28 de julho de 2010

A Indulgência da Porciúncula

O que era ou o que é essa Indulgência, nunca ficou muito claro para mim. Há dias, porém, folheando a nova edição italiana das “Fonti Francescane”, encontrei, pela primeira vez, o famoso documento acerca desse Privilégio. Trata-se do “Diploma do Bispo Teobaldo de Assis”, datado de 1310 e cuja tradução oferecemos aos interessados. Antes do texto propriamente dito, porém, é importante que se leia a pequena introdução historiográfica dos editores das mencionadas “Fonti Francescane”.

“A Indulgência da Porciúcula, evento de suma importância para a história e consciência da Ordem minorítica, e objeto de longas discussões historiográficas acerca de sua autenticidade histórica, encontra sua documentação mais objetiva no Bispo Teobaldo de Assis. Este Bispo recolheu e sintetizou os testemunhos anteriores, tidos historicamente como fundados, particularmente, aqueles de Benedito e Rainério d´Arezzo, de Tiago de Coppoli e de Pedro Zalfani, sem extrapolar a medida da narrativa com excessivos elementos miraculosos. Estes testemunhos nos evocam uma significativa fonte documentária, hagiográfica, e, na esteira do jubileu do milênio de 1300, no tempo de Bonifácio VIII (1294-1303), rica em aspectos pastorais, fundada, de um lado sobre a fidelidade à intuição de Francisco e, de outra parte, sobre a evolução institucional da Ordem no seio da Igreja.

Aqui se propõe o texto completo do documento traduzido a partir da recente edição paleográfica feita sob os cuidados de Stefano Brufani a partir do original, onde ainda se conserva pendente o selo de cera; documento esse conservado no arquivo público do Estado de Perúsia, Corporações religiosas supressas, São Francisco ao Prado, pergaminho 56 (1310, agosto, 10), descoberto em 1964 por Roberto Abbondanza. Cf. S. Brufani, Il diploma del vescovo Teobaldo d´Assisi pel indulgenza della Porciuncola,
II (2000), pp. 43-136, texto pp. 119-136; veja-se, também, M. Sensi, Il perdono di Assisi, S. Maria degli Angeli-Assisi (PG) 2002”.

Vamos, então, ao texto do mencionado documento ou carta do Bispo Teobaldo:

“Irmão Teobaldo, por graça de Deus, Bispo de Assis, aos fiéis cristãos que lerem esta carta, saúde no Salvador de todos..

Por causa de alguns faladores que, impelidos pela inveja, ou talvez pela ignorância, impugnam desaforadamente a indulgência de Santa Maria dos Anjos, situada perto de Assis, somos obrigados a fazer esta comunicação a todos os fiéis cristãos. Através da presente carta, queremos comunicar o modo e a forma desse benefício e como o bem-aventurado Francisco, enquanto estava vivo, o impetrou ao senhor papa Honório.

Morando, o bem-aventurado Francisco, junto à Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, o Senhor, durante a noite, lhe revelou que se dirigisse ao sumo Pontífice, o senhor Honório, que temporariamente se encontrava em Perúsia. A finalidade era impetrar-lhe a indulgência para a mesma igreja de Santa Maria da Porciúncula, há pouco restaurada por ele mesmo. Francisco, levantando-se, de manhã, chamou frei Masseo de Marignano, companheiro seu, com o qual morava, e se apresentou diante do mencionado senhor Honório, e disse:

- Santo Padre, há pouco acabei de restaurar para o senhor uma igreja dedicada à Virgem Mãe de Cristo. Suplico à vossa Santidade que a enriqueçais com uma indulgência, mas, sem a necessidade de nenhuma oferta em dinheiro.

O Papa respondeu-lhe:

- Não convém fazer uma coisa dessas. Pois, quem pede uma indulgência precisa que a mereça dando uma mão. Mas, diz-me para quantos anos você a quer, e quanta indulgência lhe deva conceder.

São Francisco replicou-lhe:

- Santo Padre, sua santidade queira-me dar não anos, mas, almas.

E o senhor Papa respondeu:

- De que modo quer almas?

E o bem-aventurado Francisco declarou:

- Santo Padre, se aprouver à sua santidade, quero que todos quantos se achegarem a essa igreja, confessados e arrependidas e, como convém, absolvidos pelo sacerdote, se tornem libertados da pena e da culpa, no céu e na terra, desde o dia do Batismo até o dia e a hora de sua entrada na mencionada igreja.

O santo Padre acrescentou:

- Isso que pede, Francisco, é muito. E não é costume da Cúria romana conceder semelhante indulgência.

Então, o bem-aventurado Francisco respondeu:

- Senhor, não estou pedindo isto a partir de mim, mas, a partir daquele que me mandou, o Senhor Jesus Cristo.

Diante desse argumento, o senhor Papa concluiu imediatamente, dizendo por três vezes:

- Agrada-me que tenhas essa indulgência.

Os senhores Cardeais presentes, porém, intervieram:

- Vê, se o senhor der essa indulgência, estará destruindo a indulgência do além mar, bem como, virá destruída e considerada nula aquela dos Apóstolos Pedro e Paulo.

O senhor Papa respondeu:

- Agora já a damos e a concedemos; não podemos e nem convém que se destrua o que foi feito. Mas, a modificaremos, de modo que fique limitada apenas para um dia.

Então, chamou São Francisco e disse-lhe:

- Portanto, de hoje em diante, concedemos que, qualquer um que for e entrar na mencionada igreja, bem confessado e contrito, será absolvido da pena e da culpa; e queremos que isso valha todos os anos por somente um dia, das primeiras vésperas até o dia seguinte.

O bem-aventurado Francisco, de cabeça inclinada, começou a retirar-se do palácio. O senhor Papa, então, como o visse saindo, chamou-o dizendo-lhe:

- Ó, simplesinho, aonde vai? Que documento leva desta indulgência?

Respondeu Francisco:

- A mim basta sua palavra. Se for obra de Deus, Deus mesmo deverá manifestá-la. Não quero nenhum outro documento desse privilégio senão este: que a carta seja a bem-aventurada Virgem Maria, o notário Jesus Cristo e os anjos as testemunhas.

