31 de agosto de 2014

São Luís de França e os Franciscanos -II


Frei Sandro Roberto da Costa, ofm

Na “geografia” espiritual do Ocidente medieval, a França destaca-se, por ser a “filha primogênita da Igreja”[6]. Os monarcas franceses, por sua vez, em função da unção que recebem na cerimônia de consagração, com o óleo da “santa âmbula”, gozam de uma exclusividade sobre os demais reis europeus: são os reis mais cristãos da Europa, o rei da França é o “Rex Christianissimus”, o “Rei Cristianíssimo”.

Seguindo a tradição, o jovem príncipe foi educado, desde a mais tenra idade, dentro dos princípios cristãos, que também norteavam a vida de seus pais. Luís VIII era cognominado “Leão”, por sua bravura nos campos de batalha, mas também por sua firmeza no combate aos inimigos da fé, testemunhada principalmente no empenho para eliminar a heresia cátara no sul da França. Preocupados em dar uma boa formação religiosa e intelectual ao futuro rei, seus pais confiaram sua educação a preceptores de comprovado saber e fidelidade religiosa[7].

Sua mãe teve que enfrentar sérios desafios durante a minoridade do filho, até consolidar o poder. Nobres e opositores do reino argumentavam com a menoridade de Luís, e pelo fato de a regente ser uma mulher. A  Inglaterra aproveitou da ocasião para fazer valer seus direitos sobre territórios perdidos nos anos anteriores. Branca, todavia, soube mostrar seu valor, fazendo frente de modo corajoso e firme a todas as ameaças ao trono. Luís atingiu a maioridade aos dezenove ou vinte anos, em 25 de abril de 1234, e logo a seguir casou-se com Margarida de Provença. Sua mãe, no entanto, continuou ocupando uma posição de proeminência nas decisões mais importantes do reino.



[6] A França tem este título pelo fato de que Clóvis, o rei dos Francos (tribo bárbara que vai dar origem à França), ter sido batizado em 499, pelo bispo católico Remígio, sem ter antes passado pela heresia ariana, como os demais povos bárbaros.
[7] Frase famosa na Idade Média: “Um rei iletrado não passa de um asno coroado”.  

Continua...

Setembro, Mês da Bíblia


Apresentação

Mês de setembro, mês da Bíblia. Não dá para falar de São Francisco de Assis sem associá-lo à Palavra de Deus. A Igreja deu a ele o título merecido de “Homo Totus Evangelicus” e Frei Hugo Baggio escreve: “Ele soube verdadeiramente sentir a Palavra, não como um conjunto de símbolos ou uma transcrição escrita de uma fala de Jesus, mas como um ser vivo, palpitante, que podia ser tocado e cujo toque provocava calafrios e cujo som como que enchia os ares. Tocar no livro que continha a Palavra de Deus era como tocar no próprio Cristo”.

Frei Hugo lembra ainda que a relação Evangelho-Francisco, por todos os autores de seu tempo aos nossos dias, foi percebida como uma verdadeira revolução. “Se de um lado causa admiração como o Evangelho estava marginalizado pela Igreja, melhor dito, pelos homens da Igreja, do outro lado, causa admiração como Francisco, numa simplicidade comovente, faz com que o Evangelho volte ao centro da vida cristã e faça com que a mensagem de Cristo se transforme em vida”.

Neste Especial, oferecemos alguns textos que mostram como o Evangelho pautou a vida de Francisco e serviu para fundamentar a Regra da Ordem dos Frades Menores. Como diz Elói Leclerc, no livro “Francisco de Assis, o Retorno do Evangelho”, o que dá à experiência evangélica franciscana sua verdadeira dimensão e seu poder de sedução é, precisamente, esse encontro entre o Evangelho e as aspirações profundas do homem, entre a mensagem de Jesus e as forças criativas da história”. Para complementar, textos da Bíblia Sagrada, da Editora Vozes, são didáticos e ajudam a entender melhor o Livro dos Livros.

30 de agosto de 2014

São Luís de França e os Franciscanos - I

Frei Sandro Roberto da Costa, ofm

O século XIII é um dos mais fecundos na história da Idade Média. O surgimento das universidades testemunha a sede de saber e a efervescência do pensamento filosófico e teológico. A ebulição religiosa se traduz  na construção das magníficas catedrais, onde a fé transforma pedras em arte, beleza, e luz. No século XIII são fundadas também algumas das mais importantes Ordens religiosas da Igreja, os dominicanos e os franciscanos em particular, com seus respectivos santos: Francisco de Assis, Domingos de Gusmão, Antônio de Pádua, Clara de Assis, Boaventura, Tomás de Aquino, entre outros. Por outro lado, é um século marcado pela inquietude religiosa, pelo espocar das heresias, marcadamente em território francês, pela luta entre papado e império, pelo recrudescimento da inquisição, pela ameaça constante do islã, pelas cruzadas, e pelas lutas internas entre os reinos, que aos poucos vão configurando o espaço geográfico que mais tarde seria conhecido como Europa[1]. A França ocupa um lugar de destaque neste cenário[2]. Na passagem do século XII para o século XIII, seus monarcas estão entre os mais célebres e respeitados do Ocidente.

Um dos pressupostos da história é a capacidade de fazer “memória”, de tornar vivo e presente fatos, personagens e acontecimentos que, de outro modo, seriam relegados ao baú do eterno esquecimento. No presente artigo, nosso objetivo é fazer memória da vida de Luís de França. Queremos conhecer um pouco mais sobre este personagem medieval, leigo, homem de governo, pai de família, cristão fiel. Queremos fazer isso nos questionando sobre o papel desempenhado pelos frades franciscanos em sua vida, suas mútuas relações e interações, que o fizeram ser alçado ao posto de Patrono da Ordem Franciscana Secular.

Apresentar um texto a respeito de um personagem que viveu há oitocentos anos atrás, sobre o qual, aparentemente tudo já foi dito, pode parecer uma temeridade[3]. Temeroso também é se aventurar a retratar a vida de um sujeito histórico envolto em polêmicas, fruto, em alguns casos, de uma compreensão descontextualizada de sua vida, de seu tempo e da própria história. Mesmo assim, dados os múltiplos contextos e as múltiplas relações nas quais esteve envolvido este soberano medieval, acreditamos que seja possível apresentar alguns enfoques particulares, que lancem luzes sobre alguns aspectos de sua vida, e que podem, ao mesmo tempo, iluminar a história que estamos vivendo, escrevendo e construindo. Por isso, não vamos nos ocupar exaustivamente da vida de São Luís. Embora façamos um breve sobrevoo sobre sua biografia, seus feitos em geral, nosso foco é específico: a influência do movimento franciscano na vida de Luís IX[4].    

1.      Luís IX
O ano do nascimento de Luís não nos é conhecido. Sabe-se que o dia 25 de abril de 1214 pode ter sido tanto a data de seu nascimento, como de seu batismo. O fato é que, com apenas doze anos, por causa da morte de Luís VIII, seu pai, o menino tem que assumir um dos tronos mais importantes do Ocidente. No dia 30 de novembro de 1226, menos de dois meses após a morte de Francisco de Assis, o pequeno Luís era sagrado rei, na cidade de Reims, na França, com o título de Luís IX. Até Luís atingir a maioridade, a rainha Branca de Castela, sua mãe, será a tutora do rei e regente do reino[5].



[1] A realização do IV Concílio do Latrão (1215), com seus cânones relacionados à vida cristã em geral, à pregação, às cruzadas, às Ordens mendicantes, ao combate às heresias, entre outros, serve-nos como paradigma para ilustrar a efervescência espiritual do momento.

[2] O que hoje conhecemos como França era, no século XIII, composto de uma série de reinos, mais ou menos independentes, sob controle do monarca francês. Só no século XV é que os reis vão conseguir o domínio efetivo de todo o território, que corresponde à França atual. 

[3] Uma obra imprescindível para se conhecer a vida de Luís de França, constituída de quase 900 páginas de conhecimento e erudição medieval: Le Goff, Jacques, São Luís, Record, RJ e SP 1999.

[4] Tratar da vida de um rei santo nos coloca o sério risco de cairmos em lugares-comuns, sem uma visão crítica. Não ignoramos o uso ideológico que se fez da atuação de Luís, nem o uso político que se fez da religião, ou o modo como seus biógrafos utilizaram-se de sua piedade e devoção, para criar a imagem de um rei santo como governante ideal. Varias destas facetas foram e continuam sendo exploradas nos meios acadêmicos. Do mesmo modo, não ignoramos a tênue linha que separa a biografia da hagiografia. Nas poucas páginas de um artigo, porém, não podemos fazer a “exegese” dos gestos religiosos e políticos de Luís, como foram apresentados por seus biógrafos, ou o modo como foram assimilados, apropriados e, em alguns casos, manipulados em função do poder.

[5] Quando da morte de São Francisco, os frades de Assis enviaram de presente à mãe do rei o travesseiro que o santo costumava usar durante sua doença. Tomás de Celano faz referência aos milagres realizados na França através desta relíquia: “Quantas maravilhas Francisco realiza somente na França, aonde acorrem o rei e a rainha dos franceses e todos os grandes para beijar e venerar o travesseiro que São Francisco usava na enfermidade?”. Fontes Franciscanas e Clarianas, Tradução de Celso Márcio Teixeira, Vozes/FFB, Petrópolis 2004, Primeira Vida de Celano 120, p. 283. 

Continua

30/08 - Bem-aventurado Junípero Serra


Sacerdote da Primeira Ordem, apóstolo da Califórnia (1713-1784). Beatificado por João Paulo II no dia 25 de setembro de 1988.

Este bem-aventurado, conhecido como o Apóstolo da Califórnia, nasceu em Petra na ilha de Maiorca, a 24 de novembro de 1713, de Antônio Serra e Margarida Ferrer, pais exemplares pelos costumes e piedade, embora pessoas de pouca instrução. A criança foi batizada com o nome de Miguel José e foi crismado com a idade de apenas dois anos, por ocasião da visita do bispo de Maiorca, Atanasio Esterripa. Criança ainda, ajudava os pais nos trabalhos do campo e freqüentou a escola anexa ao convento franciscano de São Bernardino, dando provas de inteligência viva e aberta e desta forma pôde ser encaminhado para fazer estudos superiores.

