios, lágrimas e fraquezas. Amar a vida, as pessoas e a Deus são disposições que nos lançam no verdadeiro caminnho da vida que se manifesta diante de nós...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

FAMÍLIA E VOCAÇÂO FRANCISCANA SECULAR

Os franciscanos seculares considerem a família como o âmbito prioritário para viver o próprio compromisso cristão e a vocação franciscana e nela deem espaço à oração, à Palavra de Deus e à catequese, empenhando-se no respeito à vida, desde a concepção, e em qualquer situação, até à morte. (Const. Gerais da OFS, art 24, n.1).

1. Ninguém dúvida que a família seja uma das mais fundamentais e importantes realidades de todas as existências. A artigo da CCGG da OFS acima mencionado fala da família como âmbito, espaço prioritário para os franciscanos seculares. O texto pede que os seculares vivam todas as dimensões da Igreja doméstica que é a família. A Regra pede que vivam em família o espírito de paz, da fidelidade e do respeito pela vida. Que a família dos franciscanos seja, diante dos homens, sinal de um mundo já renovado em Cristo (cf. n. 15). Não estamos diante de um tema secundário, mas prioritário para a vida das fraternidades franciscanas, para a sociedade e para a Igreja. Todas as campanhas que visam destruir e desestabilizar a família deterioram o amanhã da humanidade.

2. Duas observações preliminares para que este texto possa ser bem compreendido. O autor destas linhas tem pleníssima consciência da complexidade cultural, social e religiosa das famílias de hoje. Não é possível, sem mais nem menos, querer rapidamente que nossas famílias se tornem Igrejas domésticas. Há uma decalagem entre o ideal e o que acontece. Essa é a primeira observação. Ao refletir sobre OFS e família não há nenhuma intenção de dogmatizar que nossas Fraternidades devam ser constituídas por casais e famílias. A OFS não é um grupo familiar. Sabemos disto. É uma escola de santificação aberta a todos.

3. O último Capitulo Nacional da OFS de Manaus pediu que, no triênio em curso, se prestasse atenção na ação missionária dos seculares. Falou-se da elaboração de um programa de ação missionária que viesse também a contemplar a atuação nas famílias, células primeiras da transformação do mundo... Porque o futuro da humanidade passa pela família, no dizer do Papa João Paulo e porque os seculares franciscanos precisam priorizar a família, fazemos algumas considerações que nos parecem oportunas visando irmãos em geral, mas de modo particular a atuação dos assistentes no seio de nossas Fraternidades. Cabe a estes fazer com que as Fraternidades tenham preocupações eclesiais.

4. As pessoas resolvem ser franciscanas seculares por vocação. Há todo um período de discernimento, de formação, de vivência numa fraternidade antes da profissão. Há um duplo movimento: os que são chamados a seguir Francisco no mundo se reúnem em fraternidades, mas logo em seguida são reenvidados ao mundo. Um rapaz, uma moça, um homem e uma mulher fazem parte de uma família. Ali eles serão franciscanos: a busca incessante do rosto de Deus, uma vida despojada e alegre cantando as glórias do Senhor, evangelizando, de alguma forma, a própria família. Não posso imaginar um franciscano secular sem apreço, carinho, devotamento, dedicação à própria família. Isso se traduz numa alegria de viver à mesa com os seus, de passar, pelo modo de ser, a alegria da simplicidade e da pobreza, o distanciamento de toda ostentação, mesmo contrariando membros da família. Não me parece normal que uma senhora, por exemplo, faça sua profissão, seu jubileu de prata na OFS sem que isto tenha nenhum significado para seu marido, seus filhos e seus familiares. Por isso sonho, sonho mesmo, que em muitas Fraternidades haja casados que caminhem juntos, que os dois construam uma família franciscana. Sonho com Fraternidades que tenham a criatividade e a decisão de fazer encontros com os familiares. Não é possível que anos a fio essas reuniões das Fraternidades ignorem as famílias. Filhos, irmãos, pais dos seculares precisam ser estimados pelos irmãos da Fraternidade.