Depois disso, Francisco, deixando Perúsia, retornou a Assis. No caminho repousou um pouco, juntamente com seu companheiro, num lugar chamado Colle, onde havia um hospital de leprosos, e lá passou a noite. De manhã, acordado e feita a oração, chamou o companheiro e disse-lhe:

- Frei Masseo, digo-lhe, da parte de Deus, que a indulgência a mim concedida através do sumo pontífice está confirmada pelo céu.

Tudo isso foi contado por frei Marino, sobrinho do mencionado frei Masseo, que frequentemente o ouviu da boca do tio. Esse frei Marino, ultimamente, perto do ano de 1307, repleto de dias e de santidade, repousou no Senhor.

Depois da morte do bem-aventurado Francisco, frei Leão, um dos seus companheiros, homem de vida integralíssima, passou adiante esse fato, assim como o havia recebido da boca de São Francisco; e assim, também, frei Benedito de Arezzo, um dos companheiros de São Francisco, e frei Rainério de Arezzo contaram, tanto para os frades como para os seculares, muitas coisas referentes a essa indulgência, como as tinham ouvido do mencionado frei Masseo. Muitos desses ainda estão vivos e confirmam todas essas notícias.

Não pretendemos, pois, escrever com que solenidade essa indulgência foi tornada pública, durante a consagração da mesma igreja efetuada por sete Bispos. Vamos tão somente referir aquilo que Pedro Zalfani, presente à cerimônia, falou diante do Ministro frei Ângelo, diante de frei Bonifácio, frei Guido, frei Bartolo de Perúsia, e outros frades do lugar da Porciúncula. Contou ele que esteve presente à consagração da mencionada igreja no dia 2 de Agosto, e ouviu o bem-aventurado Francisco que pregava diante daqueles Bispos segurando na mão um documento, e dizia:

- Quero mandar-vos todos para o céu. Anuncio-vos a indulgência que recebi da boca do sumo pontífice: todos vós que hoje vindes e todos aqueles que virão cada ano, neste dia, com um coração bom e contrito, obterão a indulgência de todos os seus pecados.

Fizemos essas considerações acerca da indulgência por causa daqueles que a ignoram. Assim não podem mais usar como desculpa a ignorância. E, acima de tudo, o fazemos por causa dos invejosos e faladores. Estes, em alguns lugares, procuram destruir, suprimir e condenar aquilo que, toda a Itália, a França, a Espanha e outras províncias, tanto de cá como de lá dos montes, ou melhor, o próprio Deus, em reverência à sua santíssima Mãe (pois, como se sabe, a indulgência é dela), quase todos os dias, vem revelando, engrandecendo, glorificando e espalhando com frequentes e manifestos milagres.

Como ousarão invalidar, com suas funestas persuasões, aquilo que já há tanto tempo, diante da Cúria romana, permaneceu com toda sua validade? Pois, também em nosso tempo, o próprio senhor Papa Bonifácio VIII enviou para essa igrejinha seus magníficos embaixadores para que, por sua vez, no dia da indulgência, nos pregassem com toda a solenidade. Às vezes, enviou até Cardeais. Vindos pessoalmente para celebrar a indulgência e, na esperança de receber o perdão, a aprovaram como verdadeira e certa com sua própria presença.

Diante do testemunho de todas essas coisas, e na fé mais certa, assinalamos a presente carta com nosso selo. Dada em Assis, na festa de São Lourenço, no ano do Senhor de 1310”.

Ilustrações:
Extrído de http://ofsporciuncula.blogspot.com/2010/07/indugengia-da-porciuncula.html acesso em 25 jul. 2010.

27 de julho de 2010

Semana Missionaria

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A abertura da Semana Jubilar Missionária, evento promovido pela arquidiocese de Belo Horizonte (MG), com a presença de bispos, padres e fiéis de todo o Brasil, reuniu, no sábado, 24, mais de 10 mil pessoas.

Numa grande demonstração de fé e espiritualidade os fiéis vindos de várias regiões assistiram emocionados à missa e à Ordenação Presbiteral de nove diáconos da arquidiocese de Belo Horizonte, na Praça Cardeal Mota.

Durante a celebração, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, ressaltou a importante missão do sacerdote de servir a Deus com amor e sinceridade, guardando-se do maligno e perseverando no caminho do bem e da fidelidade aos ensinamentos de Jesus Cristo.

À tarde, o bispo auxiliar de Belo Horizonte, dom Joaquim Mol Guimarães, celebrou uma missa na Ermida da Padroeira junto com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e a Vida Religiosa Feminina em Minas Gerais.