Depois de um ano de estudos filosóficos no convento de São Francisco de Palma, com 17 anos, vestiu o hábito franciscano no convento Santa Maria de Jesus. A 15 de setembro de 1731 emitiu os votos religiosos mudando o nome de batismo para o de Junípero, devido à grande admiração que tinha para com Frei Junípero, um dos primeiros companheiros de São Francisco. Concluídos com brilhantismo os estudos teológicos, foi ordenado diácono em 1736 e, posteriormente, sacerdote. Em 1743, já tinha sido designado para o ensino de filosofia no convento de São Francisco de Palma. Nesse período manifestou dotes de fino orador. Foi chamado a ocupar a cátedra de teologia escotista na Universidade Lulliana de Palma de Maiorca. Nunca haveria de deixar o ministério da pregação.

Aos 35 anos de idade, não obstante a fecundidade de seu apostolado na ilha, Frei Junípero, obedecendo a uma vocação interior, partiu rumo às Missões da América junto com um seu discípulo, Frei Francisco Palòu. Os dois permanecerão juntos por toda a vida. Partiram no dia 13 de abril de 1749, de Málaga. Depois de dramática travessia chegaram a São João de Porto Rico no dia 18 de outubro e a 7 de dezembro alcançaram Vera Cruz, na costa sul do México. A pé prosseguiram até a cidade do México. Passou a exercer apostolado junto aos indígenas falando em sua língua. Fez um catecismo na língua do povo e ensinava rudimentos de ciência e técnicas a respeito do trabalho da terra.

Graças à ajuda dos que eram missionados, Junípero e seu colega puderam construir em Santiago de Jalpán uma igreja de pedra, de estilo barroco ainda hoje tido como monumento de interesse histórico e tomado, posteriormente, como modelo para a realização de quatro outras igrejas na missão. Em seu trabalho pastoral insistia nas graças dos sacramentos da eucaristia e da reconciliação. Costumava confessar-se a seu confrade Frei Francisco diante de todos, antes da celebração da missa. Levou os indígenas a uma qualidade de vida respeitável e digna.

O colégio de São Ferdinando (Fernando), ao qual padre Serra pertencia, em 1751 contava com cinco missões das quais ele tinha sido nomeado presidente e primeiro responsável até que foi enviado por seus superiores ao Texas para restaurar a missão de São Sabas destruída um pouco antes pelos índios Apaches, tarefa pouco depois revogada, devido ao perigo que comportava para o missionário. De 1758 até 1767 permaneceu no colégio apostólico de São Ferdinando como mestre de noviços e pregador de missões em várias dioceses mexicanas. Nunca deixou de frisar a importância das celebrações litúrgicas, mas, sobretudo, implantará modelo de vida comunitária e de organização econômica, ensinando como trabalhar o campo, criar o gado e exercitar-se na arte da cerâmica.

Em junho de 1767, depois da expulsão dos jesuítas das possessões do vice-reino de Espanha por decisão de Carlos III, as missões da Baixa Califórnia foram confiadas aos Franciscanos e Frei Junípero foi nomeado seu superior. Em 1º de abril de 1768, junto com 14 companheiros, empreendeu a corajosa e extenuante viagem rumo à península da Baixa Califórnia, cujo clima é caracterizado por longos períodos de seca e de temperaturas muito elevadas. Estabeleceu o quartel general da missão em Loreto. Fez o que pode sempre sob a vigilância do governo civil sobre as missões. Incansável foi seu trabalho também porque a população local vivia somente de caça e da pesca desconhecendo as técnicas do cultivo da terra.

Depois de dois anos, devido também às condições econômicas favoráveis, pôde fundar a primeira missão californiana de San Diego de Alcalà. Deslocou-se na direção da Alta Califórnia e fundou as Missões de São Carlos Borromeu, de Santo Antônio de Pádua, São Gabriel e de São Luis Bispo e muitas outras. Segue-se um período de incompreensão com um comandante militar da Nova Espanha, José de Galvez. Por este motivo, o bem-aventurado retirou-se a pé para o México permanecendo no Colégio de São Ferdinando até 13 de março de 1774. Volta aos antigos campo de atividade. A missão prosseguia lenta mas perseverantemente. Foram refundadas as missões destruídas pelos índios e abertas outras novas. No final de tudo, retirou-se com seu confrade fiel para Monterey, na Califórnia, que escreveu a biografia do bem-aventruado como testemunha ocular.

Merecidamente, Junípero Serra foi definido como um colosso de evangelizador. Durante dezessete anos, precisamente de 1767 a 1784 percorreu, apenas na Califórnia, perto de 9.900km a pé, 5.400 em embarcação, não obstante a idade e as enfermidades. Fundou 9 missões, das quais derivam os nomes franciscanos de cidades californianas muito importantes, como São Francisco, São Diego, Los Angeles, etc.

Frei Junípero, fortemente debilitado em sua saúde, pela asma e gangrena numa perna, morreu a 28 de agosto de 1784 no retiro do Carmelo de Monterrey na Califórnia com 71 anos de idade, sendo que 36 deles foram dedicados à missão.

Considerado o pai dos índios, foi honrado como herói nacional. Desde 1º de março de 1931, a sua estátua representando o Estado da Califórnia, está entre as outras dos Pais fundadores dos Estados Unidos na Sala do Congresso de Washington, estátua única de um religioso no Santuário dos americanos ilustres. O ponto mais alto da cordilheira de montanhas de Santa Lucia na Califórnia tem o seu nome.

Joao Paulo II o beatificou a 25 de setembro de 1988.

Existe um movimento de promoção de vocações sacerdotais que leva o seu o seu nome, ou seja, os Clubes Vocacionais Serra.
(Tradução e adaptação da obra Frati Minori Santi e Beati, publicada pela Postulação Geral da Ordem dos Frades Menores, Roma 2009, p. 334-337).

29 de agosto de 2014

29/08 - Bem-aventurados João de Perugia e Pedro Sassoferrato


Religiosos, mártires da Primeira Ordem (+ 1231). Aprovou seu culto Clemente XI no dia 31 de janeiro de 1705.

João de Perugia, sacerdote, e Pedro de Sassoferrato das Marcas, irmão leigo, entraram na história de santidade da Ordem Franciscana entre os discípulos do seráfico Pobrezinho. Recebido na Ordem dos Frades Menores, antes de 1221, não sabemos detalhes sobre sua vida antes de ser religioso. Todos heroísmo dele e a veneração dos fiéis partem do martírio vivido por ele.

Em 1221, São Francisco enviou um grupo de discípulos como missionários para a Espanha, então invadida pelos mouros. Entre esses pioneiros do Evangelho, São Francisco escolheu também os bem-aventurados João de Perugia e Pedro de Sassoferrato.

Ao chegar à terra de Espanha, os dois santos confrades foram separados do outro grupo religioso e se dirigiram para Aragão, fixando residência em Teruel. O povo desta cidade se interessou por estes virtuosos franciscanos de Assis, que trouxeram o verdadeiro espírito evangélico do Seráfico Pobrezinho. Para eles construíram um convento com duas celas (pequenos quartos), ao lado da pequena igreja do Santo Sepulcro.

Sua permanência em Teruel se prolongou por 10 anos, nos quais evangelizaram com o bom exemplo, pregando o Evangelho com simplicidade, próprio dos primeiros seguidores de São Francisco. Esta pregação simples e incisiva produziu grandes resultados para a santificação dos fiéis.

Movido pelo Espírito Santo, um dia decidiram sair de Teruel e ir para Valência pregar a fé em Cristo para os seguidores de Maomé. Em seu coração, tinham a dupla esperança de converter os muçulmanos e alcançar a palma do martírio.

Em Valência, exerceram seu ministério entre os escravos cristãos. Um dia, inflamados com santo zelo, começaram a pregar a verdade do Evangelho e a refutar os erros do Islamismo em praça pública. Ao chegar a notícia aos ouvidos do rei Azoto, ordenou que os dois franciscanos fossem presos e detidos na prisão. Com mil promessas tentaram fazê-los abandonar sua fé católica e abraçar o profeta Maomé. Mas eles se recusaram absolutamente em se mancharem com tal delito.

Eles foram decapitados em praça pública no dia 29 de agosto de 1231. Segundo se conta, o governador que assinou a execução dos mártires se converteu depois disso e doou o seu próprio palácio para ser transformado em um convento dos Frades Menores. Suas relíquias foram transportadas para a catedral de Teruel, onde são venerados como padroeiros da cidade.

28 de agosto de 2014

28/08 - Bem-aventurado Vicente Ramirez


Religioso e mártir no Japão, da Primeira Ordem (1597-1622). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

Vicente de São José, mártir no Japão, nasceu em Aiamonte, Espanha, por volta do ano 1597. Ele migrou para o México e entrou como irmão leigo na Ordem dos Frades Menores, distinguindo-se pela observância da Regra e pelo exercício fiel dos mais humildes ofícios.

Bela aparência e comportamento nobre suscitaram admiração entre as mulheres, mas ele sempre soube defender sua castidade com prudência e mortificação. Em 1617, a ele se juntou Frei Luís Sotelo e Frei Pedro de Ávila em viagem para as Filipinas. De lá, em 1619, foi para o Japão, apesar da proibição muito rigorosa contra os missionários estrangeiros de desembarcarem nas ilhas japonesas. Colaborou com os padres e missionários e serviu de várias formas a comunidade cristã.

Em 7 de setembro de 1620 foi descoberto na casa de Domingos e Clara Yamada, juntamente com Frei Pedro de Ávila. Ele foi levado para a cadeia de Suzuta, onde não tinha higiene e a comida era escassa e ruim; lá permaneceu cerca de dois anos. A presença dos irmãos de fé e sacerdotes aliviava em grande parte os sofrimentos. O governador Gonrocu ordenou a sua transferência para Nagasaki, juntamente com outros 23 cristãos europeus e japoneses em setembro de 1622.

O que mais entristeceu Frei Vicente foi a traição de um apóstata, que conhecia o refúgio seu e de Frei Pedro de Ávila. O cristão traidor procurou um dia Frei Pedro para atendê-lo em confissão. O religioso pediu que ele se preparasse e voltasse depois. O traidor rapidamente procurou o governador para avisar da presença dos dois religiosos.

 Imediatamente, o governador enviou guardas para prendê-los. Amarrados pelos braços foram levados juntos para as prisões de Nagasaki e de Omura, onde já se encontravam os Pe. Apolinário Franco e dois outros franciscanos. Antes de partir para Omura, os dois confessores da fé tiveram o prazer de vestir o hábito franciscano e por todo o caminho Frei Pedro de Ávila pregou a fé em Jesus Cristo.

