31 de janeiro de 2014

Fendas: A Mística da Fenda do Lado de Cristo

Por: Frei Alberto Beckhäuser, OFM (Instituto Teológico Franciscano)


Speco, em italiano, significa espelunca, antro, caverna. No caso do Speco di Narni trata-se de uma fenda na rocha. Estamos em Narni, cidade na Região de Terni, na Úmbria, a pouca distância de Rieti. Entre as duas Regiões, situa-se apenas a cordilheira dos Apeninos. Da região de Terni procedem vários protomártires da Ordem, os chamados Mártires de Marrocos.

  O Speco di Narni está entre os vários lugares procurados por Francisco para dedicar-se à oração. Só para lembrar alguns: L’Eremo delle Carceri no vale de Spoleto; os quatro santuários nas montanhas em torno do vale de Rieti (Greccio, Fonte Colombo, La Foresta e Poggio Bustone); La Verna ou Monte Alverne no vale do Casentino e Lo Sacro Speco no vale de Terni ou “Valle ternada”.

Nas encostas da montanha perto do vilarejo de Santo Urbano encontra-se, entre outras menores, uma profunda fenda no paredão de uma montanha rochosa. Numa delas teria se encontrado Santo Antônio a caminho de Assis para o Capítulo das Esteiras; de outra teria pregado ao povo São Bernardino de Sena. Contam os biógrafos que São Francisco teria se demorado nesta fenda maior por longo tempo, em 1213.

No tempo de São Francisco já existia aos pés do paredão rochoso um oratório sob o patrocínio de São Silvestre, papa, presente até hoje, como fundamento primitivo do atual eremitério erigido, provavelmente, por monges beneditinos.

No pequeno claustro deste eremitério havia um poço-cisterna de água, onde teria acontecido o milagre do vinho. Francisco, doente, teria pedido um pouco de vinho; não o tendo na hora, os frades ofereceram-lhe um copo d’água tirada do poço-cisterna. Francisco teria feito o sinal da cruz e a água se teria transformado em vinho. E Francisco, tomando-o, teria recuperado as forças.

Nos inícios do movimento de reforma dos Observantes no tempo de São Bernardino de Sena se construiu ali um eremitério semelhante ao do Eremo delle Carceri, em Assis. Temos aí um belo claustro com vista sobre o vale, pontuado de vários vilarejos, vendo-se ao fundo nas encostas dos Apeninos a cidade de Stroncone. Ao lado do claustro ergue-se a igreja com belo coro dos frades e, subindo do coro, o refeitório chamado “refeitório de São Bernardino”. Em andar superior estende-se o “Conventinho de São Bernardino” com as tradicionais pequeninas celas típicas dos observantes. Pelo fim do século XVI o convento foi ampliado como se apresenta hoje.

O “Viale della Via Crucis” leva os frades do pátio do conventinho ao “Speco del Santo”. Bem ao sopé da montanha rochosa do “Speco del Santo” encontra-se um “Oratório” em estilo românico, chamado “L’Oratorio di San Francesco”, tendo ao lado um puxado denominado “la cella” e a uns três metros de distância “la colonna dell’Angelo”.

Conta-se que, mais do que no oratório, Francisco se detinha na caverna (speco) da montanha rochosa. Tendo Francisco adoecido gravemente os frades teriam construído uma “cella” para Francisco, contígua ao oratório e na cela uma cama que ainda se deixa ver. Uma noite Francisco sofrendo terrivelmente, pediu um conforto espiritual a um confrade, pedindo que lhe tocasse alguma música. Não tendo com que fazê-lo, eis que aparece um anjo que sobre a coluna de pedra toca belos sons de uma cítara.

Existe toda uma mística em torno do “Sacro Speco del Santo”. O “Sacro Speco di Narni” como as cavernas rochosas do monte Alverne encontra para os frades e para Francisco um fundamento na Bíblia. O Evangelho de Mateus conta que na hora da morte de Jesus “no mesmo instante a cortina do Santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e fenderam-se as rochas” (Mt 27,51). Daí a crença de que as fendas das rochas em todo o mundo simbolizavam as chagas de Cristo, particularmente, a sagrada chaga do seu lado, aberto pela lança.

Ali se inspira a mística franciscana da meditação da Paixão do Senhor. Contemplar as suas chagas significa mergulhar no Amor de Cristo aos homens, deixar-se acolher por seu imenso amor, refugiar-se nos abismos do seu amor infinito. Trata-se de aninhar-se nas fendas das chagas de Cristo, penetrar fundo no amor que nos amou primeiro.