Confira a programação completa no site www.arquidiocesebh.org.b

26 de julho de 2010

Assistência na Ordem Franciscana Secular

Todos aqueles que somos encarregados da animação de Fraternidades Franciscanas Seculares, em diferentes níveis, temos consciência da importância da presença do assistente espiritual na vida da Ordem Secular. O propósito destas linhas não é repetir o que já foi dito e escrito em tantos momentos e em tantos lugares deste site. Elas pretendem, simplesmente, chamar atenção para alguns aspectos fundamentais para que os assistentes se sintam bem nesse alegre serviço e para que as Fraternidades possam crescer.
1. “Para ser testemunha da espiritualidade franciscana, do afeto fraterno dos religiosos aos franciscanos seculares, e vínculo de comunhão entre a sua Ordem e a OFS, o Assistente espiritual seja de preferência um religioso franciscano, pertencente à Primeira Ordem ou à TOR” (CCGG OFM 89,3).
2. “Os Ministros Provinciais e outros Superiores Maiores asseguram a assistência espiritual às Fraternidades locais, confiadas à própria jurisdição. Compete particularmente a eles, em nome da respectiva jurisdição: erigir canonicamente novas Fraternidades locais, assegurando a elas a assistência da respectiva Ordem; animar espiritualmente, visitar e fazer encontros com as Fraternidades locais assistidas pela respectiva Ordem; manter-se informados sobre a assistência espiritual prestada à OFS e à JUFRA; nomear os Assistentes espirituais” (Estatuto para a Assistência Espiritual à Ordem Franciscana Secular, art. 11).
3. Cabe aos Ministros Provinciais erigir canonicamente. Importante que a Fraternidade a ser erigida tenha mínimas condições de sobrevivência. Os Ministros procurarão, antes de dar o decreto de ereção, certificar-se se há assistência para a Fraternidade e se foram pesadas todas as razões para sua ereção. Fraternidades erigidas sem assistência têm vida curta. No início de sua caminhada, a Fraternidade necessita de um razoável grupo de iniciantes e formandos. Não se pode erigir uma Fraternidade já fadada a ser encerrada.
4. Os Ministros Provinciais nomeiam os Assistentes. Via de regra, eles se apóiam em listas de nomes que lhes são enviadas. Importante não apenas nomear, mas preparar os nomeados para o exercício de seu cargo. Na Carta de apresentação do Estatuto da Assistência Espiritual e Pastoral à Ordem Franciscana Secular (2008), os Ministros Gerais afirmam: “Uma vez nomeados, os Assistentes espirituais não poderão ser abandonados a si mesmos, mas devem ser acompanhados e animados a trabalharem com entusiasmo e amor para com os seculares, tanto da parte de sua comunidade, quanto de seu Superior maior, em espírito de autêntica família ...
5. Ser assistente espiritual de uma Fraternidade Secular Franciscana é uma vocação. Desde o período da formação inicial, precisam os jovens frades conhecer a mística dos seculares e serem informados na maneira como se farão presentes na Ordem dos seculares e de como exercerão seu ministério fraterno e pastoral. Não basta apenas que o Ministro Provincial com seu Definitório nomeie o Assistente. Será preciso que este “vista a camisa”.
6. Em nossas visitas pastorais tanto em nível regional quanto local, assistentes e visitadores, ficamos sabendo que existem numerosas fraternidades sem assistência e outras que têm frades nomeados mas que aparecem raramente e não acompanham as reuniões e a vida dos irmãos. Deseja-se que os assistentes se façam presentes efetiva e afetivamente na vida dos irmãos da fraternidade. Deseja-se a presença de irmãos e pastores sem pressa e que se disponham a ser “acompanhadores” das fraternidades. O Assistente precisa sentir-se membro efetivo da fraternidade. Sua ausência precisa ser sentida como uma perda para o grupo. Presença sem pressa e presença que acompanha o andamento de toda a Fraternidade e que não deixa que se enveredem por caminhos que não sejam as autênticas vias de um franciscanismo secular hoje.
7. Não é aqui o caso de evocar todas as funções do assistente. Insistimos no acompanhamento. Há o acompanhamento nas reuniões do conselho. O assistente não é fiscal, mas irmão que deve corrigir fraternalmente quando necessário. Presença importante é a sua na reunião geral: presença alegre, fraterna, presença de um mestre da vida franciscana. O Assistente acompanhará cada irmão que precisar. Não se omitirá no tempo da profissão. Os que professam deveriam ter uma conversa-acompanhamento do assistente.
8. Por vezes, certos frades mais jovens, não experimentam entusiasmo pelo ministério junto aos seculares. Fraternidades envelhecidas, rotineiras e devocionalistas, sem desejo de transformação não podem “alugar” a presença de assistentes que não conseguem orientar o grupo para o verdadeiro sentido da vida franciscana secular.
9.Lamentamos profundamente a ausência de assistentes idealistas e peritos na vida franciscana no meio da Juventude Franciscana. Muitos de nós temos uma eterna dívida a frades que animavam grupos de jovens e que desenharam aos nossos olhos o projeto de nosso futuro de vida. A ausência de frades “carismáticos” no meio da JUFRA é uma lacuna profundamente grave.
10. Situação delicada é aquela vivida por Fraternidades seculares situadas em cidades e locais onde não existe mais uma Fraternidade da 1ª Ordem. Tais grupos nem sempre contam com o apoio de um novo pároco. Pode mesmo acontecer de que suas reuniões no prédio da paróquia sejam dificultadas. A ausência de uma assistente durante um período mais ou menos longo pode significar o fechamento da referida Fraternidade
Concluindo,
Dizemos que nada foi dito de novo. Trata-se de lembretes. Esperamos que os Ministros Provinciais olhem com atenção nossas Fraternidades Seculares, que dentro do possível, escolham os melhores assistentes para a família franciscana secular.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS

20 de julho de 2010

OS PRIMEIROS TEMPOS EM SÃO DAMIÃO - O estilo de vida dos inícios


Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Aos poucos as irmãs, instaladas em São Damião, vão descobrindo o seu caminho. Não nos esqueçamos que, nesse início, elas eram não eram mais do que três. A descrição que segue é de Chiara Giovanna Cresmaschi, no seu sólido trabalho Chiara di Assisi. Un silenzio chi grida (p. 51ss). Tudo simples, sem “manual de uso”. Um vida inventada, iluminada pelo carisma de Francisco. Uma novidade na Igreja.

Imagem no Mosteiro Mater Christi de Guaratinguetá, de Pedro Filho1. Vida eremítica fraterna

• Entre as três companheiras não há uma autoridade em sentido estrito, mesmo que seja Clara, com seu exemplo, quem vai abrindo o caminho. Pode-se dizer que o gênero de vida experimentado ali se assemelha ao que, mais tarde, Francisco descreveria na sua pequena Regra para os eremitérios. As três irmãs assumem, cada uma a seu turno, o papel de Maria, dedicando-se à contemplação e, depois o de Marta, que se ocupa daquilo que é necessário para a vida de todos os dias, ou seja, o trabalho.

• Pode-se dizer que, ao longo do dia, as irmãs rezavam partes da Liturgia das Horas seguida de uma vigília noturna. Não se pode afirmar que a recitação de todas as partes da Liturgia das Horas se fazia, desde o começo, em São Damião. Não se deve esquecer que o preço dos livros para o ofício era tão caro quanto à compra de um campo. Por isso, havia o costume de se copiar à mão os textos da liturgia, o que demandava tempo e produzia cansaço. Para os frades menores, isso se tinha tornado materialmente mais fácil com a chegada dos primeiros irmãos sacerdotes, que podiam colocar à disposição seus breviários para serem pacientemente copiados.

• Assim, nos primórdios de São Damião sobrava muito tempo para a oração pessoal, para deixar que a Palavra chegasse ao fundo do coração e conduzisse ao diálogo silencioso com o Tu divino na contemplação de seu mistério.