Frei Vicente Ramirez de São Jose foi queimado vivo em 10 de setembro de 1622. O castigo foi mais duro e agonia mais longa porque a madeira que foi queimada ficou colocada longe do poste, onde o mártir foi colocado. Vicente tinha apenas 25 anos.

27 de agosto de 2014

27/08 - Bem-aventurado Ricardo de Sant’Ana


Sacerdote e mártir no Japão, da Primeira Ordem (1585-1622). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

Ricardo de Santa Ana nasceu em Ham-sur-Heure, na Bélgica, em 1585. A seu nome de batismo acrescentou o nome de Santa Ana, pois, por intercessão da santa, muito venerada nos países do Norte da Europa, havia sido curado de ferimentos graves quando era criança e foi atacado por um lobo. Durante vários anos, ele exerceu o ofício de alfaiate em Bruxelas. Em 1604, a morte trágica de um jovem conterrâneo determinou uma crise religiosa e levou a abandonar sua profissão para entrar na Ordem dos Frades Menores no convento de Nivellesi, onde a 22 de abril de 1605 fez sua profissão solene.

Ele foi enviado por seus superiores a Roma para realizar alguns negócios. Lá ele conheceu João dos Pobres, que tinha como uma de suas principais atividades encontrar homens generosos para enviar como missionários para o Japão. Ricardo concordou e com o consentimento de seus superiores pôde partir para as terras de missão.

O primeiro passo foi viajar para o México; de lá, em 1611 desembarcou nas Filipinas, onde os superiores o enviaram para estudar filosofia e teologia. Em 1613 foi ordenado sacerdote e, no mesmo ano, pôde viajar para o Japão. No ano seguinte, as autoridades japonesas começaram a perseguir os cristãos. Entre as medidas adotadas uma foi a expulsão de missionários estrangeiros. Ricardo foi capaz de retornar ao Japão, disfarçado de comerciante. Desenvolveu uma atividade incansável entre os cristãos oprimidos pela perseguição violenta e em meio a perigos constantes. Em 1621, um dominicano informou que as autoridades tinham evidência da sua atividade religiosa, severamente proibida pelas leis, e aconselhou-o a buscar proteção.

Como um bom pastor não quis fugir do perigo e foi descoberto quando atendia confissão na casa da viúva Lucia Freitas. Primeiro foi trancado na prisão sob escolta pesada em Nagasaki. Ele passou a noite antes do martírio preso numa gaiola sob uma forte chuva. Na manhã de 22 de setembro foi amarrado a um poste, na colina de Nagasaki e queimado vivo. Ele tinha 37 anos. Com ele morreram outros 21, queimados vivos, 30 decapitados.

26 de agosto de 2014

26/08 - Bem-aventurado João de Santa Marta


Sacerdote e mártir no Japão, da Primeira Ordem (1578-1618). Beatificado pelo Papa Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

João de Santa Marta nasceu perto de Tarragona, na Espanha. Aos 8 anos, era um coroinha cantor da Catedral de Saragoza: ele estudou latim e era conhecido por seu amor à música. Mais tarde, ele se tornou parte da Schola Cantorum da Catedral de Zamora. Logo ele entrou para a Ordem Franciscana.

O bem-aventurado se mostrou fiel à graça da vocação, buscou a perfeição e se tornou um modelo de virtudes religiosas. Ordenado sacerdote, Deus inspirou-o a se consagrar ao apostolado entre os povos pagãos. Ele partiu para as Filipinas com Frei Sebastian de São José e outros 30 missionários franciscanos, muitos dos quais dariam logo a vida depois de Cristo.

João passou das Filipinas para o Japão, onde abriu uma escola de música que reuniu mais de 400 alunos, aos quais ensinava órgão, canto e outros instrumentos. No Japão, exerceu durante 10 anos um intenso apostolado, evangelizando várias províncias. Ele foi coordenador da Missão de Fuscimi, onde ele se mostrou um verdadeiro apóstolo de Cristo, incansável no trabalho de evangelização. Amante da pobreza seráfica, vestindo uma túnica remendada, caminhava descalço, sem sandálias, mesmo no inverno. Sua virtude valeu-lhe a veneração dos cristãos e mesmo dos pagãos.

No momento da promulgação do decreto de perseguição, em 1614, Frei João de Santa Marta foi banido, mas logo voltou no Japão e, disfarçado de japonês, visitou as províncias de Arima e Omura, onde a perseguição foi mais violenta. O santo missionário visitava os cristãos em suas casas, fortalecia os inseguros, administrava os sacramentos, celebrava a Missa diariamente, mudando de lugares. À noite, ele se retirava a uma montanha, onde repousava.

Ele foi colocado na prisão, onde permaneceu por três anos com um sofrimento incalculável. O confessor de Cristo viu chegar o dia da última batalha. Enquanto estava sendo levado ao matadouro ainda falou do Evangelho e cantou o “Te Deum”. À chegada do local do martírio orou por seus perseguidores, levantou os olhos ao céu e ofereceu a cabeça para o machado do carrasco. Foi em 16 de agosto de 1618 e tinha 40 anos. Algumas partes de seu corpo foram recolhidas por cristãos e passaram a ser veneradas, realizando prodígios.

25 de agosto de 2014

25/08 - São Luís IX, Rei da França - Copadroeiro da OFS


Rei da França. Protetor da Ordem Terceira (1215-1270). Canonizado por Bonifácio VIII no dia 11 de agosto de 1297.

Luís IX, rei da França nasceu aos 25 de abril de 1215. Foi educado rigidamente por sua mãe Branca de Castela e por ela encaminhado à santidade. Começou a ser rei da França em 1226. Casado com Margarida de Provença, ele impôs-se por toda vida exercício diário de piedade e penitência em meio de uma corte elegante e pomposa. Viveu na corte como o mais rígido monastério e tomou a todo o país como campo de sua inesgotável caridade. Quando o qualificavam de demasiado liberal com os pobres, respondia: “prefiro que meus gastos excessivos estejam constituídos por luminoso amor de Deus, e não por luxos para a vã glória do mundo”.

Sensível e justo, concedia audiência a todos debaixo do célebre bosque de Vincennes. Admirava-lhes sua serena justiça, objetiva supremo de seu reinado. A seu primogênito e herdeiro lhe disse uma vez: “preferiria que um escocês viesse da Escócia e governasse o reino bem e com lealdade, e não que tu meu filho, o governasse mal”. Toda sua vida sonhou em poder liberar a Terra Santa das mãos dos turcos. Por uma primeira cruzada promovida por ele terminou em fracasso. O exército cristão foi derrotado e dizimado pela peste. O rei caiu prisioneiro, precisamente a prisão de Luís IX foi o único resultado da expedição. As virtudes do rei impressionaram profundamente os muçulmanos, que o apontaram “o sultão justo”.

Em uma segunda expedição ao oriente, ele mesmo morreu de tifo em 1270. Antes de expirar mandou dizer ao Sultão de Túnez: “Estou resoluto a passar toda minha vida de prisioneiro dos sarracenos sem voltar a ver a luz, contanto que tu e teu povo possais fazer-se cristãos”.
Os terceiros franciscanos festejam neste dia 25 de agosto a seu patrono, São Luís, rei da França, ilustre coirmão na terceira Ordem da penitência. Foi sua mãe Branca de Castela que o encaminhou à santidade.

 Foi um terceiro franciscano que teve de Deus o encargo de exercitar a caridade em terras da França. Na história da França se recorda como um soberano sapientíssimo e também enérgico. O vemos praticar todas as obras de misericórdia convencional, traduz sua fé em ação e buscou no solo viver, e também governar segundo os preceitos da religião. São Luís IX, rei da França, morreu em 25 de agosto com a idade de 55 anos.

Os cruzados voltaram para a França trazendo o corpo do rei Luís IX, que já tinha fama e odor de santidade. O seu túmulo tornou-se um local de intensa peregrinação, onde vários milagres foram observados. Assim, em 1297 o papa Bonifácio VIII declarou santo Luís IX, rei da França, mantendo o culto já existente no dia de sua morte.

23 de agosto de 2014

23/08 - Bem-aventurado Bernardo de Ofida


Religioso da Primeira Ordem (1604-1694). Beatificado por Pio VI no dia 25 de maio de 1795.

O Beato Bernardo de Ofida nasceu aos 7 de novembro de 1604, em Ofida, nas Marcas de Ancona, na diocese de Áscoli (Itália), da humilde família dos Parani. Na infância dedicou-se a guardar rebanhos. Aos 22 anos foi recebido na Ordem dos Capuchinhos, no convento de Corinaldo, onde fez a profissão religiosa em 1627. Depois, no Convento, exerceu o ofício de enfermeiro, esmoleiro, cozinheiro, encarregado do quintal e porteiro, servindo seus irmãos. Distinguiu-se sempre pela sua caridade alegre e generosa, que lhe permitiu transformar todo seu trabalho no mais eficaz dos apostolados.

Aos 65 anos foi enviado para o convento de Ofida, onde prosseguiu seu trabalho de esmoleiro com muita alegria, vendo esse encargo como penitência e atividade apostólica muito proveitosa para as pessoas. O bispo de Áscoli, tendo sabido que os superiores pensavam mudá-lo de convento, foi ter com eles pedindo que o deixassem ali, pois, com sua vida de irmão simples e com vida tão evangélica e franciscana, fazia mais do que muitos missionários.

Frei Bernardo visitava os doentes para quem tinha sempre palavras de conforto. Quando dizia a algum doente que era preciso estar disposto a fazer a vontade do Senhor, era quase certa sua morte. Quando, pelo contrário, dizia que não tivesse receio porque a situação não tinha importância, era sinal de que o doente se curaria. Tinha como modelo São Félix de Cantalício. O encargo de esmoleiro era o campo do seu apostolado.

Partia, por longos caminhos, de povoação em povoação, com o alforje aos ombros, umas vezes coberto de pó e ensopado em suor debaixo do sol escaldante, outras vezes, coberto de neve com os pés intumescidos e a sangrar. Porém, sempre feliz e a prosseguir a sua missão, dócil na obediência, que considerava o único guia seguro na sua vida religiosa. Um dia, quando esmolava, recebeu apenas um bocado de pão e um frasco de vinho.