Sem dúvida o conventinho do Sacro Speco se apresenta como lugar privilegiado para um retiro a sós. Total silêncio, pouca gente circulando. Espaços de total recolhimento tanto na igreja, na capela interna, como na natureza: os bosques, o oratório, a cela de São Francisco, a fenda no grande paredão rochoso da montanha. Rezei bastante pelos confrades da Província. Pensei no eremitério Beato Egídio da Província em Rodeio que, creio eu, poderia ser bem mais valorizado.

Só me resta agradecer a Deus, ao Ministro Provincial que deu a bênção para mais este retiro em lugar frequentado por Francisco, por ocasião da participação dos trabalhos da Comissão Litúrgica da Ordem em Roma, e à Fraternidade do Eremitério do “Sacro Speco del Santo”. Peço ao Senhor que me converta e me ajude a crescer na vida de oração, no amor fraterno, na pobreza e no apostolado.

Poderíamos concluir este pequeno relatório com a oração tão representativa da espiritualidade franciscana:

Nós vos adoramos, santíssimo Senhor Jesus Cristo,
aqui e em todas as vossa igrejas que estão no mundo inteiro,
e vos bendizemos porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.

30 de janeiro de 2014

Reflexão - Simplicidade


“O segredo da sabedoria, do poder e do conhecimento é a humildade” (Ernest Hemingway). 

A sabedoria está no conhecimento geral das coisas simples, pois nas coisas mais simples que a vida nos dá, estão escondidos grandes segredos. Quanto mais curiosos, desejosos de aprofundar nossos conhecimentos… e humilde formos, mais sábio seremos
É feliz aquele que persevera na sabedoria. Tendo discernimento, conhecimento e prudência nas palavras tu conseguirás progredir ir além das cercas que querem te cercear, te apequenar. Não percas tempo com aquilo que não te enriquece em sabedoria e conhecimento…


Frei Paulo Sérgio, ofm

28 de janeiro de 2014

"Que o Senhor volte a nos cativar...


Por Frei Almir R. Guimarães, OFM.


Cristãos que somos pretendemos ser discípulos do Senhor. Cultivamos e cultivaremos cada vez mais intensamente nossa amizade pessoal pelo Senhor. Sentimos que precisamos de despojamento, simplicidade e gosto de mergulhar no silêncio. Discípulo e Mestre caminham juntos e caminham a vida inteira.

O ideal mais decidido de Francisco: “Sua maior intenção, seu desejo principal e plano supremo era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas” (1Celano 84).

Quando chegam os irmãos, Francisco compreende que viverão todos do Evangelho e buscarão a amizade com Cristo: “Depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou, o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que devia viver segundo a forma do Santo Evangelho. E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples e o Senhor Papa mo confirmou” (Testamento 14).

Caminho de formação do seguidor de Jesus: “Olhamos para Jesus o Mestre que formou pessoalmente a seus apóstolos e discípulos. Cristo nos dá o método: “Venham e vejam” (Jo 1, 39). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Com ele poderemos desenvolver as potencialidades que há nas pessoas e formar discípulos missionários. Com perseverante paciência e sabedoria, Jesus convidou a todos que o seguissem. Àqueles que aceitaram segui-lo, os introduziu no mistério do Reino de Deus, e depois de sua morte e ressurreição os enviou a pregar a Boa Nova na força do Espírito” (Doc. Aparecida, 276).

O seguimento é fruto de uma fascinação pelo Mestre: “O caminho da formação do seguidor de Jesus lança suas raízes na natureza dinâmica da pessoa e no convite pessoal de Jesus Cristo que chama os seus pelo nome e estes o seguem porque lhe conhecem a voz. O Senhor despertava as aspirações profundas de seus discípulos e os atraía a si maravilhados. O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo da realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como mestre que o conduz e acompanha” (Doc. Aparecida, 277).

Quando o Senhor chama não quer que a resposta demore a ser dada. Há uma urgência. Chama: “Vem e segue-me!” O Senhor pede pressa: “O Senhor é impaciente: quer que o chamado responda logo à ocasião oferecida. Esta espécie de “pressa divina” é sublinhada em diferentes textos vocacionais dos evangelhos: imediatamente deixaram as redes e o seguiram (Mc 1, 18). Imediatamente Jesus os chamou e eles puseram-se a segui-lo (Mc 1,20); Jesus disse: “Segue-me”. “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Ao imediatamente do chamado corresponde o imediatamente da resposta. Elemento para seguir o Mestre é abandono ou desapego dos bens. Exige-se um desapego radical de tudo e de todos, de modo a estar plenamente disponível para segui-lo. Para ir atrás dele expeditamente, é preciso deixar a existência de antes. No entanto, não é um simples e obre deixar, mas é uma opção. De fato nos textos evangélicos não é colocado tanto o acento no deixar como no seguir. “(…) deixaram as redes e seguiram” (Mc 1, 18) (…) e eles deixando o pai, puseram-se a seguir Jesus” (Mc 1,20). “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Portanto, o “deixar” não é fim em si mesmo, mas está em função do “seguir”. É o verbo seguir que caracteriza o discípulo e não o termo aprender, muito menos o “deixar”. O desapego, o abandono, o deixar constituem o momento negativo; ao contrário, o momento positivo é constituído por aquilo que se tem em contrapartida. Deixa-se uma existência por outra; abandona-se todo o resto para viver a aventura da “sequela Christi” (Ubaldo Terrinoni, Projeto de pedagogia evangélica, Paulinas, p. 46-47).