5. Bom seria, muito bom seria, se marido e mulher fossem franciscanos seculares. “Os casados encontram na Regra da OFS um valioso auxílio para percorrer o caminho da vida cristã, conscientes de que, no sacramento do matrimônio, o seu mútuo amor participa do amor que Cristo tem pela Igreja. O amor dos esposos e a afirmação do valor da fidelidade são um profundo testemunho para a própria família, para a Igreja e para o mundo” (CCGG 24,1). Pode mesmo acontecer que a esposa de um terceiro ou o marido de uma senhora terceira não tenha vocação para a OFS. Nada de forçar seu ingresso. Mas ele ou ela poderiam ser simpatizantes e participar eventualmente das reuniões. Em minhas visitas tenho visto alguns casos desses. Eles me encantam.

6. A reunião da Fraternidade será marcada por temas familiares. Não posso me privar à alegria de transcrever luminosas orientações dadas pelas CCGG da OFS e que deveriam ser aprofundadas e incentivadas por todos os conselhos locais. Penso que um assistente poderia implementar e incentivar o que aparece aí.

Na Fraternidade: - que seja tema de diálogo e de partilha, de experiência a espiritualidade familiar e conjugal e a abordagem cristã dos problemas familiares; - partilhem-se os momentos da vida familiar dos co-irmãos e demonstre-se atenção fraterna com aqueles – solteiros, viúvos, pais sós, separados, divorciados – que vivem em situações e condições difíceis; - criem-se condições para o diálogo entre grupos de diferentes gerações;- seja favorecida a formação de grupos de casais e de grupos familiares (Art 24, n. 2). Sonho que os Conselhos locais incentivem a formação de grupos de famílias com forte presença de casais franciscanos. Temos que renovar. Temos que tornar sólidas as famílias. Não podemos ignorar o assunto.

7. Na Igreja do Brasil, em nossos dias, tenta-se organizar a Pastoral Familiar em nível diocesano e paroquial. Como seria bom se casais franciscanos, com seu jeito despojado, verdadeiro, leal, fraterno, simples, acolhedor, dialogante, pudessem ser líderes dessa pastoral! Não fomos convocados para sermos restauradores da Igreja, como Francisco? Por vezes, tendo trabalho quase duas décadas com a Pastoral Familiar em todos os cantos do país, penso que a Pastoral ganharia muito com agentes evangelicamente qualificados como são os franciscanos seculares. Se fizermos isso nada estaremos fazendo senão seguir os ditames das CCGG: “Os irmãos colaborem com os esforços que se envidam na Igreja e na sociedade para a firmar o valor da fidelidade e do respeito pela vida e para dar resposta aos problemas sociais da família” (Art 24, 3).

Concluindo

Nossas Fraternidades Franciscanas Seculares precisam se reinventar. O amanhã está sendo apontado pelo Espirito, que é a alma da Igreja e Ministro Geral dos franciscanos. As reflexões sobre a família poderão nos sugerir caminhos novos. Ou será que me engano?

(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III

20 de julho de 2011

Meditação Diária


"A oração é a chave que abre a porta do dia e fecha a porta da noite"

(Mahatma Gandhi)

Sem oração, não pode haver conhecimento de nossa própria fraqueza. Só de Deus, por meio da oração, vem nossa força. A oração coloca dentro de nós a certeza consoladora de que Alguém nos ama desinteressadamente. Alguém que nos ama, ainda que não sejamos dignos desse amor.

Orar não é simplesmente repetir fórmulas decoradas, mas estar em comunhão de fé e amor com Deus. O Pai Nosso torna-se oração e vida quando meditamos em cada pedido e permitimos que a vontdade reinante do Pai seja tudo em nós...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

11 de julho de 2011

Meditação Diária


“Examina bem os teus pensamentos, e se os vires puros, puro será também o teu coração"

(Confúcio)

Tenha em mente pensamentos elevados e de pureza: eles formarão a tua personalidade. Eles hão de proporcionar conquistas e capacidades que serão inspiradores e motivadores em suas conquistas. Com alguns minutos de meditação diária você será capaz de positivar suas ações, renovando seus pensamentos e seus objetivos.

