1 de agosto de 2014

“O amor arde e queima”

primeira





















Reflexão Frei Almir Ribeiro Guimarães

 Eu vim  pôr fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! (Lc 12,49)

Os evangelhos nos pintam um Jesus cheio de viço, de força, de vigor. Não estamos diante de uma pessoa neutra, controlada no mal sentido da palavra, mas alguém que tem energia, garra, vontade, desejo forte, que tem fogo. Ele mesmo declara que veio  lançar fogo à terra.  Há algum tempo estamos ouvindo que a Igreja precisa evangelizar com novo ardor, ou seja, com esse fogo ao qual se refere Jesus.

A imagem do fogo está ligada ao tema do amor, do dom, de entrega de si.  O fogo do amor fora a bandeira do rabino da Galileia: andar em busca, conversar com os passantes, prestar atenção em que gritava pedindo ajuda,  inquirir a respeito da  pessoa que tocara as fímbrias de suas vestes,  olhar carinhosamente no olhos de  Zaqueu, dizer palavras esperançosas ao ladrão que a seu lado morria. Todo esse espaço que se chamava Jesus de Nazaré era amor:  amor pelo Pai querido, pelos passantes do caminho e amor sanguinolento no abandono da cruz. Por todos ele dava a vida irrestrita e resolutamente. Os devotos do Coração do Redentor se deixam tocar profundamente por esse excesso de amor.  Daí não se ode imaginar uma vida cristã marcada pelo tédio e pela monótona repetição de fórmulas vazias de gestos sem expressão.

   Ora, não se pode imaginar um discípulo de tal Mestre que seja marcado pela tibieza, que seja morno e não ardoroso. Forte e vigoroso será seu estilo de pessoa de oração. Não faz por fazer. Reza porque arde dentro dele a certeza do amor.  Quando atua na pastoral não executa uma “tarefa convencional”,   mas realiza tudo por causa de um superávit de amor.  Os  que se achegam do Coração aberto do Salvador, dessa fornalha que ele veio colocar no meio do mundo,  não fazem as coisas com formalismo.  Sabem perfeitamente que o amor abrasado do Senhor os impele:  buscar os caídos à beira da estrada, conceder o perdão a esses que matam o corpo e denigrem a honra,  sofrer de verdade ao saber que, como dizia Francisco, o Amor não é amado.

“O amor não é um simples passatempo, um sentimento passageiro de sublevação da rotina. O amor é mais do que divertimento e prazer, distração e entretenimento. O amor é a coisa mais bela e  mais difícil, mas também a mais importante da vida. Sem o amor se torna um caos. Um provérbio africano tem sabedoria profunda:  ‘O melhor remédio para o homem é o homem’”  (O que tem importância na vida.  Sobre caminhos bons e recomendáveis, R.Abeln e S. Kner,  Vozes, 2002, p. 33).

Não estamos defendendo uma piedade açucarada  e melosa.  Falamos aqui do amor  que vai extremo do dom da vida. A emotividade em matéria  de fé é má conselheira.

Vamos transcrever dois pensamentos de  José Antonio Pagola  em comentário que faz ao versículo de Lucas acima transcrito:
“O grande pecado dos cristãos será sempre deixar que esse fogo de Jesus vá se apagando. Para que serve uma Igreja de cristãos instalados  comodamente na vida, sem paixão alguma por Deus e sem compaixão pelos que sofrem?  Para que precisa o mundo de cristãos incapazes de atrair, transmitir luz ou oferecer calor?”  (O caminho aberto por Jesus, Lucas, Vozes, p. 220).

“O grande pecado dos seguidores de Jesus será sempre deixar que se apague  fogo: substituir o ardor do amor pela doutrina religiosa, pela ordem e pelo cuidado do culto;  reduzir o cristianismo a uma abstração revestida de ideologia, deixar que se perca seu poder transformador”  (Idem, p.223).

Frei Almir Ribeiro Guimarães


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