Os que se encontram com Jesus e ouvem seu chamado passam por um processo de transformação que sempre foi designado pela palavra conversão. “A pessoa divina de Jesus investe e envolve de algum modo o chamado que lhe muda o projeto de vida, o modo de viver, de pensar e de agir. Lentamente, o discípulo se encontra com um novo modo de escolher e de avaliar as coisas, as pessoas, os acontecimentos. O mestre Jesus exerce sobre o discípulo tal poder de atração que se torna irresistível! O apóstolo Paulo dirá de si que foi “agarrado” por Jesus Cristo (Fl 3, 12) (Terrinoni, op.cit., p. 47).

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium mostra que precisa haver um laço estreito entre o encontro pessoal com o Senhor e a tarefa da evangelização - A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por ele, que nos impele a amá-lo cada vez mais. Um amor que não sentisse necessidade de falar da pessoa amada, de apresentá-la, de torná-la conhecida, que amor seria? Se não sentimos o desejo intenso de comunicar Jesus, precisamos nos deter em oração para lhe pedir que volte a cativar-nos. Precisamos implorar a cada dia a sua graça para que abra o nosso coração frio e sacuda nossa vida tíbia e superficial. 

Colocados diante dele com o coração aberto, deixando que ele nos olhe, reconhecemos aquele olhar de amor que descobriu Natanael no dia em que Jesus se fez presente e lhe disse: “Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira” (Jo 1,48). Como é doce permanecer diante de um crucifixo ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente de seus olhos! Como nos faz bem deixar que ele volte a tocar nossa vida e nos envie para comunicar a sua vida nova! Sucede, então, que, em última análise “o que nós vimos e ouvimos, isto anunciamos” (1Jo 1,3). A melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se em suas páginas e lê-lo com o coração. Se o abordarmos dessa maneira, sua beleza deslumbra-nos, volta a nos cativar constantemente. Por isso, é urgente recuperar o espírito contemplativo que nos permita redescobrir, a cada dia, que somos depositários de um bem que humaniza e ajuda a levar uma vida nova. Não há nada melhor a transmitir aos outros” ( n. 264). T

27 de janeiro de 2014

Reflexão - Vida


“Se Deus não dá o que você quer, é porque não é disso que você precisa”. (Caio Fernando de Abreu).

A vida se nos apresenta como um grande dom de Deus: ela é dádiva, alegria, explosão de amor que se manifesta em cada cor e nuances onde ela acontece! A vida não é minha e nem sua, ela está em mim e em você… Ela está em todo lugar, pois vivemos onde a VIDA acontece: natureza, canteiros de beleza, canto dos pássaros. E o plante é um grande útero, uma grande mãe a nos nutrir e a nos sustentar!

Apesar das aparências, tudo se destino ao melhor a à plenitude: quem está no leme de tudo é o Pai Criador! Muitas vezes temos dificuldades para entender e aceitar isso: não é nosso ego que controle os fatos e o pulsar da vida. Por isso, confiar e esperar será sempre uma atitude sábia. Então, confie, acredite e volte sua face para o sol… Você faz parte da GRANDE VIDA que vem Deus. Seja feliz por ser parte desse TODO que é a VIDA!

Tenha uma linda, abençoada e produtiva semana…

Frei Paulo Sérgio, ofm

26 de janeiro de 2014

O coração do homem que era uma fornalha de amor


Transcrevemos hoje umas poucas linhas de São Boaventura  em sua Legenda Maior na qual ele, com seu jeito  cheio de unção, fala de aspectos da comunicação da palavra ao povo feita por nosso Pai: “O Espírito do Senhor,  que ungira a Francisco e o enviara, e o próprio  Cristo, virtude e sabedoria do Pai, haviam derramado tão copiosamente  seus dons sobre ele,  que podia comunicar por sua palavra a doutrina autêntica de ambos e desenvolver seu poder em milagres estupendos. 

Sua palavra era como um fogo ardente que penetrava até o fundo dos corações e enchia de admiração a todos os ouvintes, pois não exibia as galas de uma eloquência mundana, mas apenas espalhava o bom odor das verdades reveladas por Deus. Sucedeu certo dia, com efeito, que devendo pregar diante do próprio papa e dos cardeais, por encargo do bispo de Óstia, compôs um sermão, que aprendeu cuidadosamente de cor.  