Olhe para a frente e tente enxergar o que ainda está por vir. Ocupa seu tempo com coisas boas, grandiosas e amorosas. Existem muitas pessoas precisando do seu tempo, da sua presença, da sua palavra. Simplesmente faça o que está a seu alcance,. Não perca tempo com coisas inúteis, pois no fim de tudo será você (sua consciência) e Deus...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

8 de julho de 2011

Meditação Diária


“Amigos ao sinais, são pontes que facilitam a travessia. Amigos são sacramentos de Deus para nós”.

(Frei Paulo Sérgio)

Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos. Os (as) amigos (as) renovam nossas energias e nos proporciona crescimento e equilíbrio, pois entram em nossas vidas e trazem alegria para nossa jornada. Os (as) amigos (as) tornam-se companheiros de jornada, mesmo que passemos por des-filadeiros onde precisamos seguir sozinhos...

Procure cultivar amizade em sua vida, acolha aqueles (as) que são enviados como anjos para transformar sua vida. Tenha olhos abertos para perceber momentos de transformação, pois elas podem vir anunciadas por mensageiros que Deus sempre coloca em nossos caminhos...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

6 de julho de 2011

Meditação Diária


“Entre as ruínas sempre poderá nascer uma flor. A felicidade cresce e frutifica quando acreditamos no amor”.

(Roque Schneider)

Amigo (a), há sempre um belo amanhecer para cada noite escura. E, na pequena-grande aventura de nascer, existir e morrer, quantas lições de vida devemos aprender... E a aventura da vida será sempre melhor e mais bonita se tivermos alguém para compartilhar nossas conquistas e também nossos fracassos. O (a) melhor amigo (a) é aquele (a) que nos faz melhor do que somos!

E como é bom, melhor ainda, e como é fantástico acreditar na vida, na amizade, no bem, no amor! Como é maravilhoso compartilhar a vida com pessoas que nos ajudam a enfrentar as situações difíceis e a não desperdiçar as oportunidades da vida. Portanto, viva bem a vida que o Pai do Céu te concede...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

4 de julho de 2011

Meditação Diária


"Mesmo que lágrimas amargas escavem teu rosto, tens um coração para amar"

(Roque Schneider)

As chances que a vida nos dá são chances que o próprio Deus nos oferece para que possamos continuar Sua obra, Seu trabalho, Sua redenção, no mundo. Cada um de nós está aqui para cumprir uma missão, fazer algo grandioso, plantar belos jardins, tornar o mundo melhor e mais bonito. Já pensaste na tua missão?

Então pensa e decida agir o quanto antes. As pequenas-grandes oportunidades da vida são recados, graças e chances que nos vêm do próprio Deus. Decida pela alegria, pela beleza, pela arte, pelo cultivo de um lindo canteiro na tua existencia. Plante alegria, esperança, fé e amor no coração das pessoas. Assim também estarás experimentando a felicidade na tua própria vida...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

3 de julho de 2011

Meditação Diária


"Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem".

(Lao Tsé)

O amor é um conceito diverso, repleto de contrastes, antíteses, paradoxos e peculiaridades que o tornam tão singular quanto complexo. Ele nasce, cresce e se multiplica, ocupando espaços maiores ou menores, mas sempre edificados com o que há de mais nobre no espírito e no coração do ser humano.

Procure criar, dentro de ti, espaço para que o verdadeiro amor cresça e crie relações. O amor, por sua essência, é doação, entrega, compaixão. O amor é sentimento que brota da alma, pois esta é a imagem de Deus em nós. Por isso, amigo (a). ame as pessoas e permita a fluência do amor divino em ti...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM