2 de julho de 2010

1ª SEXTA-FEIRA DO MÊS-QUEM MATARÁ A SEDE DE NOSSAS GARGANTAS

Em vós está a fonte da vida...Salmo 35,10

1. Uma das mais torturantes experiências que o ser humano faz é a da sede. Há essa terrível ardência na garanta! Há os que caminham no deserto e deliram suspirando por um poço ou então uma fonte que brotasse da rocha. Nos campos de batalha da guerra os soldados, feridos ou extenuados, arrastam-se por terra, para sorver algumas gotas de água misturadas na lama e em no meio de todos os detritos. Quanta sofreguidão! E que alívio quando a sede começa a amainar...

2.Há pessoas que se dizem “religiosas”. Há essas que parecem satisfeitas com algumas práticas de piedade e de caridade. Não experimentam desejo de ir adiante. Parecem ter domesticado a Deus. Há outras que têm sede de plenitude. Encontraram a Deus na infância ou em outra estação de sua caminhada, mas sempre com desejo de dar um passo adiante, de andar na busca de uma fonte de plenitude. Felizes os sedentos de Deus! Lamentável a vida dos saciados, dos fazedores da mesmice, dos repetidores de ritos.

3. “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Daquele que crê em mim brotarão rios de água viva” (Jo 7, 37-38). Felizes aqueles que conseguem vislumbrar no caminho da vida essa água que vem de Cristo, felizes esses sedentos que encontram com Cristo e podem beber de seu amor. Não se trata de encontrar uma mera lembrança do passado. Mas alguém postado diante das encruzilhadas de nossas vidas oferecendo-se para matar nossa sede de plenitude. Esse que se apresenta como uma alternativa vigorosa. Não fomos feitos para a rotina, para repetir gestos e palavras, queixas e lamentos. Nosso coração é feito para grandezas.

4. E podemos multiplicar os textos da antiga e da nova aliança que falam de uma misteriosa água:

  • Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha e restaura as minhas forças (Sl 22,2-3).
  • Eis que os filhos dos homens se abrigam sob a sombra das asas de Deus. Na abundância da vossa morada eles vêm saciar-se de bens. Vós lhes dais de beber água viva, nas torrente das vossas delícias. Pois em vós está a fonte da vida, e em vossa luz contemplamos a luz (Sl 35, 8-10).
  • Jesus encontra-se com uma mulher de Samaria. Pede água para matar sua sede e, depois, oferece à mulher uma água diferente que saciaria sua sede para sempre.

5. Jesus, no alto da cruz, é a manifestação mais acabada e definitiva da ternura e do amor de Deus pelos homens. Com efeito, ele mesmo havia afirmado, que a ele tudo atrairia quando estivesse elevado da terra. Por isso, todos temos necessidade de contemplar com as nossas entranhas o momento da entrega definitiva do Mestre no alto da cruz e, ao mesmo tempo, aquele toque da lança que abriu para nós a janela do amor.

6. Boaventura: “Considera, ó homem redimido, quem é aquele que por tua causa está pregado na cruz, qual a sua dignidade e grandeza. A sua morte dá vida; por sua morte chorem os céus e a terra, e fendem-se até as pedras mais duras. Para que, do lado de Cristo, morto na cruz se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: Olharão para aquele que transpassaram(Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, do íntimo de seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-se para os que já vivem em Cristo bebida da fonte que jorra para a vida eterna (Jo 4,14)” (Liturgia das Horas III, p. 571).

7. A fonte da água e do sangue que saíram pela fenda do peito aberto é uma vontade humano-divina de atingir todos aqueles que desejam se libertar de si, dos liames da mediocridade, da escravidão do desamor. Os que se deixam tocar pelo peito aberto do Salvador valorizam sempre mais a Eucaristia que não é um evento qualquer, que nada tem a ver com show, mas é o momento de se recolher por sobre a toalha branca do altar uma água viva que pode nos tornar criaturas menos medíocres e cheias de um vigor que só pode ter origem no amor de um Deus que tem o peito aberto. O amor de Deus manifestado no peito aberto do Salvador poderá ser água de que tanto reclama nossa garganta!

Nenhum comentário:

Postar um comentário