Mas ao chegar o momento de se apresentar de pé diante da assembleia para pronunciar o discurso, esqueceu-o completamente e não pôde dizer uma palavra sequer do que escrevera.  Confessou o santo  com a  maior humildade o que lhe sucedia. 

 Recolheu-se uns breves  momentos para implorar as luzes do Espírito Santo e começou a expressar-se  com tanta fluência, com raciocínios tão eficazes, que moveu à compunção as ilustres pessoas que o ouviam, mostrando-se bem às claras que não era ele, mas o Espirito Santo,  quem falava por sua boca”   (Legenda Maior de São Boaventura  12, 7).

Frei Almir Ribeiro Guimarães

23 de janeiro de 2014

Reflexão - Sabedoria


“Para alcançar o conhecimento, acrescente coisas todos os dias. Para alcançar a sabedoria, remova coisas todos os dias” (Lao Tsé).

A busca pelo conhecimento pode levar-nos a acumular teorias e informações. Porém, este não é o verdadeiro princípio do conhecimento. Este deve levar-nos a facilitar a vida e permitir que a humanidade encontre caminhos de desenvolvimento; o conhecimento deve levar-nos à sabedoria, ao saber que permite ‘saborear’ cada conquista, cada invento, cada passo que podemos dar na evolução da sociedade humana.

O conhecimento deve fazer-nos conhecedores da vida, mas a sabedoria deve levar-nos a uma vida melhor, mais criativa e mais solidária. Sábio é quem não precisa levar fardos pelos caminhos da vida; sábio é também aquele (a) que descobriu e bebeu da fonte da simplicidade e da humildade… Sábio é quem entendeu que, por aqui, estamos todos de passagem, pois aqui não é nossa pátria definitiva!

Frei Paulo Sérgio, ofm

22 de janeiro de 2014

Franciscos: coerência entre inspirador e inspirado


Frei Gustavo Medella, OFM

Desde o momento em que foi apresentado como Papa, Francisco tem transmitido, por palavras e ações, as mais belas e revolucionárias intuições do Santo de Assis encarnadas nos tempos atuais. É presença terna e acolhedora: nunca ingênua. Assim como seu inspirador de Assis, o Francisco de Roma tem influenciado a Igreja a partir de dentro, apresentando ao mundo o caminho do diálogo, do respeito, do amor a Deus e às pessoas e, assim como Poverello, tem despertado a admiração de muitos, para além dos limites de crença, nacionalidade, visão de mundo e valores. Não se pode negar que também desperta desconfiança e antipatia de alguns – poucos, porém poderosos –, tanto no âmbito interno quanto para além dos muros da Igreja, por balançar os alicerces de uma religiosidade alienada e de um sistema econômico excludente e desumano.

A título de ilustração, seguem exemplos de algumas posturas e atitudes que aproximam Francisco de Roma ao Francisco de Assis:

• Reconhecimento das próprias fraquezas e postura penitencial

Ao enxergar-se como pecador, São Francisco não desejava nutrir uma postura de baixa autoestima ou cultivar um sentimento de azedume em relação a si mesmo. Apenas ficava maravilhado pelo modo como Deus, o Sumo Bem, em seu amor infinito, teria sido capaz de se tornar tão próximo do ser humano, cheio de lutas, imperfeições e fracassos, marcado pela finitude. É este o Espírito que perpassa a importante oração que brotou no mais profundo de sua alma: “Senhor, quem sois vós? E quem sou eu? Vós, o Altíssimo Senhor do céu e da terra, e eu, um vermezinho, vosso ínfimo servo”, e muitas outras considerações a ele atribuídas. Converter-se, viver a penitência, para Francisco, é, portanto, voltar-se por inteiro para Deus todo-bondade.

A mesma consciência diante da Infinita Bondade apresenta o Papa Francisco ao afirmar, em entrevista publicada pelos jesuítas: “Eu sou um pecador. Esta é a melhor definição. E não é um modo de dizer, uma figura de linguagem. Sou um pecador. Sou um pecador para quem o Senhor olhou. Sou alguém que é olhado pelo Senhor”.  Ou, ainda, logo depois de ter sido eleito Papa, a seus irmãos cardeais: “Sou pecador, mas confiante na misericórdia e na paciência infinitas de Nosso Senhor Jesus Cristo, confundido e em espírito de penitência, aceito”. O espírito de penitência e a busca de voltar-se inteiramente para o Senhor, abraçadas pelo Santo de Assis, também povoaram o coração do cardeal argentino ao aceitar a missão que Cristo a ele confiava.