No convento, não havia mais nada. Aquilo, porém, foi o suficiente para toda a comunidade. Por vezes, quando recebia insultos em vez do pão e do vinho, continuava sereno e dizia a si mesmo: “Mantém-te alegre, Frei Bernardo, porque o pão e as demais esmolas são para o convento e os insultos são para ti”. Quando ouvia criticar qualquer pessoa, interrompia e dizia: “A verdadeira caridade compreende todas as faltas. Não julgueis e não sereis julgados”. À medida que ia envelhecendo, redobrava suas orações e penitências. Quando tinha 84 anos, seus superiores, vendo que este irmão velhinho se ia extinguindo, dispensaram-no dos seus encargos.

Era edificante vê-lo, então, prostrado diante de Jesus sacramentado em profunda adoração. Aos 22 de Agosto de 1694 recebeu o sagrado Viático e a Unção dos enfermos. Depois, dirigindo-se ao seu guardião, disse-lhe: “Irmão guardião, dai-me vossa bênção e mandai-me partir para o Céu”. Respondeu-lhe o guardião: “Espera, frei Bernardo, quero que antes me abençoes e abençoes também os teus irmãos”. Em nome da obediência, nosso irmão levantou a mão, que apertava o crucifixo, e traçou sobre os presentes grande sinal da cruz.
Antes de morrer, recomendou aos seus irmãos a observância fiel da Regra, o amor fraterno, a paz e a caridade para com os pobres. Após ter recebido a bênção e a obediência do seu guardião, expirou docemente. Tinha 90 anos. Foi beatificado por Pio VI a 25 de maio de 1795.

ORAÇÃO:
Deus de infinita bondade, que resumistes todos os mandamentos da Lei no vosso amor e no amor ao próximo, fazei que, à imitação do Beato Bernardo de Ofida, consagremos a nossa vida ao serviço dos que mais sofrem e dos que mais precisam, para sermos contados entre os vossos eleitos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

22 de agosto de 2014

Reflexão - O céu é nosso destino


“Ninguém pode livrar os homens da dor, mas será bendito aquele que fizer renascer neles a coragem para suportá-la” (Selma Lagerlof)

Eu admiro as pessoas que conseguem sorrir com os problemas, reunir forças na angústia, e ganhar coragem na meditação e na oração. São pessoas valiosas que nos ajudam também a vencer o medo e a utilizar sua energia para nosso crescimento. Para que possamos SER aquilo a que somos destinados é preciso muita coragem, muita luta e força heroica!

As pessoas grandiosas crescem nas dificuldades e aproveitam as lições das derrotas e fracassos para renascerem ainda mais fortes. Assumir a responsabilidade por nossos atos, com coragem e disposição, nos coloca a favor da vida e ela nos apoia. A vida é vigor e força a nos levar adiante! Então, aprendamos e sigamos em frente, pois o céu não é nosso limite, mas o nosso destino…


Frei Paulo Sérgio, ofm

22/08 - Bem-aventurado Timoteo de Monticchio


Sacerdote da Primeira Ordem (1444-1504). Aprovou seu culto Pio IX no dia 10 de março de 1870.

Timóteo nasceu em Monticchio a poucos quilômetros de Aquila, precisamente no mesmo ano em que São Bernardino de Siena voou para o céu em Aquila. No céu de santidade seráfica foi extinta uma estrela em torno da qual surgiram muitas estrelas, incluindo também nosso bem-aventurado.

De família de camponeses, viveu inteiramente entregue à oração. Temendo os perigos do mundo se propôs a evitá-los e, junto com seu irmão, entrou para a Ordem dos Frades Menores, que naqueles dias tinha alcançado o ápice da celebridade pela santidade de muitos dos seus filhos.

Ordenado sacerdote, foi enviado para Campli, província de Teramo, como mestre de noviços. Sua vida foi mais celestial do que terrena, animada com visões freqüentes da Virgem Maria e São Francisco e favorecida com o dom dos milagres. Fielmente refletem o espírito daqueles santos religiosos que renovaram a observância da Regra da Ordem Seráfica, São Bernardino de Siena, São Tiago das Marcas, São João de Capistrano, bem-aventurado Bernardino de Fossa, bem-aventurado Marcos Fantuzzi de Bolonha e muitos outros.

De Campli foi convento de Santo Angelo de Ocre, na cidade de Fossa, onde permaneceu muitos anos até sua morte. Sua vida inteira foi tecida de oração e contemplação, por exemplo sacerdotal e fidelidade heroica à Regra franciscana.

As virtudes que brilharam nele foram especialmente o desapego do mundo, a exata observância da Regra professada, o fervor no serviço divino, a meditação sobre a Paixão de Cristo e uma devoção filial à Virgem e ao Pai Seráfico. Seu amor pela solidão era tanto que suas conversas eram sempre curtas, mas sempre cheias de calor e bondade.

Tal era a sua humildade, que se dizia ser sempre o menor de todos; sua obediência era tão perfeita, que ele obedecia ao último dos seus confrades; para preservar intata a sua pureza, mortificava seus corpo com cilícios. Era caridoso com todos, paciente com os moribundos, era assíduo nas confissões e direção espiritual. Com a pregação anunciou nas cidades e aldeias vizinhas a mensagem do Evangelho.

Em 22 de agosto de 1504, come 60 anos de idade, no solitário convento de Santo Angelo de Ocre dormia serenamente no Senhor.

21 de agosto de 2014

21/08 - São Pio X


Papa da Terceira Ordem (1835-1914). Canonizado por Pio XII no dia 29 de maio de 1954.

Giuseppe Sarto, assim era o seu nome, nasceu em Riese (Treviso), em 1835, em uma família de camponeses. Depois de estudar no Seminário de Pádua, foi ordenado sacerdote aos 23 anos. No começo, foi vigário em Tombolo, após pároco em Salzano, depois cônego da catedral de Treviso, com o encargo de chanceler episcopal e diretor espiritual do Seminário Diocesano. Nestes anos de rica e generosa experiência pastoral, o futuro Pontífice mostrou aquele profundo amor a Cristo e à Igreja, aquela humildade e simplicidade e aquela grande caridade com relação aos mais necessitados, que foram características de toda a sua vida. Inscreveu-se na Ordem Terceira de São Francisco e do humilde e pobre Santo de Assis quis aprender mais profundamente as virtudes que sempre queria em seu coração.

Em 1884, foi nomeado Bispo de Mântua e, em 1893, Patriarca de Veneza. Em 4 de agosto de 1903, foi eleito Papa, ministério que aceitou com hesitação, porque não se considerava digno de uma tarefa assim tão alta.

O pontificado de São Pio X deixou um sinal indelével na história da Igreja e foi caracterizado por um notável esforço de reforma, sintetizado no seu lema Instaurare omnia in Christo (Renovar todas as coisas em Cristo). Suas intervenções, de fato, envolveram os diversos ambientes eclesiais. Desde o início, dedicou-se à reorganização da Cúria Romana; após, deu início aos trabalhos para a redação do Código de Direito Canônico, promulgado pelo seu Sucessor, Bento XV. Promoveu, em seguida, a revisão dos estudos e do “iter” (processo) de formação dos futuros sacerdotes, fundando também vários Seminários regionais, equipados com boas bibliotecas e professores preparados.

 Outro setor importante foi aquele da formação doutrinal do Povo de Deus. Desde os anos em que era pároco, havia escrito ele próprio um catecismo e, durante o episcopado em Mântua, trabalhou a fim de se chegasse a um catecismo único, se não universal, pelo menos italiano. Como autêntico pastor, havia entendido que a situação da época, também devido ao fenômeno da emigração, tornava necessário um catecismo a que todos os fiéis pudessem recorrer independentemente do local e das circunstâncias da vida. Como Pontífice, preparou um texto de doutrina cristã para a Diocese de Roma, que se difundiu depois por toda a Itália e no mundo. Esse Catecismo é chamado “de Pio X” e foi, para muitos, um guia seguro no aprender as verdades da fé através de uma linguagem simples, clara e precisa, com eficácia positiva.

Notável atenção dedicou à reforma da Liturgia, em particular da música sacra, para conduzir os fiéis a uma mais profunda vida de oração e a uma mais plena participação nos Sacramentos. No Motu Proprio Tra le sollecitudini (1903, primeiro ano de seu pontificado), ele afirma que o verdadeiro espírito cristão tem a sua primeira e indispensável fonte na participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja (cf. ASS 36 [1903], 531).
Por isso, recomendou a recorrência frequente aos sacramentos, favorecendo a frequência cotidiana à Santa Comunhão, bem preparados, e antecipando oportunamente a Primeira Comunhão das crianças para em torno de sete anos de idade, “quando a criança começa a raciocinar” (cf. Sagrada Congregação De Sacramentis, Decretum Quam singulari: AAS 2 [1910], 582).

Fiel à missão de confirmar os irmãos na fé, São Pio X, frente a algumas tendências que se manifestaram no contexto teológico no final do século XIX e início do século XX, interveio decisivamente, condenando o “Modernismo”, para defender os fiéis das concepções errôneas e promover um aprofundamento científico da Revelação em consonância com a Tradição da Igreja. Em 7 de maio de 1909, com a Carta Apostólica Vinea electa, fundou o Pontifício Instituto Bíblico. Os últimos meses de sua vida foram marcados pelos clarões da guerra. O apelo aos católicos do mundo, lançado em 2 de agosto de 1914 para expressar “a amargura” do momento presente, foi o grito sofredor do pai que vê os filhos se colocarem uns contra os outros. Morreu pouco tempo depois, em 20 de agosto, e a sua fama de santidade começou a se espalhar rapidamente entre o povo cristão.

Queridos irmãos e irmãs, São Pio X ensina a nós todos que a base da nossa ação apostólica, nos vários campos em que atuamos, sempre deve ser uma íntima união pessoal com Cristo, a se cultivar e crescer dia após dia. Esse é o núcleo de todo o seu ensinamento, de todo o seu compromisso pastoral. Somente se estamos enamorados pelo Senhor seremos capazes de levar os homens a Deus e apresentá-los a Seu amor misericordioso, e, assim, apresentar o mundo à misericórdia de Deus.

No dia 20 de agosto de 1914, aos setenta e nove anos, Pio X morreu. O povo, de imediato, passou a venerá-lo como um santo. Mas só em 1954 ele foi oficialmente canonizado.

20 de agosto de 2014

20/08 - Bem-aventurado Francisco Galvez


Sacerdote e mártir no Japão, da Primeira Ordem (1576-1623). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

Francisco Galvez, mártir no Japão, nasceu em Utiel, não muito longe de Valência, Espanha, filho de Tomás e Mariana Pellicer, em 1576. Após a graduação em filosofia e teologia e a ordenação diaconal, ele tomou o hábito franciscano no convento de São João Batista de Ribera.

