30 de outubro de 2009

Papa pede que Cristãos sejam testemunhas da preservação ambiental

"Os cristãos são chamados a unir-se no oferecer ao mundo um testemunho crível da responsabilidade pela salvaguarda da Criação"

Bento XVI enviou uma mensagem ao patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, para a abertura, nesta quarta-feira, em Nova Orleans, Louisiana, EUA, do Simpósio de Religião, Ciência e Ambiente, que tem como tema "Restabelecer o equilíbrio: o grande rio Mississipi".

Na mensagem, o papa faz um apelo aos cristãos a fim de que ofereçam ao mundo um testemunho crível da responsabilidade pela salvaguarda da Criação e recorda o furacão Katrina, que em 2005 atingiu a referida localidade estadunidense.

As palavras do Santo Padre foram lidas pelo arcebispo de Nova Orleans, Dom Gregory Michael Aymond.

"Os cristãos são chamados a unir-se no oferecer ao mundo um testemunho crível da responsabilidade pela salvaguarda da Criação e a colaborar de todos os modos possíveis para assegurar que a nossa terra possa conservar intacto aquilo que Deus lhe deu: grandeza, beleza e generosidade."

Com essas palavras, Bento XVI quis saudar o patriarca Bartolomeu I e os 150 participantes do VIII Simpósio de Religião, Ciência e Ambiente dedicado ao Mississipi.

"A solução das crises ecológicas do nosso tempo requer necessariamente uma profunda mudança por parte de nossos contemporâneos": a esse propósito, o pontífice se diz "plenamente de acordo" com o patriarca Bartolomeu I sobre o fato que "os problemas urgentes que concernem ao cuidado e proteção do ambiente", contemplando importantes questões políticas, econômicas, técnicas e científicas, são, todavia, "essencialmente de natureza ética".

Citando a Caritas in veritate, o Santo Padre recorda que a natureza "é uma prioridade para todos" e, como fundamento da nossa vida, deve ser usada "responsavelmente" e "com respeito".

O papa ressalta ainda que um conhecimento "puramente econômico e tecnológico" do progresso inevitavelmente provocará "conseqüências negativas" para indivíduos, povos e para a própria criação. Um autêntico desenvolvimento humano chama a uma justiça entre gerações e à solidariedade com os homens e as mulheres do futuro, que têm também eles o direito de gozar dos bens que a criação oferece a todos com abundância, como querido por Deus – ressalta Bento XVI.

O pontífice prossegue a sua mensagem frisando que esse simpósio sobre o Mississipi nos recorda o ocorrido em Nova Orleans e nas adjacências, em 29 de agosto de 2005 com a passagem devastadora do furacão Katrina: "meus pensamentos e minhas orações se voltam para todos aqueles, especialmente os pobres, que experimentaram sofrimento, privação e deslocamentos, e para todos que se empenharam no paciente trabalho de reconstrução e renovação" – escreve o Santo Padre.

Na linha da observação do pontífice, segundo o qual "hoje os grandes sistemas fluviais de todos os continentes estão expostos a sérias ameaças, muitas vezes como resultado de atividades e decisões do homem", o patriarca Bartolomeu I ressaltou, em seu discurso, que "todos nós temos o nosso papel a desempenhar, a nossa sagrada responsabilidade" pelo amanhã. Porque – concluiu o patriarca ecumênico de Constantinopla – "toda decisão, pessoal e coletiva, determina o futuro do planeta". (RL)

Fonte:
Rádio Vaticano

27 de outubro de 2009

Cartas de Santa Clara

A maior preciosidade, entre os escritos de Santa Clara, está em suas Cartas. Temos quatro, dirigidas a Santa Inês de Praga, entre os anos 1234 e 1253. Sabemos que essas comunicações devem ter sido mais numerosas, mas ainda não foram encontradas. Alguns autores acrescentam a essas cartas uma quinta, dirigida a Ermentrudes de Bruges, uma discípula alemã que tinha ido morar na Bélgica. Mas seu texto não é seguramente autêntico. Vamos apresentar, a partir desses escritos, alguns pontos fortes da espiritualidade clariana.


Primeira Carta - 1234

"Porque, embora pudésseis gozar, mais do que outros, das pompas e honras deste mundo, desposando legitimamente, com a maior glória, o ilustre imperador, como teria sido sido conveniente à vossaexcelência e à dele, rejeitastes tudo isso e preferistes a santíssima pobreza e as privações corporais, com toda a alma e com todo o afeto do coração, tomando um esposo da mais nobre estirpe, o Senhor Jesus Cristo, que guardará vossa vigindade sempre imaculada e intacta. Amando-o, sois casta; tocando-o, tornar-vos-eis mais limpa; acolhendo-o, sois virgem..."

Segunda Carta - 1236


"Em rápida corrida, com passos ligeiro e pé seguro, confiante e alegre avance pelo caminho da bem-aventurança. Não confie em ninguém, não consinta com nada que queira afastá-la desse propósito, que seja tropeço no caminho, para não cumprir seus votos ao Altíssimo na perfeição em que o Espírito do Senhor a chamou. Siga o conselho do nosso Frei Elias, ministro geral. Prefira-o aos conselhos dos outros e tenha-o como o mais precioso dom. Se alguém lhe disser outra coisa, ou sugerir algo diferente, que impeça a sua perfeição ou parecer contrário ao chamado de Deus, mesmo que mereça sua veneração, não siga o seu conselho. Abrace o Cristo pobre como uma virgem pobre."

Terceira Carta - 1238


"Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma no esplendor da glória. Ponha o coração na figura da substância divina. E transforme-se, inteira, pela contemplação, na imagem da Divindade. Desse modo também você vai experimentar o que sentem os amigos quando saboreiam a doçura escondida, que o próprio Deus reservou desde o início para os que o amam."

Quarta Carta - 1253


"Jesus é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o espelho sem mancha. Olhe dentro desse espelho todos os dias, esposa de Jesus Cristo e espelhe Nele o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente. Preste atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que foi posto no presépio! No meio do espelho considere a humildade, a bem-aventurada pobreza, as fadigas e as penas que suportou pela redenção do gênero humano. E no fim do espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa."

21 de outubro de 2009

Santa Clara de Assis

Clara, "Plantinha" do Seráfico Pai?

Frei Inácio Dellazari, OFM

Introdução

O título representa a palavra de Santa Clara. O ponto de interrogação é a nossa pergunta. Trata-se de verificar o significado desta autoproclamação de Santa Clara. Sabemos que tanto São Francisco como Santa Clara foram duas personalidades fortes que abriram, à luz do Evangelho, caminhos novos para a Igreja de seu tempo. O Evangelho é a mesma fonte e representa o elo de união entre estes dois santos. A criatividade do amor representa a diversidade que se visibiliza em duas Ordens. Esses dois santos cresceram juntos e espelham a mesma grandeza do Evangelho de duas formas diferentes.

Para este estudo servi-me, para os escritos de Clara, do texto crítico de Bocalli, I.M.,
Concordantiae Verbales Opusculorum Sancti Francisci et Clarae Assisiensium, Santa Mariae Angelorum, Assisii, 1976; e para os escritos de São Francisco, Esser K, Opuscula Sancti Patris Francisci Assisiensis, Grottaferrata, Roma, 1978. Usei também as versões CEFEPAL, Escritos de Santa Clara, Vozes, Petrópolis, 1984 e AA.VV., Fonti Francescane, Ed. Messaggero, Padova, 1977.

Para as siglas e abreviações: FF = Fonti Francescane; LegCla = Legenda de Santa Clara; ClaReg = Regra de Santa Clara; ClaTest = Testamento de Santa Clara, Test = Testamento de São Francisco.