• Disposição para vencer a si mesmo, abraçar o leproso e reconhecer nesta figura o Filho de Deus

O germe da vida penitencial movimentava o coração de Francisco de Assis. Tanto que, no Testamento, um de seus últimos textos, ele evoca o encontro com o leproso, figura abjeta e desprezada da época, da qual todos queriam o máximo de distância: “Como estivesse em pecado, parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos. E o Senhor me conduziu para o meio deles e eu tive misericórdia com eles. E enquanto me retirava deles, justamente o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo”. A conversão do olhar e do coração levaram o Santo de Assis a nutrir esta reverência e este desejo de estar junto àqueles que eram os últimos, alijados completamente da vida em sociedade.

E também com estes o Papa Francisco deseja ardentemente estar: com os refugiados de Lampedusa, com os pobres da Comunidade da Varginha, no Complexo da Maré, no Rio, com os menores em conflito com a lei, com quem fez questão de celebrar a Santa Missa, com os doentes, crianças e idosos a quem vive procurando em meio às multidões, com os moradores de rua de Roma, com quem tomou café da manhã no dia de seu aniversário. Francisco quer lançar luz, voltar os olhos da sociedade para aqueles a quem se evita ao máximo olhar.
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Abertura ao diálogo e ao encontro com o diferente

Ficou célebre na história o encontro entre São Francisco e o Sultão do Egito (Melek-el-Kamel), por volta do ano de 1219. O santo enfrentou muitas dificuldades para chegar diante do sultão, mas, ocorrido o encontro, contam os biógrafos que o líder político e religioso ficara impressionado e profundamente comovido com o espírito e a postura de Francisco de Assis.
A amizade de longa data entre o Cardeal Bergoglio e o Rabino argentino Abraham Skorka, desde o tempo em que era arcebispo de Buenos Aires, gerou, e tem gerado, muitos frutos de diálogo e aproximação entre Cristianismo e Judaísmo. Como Papa, Francisco fez questão de evidenciar esta amizade e, através dela, acenar para o mundo sua abertura ao diálogo inter-religioso e ao ecumenismo, tanto que Skorka foi um dos primeiros convidados a quem Francisco recebeu depois de ter sido escolhido como Sumo Pontífice. Ainda no mesmo intuito, o Papa recebeu uma comitiva de líderes judaicos da Argentina para um encontro seguido de almoço em Roma e também anunciou há poucos dias sua visita à Terra Santa para o mês de maio deste ano.

Sob a influência do Papa, outras importantes lideranças católicas têm realizado gestos emblemáticos que revelam esta postura de cultivo de profundos laços de fraternidade. Em encontro ecumênico realizado em uma Igreja Evangélica dos Estados Unidos, o cardeal de Boston, Dom Frei Sean O’Malley, OFMCap (franciscano capuchinho), pediu à Reverenda Anne Robertson, pastora da Igreja Metodista Unida, que ungisse sua fronte com óleo e o abençoasse, imagem que correu o mundo pela internet e provocou grande repercussão.

• Despojamento e austeridade em relação aos bens materiais

 Na época de Francisco de Assis, a burguesia emergente apostava na posse de bens e riquezas como um trampolim para alçar voos em direção ao poderio até então reservado exclusivamente aos nobres. E Pedro Bernardone, pai do santo, pertencia a este efervescente grupo, transmitindo também ao filho os sonhos ambiciosos de se tornar “alguém na vida”. Imbuído de tais sonhos, Francisco buscou empenhadamente galgar sucesso percorrendo o caminho proposto por seu genitor. No entanto, após seguidos fracassos, interpretados post factum como ação da Providência Divina, o jovem assisense virou as costas para este projeto “mundano” e passou a perseguir a “santíssima pobreza”, aquela que o tornava mais parecido com o Filho de Deus, que se fez pobre, com sua mãe pobrezinha, neste mundo.

E Francisco, o Papa, também ama o despojamento e manifesta tal opção em diversos sinais: escolhe não usar todos os paramentos a que teria direito enquanto papa, especialmente aqueles que seriam símbolos de ostentação de um poder imperial que pouco ou nada diz da simplicidade de Cristo; prefere morar como mais um hóspede da Casa Santa Marta, em vez de ocupar, solitariamente, a solenidade e a vasta dimensão dos aposentos papais; assume postura rigorosa e exigente no que diz respeito à administração do Banco do Vaticano; pede aos religiosos que coloquem suas casas e estruturas, muitas delas subutilizadas, a serviço dos pobres; denuncia a ganância e exploração que marcam a busca desenfreada e desumana da acumulação de dinheiro por parte de poucos; Convida à partilha e ao trabalho em prol do bem comum.