Em 1612, depois de três anos nas Filipinas, chegou como missionário no Japão, mas foi expulso em 1614, no início da grande perseguição. Então, refugiou-se em Manilla, nas Filipinas, onde compôs e publicou as obras “Flos Sanctorum” em três volumes, contendo as vidas dos Santos, traduzidas para o japonês. “A explicação da doutrina cristã” e outros opúsculos.

Dois anos mais tarde, tingindo seu corpo para parecer um marinheiro negro, pôde novamente desembarcar no Japão e retomar com zelo a evangelização. Enquanto isso, procurava não ter residência fixa para fugir dos seus perseguidores. Mas foi traído por um renegado cristão e foi preso na cidade de Yedo.

Com ele estavam 50 confessores da fé, condenados a serem queimados vivos em uma colina perto da cidade. Em 4 de dezembro, os executores conduziram amarrados os religiosos pelas ruas da cidade até o local da execução. Ao longo do caminho, o bem-aventurado Galvez e o bem-aventurado Gerônimo dos Anjos pregaram a fé a muitos cristãos e pagãos que os rodeavam.

Um incidente memorável levou à comoção o povo na praça. No momento da execução, se apresentou na praça um senhor, seguido de numerosos servos: os juízes, crendo se tratar de um portador da mensagem imperial, pediram para o povo dar passagem a ele. Ele desceu do cavalo e, dirigindo-se ao chefe de justiça, perguntou por que aqueles homens estavam sendo cruelmente executados. A resposta foi simples: por serem cristãos.

O senhor, disse, então: “Eu também sou cristão como eles, e peço para me associar ao grupo”. Os juízes consultaram o Imperador e o intrépido herói foi associado aos santos mártires. Trezentos cristãos comovidos por aquele heroico exemplo correram para ajoelhar-se perante os juízes e proclamar a sua fé, implorando a graça do martírio. Foram retirados à força. O santos mártires mostraram heroísmo no meio das chamas, enquanto seus olhos se voltaram para o céu e não cessaram de falar com a multidão e glorificar a Deus.

19 de agosto de 2014

19/08 - São Luís de Anjou


Bispo da Primeira Ordem (1274-1297). Canonizado por  João XXII no dia 7 de abril de 1317.

Ludovico de Anjou, embora de descendência francesa, nasceu na Itália, provavelmente na Sardenha, em 1274. Era o mais velho entre os quatorze irmãos. Sua mãe era Maria, sobrinha de santa Isabel da Hungria e irmã de três príncipes que também chegaram a ser reis e santos: Estêvão, Ladislau e Henrique. Seu pai era Carlos II de Anjou, rei de Nápoles, Sicília, Jerusalém e Hungria, e filho do papa Inocêncio II. Ludovico também era sobrinho-neto de São Luiz IX, rei da França.

Em 1284, começou a crise da Casa Real de Anjou, na Itália meridional. O pai de Ludovico tornou-se prisioneiro dos reis de Aragão da Espanha, e sua liberdade foi concedida, depois de três anos, mediante troca de reféns. O rei espanhol Afonso III exigiu que esses fossem os três sucessores diretos do rei Carlos II: Ludovico, Roberto e Raimundo.

Eles foram muito maltratados e Ludovico em especial, pois era o mais velho e tinha treze anos de idade. Tratado com aspereza e crueldade, pagando pelo rancor que o rei de Aragão nutria pela política do papa e do rei de Anjou. Motivo que o levou a quebrar todos os acordos firmados antes da troca dos reféns. O cativeiro dos príncipes durou sete anos.

Ludovico aceitou a longa prisão com abnegação e paciência. Mas já estava acostumado com a vida de penitência. Desde pequeno, ele não dormia na sua cama real, preferindo o chão duro e frio. Assim, aquele período no cárcere só cristalizou a santidade do jovem príncipe. Era tratado cruelmente e deixado junto com os leprosos, os quais cuidava com zelo e carinho. Não temia o contágio, que seria motivo de felicidade, pois poderia sofrer um pouco e imitar o sofrimento de Cristo.

Esse seu período de cativeiro foi acompanhado pelos frades da Ordem de São Francisco, principalmente pelo frei Jacques Deuze, depois eleito papa. Foi ele que presenciou e registrou as curas prodigiosas feitas por intercessão de Ludovico. Também acompanhou o jovem príncipe quando ele adoeceu gravemente, testemunhando a sua milagrosa cura e a decisão de tornar-se um simples frade franciscano.

Finalmente, a paz voltou entre as famílias reais de Aragão e Anjou. Em janeiro de 1296, os três príncipes foram libertados Assim que chegaram a Nápoles, Ludovico renunciou ao trono real em favor do seu irmão Roberto.

Ingressou na vida religiosa no Convento de Ara Coeli, dos franciscanos, em Roma. Em maio do mesmo ano, voltou para Nápoles, onde recebeu as sagradas ordens. Mas foi chamado pelo papa Celestino V, que o queria bispo da diocese de Toulouse, na França, que estava vaga. Ludovico, devendo obediência, aceitou.

Porém, sendo um frade franciscano, dispensou a luxuosa residência episcopal, preferindo a pobreza dos conventos da irmandade. Todavia, muito enfraquecido, pegou tuberculose. Apesar disso, foi a Roma assistir à canonização de Luiz IX, rei da França, seu tio-avô. A fadiga da viagem agravou a doença e ele acabou morrendo, no dia 19 de agosto de 1297, aos vinte e três anos de idade.

O bispo Ludovico de Toulouse foi proclamado santo em 1317 pelo papa João XXII, frei Jacques Douze, que presenciou sua penitência e suas curas milagrosas durante o cativeiro. As famílias da realeza de Anjou e de Aragão, unidas, presenciaram a cerimônia.

18 de agosto de 2014

Reflexão - Encontros


“Meus pés procuram partidas, minha alma deseja chegadas…” (Pe. Fábio de Melo).

Os pés representam nossa conexão com o chão, com a terra, com o caminho… o humano está sempre disposto no caminho da existência. Ele tem necessidade de ir, de procurar, de romper, de fazer travessias e de transcender… E é no chão da vida que ele vai se perfazendo, experimentando partidas e chegadas, encontros e desencontros, abraços e despedidas!

A alma deseja sempre encontros, chegadas, abraços, calor… Por ser divina, cria em nós a necessidade da volta a Casa. E essa Casa é o espaço da integração, da festa, da celebração com o Divino. O humano, na sua totalidade corpo-alma, necessita sempre caminhar na direção do eterno, fazendo a experiência fundamental de amar e ser amado, de abrir-se e de recolher, de ser rio e de ser mar…


Frei Paulo Sérgio, ofm

18/08 - Bem-aventurada Margarida Maria Caiani


Virgem da Terceira Ordem Regular (1863-1921). Fundadora das Irmãs Mínimas do Sagrado Coração na Terceira Ordem Franciscana. Beatificada por João Paulo II no dia 23 de abril de 1989.

Natural de Poggio de Caiano (Itália), veio à luz do dia a 2 de Novembro de 1863. Na devida altura, seus pais matricularam-na numa escola particular, que ela frequentou com grande proveito durante três anos. A menina ia assim crescendo em idade, ciência e piedade, que se alimentava diariamente com a santa Missa e comunhão, apesar da igreja ficar longe de casa.
Esta vida de genuína piedade cristã levou-a ao amor do próximo. Visitava os doentes e preparava os agonizantes para o desenlace final. A morte e a doença também bateram à porta da sua casa. Em 1884 perdeu repentinamente o pai. Sete anos depois, morreu-lhe a mãe. Seu irmão Gustavo foi vítima de prolongada doença que ela acompanhou com fraternal desvelo e caridade sobrenatural.

Enriquecida com tão sólidas virtudes, era natural que sentisse vocação para a vida consagrada. E assim, em 1893, aos trinta anos, bateu às portas dum mosteiro de beneditinas, mas decorrido um mês regressou a casa, convencida de que não tinha vocação para a vida de clausura. O seu coração inclinava-a para o apostolado direto com as almas. Por esta razão entregou-se ao trabalho de ensinar e educar as crianças da sua terra.

Com uma companheira, a 19 de Setembro de 1894, abriu uma escola onde se ensinava o catecismo e as letras. Dois anos depois, juntaram a elas mais duas jovens dispostas a levar o mesmo teor de vida. Desta forma, a obra, que nascera na pobreza e simplicidade, começou a crescer. Em 1901, a Serva de Deus redigiu umas Regras ou Constituições, que foram aprovadas pelo Bispo de Pistoia, e inscreveu a nascente família das Irmãs Mínimas do Sagrado Coração na Terceira Ordem Franciscana.

A 15 de Dezembro de 1902 vestiu o hábito com cinco companheiras, tornando o nome de Irmã Maria Margarida do Sagrado Coração. A 17 de outubro de 1905 fez a profissão perpétua. Estavam, portanto, lançados os alicerces de uma nova família religiosa, que iria desenvolver-se prontamente. Em 1910 já se estendia por várias dioceses. Em Outubro de 1915 realizou-se o primeiro Capítulo Geral e a Irmã Maria Margarida foi eleita Superiora Geral vitalícia.

Dotada de bondade, humildade, caridade e amor materno, governou o Instituto com sabedoria e prudência. Dizia às suas Filhas: «A glória é para Deus, a utilidade para o próximo e o trabalho para nós». Recomendava-lhes com frequência que rezassem muito pela santificação do clero.

Preocupou-se mais com a solidez do Instituto do que com o seu crescimento, cuja finalidade é a educação da juventude, a assistência aos doentes nos hospitais e em casa, o cuidado dos anciãos em pensionatos e casas de repouso. As suas religiosas cooperam ainda nos trabalhos apostólicos das paróquias e nas obras sociais das missões. Em 1977, o Instituto contava 60 casas e 606 professas em Itália, Egito e Israel.

A bem-aventurada teve de passar pelo cadinho das provações, mas nunca perdeu a paz interior. A 8 de Agosto de 1921, com 58 anos incompletos, partiu para os braços do Pai.
Na homilia da beatificação, a 23 de Abril de 1989, o Santo Padre elogiou a Bem-aventurada com estas palavras:

«O poder da mensagem da caridade foi compreendido por Maria Margarida Caiani, mediante a contemplação de Cristo e do seu Coração trespassado. À luz do amor divino, que se revelou no divino Salvador, Margarida aprendeu a servir os irmãos entre a gente humilde da sua terra da Toscana, e quis ocupar-se dos mais necessitados, dos últimos: as crianças marginalizadas, os meninos do campo, os anciãos e os soldados vítimas da guerra, internados nos hospitais militares…».

