Por Frei Almir R. Guimarães, OFM.
Cristãos que somos pretendemos ser discípulos do Senhor. Cultivamos e cultivaremos cada vez mais intensamente nossa amizade pessoal pelo Senhor. Sentimos que precisamos de despojamento, simplicidade e gosto de mergulhar no silêncio. Discípulo e Mestre caminham juntos e caminham a vida inteira.
O ideal mais decidido de Francisco: “Sua maior intenção, seu desejo principal e plano supremo era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas” (1Celano 84).
Quando chegam os irmãos, Francisco compreende que viverão todos do Evangelho e buscarão a amizade com Cristo: “Depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou, o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que devia viver segundo a forma do Santo Evangelho. E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples e o Senhor Papa mo confirmou” (Testamento 14).
Caminho de formação do seguidor de Jesus: “Olhamos para Jesus o Mestre que formou pessoalmente a seus apóstolos e discípulos. Cristo nos dá o método: “Venham e vejam” (Jo 1, 39). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Com ele poderemos desenvolver as potencialidades que há nas pessoas e formar discípulos missionários. Com perseverante paciência e sabedoria, Jesus convidou a todos que o seguissem. Àqueles que aceitaram segui-lo, os introduziu no mistério do Reino de Deus, e depois de sua morte e ressurreição os enviou a pregar a Boa Nova na força do Espírito” (Doc. Aparecida, 276).
O seguimento é fruto de uma fascinação pelo Mestre: “O caminho da formação do seguidor de Jesus lança suas raízes na natureza dinâmica da pessoa e no convite pessoal de Jesus Cristo que chama os seus pelo nome e estes o seguem porque lhe conhecem a voz. O Senhor despertava as aspirações profundas de seus discípulos e os atraía a si maravilhados. O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo da realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como mestre que o conduz e acompanha” (Doc. Aparecida, 277).
Quando o Senhor chama não quer que a resposta demore a ser dada. Há uma urgência. Chama: “Vem e segue-me!” O Senhor pede pressa: “O Senhor é impaciente: quer que o chamado responda logo à ocasião oferecida. Esta espécie de “pressa divina” é sublinhada em diferentes textos vocacionais dos evangelhos: imediatamente deixaram as redes e o seguiram (Mc 1, 18). Imediatamente Jesus os chamou e eles puseram-se a segui-lo (Mc 1,20); Jesus disse: “Segue-me”. “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Ao imediatamente do chamado corresponde o imediatamente da resposta. Elemento para seguir o Mestre é abandono ou desapego dos bens. Exige-se um desapego radical de tudo e de todos, de modo a estar plenamente disponível para segui-lo. Para ir atrás dele expeditamente, é preciso deixar a existência de antes. No entanto, não é um simples e obre deixar, mas é uma opção. De fato nos textos evangélicos não é colocado tanto o acento no deixar como no seguir. “(…) deixaram as redes e seguiram” (Mc 1, 18) (…) e eles deixando o pai, puseram-se a seguir Jesus” (Mc 1,20). “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Portanto, o “deixar” não é fim em si mesmo, mas está em função do “seguir”. É o verbo seguir que caracteriza o discípulo e não o termo aprender, muito menos o “deixar”. O desapego, o abandono, o deixar constituem o momento negativo; ao contrário, o momento positivo é constituído por aquilo que se tem em contrapartida. Deixa-se uma existência por outra; abandona-se todo o resto para viver a aventura da “sequela Christi” (Ubaldo Terrinoni, Projeto de pedagogia evangélica, Paulinas, p. 46-47).
Os que se encontram com Jesus e ouvem seu chamado passam por um processo de transformação que sempre foi designado pela palavra conversão. “A pessoa divina de Jesus investe e envolve de algum modo o chamado que lhe muda o projeto de vida, o modo de viver, de pensar e de agir. Lentamente, o discípulo se encontra com um novo modo de escolher e de avaliar as coisas, as pessoas, os acontecimentos. O mestre Jesus exerce sobre o discípulo tal poder de atração que se torna irresistível! O apóstolo Paulo dirá de si que foi “agarrado” por Jesus Cristo (Fl 3, 12) (Terrinoni, op.cit., p. 47).
O Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium mostra que precisa haver um laço estreito entre o encontro pessoal com o Senhor e a tarefa da evangelização - A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por ele, que nos impele a amá-lo cada vez mais. Um amor que não sentisse necessidade de falar da pessoa amada, de apresentá-la, de torná-la conhecida, que amor seria? Se não sentimos o desejo intenso de comunicar Jesus, precisamos nos deter em oração para lhe pedir que volte a cativar-nos. Precisamos implorar a cada dia a sua graça para que abra o nosso coração frio e sacuda nossa vida tíbia e superficial.
Colocados diante dele com o coração aberto, deixando que ele nos olhe, reconhecemos aquele olhar de amor que descobriu Natanael no dia em que Jesus se fez presente e lhe disse: “Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira” (Jo 1,48). Como é doce permanecer diante de um crucifixo ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente de seus olhos! Como nos faz bem deixar que ele volte a tocar nossa vida e nos envie para comunicar a sua vida nova! Sucede, então, que, em última análise “o que nós vimos e ouvimos, isto anunciamos” (1Jo 1,3). A melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se em suas páginas e lê-lo com o coração. Se o abordarmos dessa maneira, sua beleza deslumbra-nos, volta a nos cativar constantemente. Por isso, é urgente recuperar o espírito contemplativo que nos permita redescobrir, a cada dia, que somos depositários de um bem que humaniza e ajuda a levar uma vida nova. Não há nada melhor a transmitir aos outros” ( n. 264). T
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