1. Clara e Francisco de Assis

A história de Assis é marcada pela vida extraordinária dessas duas pessoas. São Francisco nasceu no ano de 1182/3. Clara nasceu em 1193/4. Clara tinha, portanto, onze anos a menos que Francisco. Quando aconteceu a cena de renúncia de São Francisco diante do pai Pedro de Bernardone e do bispo de Assis, na praça onde se localizava a casa de Santa Clara, ela devia ter mais ou menos uns 13 anos de idade. Já era suficientemente grande para admirar, estranhar, ouvir as opiniões e repercussões de um fato desses, numa pequena cidade como era o caso de Assis. Tudo deve ter sido comentado entre todos, inclusive na própria casa de Clara. Um jovem de Assis, com todas as chances de adquirir títulos de glória, abandona tudo e prefere a companhia de leprosos e mendigos de rua. Como isso tudo deve ter repercutido na vida de Clara!
Pouco tempo depois de Francisco retornar de Roma com o primitivo grupo, e com a aprovação do Papa Inocêncio III de seu projeto de vida (1209/10), entra Rufino no grupo de Francisco, um dos primos de Clara (1).

Com isso, a vida de Francisco repercute na própria família de Clara. O próprio Rufino poderia ter talvez confidenciado a Francisco algo sobre o que intencionava Clara.

Clara, como São Francisco, já antes de sua conversão, era uma pessoa dotada de uma sensibilidade muito grande para com as necessidades dos outros, principalmente dos pobres e necessitados. Segundo a Legenda de Clara, "às escondidas enviava alimentos aos órfãos"(2). Segundo Pacífica de Guelfuccio, Clara "amava muito os pobres" e "gostava de visitar os pobres" e era tida "com grande veneração pelos cidadãos”(3). Parece que a sua personalidade se identificava muito com a de São Francisco. Por isso talvez não seja nada estranho que essas duas pessoas tivessem uma afinidade e compreensão muito grande de uma para com a outra.

Clara, "ouvindo falar neste tempo de Francisco, cujo nome já era famoso e que como homem novo renovava com novas virtudes o caminho da perfeição esquecido no mundo, logo quis ouvir e ver”(4). São Francisco, por sua vez, "sabendo da ótima fama de tão agraciada jovem (talvez Rufino tenha falado), não é nele menor o anseio de encontrá-la e falar-lhe"(5). A legenda deixa claro que há um interesse de ambos em conversar e se encontrar. Começam então os encontros. Parece que a primeira vez, foi Francisco a visitar Clara. Clara, porém, visitou mais vezes Francisco. Desses encontros nasceu, aos poucos, uma profunda amizade entre os dois na comunhão do mesmo ideal de vida evangélica.

Conta também a legenda que esses encontros se realizavam às escondidas, sem que ninguém soubesse. Não eram mais freqüentes "para que essa amizade não fosse percebida pelas pessoas, nem fosse denegrida pela opinião pública"(6). Para evitar qualquer suspeita, Francisco se fazia acompanhar de Frei Filipe Longo, e Clara, de Bona de Guelfuccio (7). Clara "confia-se inteiramente à prudência de Francisco, escolhendo-o, após Deus, para mestre de sua direção"(8).

Nesses encontros foi amadurecendo em Clara o ideal de vida que buscava e foi também preparada a sua fuga da casa paterna. Na noite de Domingo de Ramos de 1212, juntamente com Pacífica de Guelfuccio, Clara foge de casa e se dirige à Porciúncula, onde Francisco e os frades a aguardavam para a celebração da consagração de sua vida ao "Altíssimo Pai Celestial". Os frades a aguardaram em vigí1ia, com tochas acesas, ao pé do altar da bem-aventurada Virgem Maria. Segundo a legenda, foi o "lugar onde a nova milícia dos pobres, conduzida por Francisco, teve seu início feliz, para que ficasse patente que a Mãe de misericórdia, na sua habitação, desse à luz ambas as famílias religiosas" (9).

E de fato, não poderia ter sido outro, o lugar escolhido do que o lugar onde moram os pobres. Fora dos muros da cidade de Assis, em meio às inseguranças do mundo dos pobres, na igrejinha que São Francisco recebeu por ser a mais pobre, é somente aí que poderia nascer uma fraternidade universal, sem exclusão. Foi a partir do lugar do pobre que Santa Clara e São Francisco conheceram a possibilidade da fraternidade e onde eles mesmos puderam fazer a experiência de fraternidade. Foi ali que São Francisco deixou de ser filho de Pedro Bernardone e Clara de Favarone, e tornaram-se irmãos.

Despojados da ambição dos comerciantes e nobres, que disputavam a hegemonia em Assis, entre os menores sociais e a partir deles nasceram duas fraternidades de menores evangélicos.

Clara foi acolhida por Francisco e pelos frades no mesmo lugar que para Francisco e para a comunidade primitiva franciscana representa o centro de reunião e de irradiação da vida do Evangelho.

A legenda distingue bem quando fala de ambas as famílias religiosas, mas geradas pela mesma "Mãe de misericórdia". Há algo em comum e algo que distingue. Giacomo da Vitry, na carta escrita em outubro de 1216, enxergava um mesmo movimento, de "ambos os sexos, que, despojando-se de qualquer propriedade, abandonam o mundo. Chamam-se frades menores e irmãs menores". A distinção que é feita refere-se ao modo de vida. Os frades dedicam-se ao apostolado durante o dia e se recolhem à contemplação à noite; enquanto que as mulheres "convivem em alguns hospícios não distantes das cidades; não aceitam doações, mas vivem com o trabalho de suas mãos"(10). Segundo Vitry, há uma identificação nos "menores" e uma distinção no concretizar a mesma vocação.

A presença de São Francisco continuou na procura de um lugar para Clara até que por "vontade do Senhor e de São Francisco" foram morar junto à igreja de São Damião, onde, em pouco tempo, cresceram em número (11). Depois de se estabelecerem em São Damião, São Francisco continuou a acompanhá-las através de exortações escritas. Segundo Clara, São Francisco durante a sua vida deixou "vários escritos" (plura scripta) (12), além de auxiliá-las através da palavra e do exemplo.

Santa Clara, em seu Testamento, recomenda as irmãs aos cuidados do sucessor de São Francisco: "E como ele durante toda a sua vida mostrou tanto cuidado em palavras e obras para tratar e cuidar de nós, suas plantinhas, assim também recomendo agora as minhas irmãs, presentes e futuras, aos cuidados do sucessor de nosso Pai São Francisco e de toda a sua Ordem, para que eles nos ajudem a crescer sempre no serviço de Deus e especialmente na melhor observância da santa pobreza"(l3)

2. "Depois que o Altíssimo Pai Celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração, comecei a viver em penitência ... "(14)

Embora Clara se considere e insista em proclamar-se "plantinha de São Francisco", ela reconhece na sua vocação a iniciativa de Deus. O começo, o início da mudança em sua vida deve-se à misericórdia do Altíssimo que se dignou iluminar o seu coração. A vocação, segundo Clara, não foi plantada por Francisco, mas pelo Pai Celestial. Clara, então, começa a viver em penitência por causa de uma semente semeada por Deus em sua vida.

A chegada das irmãs é compreendida por Clara da mesma forma: "Se alguém, por inspiração divina, vier ter conosco, querendo abraçar esta vida" (15); "e juntamente com as poucas irmãs que o Senhor me tinha dado ... "(l6). Não somente em si mesma Clara reconhece a iniciativa de Deus, mas também nas irmãs que "por inspiração divina" até ela chegam, dando início a uma nova fraternidade. Clara não atribui a si mesma a sua conversão, nem a das outras irmãs. Aí há uma perfeita sintonia com São Francisco que também não se apropriava daquilo que pertence ao Senhor. Vejamos isso em São Francisco.

São Francisco, no Testamento, no final de sua vida, descreve assim o início de sua vida de penitência: "Foi assim que o Senhor me concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência: como estivesse em pecado, parecia-me amargo olhar para leprosos, mas o Senhor mesmo me conduziu entre eles e eu tive misericórdia para com eles. E ao afastar-me deles, o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo. E depois de bem pouco tempo abandonei o mundo"(17).

São Francisco reconhece que foi o Senhor que lhe concedeu iniciar a vida de penitência. Tanto Francisco como Clara não atribuem a si próprios, nem um ao outro, o "início da vida de penitência", mas ao Senhor, ao Altíssimo.

Uma diferença entre São Francisco e Santa Clara aparece no segundo momento. São Francisco, quando se trata de mostrar como o Senhor concedeu o início dessa vida, coloca a figura do irmão leproso. A sua conversão, a mudança em sua vida é mediada pela presença do leproso. São Francisco separa em si mesmo dois tempos: aquele em que era amargo olhar para a figura do leproso e aquele em que olhar para o leproso se tornou doçura da alma e do corpo. O critério para verificar a sua conversão é a capacidade de olhar para a figura do irmão leproso. Santa Clara escreve que começou a "viver em penitência conforme o ensinamento e o exemplo de nosso Pai São Francisco, pouco depois de sua conversão". O Altíssimo Pai Celestial se dignou iluminar o coração de Clara mediante o ensinamento e exemplo de São Francisco. Pelos "ensinamentos e pela vida admirável (
laudabilem)" de Francisco, Santa Clara experimentou a luz e a graça do Altíssimo Pai Celestial.

O Senhor concede a Francisco iniciar o processo de conversão mediante o encontro com o leproso; o Senhor concede a Santa Clara iniciar o processo de conversão mediante o encontro com o irmão Francisco. Tanto a conversão de Clara como a de Francisco passaram pela mediação do irmão. A graça do Senhor passa pela presença do irmão. Tanto Francisco como Clara fizeram esta profunda experiência de encontro com o Senhor. É a mesma inspiração, o mesmo Evangelho, o mesmo Senhor que concede. Fica mais claro ainda quando Clara escreve: "O Filho de Deus se fez para nós caminho. E foi este caminho que nosso Pai São Francisco, seu autêntico apaixonado e imitador (amator et imitator) nos mostrou e nos ensinou pela palavra e pelo exemplo" (18); como também: "Devemos, pois, queridas irmãs, contemplar os imensos benefícios que Deus nos concedeu, de modo especial aqueles que ele se dignou realizar em nós por seu dileto servo, nosso Pai São Francisco”(19). São Francisco é para Clara aquele que mostrou o caminho de Jesus Cristo, aquele, através do qual, Deus concedeu imensos benefícios.

3. “Escreveu para nós uma forma de vida”

Santa Clara inseriu a forma de vida que São Francisco escreveu no capítulo VI de sua Regra: "Desde que, por inspiração divina, vos fizestes filhas e servas do Altíssimo e Sumo Rei, o Pai Celestial, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo uma vida conforme com a perfeição do santo Evangelho, quero eu, o que prometo por mim pessoalmente e por meus irmãos, nutrir sempre, a bem de vós, o mesmo e diligente cuidado e solicitude como por eles”(20). Nessa forma de vida, como é próprio de São Francisco, a inspiração divina está na origem da vocação de Clara. São Francisco promete por ele pessoalmente, e por seus irmãos, ter um igual cuidado e solicitude para com as irmãs como a tem para com seus irmãos. E a razão desse compromisso é: desde que vos fizestes filhas e servas do Altíssimo e Sumo Rei ... , escolhendo uma vida conforme a perfeição do santo Evangelho. Francisco se sente responsável a partir do momento em que Clara e suas irmãs escolhem a mesma vida que ele e os frades escolheram: a perfeição do Evangelho. A fraternidade que nasceu ao redor de Francisco e de Clara tem o mesmo projeto de vida. E Clara acrescenta no final da forma de vida escrita por Francisco: "E ele cumpriu fielmente esta promessa todo o tempo de sua vida e quis também que seus irmãos a cumprissem". Clara pede que o mesmo cuidado e solicitude de Francisco se perpetue com os seus seguidores para com elas. Através de Francisco lhe foi mostrado o caminho do Evangelho. Preocupada na perseverança deste ideal, quer que os irmãos de Francisco continuem auxiliando no seguimento do Evangelho. E o próprio Francisco, na
Última vontade manifestada a Santa Clara, escreveu: "Eu, Frei Francisco, o menor de todos, quero seguir a vida e a pobreza do nosso Altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe e nela perseverar até o fim. Rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho de viverdes sempre esta santíssima pobreza. Guardai-vos cuidadosamente de vos afastardes dela pelos ensinamentos ou conselhos de quem quer que seja”(21). Francisco está aqui se dirigindo às irmãs da mesma forma que se dirige aos irmãos. Ele se coloca como o menor de todos; ele mesmo promete primeiro cumprir aquilo que pede para ser cumprido; e com a terminologia característica: "rogo-vos", "guardai-vos cuidadosamente". São Francisco revela-se um pai espiritual para Santa Clara da mesma forma que o foi para os frades. Se Clara enxergava em Francisco um pai, Francisco, por sua vez, manifesta uma paternal afeição e zelo para com as damas de São Damião. Afinal, ele foi cúmplice na santa fuga de Clara, ele participou da preparação de todos os momentos até culminar naquela noite de Domingo de Ramos na Porciúncula. Não deveria ele se preocupar com a perseverança desse grupo reunido ao redor de Santa Clara? É isso que Santa Clara pede com insistência. A atitude de Santa Clara parece-me ser a mesma de Frei Leão que pede ajuda e recebe um bilhete de São Francisco; é a mesma atitude do ministro que escreve uma carta a São Francisco, pedindo para abandonar a fraternidade e ir para um eremitério. Aos dois, e a muitos outros, a presença de Francisco foi sempre uma ajuda no sentido de zelar pela fidelidade ao projeto do Evangelho. Para Frei Leão, São Francisco se revela como alguém que respeita profundamente a individualidade de cada irmão: "Do modo que melhor te parecer agradar ao Senhor Deus, e seguir seus passos e sua pobreza, assim farás com a bênção do Senhor Deus e a minha obediência". E mais: "E se, por motivo de tua alma ou de outra tua consolação, precisares e quiseres vir ter comigo, ó Leão, vem". É Frei Leão quem vai ter que descobrir o jeito de agradar ao Senhor Deus. São Francisco não tira a liberdade dos irmãos de serem criativos na resposta ao Evangelho. Com Santa Clara, me parece que acontece o mesmo. São Francisco não moldou Santa Clara, mas ao mesmo tempo demonstrou sempre uma preocupação muito grande em zelar pelo projeto do Senhor como escreve na Carta aos Fiéis II, 2-3: "Como o servo de todos, a todos tenho a obrigação de servir e ministrar as palavras de meu Senhor, cheias de suave perfume. E considerando comigo que, devido às enfermidades e fraquezas do meu corpo, me é impossível visitar pessoalmente a cada um de vós, resolvi comunicar-vos por meio desta carta e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo do Pai, e as palavras do Espírito Santo, que são espírito e vida".

4. "A forma de vida da Ordem das pobres irmãs que o bem-aventurado Francisco fundou é esta ... "

Santa Clara, no início de sua Regra, atribui a fundação da Ordem das pobres Irmãs a São Francisco: "A forma de vida da Ordem que o bem-aventurado Francisco fundou
(instituit) ...”(22). Logo em seguida promete "obediência e reverência ao senhor Papa Inocêncio" e declara que "no início de sua vida prometeu obediência, juntamente com suas irmãs, ao bem-aventurado Francisco, assim também promete obedecer firmemente aos seus sucessores". São muitas as vezes em que Clara revela essa ligação com Francisco por uma promessa de obediência (23). São Francisco, por sua vez, promete zelar pela vida das irmãs que escolheram viver conforme a perfeição do Evangelho. Parece claro que não se trata daquela obediência à qual Francisco se refere na RNB XII, onde São Francisco proíbe que alguma mulher seja recebida por algum irmão à obediência. Santa Clara não foi admitida, naquela noite de Domingo de Ramos, à fraternidade de Francisco. São Francisco, inclusive, ajudou a providenciar um lugar onde Clara pudesse ficar. Mas o que chama a atenção é que Clara "promete obediência somente a Francisco, ignorando qualquer outra hierarquia de qualquer espécie"(24). Que tipo de relacionamento se estabelece entre São Francisco e Santa Clara? Como entender a insistência de Clara em prometer obediência a Francisco e a obrigação das irmãs em obedecerem ao sucessor de Francisco?