Em Assis, ao se encontrar com os pobres assistidos pela Cáritas, disse: “O despojamento de são Francisco diz-nos simplesmente o que o Evangelho ensina: seguir Jesus significa pô-lo em primeiro lugar, despojar-nos de tantas coisas que possuímos e que sufocam o nosso coração, renunciar a nós mesmos, tomar a cruz e carregá-la com Jesus. Despojar-se do eu orgulhoso e desapegar-se do desejo do ter, do dinheiro, que é um ídolo que possui. Todos estamos chamados a ser pobres, a despojar-nos de nós mesmos; e por isso devemos aprender a estar com os pobres, partilhar com quem não tem o necessário, tocar a carne de Cristo! O cristão não é alguém que enche a boca com pobres, não! É alguém que se encontra com eles, que olha para eles de frente, que toca neles. Estou aqui não para ‘ser notícia’, mas para indicar que este é o caminho cristão, o que percorreu são Francisco. São Boaventura, falando do despojamento de são Francisco, escreve: ‘Assim, portanto, o servo do Rei altíssimo foi deixado nu, para que seguisse o Senhor nu crucificado, objecto do seu amor’. E acrescenta que assim Francisco se salvou do ‘naufrágio do mundo’” (FF, 1043).

• Postura profética, autocrítica e propositiva

Francisco de Assis não se furtava em advertir seus irmãos quando percebia que a postura deles punha em risco não a instituição, a Ordem dos Frades Menores, mas a fidelidade evangélica que um dia escolheram abraçar. Por isso alertava em relação aos perigos da vaidade, da ambição, do orgulho, da autossuficiência, do comodismo, do desânimo, do apego a cargos. Admoestava com caridade, mas também com firmeza.

O Papa Francisco assume a mesma linha, às vezes usando expressões duras ou até jocosas: pediu aos consagrados e consagradas que não se comportassem como “solteirões e solteironas”, mas assumissem a postura de fecundos “pais e mães espirituais”; vive conclamando aos padres para deixarem a acomodação e irem ao encontro do rebanho, sem ficar tosquiando e explorando sempre as mesmas ovelhas; declarou que padres corruptos não oferecem aos fiéis o pão da vida, mas servem às ovelhas um “pasto envenenado”; recordou que padres apegados a dinheiro e a bens materiais, como carros, por exemplo, ferem profundamente o coração do povo e muitas outras “tiradas” que revelam um profundo senso de autocrítica e conhecimento da realidade.

Fiel à escolha do nome, o Papa Francisco tem sido uma voz profunda e necessária a ecoar no seio da Igreja e do mundo, chamando a atenção para verdades e urgências que não podem ser mais desconsideradas. Que o “Efeito Papa Francisco” permaneça vigoroso, provocando, despertando o coração dos seguidores de Cristo rumo à transformação da humanidade.

Texto extraído de : http://www.franciscanos.org.br/?p=51449

20 de janeiro de 2014

Religiosa que viveu no Brasil será beatificada em outubro .


Tudo o que acontece é bom, porque vem de Deus”, sempre dizia a religiosa Maria Assunta Caterina Marchetti, conhecida como Madre Asssunta, que será beatificada em São Paulo, no dia 25 de outubro. Em carta oficial enviada, em 17 de dezembro de 2013,  à superiora geral das Missionárias de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas, irmã Neusa de Fátima Mariano, o secretário de Estado do Vaticano, dom Angelo Becciu, comunicou oficialmente a aprovação da beatificação de Madre Assunta.

O secretário informou ainda que o papa permitiu que a celebração do rito de beatificação fosse realizada no Brasil. Francisco nomeou como seu representante e presidente da celebração, o prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, cardeal Angelo Amato.

“Acolhemos esta notícia com grande alegria e júbilo, pois é uma graça para a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu-Scalabrinianas”, disse irmã Neusa. “Acreditamos que a beatificação será portadora de muitos frutos de santidade e de renovação espiritual para todos os membros do Instituto e ao mesmo tempo que é portadora de um novo vigor na vivência de nossa consagração religiosa no serviço aos migrantes”, acrescentou.

Ainda de acordo com a Superiora Geral, se pode dizer que, “na trajetória missionária, Madre Assunta deixou um legado profundo de autêntica fidelidade ao carisma Scalabriniano, ao mesmo tempo que permeia o nosso futuro de esperança. E convidou todos os fiéis a participarem deste momento importante para a Congregação e a Igreja. “É com esse espírito que queremos celebrar  este evento eclesial, para o qual convidamos todo o povo de Deus para que se una a nós e participem deste grande evento da Beatificação da Venerável Madre Assunta Marchetti, mãe dos órfãos, imigrantes e abandonados”, concluiu.

Natural de Lombrici di Camaiore, província de Lucca, Itália, Maria Assunta nasceu em 15 de agosto de 1871. Veio para o Brasil em outubro de 1895, a pedido do seu irmão, padre José Marchetti, missionário de São Carlos, ordem fundada em 1887 pelo bispo de Piacenza, João Batista Scalabrini, para cuidar dos órfãos filhos de imigrantes italianos e africanos que viviam em São Paulo.