No Brasil, a Congregação fundada pela bem-aventurada está presente em Teresina e Maranhão. As irmãs chegaram ao país em 1979, trazidas pelos frades Franciscanos Capuchinhos para a Região Nordeste.

17 de agosto de 2014

17/08 - Santa Beatriz da Silva


Virgem religiosa da Segunda Ordem (1424-1490). Fundadora das Monjas Concepcionistas Franciscanas, canonizada por Paulo VI no dia 3 de outubro de 1976.

Dona Beatriz da Silva nasceu na vila de Campo Maior, em Portugal, por volta de 1437. Ela foi da linhagem dos reis de Portugal, filha de Rui Gomes da Silva, alcaide-mor de Campo Maior, e de sua mulher dona Isabel de Meneses, filha natural de dom Pedro de Meneses, 1.º conde de Vila Real e 2.º conde de Viana do Alentejo.

Teve pelo menos doze irmãos: Pedro Gomes da Silva (alcaide-mor de Campo Maior); Fernando da Silva de Meneses (alcaide-mor de Alter do Chão), dom Diogo da Silva de Meneses (aio do rei dom Manuel de Portugal, que o fez 1.º conde de Portalegre e senhor de Gouveia), Afonso Teles (alcaide-mor de Campo Maior), João de Meneses (chamado frei Amadeu Hispano ou Beato Amadeu, secretário e confessor do papa Sisto IV, e fundador da Congregação dos Amadeítas, da Ordem de São Francisco), Aires da Silva (cavaleiro em Ceuta, falecido com fama de santo de e mártir), dona Branca da Silva (donzela da corte régia), dona Guiomar de Meneses, dona Maria de Meneses (donzela da rainha dona Isabel, mulher do rei dom Afonso V de Portugal), dona Mécia de Meneses (donzela da infanta dona Joana, mulher do rei dom Henrique IV de Castela), dona Leonor de Meneses (donzela de Santa Joana Princesa) e dona Catarina de Meneses.

Ainda pequena, dona Beatriz da Silva partiu para a corte régia de Castela, em 1447, como donzela da rainha Isabel, segunda mulher do rei João II de Castela. A presença de dona Beatriz na corte não passou despercebida. Sua formosura cativante encantou a todos. A rainha, dominada por uma mistura de ciúme e inveja, fechou dona Beatriz em um cofre, mas uma invisível proteção da Virgem Maria a salvou. Após este triste episódio deixa Tordesilhas, onde a corte régia então estava instalada, e vai para Toledo, onde se recolheu no Mosteiro de São Domingos, o Real, de monjas dominicanas. Por devoção, decidiu manter sempre seu rosto coberto com um véu branco, de forma que, enquanto viveu, nenhum homem e nenhuma mulher viu seu rosto. Permanece neste mosteiro por cerca de 30 anos.
Em 1484, a rainha dona Isabel, a católica, doa-lhe os Palácios de Galiana onde existia uma Igreja antiga que tinha o nome de Santa Fé. Dona Beatriz, passada a esta casa, começou a adaptá-la para a forma de mosteiro. Levou consigo dona Filipa da Silva, sua sobrinha e outras onze mulheres, todas de hábito religioso e honesto embora não pertencessem a Ordem alguma. E, uma vez instalada na nova casa, querendo dar fim à sua determinação, estabeleceu a maneira de viver que queria e enviou-a a Roma, numa súplica conjunta com a rainha. Foi tudo aprovado e outorgado pelo Papa Inocêncio VIII pela bula “Inter Universa” em 1489. O Mosteiro já estava fundado e tudo já fora preparado para entregar o hábito a ela e às monjas que ela havia instruído, quando Nosso Senhor quis chamá-la. Morreu no ano de 1492. Na hora de sua morte, foram vistas duas coisas maravilhosas. Uma foi que, quando lhe levantaram o véu para administrar-lhe a unção foi tal o esplendor de seu rosto que todos ficaram admirados. A segunda, foi que em sua fronte viram uma estrela, que lá ficou até que ela expirou, e que emitia uma luz e um esplendor igual à luz quando mais brilha. Faleceu com fama de santidade.

Em 1511 o Papa Júlio II atribui à ordem nascente Regra Própria.
Dona Beatriz foi beatificada pelo Papa Pio XI em 26 de julho de 1926 e solenemente canonizada em 03 de outubro de 1976 pelo Papa Paulo VI. Sua Festa é celebrada no dia 17 de agosto.

Santa Beatriz da Silva se destacou por sua fé inquebrantável, por sua pureza, que lhe permitiu ser Lírio Alvíssimo escondida no coração de Jesus no Canteiro da Imaculada, por sua paciência alicerçada na esperança, por sua caridade, por sua simplicidade, pobreza, humildade, generosidade em oferecer um perdão sincero, enfim, adornada de todas as virtudes indica-nos o caminho mais curto, fácil e seguro para chegar a Cristo: Maria.

Nota: A expressão “Dona Beatriz da Silva” é um título usado na época, por ser ela descendente de reis e de condes. Era o costume da época. “Dona” não era qualquer mulher, como hoje nós chamamos a qualquer senhora. “Dona” eram apenas algumas de entre as mulheres nobres. As que possuíam esse título possuíam desde o batismo e jamais deixavam de o usar fazia parte do seu nome.

16 de agosto de 2014

16/08 - São Roque de Montepellier


Peregrino da Terceira Ordem (1295-1327). Concedeu em sua honra ofício e missa Urbano VIII no dia 4 de julho de 1629.

Roque nasceu em 1295, em Montpellier, França. Sua família, profundamente católica, pertencia à nobreza e fazia parte do governo da cidade. O pai chamava-se João Rog (de onde vem o nome Roque) e a mãe, Líbera. Ele ficou órfão ainda jovem, e quando atingiu os 20 anos de idade, devia assumir a direção do palácio familiar e a administração de vastas terras.

Lembrou-se da passagem do Evangelho sobre o moço rico, e do apelo que fizera Nosso Senhor quando lhe respondeu como deveria fazer para ser perfeito. Então, Rogue renunciou à sua nobreza e distribuiu aos pobres o seu rico patrimônio. Saiu ocultamente de sua cidade, dirigindo-se, como peregrino, a Roma, onde haveria de permanecer três anos, e à Terra Santa, em peregrinação penitencial.

Inscreveu-se na Terceira Ordem Franciscana e foi peregrino por toda a sua vida.

Seu percurso, entretanto, foi enormemente tumultuado, pois teve de interrompê-lo repetidas vezes para socorrer os acometidos pela peste negra em torno de Roma e em diversas localidades da Província da Romanha (Cesena, Rimini e Forli).
Na própria Cidade Eterna, quando ali chegou, São Roque encontrou o povo da cidade sobressaltado por causa da peste, que ali grassava.

Ao passar por Piacenza cuidando dos enfermos, também ele contraiu a peste negra. Para não molestar ninguém e poder tratar-se por si próprio, retirou-se para um bosque, habitando uma cabana situada à beira de uma nascente. Curado milagrosamente por um anjo, passou a ser alimentado por um cachorro que todos os dias lhe trazia um pedaço de pão.

Assim, durante oito anos, a Itália tomar-se-á sua pátria de adoção, como santo protetor contra as epidemias. Ele chegou à sua cidade natal em trajes de peregrino, sem revelar sua identidade, e foi tomado por vagabundo e espião, pois Montpellier vivia momentos de grande agitação política. Por ordem do próprio tio, Bartolomeu Rog, foi encarcerado, sofrendo durante cinco anos os vexames da prisão, sua solidão e incômodos. E morreu no cárcere, no dia 16 de agosto de 1327, com 32 anos de idade. Só então é que se soube quem era ele, pois deixara sob sua cabeça uma tabuinha com o seu nome escrito.

A notícia despertou entre os habitantes da cidade uma emoção profunda. Clero, nobreza e povo, também das cidades vizinhas, acorreram para venerar seus despojos expostos à visitação pública, primeiro no palácio da família, e depois na igreja de Nossa Senhora des Tables. Para reparar a injustiça, seu tio Bartolomeu mandou erigir, na cidade vizinha de Miguelone, artístico mausoléu em forma de capela. E o povo proclamou-o Santo Padroeiro contra epidemias e doenças graves.

Em 1485, a maior parte de suas veneráveis relíquias foram transferidas para Veneza, onde a Irmandade, instituída sob seu patrocínio, construir-lhe-ia a mais célebre igreja. Após a morte de Gregório XI, em 1378, um Papa e dois antipapas disputavam a Cátedra de São Pedro: o Cardeal Pedro de Luna (Bento XII), Baltasar Cossa (João XXIII) e o Papa verdadeiro, Cardeal Ângelo Corai, que tomou o nome de Gregório XII. Era o cisma instalado uma vez mais na Igreja!

Para dirimir a questão, reuniu-se um Concílio na cidade suíça de Constança, de 1414 a 1418. Cardeais, Arcebispos, Bispos, Teólogos, doutores, chefes de Estado e o próprio Imperador, entretanto, foram acometidos pela peste negra. Foi proposto que se fizesse uma procissão penitencial, invocando a proteção de São Roque. Assim foi feito, e antes de terminado aquele ato público de penitência, obtivesse a erradicação da peste pela gloriosa intercessão do Santo.

15 de agosto de 2014

15/08 - Bem-aventurado Cláudio Granzotto


Religioso da Primeira Ordem (1900-1947). Beatificado por João Paulo II no dia 18 de setembro de 1994.

Claudio Granzotto (Ricardo no batismo) nasceu em S. Lucia di Piave (Treviso) em 23 de agosto de 1900, filho de Antônio Granzotto e Joana Scotta. Até 17 anos era um pedreiro, em seguida, durante três anos, foi militar, depois, por 7 anos, estudante na Academia de Belas Artes de Veneza, onde se especializou em escultura. Desde 1939, ao se tornar um franciscano, viveu nos conventos do Veneto.

 Ele morreu de um tumor cerebral na manhã da Assunção de 1947, no hospital de Pádua. Seu corpo repousa em Chiampo (Vicenza), ao lado da Gruta da Imaculada construída por ele.