• Perto de São Damião moravam frades que pediam esmolas de porta em porta, também para a sobrevivência das irmãs. No começo o resultado do peditório não era grande coisa. Os frades não contavam ainda com a simpatia da população. Havia também uma desconfiança para com essas mulheres que tinham deixado suas belas residências na cidade para viverem daquela maneira tão indigente, tão indigna de sua classe social. Devido ao fato de terem pouca coisa para cozinhar, sobrava tempo para a irmã da cozinha se dedicar à oração. Logo se cultivará uma pequena horta com verduras e legumes para a subsistência das irmãs. A falta de bens materiais não é motivo de tristeza, mas causa de alegria. Incentivadas por Clara, as irmãs simples e alegremente se aproximam do “mesa do Senhor” e rendem graças na alegria do Espírito. O entusiasmo dos começos facilita suportar a situação, mas é Cristo Jesus quem lhes dá força. A contemplação de Cristo em todos os seus mistérios e vivamente presente, como que respirado naquele clima de silêncio, é que alimenta a comunhão de amor com o Deus Trino e as irmãs.

2. Como os menores

• Estas mulheres aristocráticas fazem uma opção de classe. Colocam-se voluntariamente entre os últimos da sociedade, daqueles que não têm direitos e a todos estão sujeitos. A escolha da veste já revela sua condição social. No dia-a-dia da vida procuram adquirir a mentalidade do pobre que coloca toda a sua confiança no Senhor. Foram, com efeito, aprendendo a espiritualidade do pobre através da meditação dos salmos e do seu relacionamento com os deserdados que batiam à porta pedindo um pedaço de pão. Mesmo vivendo de esmolas partilhavam com os outros a riqueza de sua pobreza. Pobres voluntariamente elas experimentam praticamente a insegurança a respeito do amanhã como a mãe que não sabe como alimentar nos dias seguintes os filhos famintos. Fazem, assim, a importante experiência da insegurança. Clara e suas irmãs compreendem a força da palavra do Evangelho: aquele que nutre os pássaros dos céus e veste os lírios do campo não deixará faltar roupa e alimento para os que a ele se confiam (cf. Mt 6,26-28). Esta passagem vai aparecer mais tarde no Privilégio da Pobreza.

3. Três irmãs num único Amor

• A atitude do pobre, que tudo espera do Pai, está estreitamente associada à solidariedade típica dos camponeses. Vivem as irmãs juntas, reunidas pelo mesmo Espírito, e sabem que ele continua sendo derramado em suas vidas no seu dia-a-dia. A necessidade de inventar um caminho próprio a ser percorrido, um estilo próprio de vida faz com que as irmãs se dediquem o mais possível à oração silenciosa, porque somente o diálogo com Este que as irmãs querem seguir apaixonadamente abrirá caminhos. Era necessário discernir. O estar juntas, a concreteza de serem irmãs para as quais basta um olhar, uma mão que se estende para ajudar a que um peso seja mais facilmente carregado, essa condição de fraternidade ou se sororidade se faz no diálogo. Assim, de modo informal, sem prescrições pormenorizadas, começa a tomar corpo aquilo que depois se denominaria de Capítulo semanal. No momento havia a escuta da Palavra e a certeza de como esta se torna vida. Há também a consciência da própria fraqueza buscando a ajuda fraterna. Não poderia deixar de haver uma conversa a respeito da organização da vida de cada dia, como a busca de solução para perguntas que iam surgindo. Nasce assim o fazer juntos, a corresponsabilidade que emergirá da Forma de Vida de Clara e que constitui uma das características mais essenciais e singulares para a sua época. Trata-se de um modo de estarem juntas pouco estruturado, marcado por uma calorosa comunhão fraterna que nada perderá de seu ardor quando as irmãs se tornarem mais numerosas e se revestirá de modalidades mais minuciosas. Calor humano favorecido pelo fato que elas se conhecem e fazem aparecer os traços de uma amizade no Espírito. Cria-se um clima familiar.

4. O trabalho

• Um dos aspectos da vida que era muito levado em consideração era a questão do trabalho. As irmãs se ocupavam em fiar, tecer e bordar. Normalmente se pode crer que tinham os instrumentos para o trabalho. O destino do resultado ou do fruto do trabalho será decidido mais tarde. Desde o início, ficou claro que as irmãs deveriam trabalhar com as próprias mãos. Seria marca de seu estilo de vida. Será preciso esperar o andar da história para que reflita os pormenores da concepção clariana do trabalho.

( Num próximo texto examinaremos o fazer penitência e o jejum nos primeiríssimos tempos da vida das irmãs de São Damião).

19 de julho de 2010

PRECE PELA ECOLOGIA

Senhor, Pai e Mãe de todas as criaturas,
abençoa o ar que respiramos e o vento que suaviza;
a água cristalina das fontes e a chuva que refresca;
a terra que nos dá alimento,
as árvores com saborosos frutos
e as flores que perfumam os campos.
Abençoa também o sol e a lua, o arco-íris,
as estaçoes do ano, a fauna e a flora.
Com teu sopro divino, afasta as impurezas
que mandam o belo espetáculo do horizonte
e o brilho fascinante das estrelas.
Suscita em nós o espírito ecológico
e orienta nossas mentes e corações,
pois cabe a cada um/a de nós,
o compromisso de preservar a natureza,
maravilhosa obra de tua criação.
Amém!

12 de julho de 2010

12/07 - São João Jones e São João Wall, Presbíteros e Mártires

João Jones, nascido na Inglaterra e professo entre os Frades Menores,viu-se obrigado a exilar-se na França e aí foi ordenado sacerdote.Depois de breve estadia em Roma, regressou à pátria e exerceu clandestinamente, em Londres, o ministério sacerdotal. Preso e encarcerado, padeceu duros tormentos, até que aos 12 de julho de 1598 ele foi enforcado. – João Wall nasceu na Inglaterra, mas, ordenado sacerdote na França, entrou na Ordem dos Frades Menores. Tendo voltado à pátria, exerceu por 22 anos o ministério sacerdotal, disfarçado com outro nome. Preso pelos inimigos, sofreu ásperas torturas no cárcere e, condenado à pena capital, foi morto a 22 de agosto de 1679

ORAÇÃO - Ó Deus, que tornaste os santos mártires João Jones e João wall exímios defensores da fé católica,concedei, por sua intercessão, que todos os povos, Gloriando-se do nome de cristão, cheguem à unidade da verdadeira fé. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

9 de julho de 2010

PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 7 de Julho de 2010

[Vídeo]


João Duns Escoto

Amados irmãos e irmãs!

Esta manhã – depois de algumas catequeses sobre diversos grandes teólogos – desejo apresentar-vos outra figura importante na história da teologia: trata-se do beato João Duns Escoto, que viveu no final do século XIII. Uma antiga inscrição sobre o seu túmulo resume as coordenadas geográficas da sua biografia: "a Inglaterra acolheu-o; a França instruiu-o; Colónia, na Alemanha, conserva os seus despojos mortais; na Escócia ele nasceu". Não podemos descuidar estas informações, também porque temos muito poucas notícias sobre a vida de Duns Escoto. Ele nasceu provavelmente em 1266 numa aldeia que se chamava precisamente Duns, perto de Edimburgo. Atraído pelo carisma de São Francisco de Assis, entrou na Família dos Frades Menores, e em 1291 foi ordenado sacerdote. Dotado de uma inteligência brilhante e propensa à especulação – aquela inteligência pela qual a tradição lhe conferiu o título de Doctor subtilis, "Doutor subtil" – Duns Escoto foi orientado para os estudos de filosofia e de teologia nas célebres Universidades de Oxford e de Paris. Concluída com bom êxito a formação, empreendeu o ensino da teologia nas Universidades de Oxford e de Cambridge, e depois de Paris, começando a comentar, como todos os Mestres da época, as Sentenças de Pedro Lombardo. As obras principais de Duns Escoto representam precisamente o fruto maduro destas lições, e tomam o título dos lugares onde ele ensinou: Opus Oxoniense (Oxford), Reportatio Cambrigensis (Cambridge), Reportata Parisiensia (Paris). Afastou-se de Paris quando, tendo rebentado um grave conflito entre o rei Filipe iv o Belo e o Papa Bonifácio VIII Duns Escoto preferiu o exílio voluntário, para não assinar um documento hostil ao Sumo Pontífice, como o rei tinha imposto a todos os religiosos. Assim – por amor à Sé de Pedro – juntamente com os Frades franciscanos, abandonou o país.

Queridos irmãos e irmãs, este acontecimento convida-nos a recordar quantas vezes, na história da Igreja, os crentes encontraram hostilidades e até sofreram perseguições devido à sua fidelidade e devoção a Cristo, à Igreja e ao Papa. Todos nós olhamos com admiração para estes cristãos, que nos ensinam a guardar como um bem precioso a fé em Cristo e a comunhão com o Sucessor de Pedro e, assim, com a Igreja universal.

Contudo, as relações entre o rei da França e o sucessor de Bonifácio VIII depressa foram restabelecidas, e em 1305 Duns Escoto pôde regressar a Paris para ali ensinar teologia com o título de Magister regens, que hoje corresponderia a professor ordinário. Sucessivamente, os Superiores convidaram-no para Colónia como professor do Colégio teológico franciscano, mas ele faleceu a 8 de Novembro de 1308, com apenas 43 anos de idade, contudo deixando um número relevante de obras.

Devido à fama de santidade da qual gozava, o seu culto difundiu-se depressa na Ordem franciscana e o Venerável Papa João Paulo II quis proclamá-lo solenemente beato a 20 de Março de 1993, definindo-o "cantor do Verbo encarnado e defensor da Imaculada Conceição". Nesta expressão está sintetizada a grande contribuição que Duns Escoto ofereceu à história da teologia.

Antes de tudo, ele meditou sobre o Mistério da Encarnação e, ao contrário de muitos pensadores cristãos da época, afirmou que o Filho de Deus se teria feito homem mesmo se a humanidade não tivesse pecado. Ele afirma na "Reportata Parisiensia": "Pensar que Deus teria renunciado a esta obra se Adão não tivesse pecado seria totalmente irracional! Portanto, digo que a queda não foi a causa da predestinação de Cristo, e que – mesmo se ninguém tivesse pecado, nem o anjo nem o homem – nesta hipótese Cristo teria sido ainda predestinado do mesmo modo" (in III Sent., d. 7, 4). Este pensamento, talvez um pouco surpreendente, surge porque para Duns Escoto a Encarnação do Filho de Deus, projectada desde a eternidade por parte de Deus Pai no seu desígnio de amor, é cumprimento da criação, e torna possível que cada criatura, em Cristo e por meio dele, seja colmada de graça, e preste louvor e glória a Deus na eternidade. Duns Escoto, apesar de estar consciente de que, na realidade, por causa do pecado original, Cristo nos remiu com a sua Paixão, Morte e Ressurreição, reafirma que a Encarnação é a obra maior e mais bela de toda a história da salvação, e que ela não está condicionada por qualquer facto contingente, mas é a ideia original de Deus para unir finalmente toda a criação consigo mesmo na pessoa e na carne do Filho.

Discípulo fiel de São Francisco, Duns Escoto gostava de contemplar e pregar o Mistério da Paixão salvífica de Cristo, expressão do amor imenso de Deus, o Qual transmite com grandíssima generosidade para fora de si os raios da sua bondade e do seu amor (cf. Tractatus de primo principio, c. 4). E este amor não se revela só no Calvário, mas também na Santíssima Eucaristia, da qual Duns Escoto era devotíssimo e que via como o Sacramento da presença real de Jesus e como o Sacramento da unidade e da comunhão que conduz a amar-nos uns aos outros e a amar Deus como o Sumo Bem (cf.Reportata Parisiensia, in IV Sent.,d.8,q.1, n. 3).

Queridos irmãos e irmãs, esta visão teológica, fortemente "cristocêntrica", predispõe-nos para a contemplação, admiração e gratidão: Cristo é o centro da história e da criação, é Aquele que dá sentido, dignidade e valor à nossa vida! Como o Papa Paulo VI em Manila, também eu hoje gostaria de bradar ao mundo: "[Cristo] é o revelador do Deus invisível, é o primogénito de cada criatura, é o fundamento de todas as coisas; Ele é o Mestre da humanidade, é o Redentor, Ele nasceu, morreu, ressuscitou para nós; Ele é o centro da história e do mundo; é Aquele que nos conhece e nos ama; é o companheiro e o amigo da nossa vida... Nunca terminaria de falar d'Ele" (Homilia, 29 de Novembro de 1970).

Não só o papel de Cristo na história da salvação, mas também o de Maria é objecto da reflexão do Doctor subtilis. Na época de Duns Escoto a maior parte dos teólogos fazia uma objecção, que parecia insuperável, à doutrina segundo a qual Maria Santíssima foi preservada do pecado original desde o primeiro momento da sua concepção: de facto, a universalidade da Redenção realizada por Cristo, à primeira vista, podia parecer comprometida por semelhante afirmação, como se Maria não tivesse precisado de Cristo e da sua redenção. Por isso os teólogos opunham-se a estes textos. Então, Duns Escoto, para fazer compreender esta preservação do pecado original, desenvolveu um tema que depois seria adoptado também pelo beato Papa Pio IX em 1854, quando definiu solenemnete o dogma da Imaculada Conceição de Maria. E este argumento é o da "Redenção preventiva", segundo a qual a Imaculada Conceição representa a obra-prima da Redenção realizada por Cristo, porque precisamente o poder do seu amor e da sua mediação obteve que a Mãe fosse preservada do pecado original. Por conseguinte Maria é totalmente remida por Cristo, mas já antes da concepção. Os Franciscanos, seus irmãos de hábito, aceitaram e difundiram com entusiasmo esta doutrina, e outros teólogos – muitas vezes com juramento solene – comprometeram-se a difundi-la e a aperfeiçoá-la.

A este propósito, gostaria de ressaltar outro aspecto, que me parece importante. Teólogos de valor, como Duns Escoto acerca da doutrina sobre a Imaculada Conceição, enriqueceram com a sua contribuição específica de pensamento aquilo em que o Povo de Deus já acreditava espontaneamente sobre a Bem-Aventurada Virgem, e manifestava nos actos de piedade, nas expressões da arte e, em geral, na vivência cristã. Assim a fé quer na Imaculada Conceição, quer na Assunção corporal da Virgem já estava presente no Povo de Deus, mas a teologia ainda não tinha encontrado a chave para a interpretar na totalidade da doutrina da fé. Por conseguinte, o Povo de Deus precede os teólogos e tudo isto graças àquele sensus fidei sobrenatural, ou seja, àquela capacidade infundida pelo Espírito Santo, que habita e abraça a realidade da fé, com a humildade do coração e da mente. Neste sentido, o Povo de Deus é "magistério que precede", e que depois deve ser aprofundado e intelectualmente acolhido pela teologia. Que os teólogos possam pôr-se sempre à escuta desta nascente da fé e preservar a humildade e simplicidade dos pequeninos! Já recordei isto há alguns meses, dizendo: "Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, grandes mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura... mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo... O essencial permaneceu escondido! Em contrapartida, no nosso tempo existem também os pequeninos que conheceram este mistério. Pensemos em santa Bernadete Soubirous; em santa Teresa de Lisieux, com a sua nova leitura "não científica" da Bíblia, mas que entra no coração da Sagrada Escritura" (Homilia na Missa celebrada com os Membros da Pontifícia Comissão Teológica Internacional, 1/12/2009, ed. em português de L'Osservatore Romano de 5/12/2009, p. 9).

Por fim, Duns Escoto desenvolveu um aspecto ao qual a modernidade é muito sensível. Trata-se do tema da liberdade e da sua relação com a vontade e com o intelecto. O nosso autor ressalta a liberdade como qualidade fundamental da vontade, iniciando uma orientação de tendência voluntarista, que se desenvolveu em contraste com o chamado intelectualismo agostiniano e tomista. Para São Tomás de Aquino, que segue Santo Agostinho, a liberdade não pode considerar-se uma qualidade inata da vontade, mas o fruto da colaboração da vontade e do intelecto. Uma ideia da liberdade inata e absoluta colocada na vontade que precede o intelecto, quer em Deus quer no homem, de facto, corre o risco de levar à ideia de um Deus que não estaria relacionado nem sequer com a verdade e com o bem. O desejo de salvar a absoluta transcendência e diversidade de Deus com uma acentuação tão radical e impenetrável da sua vontade não tem em consideração que o Deus que se revelou em Cristo é o Deus "logos", que agiu e age cheio de amor por nós. Certamente, como afirma Duns Escoto na esteira da teologia franciscana, o amor supera o conhecimento e é capaz de compreender cada vez mais o pensamento, mas é sempre o amor do Deus "logos" (cf. Bento XVI, Discurso em Regensburg, Insegnamenti di Benedetto XVI, II [2006], p. 261). Também no homem a ideia de liberdade absoluta, colocada na vontade, esquecendo o nexo com a verdade, ignora que a mesma liberdade deve ser libertada dos limites que lhe provêm do pecado.

Falando aos seminaristas romanos no ano passado recordei que "a liberdade em todos os tempos foi o grande sonho da humanidade, desde o início, mas sobretudo na época moderna" (cf. Discurso ao Pontifício Seminário Maior Romano, 20 de Fevereiro de 2009). Contudo, precisamente a história moderna, além da nossa experiência quotidiana, ensina-nos que a liberdade só é autêntica, e só ajuda a construir uma civilização deveras humana, se estiver reconciliada com a verdade. Se estiver separada da verdade, a liberdade torna-se tragicamente princípio de destruição da harmonia interior da pessoa humana, fonte de prevaricação dos mais fortes e dos violentos, e causa de sofrimentos e de lutos. A liberdade, como todas as faculdades das quais o homem está dotado, cresce e aperfeiçoa-se, afirma Duns Escoto, quando o homem se abre a Deus, valorizando aquela disposição para a escuta da Sua voz, que ele chama potentia oboedientialis: quando nos pomos à escuta da Revelação divina, da Palavra de Deus, para a acolher, então somos alcançados por uma mensagem que enche de luz e de esperança a nossa vida e somos deveras livres.

Amados irmãos e irmãs, o beato Duns Escoto ensina-nos que na nossa vida o essencial é crer que Deus está próximo de nós e nos ama em Jesus Cristo, e portanto, cultivar um amor profundo a Ele e à sua Igreja. Deste amor nós somos as testemunhas nesta terra. Maria Santíssima nos ajude a receber este amor infinito de Deus do qual gozaremos de modo pleno eternamente no Céu, quando enfim a nossa alma estiver para sempre em Deus, na comunhão dos santos.

Saudação

Uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, com votos de que sejais sobre esta terra testemunhas do Amor de Cristo, consolidando a fé que professais através da visita aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Que Deus vos abençoe!

8 de julho de 2010

Custódia da Terra Santa: Atualidade e imagens inéditas da Terra Santa

Cidade do Vaticano (CV) - O Franciscan Multimedia Center (FMC), centro televisivo de produção promovido pela Custódia da Terra Santa (http://www.custodia.org) e H2onews (www.h2onews.org), agência informativa católica, unem suas forças para divulgar notícias em vídeo sobre a atividade da Igreja na Terra Santa.