Que Santa Clara não se considera fundadora, não pensa o Papa Alexandre IV. Na bula de canonização de Santa Clara, Alexandre IV não proclama São Francisco o fundador, mas a própria Clara como o "primeiro estável fundamento dessa grande Ordem" e como a "pedra angular desse sublime edifício". São Francisco, na mesma bula, é aquele que teve uma presença marcante no início da conversão de Clara: "Ouvindo da sua boa fama, começou logo a exortá-la, induzindo-a a servir a Cristo com toda a perfeição". Santa Clara responde como aquela que "prontamente atendeu a seus santos conselhos”(25). Clara atende a Francisco, fazendo aquilo que também os frades deviam fazer: "Distribuiu os bens que possuía aos pobres", para colocar-se no caminho de Jesus Cristo.

São Francisco, na bula de canonização de Santa Clara, é aquele que ajuda Santa Clara a chegar até São Damião, onde começou a "insigne e sagrada Ordem de São Damião". A mesma bula deixa entender que Santa Clara não queria encarregar-se do governo do convento e das irmãs, mas por insistência de São Francisco ela o aceitou: "E passados alguns anos, a própria bem-aventurada Clara, cedendo aos insistentes apelos de São Francisco, se encarregou do governo do convento e das irmãs" (26).

Na sua continuação, a bula põe toda a atenção somente em Clara, revelando os seus méritos: "Ela foi a árvore ... que, plantada no campo da Igreja, produziu o doce fruto do fervor", proporcionando "nova fonte de água viva para saciar as pessoas"; essa fonte "regou as sementeiras da vida religiosa"; "ela foi porta-estandarte dos pobres, guia dos humildes, mestra dos mortificados e abadessa dos penitentes"; "sua vida era uma doutrina e ensino para os demais, que no livro de sua conduta aprenderam a regra de vida".

A figura de Clara que emerge da Bula de canonização, que representa o reconhecimento da Igreja, é a de uma mulher que renova a vida evangélica na Igreja. Essa acontece mediante sua personalidade enérgica, corajosa e austera. Uma pessoa extremamente amável com as irmãs, mas muito austera consigo mesma.

5. A imagem de São Francisco para Santa Clara

Buscando olhar para Francisco com o olhar de Santa Clara, vamos tentar colher a imagem de Francisco segundo a visão de Clara. Isso nos ajudará a compreender o relacionamento humano-espiritual entre esses dois santos e, principalmente, o que São Francisco significava para aquela que se considerava sua "plantinha".
A imagem mais forte de Francisco para Clara me parece ser a de Exemplo. Em São Francisco é encontrado por Clara um exemplo de como seguir a Jesus Cristo. Através do seu jeito de viver o Evangelho, Clara encontrou uma resposta para sua aspiração de vida. Isso é confirmado de uma forma clara no Testamento: "O Filho de Deus se fez caminho. E foi esse caminho que nosso Pai São Francisco ... nos mostrou e nos ensinou pela palavra e pelo exemplo”(27). Santa Clara começa a fazer penitência "conforme o ensinamento e o exemplo de São Francisco”(28). Esse exemplo foi dado pelo Senhor: "Pois o Senhor nos deu um exemplo, um modelo e um espelho, não apenas para os outros, mas também para nossas irmãs"(29). O Pai Celestial "gerou este rebanho em sua santa Igreja pela palavra e pelo exemplo do nosso Pai São Francisco ..."(30).

São Francisco é a testemunha de profissão religiosa de Santa Clara. Foi diante dele e de uma pequena fraternidade que Clara, diante do altar da Virgem Maria, prometeu observar o Evangelho. A promessa de observar a santa pobreza ao Senhor e a Francisco foi mais tarde confirmada pela Igreja. Mas, no início, Francisco foi a testemunha: "E para maior certeza, a fim de que mais tarde não nos desviássemos dela, tive a preocupação de adquirir por meio de privilégios do Papa Inocêncio, sob cujo pontificado começamos, e dos seus sucessores, a confirmação desta santa pobreza que prometemos na nossa profissão ao nosso pai”(31). Essa promessa feita a Deus e ao nosso Pai Francisco é recordada por Santa Clara e repetida em seus escritos muitíssimas vezes, principalmente no seu Testamento.

Santa Clara vê em Francisco alguém dado pelo Senhor como "fundador, plantador e auxílio no serviço de Cristo" (
fundatorem, plantatorem et adiutorem). A presença de Francisco na vida de Clara, principalmente no início de sua conversão, foi muito significativa, humana e espiritualmente. A experiência da ruptura com a família, o jogar-se na insegurança fora dos muros da cidade de Assis, a insegurança fora dos muros do castelo, na vida de pobreza e trabalho, essa experiência foi muito dura para Clara. O único apoio foi o de Francisco e seus irmãos que a acolheram. Clara encontrou alguém que já tinha passado por essa experiência e, por isso, com todas as condições de ajudá-la. Santa Clara vê em Francisco o "apoio depois de Deus, nossa única consolação e refúgio". Durante a sua vida, Francisco acompanhou a comunidade de Clara com exortações escritas e orais. O que permaneceu desses escritos foram apenas a Forma de vida e a Última vontade. Como esse auxílio de Francisco no serviço a Cristo representou para Clara um auxílio na perseverança daquilo que prometeu ao Senhor, recomenda as irmãs "presentes e futuras aos cuidados do sucessor do Pai Francisco e de toda a Ordem”(32). Aqui Santa Clara olha para o futuro e quer que se perpetue, assim como ela experimentou, esse relacionamento de ajuda entre as duas Ordens. No capítulo VI da Regra, Santa Clara recorda a promessa feita por São Francisco de nutrir sempre o mesmo diligente cuidado para com elas como o teve para com seus irmãos e quis que seus irmãos fizessem o mesmo. Santa Clara entende que a sua fraternidade deve caminhar junto com a de Francisco e espera a continuidade de sua presença através da presença dos irmãos de Francisco.

Para Clara, Francisco é alguém que vibra e se alegra com a firmeza e decisão com que ela e as outras irmãs abraçaram o ideal evangélico de vida: "Francisco então ficou cheio de alegria no Senhor quando percebeu que nós, embora corporalmente fracas e sem força, não receávamos a pobreza, o trabalho, a tribulação ... segundo o exemplo dos santos e dos irmãos de Francisco, como ele mesmo e os seus irmãos experimentaram”(33). Aqui, Clara está colocando a sua fraternidade em relação de igualdade com a fraternidade de Francisco. Clara revela que elas experimentam as mesmas exigências evangélicas que São Francisco e seus irmãos experimentam. Não é uma situação de inferioridade. E isso além de se colocarem numa situação de "corporalmente fracas e sem força". Volta novamente a questão da identidade comum das duas fraternidades no Evangelho. E Clara continua depois dizendo: "Movido de amor para conosco, aceitou para si e para sua Ordem a obrigação de ter sempre de nós o mesmo cuidado e atenção especial como de seus próprios irmãos". A preocupação de Clara é a de não se afastar do ideal do Evangelho. Por isso, insiste em não ser abandonada pela fraternidade daquele, através de quem as duas Ordens tiveram início.