Madre Assunta viveu no Brasil por mais de cinquenta anos. Faleceu em 1º de julho de 1948, no orfanato na Vila Prudente (SP), onde foram enterrados seus restos mortais.  A madre Assunta passou os últimos meses de sua vida em uma cadeira de rodas, mas sempre atenta em servir o próximo.
O milagre

Em 1994, Heráclides Teixeira Filho foi diagnosticado com morte cerebral, no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS). Após a família pedir a intercessão de Madre Assunta, o paciente recobrou os sentidos e ficou curado sem sequelas. No dia 19 de dezembro de 2011 aconteceu a promulgação do Decreto das Virtudes Heroicas de Madre Assunta Marchetti, reconhecidas pelo papa Bento XVI. O milagre atribuído à venerável Madre Assunta foi reconhecido no dia 09 de fevereiro de 2012 pela equipe de médicos da Congregação da Causa dos Santos do Vaticano.

Fonte: site CNBB

16 de janeiro de 2014

Reflexão - Futuro


“Não basta saber, é preciso também aplicar; não basta querer, é preciso também fazer” (Johann Goethe). 

Tudo começa com o nosso desejo, pois este é anterior ao querer! Então é preciso desejar positivamente e alimentar o querer com essa energia boa e transformadora. Depois é preciso agir, trabalhar, fazer… Você começa a aplicar a “Lei da Atração” a seu favor quando você povoa sua mente de sonhos, projetos e expectativas boas em relação ao futuro.

Aja construtivamente. Isto quer dizer que você deve ver o que é que você acha que precisa para estar preparado (a) e dar passos concretos… Esta é a melhor forma de apagar o medo sem impactar a sua mente subconsciente com imagens de preocupação… Uma coisa de cada vez, mas com passos concretos e metas a serem atingidas.

Frei Paulo Sérgio, ofm

10 de janeiro de 2014

Reflexão - Sonhar


“No quintal por trás de casa, tem um pé de sonho, que não para de florar” (R. Fagner). 

Sonhar é bom e nos impulsiona a outro patamar da existência… Sonhar é contemplar as estrelas, deliciar-se com uma noite de lua cheia! Sonhar eleva o coração e refrigera a alma; sonhar é acreditar numa vida mais bonita onde as pessoas aprenderão a viver e a con-viver no respeito, na solidariedade e na paz! Sonhar é acreditar na vida; na sabedoria do idoso…

Procure também realizar seus sonhos, estabelecendo metas plausíveis. Sonhe e faça! Faça a sua parte, faça o que está a seu alcance. Deus não quer que você faça o impossível… Isso é tarefa de’Ele! Cumpra com alegria e amor a missão de cada dia e seja grato a Deus e às pessoas. Cultive um jardim dentro do seu coração e, se possível, um jardim na sua casa. O mundo precisa de mais beleza e de mais alegria!

Tenha um ótimo e florido fim de semana…

Frei Paulo Sérgio, ofm

9 de janeiro de 2014

O Evangelho é loucura de Deus


Não duvidamos. Francisco de Assis compreendeu a importância fundamental do Evangelho. Uma primorosa “biografia” de São Francisco foi escrita pelo irmãozinho de Jesus Carlo Carreto (Paulinas, 1981).

 Ele faz Francisco dizer o seguinte: “Vocês podem até me censurar, censurem-me, mas o que eu via no Evangelho era o ir além: ir além de todas as culturas, de todas as construções humanas, de todas as civilizações. 

O Evangelho eu sentia como algo eterno, ao passo que a cultura e a política eu as sentia no quadro da época, inclusive a cultura cristã. Eu sempre fui feito para ir além da minha época. Para buscar a justiça e a igualdade humana bastava o Antigo Testamento, bastava ler o Deuteronômio, o Livro dos Reis, o Levítico. 

Neles aprendemos a construir o Estado, segundo as normas do bom senso e da velha mentalidade teocrática. 

Neles aprendemos a fazer a guerra, a prender os maus, a dividir a presa, a matar, a torturar, às vezes, até mesmo em nome de Deus, como se tem feito algumas vezes também entre nós.. Mas o Evangelho é algo diferente. 

O Evangelho é a loucura de um Deus que perde sempre e se faz crucificar para salvar o homem. O Evangelho é a loucura de homens que clamam pelas bem-aventuranças mesmo em meio ao pranto, à indigência, à perseguição. Isso eu havia compreendido. 

E o compreendera justamente porque os homens sábios e equilibrados me teriam destruído – e eu invocava a loucura para salvar-me. E estava contente por ter encontrado a verdadeira loucura que salva: o Evangelho” (p. 61-62).