Quando brilhava em sua mente uma ideia elevada, nunca a deixava, agarrava-a e já a transformava em mármore. Aos 22 anos, levado por um instinto profundo, teve a coragem de se aprofundar na arte. Abandonou seus instrumentos de pedreiro e se matriculou na Academia de Belas Artes de Veneza, deixando de lado qualquer inclinação juvenil. Dedicou-se ao estudo durante sete anos até que em 1929 recebeu o diploma de escultor com qualificação máxima. Tornou-se um escultor conhecido e ganhou muitos prêmios, ajudando com seus ganhos os mais necessitados.

Da mesma forma se comprometeu no campo da fé. A Ação Católica foi o primeiro terreno fértil: o incentivou várias iniciativas, como a comunhão frequente, a leitura de bons jornais, adoração noturna, várias formas de penitência, dormindo em terra e, finalmente, o voto privado de castidade.

Assim, arte e virtude, ótimas irmãs, empreenderam juntas o caminho para realizar uma obra-prima. Aos 33 anos, em pleno vigor físico, gozando de fama, dinheiro, fortuna e amor terreno, tomou uma decisão: ingressou no convento de São Francisco do Deserto (Veneza). E ele se tornou um artista diáfano e um religioso de sua vocação.

A arte sagrada se tornou para ele um meio de ação com todo o valor religioso de um apostolado espiritual. Construiu quatro Grutas de Lourdes, altares belos, anjos em adoração, santos em êxtase.

Como um frade, de acordo com seu espírito corajoso de humildade, renunciou ao acesso proposto para o sacerdócio. Ele escolheu os ofícios humildes e escondidos, exercitou-se em fervorosas orações e penitências, dando especial atenção aos pobres e necessitados, especialmente durante a guerra. Passou para a eternidade na aurora da Festa da Assunção de 1947.

14 de agosto de 2014

14/08 - São Maximiliano Kolbe


Raymond Kolbe, filho de Júlio Kolbe e Maria Dabrowska, nasceu aos 8 de janeiro de 1894, em Zdunska Wola, perto de Lódz, na Polônia. Sua família era pobre, de humildes operários, mas muito rica de religiosidade. Ingressou no Seminário franciscano da Ordem dos Frades Menores Conventuais aos treze anos de idade, logo demonstrando sua verdadeira vocação religiosa.

Ao ser mandado para terminar sua formação em Roma, Maximiliano, inspirado pelo seu desejo de conquistar o mundo inteiro a Cristo por meio de Maria Imaculada, fundou o movimento de apostolado mariano chamado ‘Milícia da Imaculada’. Como sacerdote foi professor, mas em busca de ensinar o caminho da salvação, empenhou-se no apostolado através da imprensa e pôde, assim, evangelizar em muitos países, isto sempre na obediência às autoridades, tanto assim que deixou o fecundo trabalho no Japão para assumir a direção de um grande convento franciscano na Polônia.

Com o início da Segunda Grande Guerra Mundial, a Polônia foi tomada por nazistas e, com isto, Frei Maximiliano foi preso duas vezes, sendo que a prisão definitiva, ocorrida em 1941, levou-o para Varsóvia, e posteriormente, para o campo de concentração em Auschwitz, onde no campo de extermínio heroicamente evangelizou com a vida e morte. Aconteceu que diante da fuga de um prisioneiro, dez pagariam com a morte, sendo que um, desesperadamente, caiu em prantos: “Minha mulher, meus filhinhos! Não os tornarei a ver!”. Movido pelo amor que vence a morte, São Maximiliano Maria Kolbe dirigiu-se ao Oficial com a decisão própria de um mártir da caridade, ou seja, substituir o pai de família e ajudar a morrer os outros nove e, foi aceita, pois se identificou: “Sou um Padre Católico”.

Os 10 prisioneiros, despidos, foram empurrados numa pequena, úmida e totalmente escura cela dos subterrâneos, para morrer de fome. Durante 10 dias Frei Maximiliano conduziu os outros prisioneiros com cânticos e orações, e os consolou um a um na hora da morte. Após esses dias, como ainda estava vivo, recebeu uma injeção letal. Era o dia 14 de agosto de 1941.

O corpo de Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas atiradas ao vento. Numa carta, quase prevendo seu fim, escrevera: “Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”.

Ao final da Guerra, começou um movimento pela beatificação do Frei Maximiliano Maria Kolbe, que ocorreu em 17 de outubro de 1971, pelo Papa Paulo VI. Em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, que sobreviveu aos horrores do campo de concentração, São Maximiliano foi canonizado pelo Papa João Paulo II, como mártir da caridade. Por seu intenso apostolado, é considerado o patrono da imprensa.

ORAÇÃOÓ Deus, que inflamastes São Maximiliano Maria, presbítero e mártir, com amor à Virgem Imaculada e lhe destes grande zelo pastoral e dedicado ao próximo. Concedei-nos, por sua intercessão, que trabalhemos intensamente pela vossa glória no serviço do próximo, para que nos tornemos semelhantes ao vosso Filho até a morte. Por nosso senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do espírito Santo.

13 de agosto de 2014

13/08 - Bem-aventurado Santos de Monterocchio


Religioso da Primeira Ordem (1343-1392). Aprovou seu culto Clemente XIV no dia 18 de agosto de 1770.

Santos Brancorsini, filho de João Domingo e Eleonora Ruggeri, nasceu em Montefabbri, perto de Urbino, em 1343, e foi batizado por João Santos. Ele estudou gramática e direito na Universidade de Urbino, mas não se formou porque resolveu dedicar-se à carreira militar.

Aos 20 anos, agredido por um parente e forçado a defender sua própria vida, desembainhou a espada e o feriu mortalmente. Aflito por essa morte involuntária, Santos renunciou à vida militar, e em 1362 entrou na Ordem dos Frades Menores como irmão leigo no convento de Scotaneto, próximo de Montebarocchio. A penitência e humildade foram suas virtudes particulares. Suas devoções, à Eucaristia, com a participação devota na Santa Missa e à Bem-aventurada Virgem Maria. Além das funções inerentes ao seu estado, por sua cultura e virtudes que o distinguiam, exerceu o cargo de mestre de noviços dos irmãos leigos.

Movido pelo espírito de expiação pediu a Deus para sofrer as dores que causou a seu parente no mesmo ponto que o havia ferido. Foi ouvido. Surgiu uma ferida ulcerada na perna direita, que nunca cicatrizou. Os biógrafos o atribuem muitos milagres e dons extraordinários.

Uma vez, encarregado de cortar madeira na floresta próxima, o burro do convento foi morto por um lobo. Na parte da manhã, o bem-aventurado se deu conta do que aconteceu e chamou até ele o lobo e, colocando uma corda no pescoço, ordenou da parte de Deus para reparar o mal feito submetendo-o a transportar a madeira da floresta para o convento. O lobo se tornou dócil e obediente, e por muitos anos continuou a prestar serviço aos religiosos.

Um dia, Francisco Malatesta, Duque de Urbino, encontrou-se com o bem-aventurado e pediu a ele que pedisse a intercessão do Senhor para livrar suas terras de uma verdadeira invasão de gafanhotos, ratos e outras pestes que devastavam os campos. O irmão dedicado ajoelhou, levantou os braços para o céu e rezou. E eis que estes insetos e pragas, em um curto espaço de tempo, foram mergulhar no mar vizinho.

A santidade de Santos atraiu multidões ao convento de Scotoneto, ansiosas para ver o homem de Deus, para ouvir sua palavra inspirada, para pedir graças e favores. Para todos tinha uma palavra de encorajamento e conforto. Devoto da Virgem, durante toda a sua vida espalhou seu culto. Pediu e a Virgem Maria o chamou no dia de sua gloriosa Assunção ao céu. Na verdade, a noite de 14 a 15 de agosto de 1392, depois de ter recebido a última bênção de seu superior, aos 49 anos de idade, sua santa alma voou alegremente para a glória do céu.

12 de agosto de 2014

12/08 - Bem-aventurado Luís Sotello de Sevilha


Bispo eleito, mártir no Japão da Primeira Ordem (1574-1624). Foi beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

Sotelo, filho de Diego e Catarina Niño, nasceu em Sevilha, Espanha, no dia 6 de setembro de 1574, e estudou na Universidade de Salamanca antes de ingressar no convento “Calvário” dos Frades Menores. Ele foi enviado, em 1600, para as Filipinas, para suprir as necessidades espirituais do povoado filipino de Dilao, até sua destruição pelas forças espanholas e portuguesas em 1608, depois de uma luta intensa.


Em 1608, o papa Paulo V autorizou ordens religiosas menores (dominicanos e franciscanos) para pregar no Japão, até então pelos jesuítas. Sotelo imediatamente foi para o Japão e assumiu um posto de liderança da sua comunidade.

Sotelo então tentou fundar uma igreja franciscana na região de Tóquio. A igreja foi destruída em 1612, seguindo-se a interdição do cristianismo nos territórios dos Tokugawa em 21 de abril de 1612 (os editos de proibição foram uma reação a um escândalo de suborno entre um colaborador próximo do xogun, Okamoto Daihachi, e o daimyo cristão Arima Harunobu).

Sotelo fugiu para a parte norte do Japão, na área controlada pelo daimyo de Sendai, Date Masamune, onde o cristianismo ainda era tolerado. Ele voltou para Tóquio no ano seguinte e construiu e inaugurou uma nova igreja em 12 de maio de 1613, na área de Asakusa Torigoe. O Bakufu reagiu prendendo os cristãos, e o próprio Sotelo foi colocado na prisão de Kodenma-chō. Sete japoneses cristãos, presos junto com Sotelo, foram executados em 1º de julho, mas Sotelo foi libertado por um pedido especial de Date Masamune.

Sotelo planejou e acompanhou uma embaixada japonesa enviada por Date Masamune para a Espanha em 1613. A embaixada foi chefiada por Hasekura Tsunenaga e cruzou o Pacífico a bordo do galeão construído no Japão San Juan Bautista. Ele conduziu os japoneses para receberem o batismo em Madrid, antes de acompanhá-los para ver o papa Paulo V em Roma.

A embaixada era um produto de ambições políticas de Sotelo e Date Masamune. Sotelo tentou estabelecer uma diocese no norte do Japão, independente da diocese de Funai (Nagasaki), controlada pelos jesuítas. Sua campanha foi obstruída pelos portugueses, apesar de que na altura estavam sob o jugo dos Filipes de Espanha, e falhou em conseguir apoio dos franciscanos por estar ligada à sua ambição pessoal pelo posto de bispo. Date Masamune queria fazer comércio com a Nova Espanha, (México), mas logo se percebeu que seria um comércio muito custoso.