Considerações finais

Um estudo sobre Santa Clara leva à percepção de que Clara não se compreende independentemente de Francisco. São Francisco foi para Santa Clara um instrumento de conversão. Nos seus escritos, o nome de São Francisco é citado 31 vezes. Enquanto que nos Escritos de São Francisco não aparece o nome de Clara uma só vez. O relacionamento de Clara com Francisco é muito mais conhecido através dos escritos de Clara.
A Forma de vida escrita por São Francisco, a Última vontade de São Francisco foram inseridos por Clara em seus escritos. Todo o amor e dedicação de São Francisco pela fraternidade de São Damião, a sua atenção para com aquele pequeno rebanho nos é conhecido através de Clara. Chega, então, até nós a imagem de Francisco vista por Santa Clara. Seria, então, Clara alguém que nos ajuda apenas a conhecer melhor São Francisco? Creio que não se pode fazer essa afirmação. O silêncio de São Francisco em seus escritos sobre Santa Clara reflete aquele respeito à individualidade e à originalidade que ele também tinha para com cada irmão. Ao redor de São Francisco cada irmão podia ser ele mesmo. O Evangelho era a fonte comum. Todos bebiam da mesma água. Ligados à mesma fonte, todos respondiam criativamente segundo a própria originalidade. A fisionomia da fraternidade era dada por Deus através do Evangelho. Não era Francisco quem moldava os irmãos. Por isso, nasceu uma fraternidade original. O relacionamento de Francisco com Santa Clara se deu da mesma forma. Santa Clara pode ser ela mesma. A sua Fraternidade não foi uma cópia da Fraternidade de São Francisco. O que ela aprendeu de São Francisco foi a pedagogia evangélica. E, segundo a bula de canonização, São Francisco teria insistido para que ela assumisse o governo do convento e das irmãs de São Damião. Isso revela que São Francisco ajudou Santa Clara a ser ela mesma e assim enriquecer a família franciscana com a sua resposta individual de mulher.

Santa Clara, na sua humildade, não seria capaz de atribuir alguma coisa a si mesma. Ela reconhece que todos os dons têm sua origem na única fonte do Bem, aquele que é o Sumo Bem. Quando suas irmãs falam do processo de canonização, aí emerge todo o esplendor de alguém que plantou a semente da santidade no coração das companheiras. Quando a Igreja fala na figura do Papa Alexandre IV, na bula de canonização, há todo o reconhecimento de uma vida que "iluminou pelas suas obras luminosas", "escondia-se num mosteiro apertado, mas espalhava-se amplamente pelo mundo afora"; "vivia oculta na cela, mas era conhecida nas cidades".

18 de outubro de 2009

A Dimensão Proférica da Vida Francisclariana

A profecia da vida do carisma franciscano e clariano é sempre atual. Francisco e Clara viveram profundamente o dom na humanidade de seu tempo e por esse motivo conseguem dar respostas atualizadas aos desafios de cada geração. Nesta reflexão vamos apenas pontuar alguns elementos iluminadores de nossa realidade e que podem fazer a diferença.

Deus gente solidário no amor e na dor. A encarnação do Filho de Deus provocou tal fascínio em Francisco que o levou a representar e porque não dizer atualizar o acontecimento do natal de Belém em Greccio. Mas a encarnação acontecida em Belém não é única para Francisco. A dinâmica da encarnação acontecida em Belém é contemplada por ele também na Eucaristia. Francisco alimenta ainda, com vigorosa paixão, outro momento conseqüente da encarnação que é a crucifixão. O Crucificado o impressiona tanto que o leva a pedir para experimentar as mesmas dores do seu amado Jesus. Segundo os biógrafos Francisco é atendido, no monte Alverne, quando recebe os estigmas.

O que caracteriza a Encarnação? Assumir a condição humana, desde a origem, fazer-se criança. Simples, pobre, indefesa, dependente e necessitada de tudo. Total dependência, inteira confiança, simplicidade, transparência, encantamento, e outros elementos mais que possam ser elencados. Quem quiser se encarnar não pode perder a capacidade, o dinamismo e as virtudes da criança.

Somos chamados a encarnar a vida, as pegadas, o ensinamento de Francisco que continua ao longo dos séculos no seguimento, discipulado de Jesus Cristo. O que caracteriza o discipulado segundo Francisco é o seguimento da doutrina e das pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Há discípulos de doutrinas. Existem discípulos de pegadas. Mas há pessoas que se fazem discípulas em tudo, no ensinamento, no mandamento e também na prática, no jeito de ser e de viver.

A vida em conversão (penitência). Entremos na bondade de Deus (Lc 6,36)! É importante lembrar que toda a vocação é para a missão e que não existe missão sem vocação. È sempre Deus que chama e sempre nos chama para que colaboremos de alguma forma na sua obra. A esse engajamento denominamos resposta. Mas é necessário que tenhamos claro que a nossa resposta é progressiva construída ao longo da caminhada que fazemos. Nosso sim precisa ser renovado, atualizado em cada passo, para permanecer vigoroso.

Assim como Jesus pede que cada um tome a sua cruz a cada dia (Lc 9,23), assim também precisamos dar nosso sim a cada dia.

Francisco sentiu-se chamado a uma vida de continua conversão. A conversão é um processo que só termina quando termina a nossa vida terrena. Viver em conversão é viver aberto, voltado para o futuro e deixar-se conduzir pelo espírito porque, como diz o papa João Paulo II “É para o futuro que o Espírito vos projeta a fim de realizar convosco ainda grandes coisas”.

A conversão é o primeiro anúncio do Evangelho de Jesus: “Cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). O principal elemento da conversão não é o arrependimento, como muitas vezes nos foi pregado, mas a convicção. O convertido não é um arrependido, mas um resolvido, um decidido, alguém que vendo o futuro desinstalou-se de sua pratica, de seu modo de pensar e proceder. O arrependido é um re-ativo, que reage a uma provocação, geralmente, em vista de reparação. A reparação em geral é focada no passado com o perigo de a pessoa andar de costas para o futuro. O convertido é um pró-ativo, faz uma opção positiva porque foi conquistado, convencido e assumiu o que viu. Por isso anda de frete para o futuro. A conversão diz respeito a todos os campos de nossa existência e tem como objetivo levar-nos para a transcendência. É necessário que caminhemos sempre, que demos o passo de cada dia e que marquemos o dia com o passo. Quem pára, fica para traz e depois reclama porque não é como no seu tempo. O tempo se chama hoje. É necessário estar no hoje. Não se trata de desprezar o ontem, mas de dinamizá-lo para que o hoje nasça e cresça vigoroso. Hoje é o tempo da salvação.

Acompanhemos o profeta Elias no Horeb. Este profeta, que já é de Deus e trabalha por ele, tem ainda muito caminho a fazer para se converter. “Estou queimando de zelo pelo Senhor” diz Elias, mas por esse zelo ele mata, maltrata, arrebenta muita gente. Este não é verdadeiro discípulo do deus de Jesus Cristo.

A conversão cristã, segundo o evangelista Lucas consiste em “Se alguém tiver duas túnicas, reparta com aquele que não tem; se alguém tiver o que comer, faça o mesmo”. Lucas identifica ainda práticas especificas para cada categoria de pessoas que se engaja no movimento messiânico liderado por João Batista. Aos responsáveis pela receita tributária ele diz: “Não exijam mais do que a taxa fixada”. Para os responsáveis pela ordem e segurança publica ordena: “Não sejais violentos e não façais mal a ninguém, contentai-vos com o vosso salário”. Tal modo de proceder caracteriza conversão.

Em Marcos 8,27-33, nas respostas de Pedro a Jesus, vemos o que acontece quando alguém não se mantém permanentemente no caminho da conversão. Pedro que dá a resposta mais acertada a Jesus, dá, em seguida, o maior fora de sua história.

Acompanhemos ainda o testemunho de Francisco “Como eu estivesse em pecado parecia-me verdadeiramente repugnante olhar para leprosos, mas o Senhor mesmo me conduziu entre eles e eu tive misericórdia para com eles então o que me parecia amargo converteu-se me em doçura da alma e do corpo”. Notemos que os olhos do pecado não deixavam ver uma pessoa na figura do leproso. O leproso causava nojo a Francisco porque Francisco ainda não havia entrado em processo de conversão, depois que entrou, conseguiu ver um irmão amado onde antes só via um leproso nojento. Eis o grande desafio de uma vida em conversão: conseguir ver a graça no meio da desgraça, ver o bem no meio do mal, o positivo no meio do negativo. Claro está que sempre haverá mistura. Mas a capacidade de discernir o positivo é o premio de quem se mantém na conversão segundo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vejamos ainda os textos das admoestações que começam com a expressão “Bem aventurado o homem...”. Em cada uma delas temos uma orientação prática que demonstra o que é estar no caminho da conversão. Podemos ainda verificar na Legenda Maior III,3-5 como Francisco reage quando Bernardo quer juntar-se a ele na vida de conversão-penitência. O texto deixa claro que quem orienta a vida de Francisco e de quem quer que seja que queira segui-lo é o Senhor. Por isso vai ao Evangelho três vezes e não tem dúvida de seguir a risca o que encontra escrito.

A graça divina da conversão é para Francisco o inicio da VIDA que ele percebe através do leproso. Assim a conversão é um encontro de graças: o leproso ajuda Francisco e Francisco ajuda o leproso. É um encontro de troca de dons de duas pessoas abertas.


Texto de Frei Moacir Casagrande

17 de outubro de 2009

A Perfeita Alegria

O mesmo (Frei Leonardo) contou que um dia o bem-aventurado Francisco, perto de Santa Maria dos Anjos, chamou a Frei Leão e lhe disse: “Frei Leão, escreve”. Este respondeu: “Eis-me pronto”. “Escreve – disse – o que é a verdadeira alegria”. Vem um mensageiro e diz que todos os mestres de Paris entraram na Ordem; escreve: não está aí a verdadeira alegria. E igualmente que entraram na Ordem todos os prelados de Além-Alpes, arcebispos e bispos, o próprio rei da França e o da Inglaterra; escreve: não está aí a verdadeira alegria. E se receberes a notícia de que todos os meus irmãos foram pregar aos infiéis e converteram a todos para a fé, ou que eu recebi tanta graça de Deus que curo os enfermos e faço milagres: digo-te que em tudo isso não está a verdadeira alegria. Mas, o que é a verdadeira alegria? Eis que volto de Perusa no meio da noite, chego aqui num inverno de muita lama e tanto frio que na extremidade da túnica se formaram caramelos de gelo que me batem continuamente nas pernas fazendo sangrar as feridas. E todo envolvido na lama, no frio e no gelo, chego à porta, e depois de bater e chamar por muito tempo, vem um irmão e pergunta: “Quem é?” E eu respondo: “Frei Francisco”. E ele diz: “Vai-te embora; não é hora própria de chegar, não entrarás”. E ao insistir, ele responde: “Vai-te daqui, és um ignorante e idiota; agora não poderás entrar; somos tantos e tais que não precisamos de ti”. E fico sempre diante da porta e digo: “Por amor de Deus, acolhei-me por esta noite”. E ele responde: “Não o farei. Vai aos crucíferos e pede lá”. Pois bem, se eu tiver tido paciência e permanecer imperturbável, digo-te que aí está a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e salvação da alma”.

15 de outubro de 2009

Família Franciscana como um movimento da Paz

Para a família franciscana, o conceito de paz não é simplesmente um valor marginal, mas pertence ao núcleo central da sua missão. Francisco concebeu sua família como um movimento de paz, enviado para proclamar a conversão e trazer a paz.

A verdadeira paz
É preciso afastar-se de uma compreensão superficial de paz. Pois, o que Francisco deseja é “a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor” (2CtFi 1). Portanto, para ele, a paz é um dom do céu, ligado essencialmente a Jesus Cristo (cf. Ef 2), “no qual foram pacificadas todas as coisas, assim as da terra como as do céu, e reconciliadas com o Deus onipotente” (cf. Adm 15; Cant 11). A verdadeira paz é experimentada por quem vive para Deus. Por isso, Francisco, muitas vezes, pode também dizer que a paz deve ser “conservada” (Adm; Cant.). Paz é, portanto, de maneira paradoxal, uma coisa já dada e simultaneamente ainda procurada.

A expressão “paz verdadeira”, confrontada com a tradição agostiniana, que Francisco conhecia, recebe nova significação. Na sua obra, “Cidade de Deus” (19, 17), Agostinho distingue duas formas de estado e dois conteúdos de paz.

O estado temporal procura a paz na terra
Procurando a paz na terra, o Estado temporal a encontra na medida em que consegue a maior concordância possível dos cidadãos (“concórdia civium”). Os cidadãos devem unir-se e concordar, por um grande número de decisões concretas, em como satisfazer as suas exig~encias fundamentais (“compósito voluntatum”). O sentido da legislação estatal consiste, portanto, em “regulamentar o que é favorável à conservação da vida mortal” e organizar “o que é necessário para a vida” (res huic vitae necessariae). Neste sentido, a paz significa a satisfação de necessidades fundamentais dentro de uma comunidade estatal. Assim, a política econômica deve ser entendida também como uma política da paz.
A paz, portanto, segundo Agostinho, é um tema não interestatal, mas antes intra-estatal. Hoje em dia, a paz, no sentido da satisfação de necessidades fundamentais de todos, é concebível apenas quando se leva em consideração o conjunto global do nosso mundo. Desta forma, paz e justiça se entrelaçam. Paz verdadeira só pode existir, quando todos os seres humanos julgam satisfeitas as suas exigências fundamentais.

A partir desta noção de paz, franciscanos e franciscanas juntaram-se nos anos 80, para representar a missão franciscana de paz a nível da Organização das Nações Unidas (= ONU). Atualmente, eles possuem o “status” de uma organização não-governamental (= ONG) chamada “Franciscans International” (= Franciscanos na ONU), que define a sua visão nos seguintes termos:

Visão dos Franciscanos nas Nações Unidas
“Nós, Franciscanos, homens e mulheres no seguimento de São Francisco de Assis, acreditamos que a criação inteira, do menor organismo até o ser humano, vive numa interdependência mútua no planeta Terra. Estamos conscientes de que esta relação está ameaçada pela recusa em aceitar a interdependência, optando, ao contrário, pelo uso da exploração e da dominação. Nós nos engajamos a fomentar a nossa mútua dependência, para que toda a criação possa viver em harmonia. Vamos contribuir para o serviço a nossos próprios membros e aos colaboradores das Nações Unidas, assim como a todos os outros, pela formação e promoção dos seguintes temas: ecologia, preservação do meio ambiente, métodos pacificadores e a solução de conflitos.

Procuraremos colaborar, neste sentido, com os membros das Nações Unidas e de outras organizações não-governamentais. Nossos esforços refletirão valores franciscanos, relativos à preservação da natureza, à promoção da paz e à ajuda prestada aos pobres. Estes valores coincidem com aqueles que as Nações Unidas afirmaram na sua Carta fundamental e na sua Declaração dos Direitos Humanos”.

Texto da Lição 23, do Curso Básico sobre o Carismo Missionário Franciscano, da FFB.

11 de outubro de 2009

Nossa Senhora da Imaculada Conceição Aparecida- Padroeira do Brasil



A Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi encontrada no Rio Paraíba na segunda quinzena de outubro de 1717. É de terracota, isto é, argila que, depois de modelada, é cozida em forno apropriado, medindo 40 centímetros de altura.
Hipoteticamente, ela teria, originalmente, uma policromia, como era costume na época, mas não há documentos que comprovem. Quando foi pescada, o corpo estava separado da cabeça e, muito provavelmente, sem a policromia original, devido aos anos em que esteve mergulhada nas águas e no lodo do rio.
A cor acanelada com que hoje é conhecida deve-se ao fato de ter sido exposta, durante anos, ao picumã das chamas das velas e dos candeeiros. Seu estilo é seiscentista, como atestam alguns especialistas que a estudaram.
Entre os que confirmam ser a Imagem do Século XVII estão o Dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, os monges beneditinos do mosteiro de São Salvador, na Bahia, Dom Clemente da Silva Nigra e Dom Paulo Lachenmayer.
Finalmente, em 1978, após o atentado que a reduzira em quase duzentos fragmentos, foi encaminhada ao Prof. Pietro Maria Bardi – na época diretor do Museu de Arte de São Paulo –, que a examinou, juntamente com o Dr. João Marinho, colecionador de imagens brasileiras.
Foi totalmente reconstituída pela artista plástica Maria Helena Chartuni, na época restauradora do Museu de Arte de São Paulo. Ainda conforme estudos dos peritos mencionados, a Imagem foi moldada com argila paulista, da região de Santana do Parnaíba, situada na Grande São Paulo.

O mais difícil foi determinar o autor da pequena imagem, pois não está assinada ou datada. Assim, após um estudo comparativo, os peritos chegaram à conclusão de que se tratava de um escultor, discípulo do monge beneditino Frei Agostinho da Piedade, e também seu colega de Ordem, Frei Agostinho de Jesus.
Caracterizam seu estilo: forma sorridente dos lábios, queixo encastoado, tendo, no centro, uma covinha; penteado, flores em relevo nos cabelos, broche de três pérolas na testa e porte empinado para trás.
Todos esses detalhes se encontram na Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e, por isso, concluíram os peritos, Dom Clemenente da Silva Nigra e Dom Paulo Lachenmayer, que a Imagem foi esculpida pelo monge beneditino Frei Agostinho de Jesus.
A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem seu início pelos meados de 1717, quando chegou a notícia de que o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar pela Vila de Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto (MG).
Convocados pela Câmara de Guaratinguetá, os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves saíram à procura de peixes no Rio Paraíba. Desceram o rio e nada conseguiram. Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu.
João Alves lançou a rede nas águas e apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sem a cabeça. Lançou novamente a rede e apanhou a cabeça da mesma imagem. Daí em diante, os peixes chegaram em abundância para os três humildes pescadores.
Durante 15 anos seguidos, a imagem ficou com a família de Felipe Pedroso, que a levou para casa, onde as pessoas da vizinhança se reuniam para rezar. A devoção foi crescendo no meio do povo e muitas graças foram alcançadas por aqueles que rezavam diante da imagem.
A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi se espalhando pelas regiões do Brasil. A família construiu um oratório, que logo se tornou pequeno. Por volta de 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu uma Capela no alto do Morro dos Coqueiros, aberta à visitação pública em 26 de julho de 1745. Mas o número de fiéis aumentava e, em 1834, foi iniciada a construção de uma igreja maior (atual Basílica Velha)
No ano de 1894, chegou a Aparecida um grupo de padres e irmãos da Congregação dos Missionários Redentoristas, para trabalhar no atendimento aos romeiros que acorriam aos pés da Virgem Maria para rezar com a Senhora "Aparecida" das águas.
A 8 de setembro de 1904, a Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi coroada, solenemente, por D. José Camargo Barros. No dia 29 de abril de 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor.
Vinte anos depois, a 17 de dezembro de 1928, a vila que se formara ao redor da igreja no alto do Morro dos Coqueiros tornou-se Município. E, em 1929, nossa Senhora foi proclamada RAINHA DO BRASIL E SUA PADROEIRA OFICIAL, por determinação do Papa Pio XI.Com o passar do tempo, a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi crescendo e o número de romeiros foi aumentando cada vez mais. A primeira Basílica tornou-se pequena.
Era necessária a construção de outro templo, bem maior, que pudesse acomodar tantos romeiros. Por iniciativa dos missionários Redentoristas e dos Senhores Bispos, teve início, em 11 de novembro de 1955, a construção de uma outra igreja, atual Basílica Nova.
Em 1980, ainda em construção, foi consagrada pelo Papa João Paulo ll e recebeu o título de Basílica Menor. Em 1984, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou oficialmente a Basílica de Aparecida Santuário Nacional, "maior Santuário Mariano do mundo".O padre Francisco da Silveira, que escreveu a crônica de uma Missão realizada em Aparecida em 1748, qualificou a imagem da Virgem Aparecida como “famosa pelos muitos milagres realizados”. E acrescentava que numerosos eram os peregrinos que vinham de longas distâncias para agradecer os favores recebidos. Mencionamos aqui três grandes prodígios ocorridos por intercessão de Nossa Senhora Aparecida.
O primeiro prodígio, sem dúvida alguma, foi a pesca abundante que se seguiu ao encontro da imagem. Não há outras referências sobre o fato, a não ser aquela da narrativa do achado da imagem: “E, continuando a pescaria, não tendo até então pego peixe algum, dali por diante foi tão abundante a pesca, que receosos de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, os pescadores se retiraram as suas casas, admirados com o que ocorrera”.
Entretanto, o mais simbólico e rico de significativo, sem dúvida, foi o milagre das velas pela sua íntima relação com a fé. Aconteceu no primitivo oratório do Itaguaçu, quando o povo se encontrava em oração diante da imagem.
Numa noite, durante a reza do Terço, as velas apagaram-se repentinamente e sem motivo, pois não ventava na ocasião. Houve espanto entre os devotos e, quando Silvana da Rocha procurou acendê-las novamente, elas se acenderam por si, prodigiosamente.
Significativo também é o prodígio das correntes que se soltaram das mãos de um escravo, quando este implorava a proteção da Senhora Aparecida. Existem muitas versões orais sobre o fato. Algumas são ricas em pormenores. O primeiro a mencioná-lo por escrito foi o padre Claro Francisco de Vasconcelos, em 1828.A Câmara Administrativa de Guaratinguetá decidiu e pronto. A época não era favorável à pescaria, mas os pescadores que se virassem. O Conde tinha que provar do peixe do Rio Paraíba.
E a convocação foi lida em toda a redondeza. João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso, moradores de Itaguaçu, pegaram seus barcos, suas redes e se lançaram na difícil tarefa. Remaram a noite toda sem nada pescar.
No Porto de Itaguaçu, lançaram mais uma vez as redes. João Alves sentiu que a sua rede pesava. Serão peixes? Puxou-a. Não. Não eram peixes. Era o corpo de uma imagem. Mas... e a cabeça, onde estava? Guardou o achado no fundo do barco. Continuaram tentando achar peixes.
De repente, na rede do mesmo pescador, uma cabeça enegrecida da imagem. João Alves pegou o corpo do fundo do barco e aproximou-o da cabeça. Justinhos. Aquilo só podia ser milagre. Benzeram-se e enrolaram os pedaços num pano. Continuaram a pescaria. Agora os peixes sabiam direitinho o endereço de suas redes. E foram tantos que temeram pela fragilidade dos barcos...
Depois que chegaram da pescaria onde encontraram a Senhora, Felipe Pedroso levou a imagem para sua casa conservando-a durante cinco anos.

Quando de sua mudança para o bairro da Ponte Alta, deu a imagem a seu filho Athanásio Pedroso, que morava no Porto de Itaguaçu bem perto de onde seu pai Felipe Pedroso, João Alves e Domingos Garcia haviam encontrado a imagem.
Athanásio fez um altar de madeira e colocou a Imagem Milagrosa da Senhora Aparecida. Aos sábados, seus vizinhos se reuniam para rezar um Terço em sua devoção. Em certa ocasião, ao rezar o Terço, duas velas se apagaram no altar de Nossa Senhora, o que era muito estranho, pois aquela noite estava muito calma e não havia motivo para o acontecimento.
Silvana da Rocha, que no dia acompanhava o Terço, quis acender as velas, porém elas se acenderam sem que ninguém as tocasse, como um perfeito milagre. Dessa data em diante, a Imagem Milagrosa de Nossa Senhora Aparecida deixou de pertencer à família de Felipe Pedroso para ficar pertencendo a todos nós, devotos da Santa Milagrosa.