Frei Almir Ribeiro Guimarães 

Texto extraído de: http://www.franciscanos.org.br/?p=52687

6 de janeiro de 2014

Reflexão - Novidade


“A esperança é o sonho do homem acordado”.
 Aristóteles

A esperança é o único bem comum a todas as pessoas; aqueles que nada mais têm, ainda a possuem, pois esta é como um dom divino plantado em nossas almas. A esperança precisa pulsar forte em nós como uma energia a nos impulsionar para seguirmos adiante contra toda desesperança…

O novo muitas vezes nos apavora, pois nos tira de nossa zona de conforto. Mas é preciso seguir por novos caminhos… é preciso abrir picadas na floresta não desbravada. É preciso ter a coragem de sonhar e de acreditar nos sonhos. É preciso atingir o cume da existência e celebrar o melhor da vida!

Tenha uma abençoada e produtiva semana…

Frei Paulo Sérgio, ofm

4 de janeiro de 2014

Reflexão - Metas


O tempo novo que se abre diante de nós nos convida a re-começar! Então, olhe para o passado e aprenda com os erros e procure melhorar aquilo que já está dando certo. Procure refazer seu planejamento, consulte o do ano passado e avalie o que foi realizado. Nada de ficar parado, comemorando o que já ficou para trás…

Olhe para frente e planeje outra vez sua vida. Procure traçar metas possíveis. Eleja uma meta de curto, outra de médio e outra de longo prazo. Escolha um vício que você quer (e pode) vencer ao longo deste ano. Lembre-se: acreditar é essencial, mas ter atitude é o que faz a diferença. Então, tenha fé em Deus e em você mesmo e tenha atitude necessária para crescer, ir além, transcender…

Frei Paulo Sérgio, ofm

3 de janeiro de 2014

Deus desceu misericordiosamente com sua graça

Reflexão sobre o Sagrado Coração de Jesus para a primeira sexta-feira do mês. 

Por Frei Almir Ribeiro Guimarães , OFM

 A piedade cristã se compraz em contemplar o amor do Redentor de modo particular nas primeiras sextas-feiras de cada mês, dia consagrado ao Coração de Jesus. Os discípulos do Senhor Jesus se detêm diante do peito dilacerado do Senhor Jesus e se deixam purificar com águas salutares que brotam desse Coração cheio de graça.

cruz

 No tempo do Natal e da Epifania entramos em contato com o tema da bondade do Senhor que se manifesta na singeleza de um Deus que se torna criança, na kenosis do  Senhor. Aquele que sobe às alturas da cruz é o mesmo que desceu até nós na encarnação. 

Santo  Agostinho: “O Criador tornou-se criatura para encontrar o que estava perdido. Por isso, o homem confessa nos salmos:  Antes de ser humilhado, eu pequei (cf. Sl  118, 67). O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente. O homem caiu por orgulho, Deus desceu com sua graça” (Santo Agostinho,  Liturgia das Horas I, p. 486-487).

Agostinho fala do pecado do orgulho, aliás, o mais grave e único pecado.  O homem quer ser Deus, quer ser dono absoluto de seu destino, quer ter em mãos todas as cordas de sua vida. Compreende-se que as pessoas devam ser educadas para a garra, para a fortaleza, para o empreendimento. 

Não podemos defender uma espiritualidade cristã de seres que vivem se apagando, negando sua dignidade, renunciando ao esforço, negando sua nobreza de criaturas do Altíssimo.  Há, no entanto, essa tentação da autossuficiência, do homem que se coloca à frente, superior aos outros, esse homem que come do fruto da árvore porque quer ser como um Deus. “O  homem caiu por orgulho,  Deus desceu com sua graça”.

O Deus que chega perto dos homens vem de mansinho, sem aparato. Nasce num canto do Oriente sem atabaques e fanfarras. Ele é uma criança com todas  as carências das crianças.  Mais tarde prestará atenção em todos.  Pousará o seu olhar no que é pequeno: no pecador Zaqueu e na mulher pobre que coloca no cofre do templo tudo o que possui. E ao longo de sua vida  mostrará o tesouro de sua misericórdia:  sacia os famintos, cura os doentes, perdoa os pecadores,  acolhe em seu regaço os pródigos. “O homem caiu por orgulho, Deus desceu com sua graça”.

E lá está ele, indefeso, suspenso na cruz entre o céu e a terra. O que desceu no presépio é levantado no madeiro. Perto dele um ladrão sente no coração o arrependimento. Volta-se para aquele que está preso, que se movimenta na cruz sofrendo desconforto. Pede ainda misericórdia ao Senhor.  “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Deus desceu com sua misericórdia. “O homem caiu por orgulho, Deus desceu por misericórdia”.