Os vídeos serão feitos em 8 idiomas (espanhol, italiano, inglês, francês, árabe, chinês, português e alemão).

O custódio Pierbattista Pizzaballa, ao manifestar seu apoio a este acordo, sublinhou a importância deste serviço para dar voz aos cristãos nos lugares em que Jesus viveu.

As notícias poderão ser vistas diretamente no site da H2onews (www.h2onews.org) e através do site da Custódia (http://www.youtube.com/user/videocustodia).

7 de julho de 2010

Capitulo Geral da OFS 2011

Roma, 6 de junho de 2010
Solenidade de Corpus Christi


«"Minha carne é verdadeira comida,
E meu sangue verdadeira bebida;
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele. »
(Jo 6, 56-57)


Aos Conselhos Nacionais da OFS e JUFRA
Aos Conselheiros Internacionais OFS e JUFRA

Queridos irmãos e irmãs:
O Senhor vos dê a paz!

Hoje, que celebramos a doação de Jesus na última Ceia, o dia da Eucaristia em si mesma, ocasião para crer, amar e adorar, mas também para conhecer melhor a riqueza deste mistério de Jesus que se faz pão vivo para cada um e para o perdão do pecado, pareceu-me um lindo dia para anunciar a celebração do “XIII Capítulo Geral da Ordem Franciscana Secular”.

Terá lugar no Brasil, na cidade de São Paulo, nos dias 22 a 29 de outubro de 2011, no Centro Pastoral Santa Fé. A Presidência do CIOFS, entre as propostas recebidas, elegeu esta, já que será a primeira vez que um Capítulo Geral se celebra na América do Sul, onde a OFS representa mais de uma terça parte de nossa Ordem e a JUFRA também tem uma considerável consistência. Espero que todos gostem da idéia de compartilhar a vida com nossos irmãos e irmãs deste belo e sofrido Continente.

De maneira orientativa, lhes informo que o tema central do Capítulo será: “Evangelizados para evangelizar”, com uma introdução geral sobre o tema e os seguintes sub-temas:

- Vocação específica para uma missão particular.

- Construtores de um mundo fraterno e evangélico. (Instrumentos de paz e reconciliação).

Mais adiante poderemos oferecer-lhes informações mais concretas, já que o tema do Capítulo será tratado em profundidade na próxima reunião da Presidência.

Quero adiantar-lhes que no próximo ano a formação permanente oferecida na Página Web estará dedicada ao argumento do Capítulo, para que toda a Ordem se prepare e sensibilize adequadamente para aprofundá-lo e para que suas orientações sejam recebidas com responsabilidade e decisão de aplicá-las a fundo.

Desde este momento os convido a tomar as medidas necessárias para participar no Capítulo, ao qual serão formalmente convocados os Conselheiros Internacionais da OFS e da JUFRA. Consideraremos a presença de algumas das Fraternidades Nacionais Emergentes, que ainda não tenham participado num Capítulo Geral.

Também não é demais recordar que, à norma do art. 4.2 do Estatuto FIOFS, as Fraternidades Nacionais Emergentes podem constituir um grupo de países próximos, com características sociais, culturais e religiosas similares, que lhes permita participar com um Conselheiro Internacional próprio, com todos os direitos.

Estejam atentos às comunicações que estarão chegando com informações concretas para a melhor organização do Capítulo. Rogo, a alguns, que sejam criativos para começar já a organizar eventos e atividades que permitam angariar fundos para a participação de cada Fraternidade Nacional neste evento de vida, responsabilidade compartilhada e de fraternidade para nossa Ordem e, a outros, que sejam caridosos para contribuir, como o jovem do Evangelho, os pães e os peixes que, com o milagre do amor, saciem a fome de participar no Capítulo das Fraternidades com mais carências econômicas.

Que Jesus - Eucaristia, seja a razão de nossa vida e suscite em nós o desejo de ser evangelizados para tornar possível nossa missão evangelizadora.

Vossa irmã,
Encarnación del Pozo
Ministra Geral OFS

2 de julho de 2010

1ª SEXTA-FEIRA DO MÊS-QUEM MATARÁ A SEDE DE NOSSAS GARGANTAS

Em vós está a fonte da vida...Salmo 35,10

1. Uma das mais torturantes experiências que o ser humano faz é a da sede. Há essa terrível ardência na garanta! Há os que caminham no deserto e deliram suspirando por um poço ou então uma fonte que brotasse da rocha. Nos campos de batalha da guerra os soldados, feridos ou extenuados, arrastam-se por terra, para sorver algumas gotas de água misturadas na lama e em no meio de todos os detritos. Quanta sofreguidão! E que alívio quando a sede começa a amainar...

2.Há pessoas que se dizem “religiosas”. Há essas que parecem satisfeitas com algumas práticas de piedade e de caridade. Não experimentam desejo de ir adiante. Parecem ter domesticado a Deus. Há outras que têm sede de plenitude. Encontraram a Deus na infância ou em outra estação de sua caminhada, mas sempre com desejo de dar um passo adiante, de andar na busca de uma fonte de plenitude. Felizes os sedentos de Deus! Lamentável a vida dos saciados, dos fazedores da mesmice, dos repetidores de ritos.

3. “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Daquele que crê em mim brotarão rios de água viva” (Jo 7, 37-38). Felizes aqueles que conseguem vislumbrar no caminho da vida essa água que vem de Cristo, felizes esses sedentos que encontram com Cristo e podem beber de seu amor. Não se trata de encontrar uma mera lembrança do passado. Mas alguém postado diante das encruzilhadas de nossas vidas oferecendo-se para matar nossa sede de plenitude. Esse que se apresenta como uma alternativa vigorosa. Não fomos feitos para a rotina, para repetir gestos e palavras, queixas e lamentos. Nosso coração é feito para grandezas.

4. E podemos multiplicar os textos da antiga e da nova aliança que falam de uma misteriosa água:

  • Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha e restaura as minhas forças (Sl 22,2-3).
  • Eis que os filhos dos homens se abrigam sob a sombra das asas de Deus. Na abundância da vossa morada eles vêm saciar-se de bens. Vós lhes dais de beber água viva, nas torrente das vossas delícias. Pois em vós está a fonte da vida, e em vossa luz contemplamos a luz (Sl 35, 8-10).
  • Jesus encontra-se com uma mulher de Samaria. Pede água para matar sua sede e, depois, oferece à mulher uma água diferente que saciaria sua sede para sempre.