Sotelo acompanhou a embaixada japonesa de volta às Filipinas em 1618, onde ele ficou por algum tempo, devido à repressão do cristianismo no Japão. Ele teve problemas com a Igreja, porque ele tinha vendido suas posses no Japão. Entretanto, o Conselho Católico das Índias o mandou para a referida Nova Espanha, em 1620, para desempenhar lá suas atividades missionárias.

Sotelo então tentou se infiltrar no Japão em 1622, a bordo de um barco chinês, mas foi descoberto e preso. Depois de dois anos na prisão, Luís Sotelo foi queimado vivo, junto com dois franciscanos, um jesuíta e um dominicano, aos 50 anos. Ele foi beatificado pelo papa Pio IX em 1867.

11 de agosto de 2014

11/08 - Santa Clara de Assis


Virgem, fundadora da Segunda Ordem (1194-1253). Foi canonizada por Alexandre IV no dia 15 de agosto de 1265.

Palavras do Papa Emérito Bento XVI


Uma das santas mais amadas é, sem dúvida, Santa Clara de Assis, que viveu no século XIII, contemporânea de São Francisco. Seu testemunho mostra-nos o quanto a Igreja deve a mulheres corajosas e ricas na fé como ela, capazes de dar um impulso decisivo para a renovação da Igreja.

Quem foi então Clara de Assis? Para responder a esta pergunta, temos fontes seguras, não apenas as antigas biografias, como a de Tomás de Celano, mas também os autos do processo de canonização promovido Papa já pouco depois da morte de Clara e que contêm o testemunho dos que viveram ao seu lado por muito tempo.

Nascida em 1193, Clara pertencia a uma família aristocrática e rica. Renunciou à nobreza e à riqueza para viver pobre e humilde, adotando a forma de vida que Francisco de Assis propunha. Apesar de seus pais planejarem um casamento com algum personagem de relevo, Clara, aos 18 anos, com um gesto audaz, inspirado pelo profundo desejo de seguir a Cristo e pela admiração por Francisco, deixou a casa paterna e, em companhia de uma amiga sua, Bona di Guelfuccio, uniu-se secretamente aos frades menores junto da pequena igreja da Porciúncula. 

Era a tarde de Domingo de Ramos de 1211. Na comoção geral, realizou-se um gesto altamente simbólico: enquanto seus companheiros tinham nas mãos tochas acesas, Francisco cortou-lhe os cabelos e Clara vestiu o hábito penitencial. A partir daquele momento, tornava-se virgem esposa de Cristo, humilde e pobre, e a Ele totalmente se consagrava. Como Clara e suas companheiras, inumeráveis mulheres no curso da história ficaram fascinadas pelo amor de Cristo que, na beleza de sua Divina Pessoa, preencheu seus corações. E a Igreja toda, através da mística vocação nupcial das virgens consagradas, demonstra aquilo que será para sempre: a Esposa bela e pura de Cristo.

Em uma das quatro cartas que Clara enviou a Santa Inês de Praga, filha do rei da Bohemia, que queria seguir seus passos, ela fala de Cristo, seu amado esposo, com expressões nupciais, que podem surpreender, mas que comovem: “Amando-o, és casta, tocando-o, serás mais pura, deixando-se possuir por ele, és virgem. Seu poder é mais forte, sua generosidade, mais elevada, seu aspecto, mais belo, o amor mais suave e toda graça. Agora tu estás acolhida em seu abraço, que ornou teu peito com pedras preciosas… e te coroou com uma coroa de ouro gravada com o selo da santidade” (Lettera prima: FF, 2862).

Sobretudo no início de sua experiência religiosa, Clara teve em Francisco de Assis não só um mestre a quem seguir os ensinamentos, mas também um amigo fraterno. A amizade entre estes dois santos constitui um aspecto muito belo e importante. Efetivamente, quando duas almas puras e inflamadas do mesmo amor por Deus se encontram, há na amizade recíproca um forte estímulo para percorrer o caminho da perfeição. A amizade é um dos sentimentos humanos mais nobres e elevados que a Graça divina purifica e transfigura. 

Como São Francisco e Santa Clara, outros santos vivenciaram uma profunda amizade no caminho para a perfeição cristã, como São Francisco de Sales e Santa Giovanna de Chantal. O próprio São Francisco de Sales escreve: “é belo poder amar na terra como se ama no céu, e aprender a amar-nos neste mundo como faremos eternamente no outro. Não falo aqui de simples amor de caridade, porque este devemos tê-lo todos os homens; falo do amor espiritual, no âmbito do qual, duas, três, quatro ou mais pessoas compartilham devoção, afeto espiritual e tornam-se realmente um só espírito” (Introduzione alla vita devota III, 19).

Após ter transcorrido um período de alguns meses em outras comunidades monásticas, resistindo às pressões de seus familiares que no início não aprovavam sua escolha, Clara se estabeleceu com suas primeiras companheiras na igreja de São Damião, onde os frades menores tinham preparado um pequeno convento para elas. 

Nesse mosteiro, viveu durante mais de quarenta anos, até sua morte, ocorrida em 1253. Chegou-nos uma descrição de primeira mão de como estas mulheres viviam naqueles anos, nos inícios do movimento franciscano. Trata-se do informe cheio de admiração de um bispo flamengo em visita à Itália, Santiago de Vitry, que afirma ter encontrado um grande número de homens e mulheres, de toda classe social, que, “deixando tudo por Cristo, escapavam ao mundo. Chamavam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo senhor Papa e pelos cardeais… As mulheres… moram juntas em diferentes abrigos não distantes das cidades. Não recebem nada; vivem do trabalho de suas mãos. E lhes dói e preocupa profundamente que sejam honradas mais do que gostariam, por clérigos e leigos” (Carta de outubro de 1216: FF, 2205.2207).

Santiago de Vitry tinha captado com perspicácia um traço característico da espiritualidade franciscana, a que Clara foi muito sensível: a radicalidade da pobreza associada à confiança total na Providência divina. Por este motivo, ela atuou com grande determinação, obtendo do Papa Gregório IX ou, provavelmente, já do Papa Inocêncio III, o chamado Privilegium Paupertatis (cfr FF, 3279). Em base a este, Clara e suas companheiras de São Damião não podiam possuir nenhuma propriedade material. Tratava-se de uma exceção verdadeiramente extraordinária em relação ao direito canônico vigente, e as autoridades eclesiásticas daquele tempo o concederam apreciando os frutos de santidade evangélica que reconheciam na forma de viver de Clara e de suas irmãs. 

Isso demonstra também que nos séculos medievais, o papel das mulheres não era secundário, mas considerável. A propósito disso, é oportuno recordar que Clara foi a primeira mulher da história da Igreja que compôs uma Regra escrita, submetida à aprovação do Papa, para que o carisma de Francisco de Assis se conservasse em todas as comunidades femininas que iam se estabelecendo em grande número já em seus tempos, e que desejavam se inspirar no exemplo de Francisco e Clara.

No convento de São Damião, Clara praticou de modo heróico as virtudes que deveriam distinguir cada cristão: a humildade, o espírito de piedade e de penitência, a caridade. Ainda sendo a superiora, ela queria servir em primeira pessoa as irmãs enfermas, submetendo-se também a tarefas muito humildes: a caridade, de fato, supera toda resistência e quem ama realiza todo sacrifício com alegria. Sua fé na presença real da Eucaristia era tão grande que em duas ocasiões se comprovou um fato prodigioso. Só com a ostensão do Santíssimo Sacramento, afastou os soldados mercenários sarracenos, que estavam a ponto de agredir o convento de São Damião e de devastar a cidade de Assis.

Também esse episódio, como outros milagres, dos quais se conservava memorial, levaram o Papa Alexandre IV a canonizá-la só dois anos depois de sua morte, em 1255, traçando um elogio a ela na Bula de canonização, onde lemos: “Quão vívida é a força desta luz e quão forte é a claridade desta fonte luminosa. Na verdade, esta luz estava fechada no esconderijo da vida de clausura, e fora irradiava esplendores luminosos; recolhia-se em um pequeno monastério, e fora se expandia por todo vasto mundo. Guardava-se dentro e se difundia fora. Clara, de fato, se escondia; mas sua vida se revelava a todos. Clara calava, mas sua fama gritava” (FF, 3284). E é precisamente assim, queridos amigos: são os santos que mudam o mundo para melhor, transformam-no de forma duradoura, injetando-lhe as energias que só o amor inspirado pelo Evangelho pode suscitar. Os santos são os grandes benfeitores da humanidade!

A espiritualidade de Santa Clara, a síntese de sua proposta de santidade está recolhida na quarta carta a Santa Inês de Praga. Santa Clara utiliza uma imagem muito difundida na Idade Média, de ascendências patrísticas, o espelho. E convida sua amiga de Praga a se olhar no espelho da perfeição de toda virtude, que é o próprio Senhor. Escreve: “feliz certamente aquela a quem se lhe concede gozar desta sagrada união, para aderir com o profundo do coração [a Cristo], àquele cuja beleza admiram incessantemente todas as beatas multidões dos céus, cujo afeto apaixona, cuja contemplação restaura, cuja benignidade sacia, cuja suavidade preenche, cuja recordação resplandece suavemente, a cujo perfume os mortos voltarão à vida e cuja visão gloriosa fará bem-aventurados todos os cidadãos da Jerusalém celeste. E dado que ele é esplendor da glória, candura da luz eterna e espelho sem mancha, olhe cada dia para este espelho, ó rainha esposa de Jesus Cristo, e perscruta nele continuamente teu rosto, para que possas te adornar assim toda por dentro e por fora… neste espelho resplandecem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade” (Quarta carta: FF, 2901-2903).


Agradecidos a Deus que nos dá os santos, que falam ao nosso coração e nos oferecem um exemplo de vida cristã a imitar, gostaria de concluir com as mesmas palavras de benção que Santa Clara compôs para suas irmãs e que ainda hoje as Clarissas, que desempenham um precioso papel na Igreja com sua oração e com sua obra, custodiam com grande devoção. São expressões das que surge toda a ternura de sua maternidade espiritual: “Bendigo-vos em minha vida e depois de minha morte, como posso e mais de quanto posso, com todas as bênçãos com as que o Pai de misericóridas abençoa e abençoará no céu e na terra seus filhos e filhas, e com as quais um pai e uma mãe espiritual abençoa e abençoará seus filhos e filhas espirituais. Amém” (FF, 2856).

Papa Bento XVI