5. Jesus, no alto da cruz, é a manifestação mais acabada e definitiva da ternura e do amor de Deus pelos homens. Com efeito, ele mesmo havia afirmado, que a ele tudo atrairia quando estivesse elevado da terra. Por isso, todos temos necessidade de contemplar com as nossas entranhas o momento da entrega definitiva do Mestre no alto da cruz e, ao mesmo tempo, aquele toque da lança que abriu para nós a janela do amor.

6. Boaventura: “Considera, ó homem redimido, quem é aquele que por tua causa está pregado na cruz, qual a sua dignidade e grandeza. A sua morte dá vida; por sua morte chorem os céus e a terra, e fendem-se até as pedras mais duras. Para que, do lado de Cristo, morto na cruz se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: Olharão para aquele que transpassaram(Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, do íntimo de seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-se para os que já vivem em Cristo bebida da fonte que jorra para a vida eterna (Jo 4,14)” (Liturgia das Horas III, p. 571).

7. A fonte da água e do sangue que saíram pela fenda do peito aberto é uma vontade humano-divina de atingir todos aqueles que desejam se libertar de si, dos liames da mediocridade, da escravidão do desamor. Os que se deixam tocar pelo peito aberto do Salvador valorizam sempre mais a Eucaristia que não é um evento qualquer, que nada tem a ver com show, mas é o momento de se recolher por sobre a toalha branca do altar uma água viva que pode nos tornar criaturas menos medíocres e cheias de um vigor que só pode ter origem no amor de um Deus que tem o peito aberto. O amor de Deus manifestado no peito aberto do Salvador poderá ser água de que tanto reclama nossa garganta!

1 de julho de 2010

REFLEXÕES EM TORNO DAQUELES QUE CHEGAM

Nós, franciscanos, nos rejubilamos quando o Senhor orienta jovens e menos jovens a ingressarem em nossas fileiras. Francisco de Assis e santos frades continuam atraindo pessoas para essa trilha da vida consagrada franciscana. Inspirados na leitura de Jaldemir Vitório (A pedagogia na formação, Paulinas, 2008, p. 80-84), gostaria de chamar atenção para algumas características dos rapazes que batem à nossa porta.

1. A base humana dos que chegam é muito frágil. Não poucos provêm de famílias desajustadas, recompostas. Há mesmo os que desconhecem quem seja seu pai. Uns foram criados por uma avó. Essas carências familiares terão repercussão na vida comunitária e no amadurecimento afetivo. A família, e principalmente uma família cristã, costuma ser um suporte básico na vida.

2. Muitas vezes, os que chegam tiveram uma formação intelectual pouco satisfatória. Freqüentaram escolas públicas, nem sempre de boa qualidade. Muitos deles trabalharam durante o dia e fizeram seus estudos à noite, cansados, sem grande proveito. Não conseguiram ter uma visão de mundo, com honrosas exceções. Precisariam de um reforço de estudo.

3. Sua formação cristã pode deixar a desejar. Fizeram um catecismo em vista da primeira eucaristia. Alguns freqüentaram grupos de jovens nem sempre com aprofundamento doutrinário. Alguns, provenientes de certos movimentos, ao contrário, aprenderam as coisas da fé e adquiriram o gosto pela leitura e pelo estudo. Muitos dos nossos jovens não sabem o que vem a ser um projeto cristão. Talvez até aquele momento nunca tenham tido a ocasião de fazer uma experiência pessoal de Deus. Também não captaram o real significado da Eucaristia. Por isso, o tempo do acompanhamento vocacional não pode ser abreviado ou encurtado demais. Os vocacionados precisam aprender o que vem a ser um projeto cristão para a vida e, de modo especial, em nosso caso um projeto franciscano de viver.

4. Há os que querem ser frades de hábito, sandálias, coroa franciscana, bonitinhamente. Nada se deve ter contra a veste e o hábito, mas a vida franciscana não é folclórica e romântica. Assim, antes de ingressar no postulantado e noviciado será importante que a vida escolhida não seja fuga para uma território protegido... Será preciso ter cuidado.

5.Transcrevo literalmente observações de nosso autor. Os que chegam “são filhos da Modernidade e pós-modernidade, com seu componente de individualismo, hedonismo, consumismo, incapacidade de compromissos definitivos. Conhecem muito bem os meandros da informática. A tecnologia os empolga. Formadores de mais idade desconhecem a linguagem dos formandos quando se embrenham pelos neologismos criados com o aportuguesamento de termos de língua inglesa: deletar, atachar, linkar. E ficam maravilhados em ver os formandos lidarem com aparelhos sofisticados com a desenvoltura de quem os conhece de longa data. Por nada deste mundo, os formandos admitem abrir mão de seus celulares, laptops, computadores e outras parafernálias eletrônicas. Preferem a comunicação virtual das salas de chats e do Orkut ao diálogo real com irmãos e irmãs da comunidade”.

6. Importante que os candidatos possam, aos poucos, aceitar sua história, terem a capacidade de mudar o que precisa ser mudado, integrando no seu hoje as feridas e machucados do passado. Serão levados a reconciliar-se com a própria história.

7. Aos poucos, essas criaturas do ruído e do barulho, serão levadas a viver, por vezes, uma solidão habitada por Deus típica da vida religiosa. No tempo do discernimento vocacional, a vivência de momentos de silêncio e de solidão não podem faltar.

8. Mais uma vez, uma citação literal, no tocante à sexualidade dos que chegam às nossas portas: “Para os jovens, a sexualidade não tem mistério. Desde muito cedo têm vida sexual ativa (é claro que nem todos). Assumir um projeto de vida celibatário é demasiado exigente. Daí resolverem a seu modo as carências afetivo-sexuais. O fenômeno da homossexualidade ativa e militante difundiu-se a ponto de sair do controle das equipes de formação, causando sérios conflitos nas casas de formação. Por outro lado, é possível haver vocacionados que fizeram uso de psicotrópicos ou foram viciados em bebidas alcoólicas e trazem consigo as marcas dessas experiências”.


Frei Almir R. Guimarães