Oração a Nossa Senhora Aparecida

Ó Virgem Maria, abençoada sois vós
pelo Senhor Deus Altíssimo
entre todas as mulheres da terra.
Vós sois a glória de Jerusalém,
vós a alegria de Israel,
vós a honra do nosso povo.
Salve, ó Virgem, honra de nossa terra,
a quem rendemos um culto de piedade e veneração,
a quem chamamos com o belo nome de Aparecida.
Quem poderia contar, ó doce Mãe,
quantas graças, durante tantos anos,
vós dispensastes ao povo brasileiro,
compadecida dos nossos males?
Quisemos cingir vossa cabeça sagrada
com uma coroa de ouro,
que vos é devida por tantos títulos;
continuai a dobrar-vos benignamente às nossas preces.
Quando erguemos aos céus nossas mãos suplicantes,
ouvi, clemente, os nossos rogos, ó Virgem;
conservai nossas almas afastadas da culpa e,
por fim, conduzi-nos ao céu.
Salvação, honra e poder Àquele que, uno e trio,
nos fulgores do seu trono celeste,
governa e rege todo o universo.
Nossa Senhora da Conceição Aparecida,
rogai por nós.

Poema "FIM DOS DIAS"


Meu planeta está doente
Ele está febril
Suas têmporas se aquecem mais e mais
Seu peito queima em chamas flamejantes
Pela vil consciência
De quem dele é parte

Meu planeta adoeceu
Seus médicos não lhe cuidam
Parecem um novo asteróide que vem pouco a pouco
Dizimar toda forma de existência
Um asteróide com ossos e vísceras

Meu planeta agoniza
A natureza se descontrola
Em seu desequilíbrio
Destrói prédios com seus ventos desesperados
Derrama lágrimas excessivas sobre alguns
Sobre outros já não consegue mais chorar

Meu planeta morre
Dia a dia seu fim se aproxima
Sua doença é letal
É provocado por um único vírus
”O HOMEM.”

CLAY REGAZZONI
(direitos reservados ao autor)

9 de outubro de 2009

O TAU NA VOCAÇÃO FRANCISCANA


O TAU tem a forma da letra grega TAU (T) que é uma cruz.
As duas maiores influências diretas em Francisco, em relação ao TAU, foram os antonianos e o Quarto Concílio Laterano.
São Francisco tomou o TAU e seu significado dos antonianos. Eles eram uma comunidade religiosa masculina, fundada em 1095, cuja única função era cuidar dos leprosos.
Em seus hábitos era pintada uma grande cruz. Francisco tinha relações muito familiares com eles, porque trabalhavam no leprosário de Assis, no Hospital de São Brás, em Roma, onde Francisco esteve hospedado.
No princípio de sua conversão, Francisco encontrou os antonianos e seu símbolo do TAU. Mas a influência mais forte que fez do TAU um símbolo tão querido para Francisco e pela qual ele se tornou sua assinatura, foi a do Concílio de Latrão. Os historiadores geralmente admitem que Francisco estava presente nesse Concílio, no qual o Papa Inocêncio III fez o discurso de abertura, incorporando em sua homilia a passagem de Ezequiel (9,4) que diz que os eleitos, os escolhidos serão marcados com o sinal do TAU: "Percorre a cidade, o centro de Jerusalém, e marca com uma cruz na fronte os que gemem e suspiram devido a tantas abominações que na cidade se cometem e acrescenta: "O TAU é a última letra do alfabeto hebraico e a sua forma representa a cruz, exatamente tal e qual foi a cruz antes de ser nela fixada a placa com inscrição de Pilatos. O TAU é o sinal que o homem porta na fronte quando - como diz o apóstolo - crucifica o corpo com os seus pecados quando diz: "Não quero gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo" (...) Sejam portanto mestres desta cruz!
Sejam os campeões do TAU!
Quando Inocêncio III terminou sua homilia com "SEJAM OS CAMPEÕES DO TAU!" Francisco tomou estas palavras como dirigidas a ele e fez do TAU seu próprio símbolo, o símbolo de sua Ordem, de sua assinatura; mandou pintá-lo em toda parte e teve grande devoção a ele até o fim de sua vida.
Simples e basicamente, o TAU representa a CRUZ. Os Concílios da Igreja foram convocados para reformar a Igreja, cabeça e membros. Assim o grande tema da Reforma: pessoal, interior, conversão constante e mudança de vida. Aqueles que deviam comprometer-se com a conversão contínua, uma vida de constante penitência, deviam ser marcados com o TAU.
O TAU para Francisco é um sinal da certeza de salvação; é o sinal de universalidade da salvação e é o símbolo da conversão contínua.
Se você permite ser marcado com o TAU ou usa o TAU, você está dizendo que se comprometeu com a conversão contínua, isto é, com o tema da Espiritualidade Franciscana. Não que você esteja convertido de uma só vez, mas dia-a-dia, mês após mês, ano após ano, você conserva seu olhar fixo no Senhor como sua única meta, e caminha em direção a ele com a mente indivisa (Carta S. Mary Margaret, out. 1989).

Retirado do livro "Orando com a Bíblia e São Francisco de Assis"

8 de outubro de 2009

Acordo entre Brasil e Vaticano é aprovado pelo Senado

O Senado Federal aprovou, no final da tarde desta quarta-feira,dia 7, o texto do acordo entre o Brasil e o Vaticano, sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. O acordo tem 20 artigos e foi assinado em Roma, no dia 13 de novembro do ano passado, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva foi recebido em audiência pelo papa Bento XVI.

O presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, disse que a aprovação do acordo representa o coroamento do esforço diplomático da Nunciatura Apostólica, em nome da Santa Sé, junto ao Governo brasileiro.

“Recebi com muita alegria a aprovação do acordo pelo Senado, porque vem coroar o grande esforço com que foi conduzido pela Nunciatura Apostólica, em nome da Santa Sé, junto ao Governo brasileiro e que representa um desejo expresso pela CNBB de normatizar as relações entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro”, disse Dom Geraldo.

O secretário geral da Conferência, Dom Dimas Lara Barbosa, também expressou sua alegria pela aprovação do texto do acordo pelos senadores. “A aprovação expressa o reconhecimento, da parte do Senado, da importância da Igreja Católica na história e na formação da cultura do povo brasileiro”, declarou.

Segundo a Agência Senado, vários senadores celebraram a aprovação do acordo e destacaram que ele está plenamente de acordo com a Constituição brasileira, não constituindo concessão de nenhum privilégio à Igreja Católica.

Fonte: CNBB

7 de outubro de 2009

O7 De Outubro - Nossa Senhora do Rosário



Cento e cinquenta rosas,
Nações, vinde colher;
Coroas luminosas
À Virgem Mãe tecer.


(
Liturgia das Horas)



Nossa Senhora do Rosário (ou Nossa Senhora do Santo Rosário ou Nossa Senhora do Santíssimo Rosário) é o título recebido pela aparição mariana a São Domingos de Gusmão em 1208 na igreja de Prouille, em que Maria dá o rosário a ele. Em agradecimento pela vitória da Batalha de Muret, Dimon de Montfort construiu o primeiro santuário dedicado a Nossa Senhora da Vitória. Em 1572 o Papa Pio V instituiu "Nossa Senhora da Vitória" como uma festa litúrgica para comemorar a vitória da Batalha de Lepanto. A vitória foi atribuída a Nossa Senhora por ter sido feita uma procissão do rosário naquele dia na Praã de São Pedro, em Roma, para o sucesso da missão da Liga Santa contra os turcos otomanos no oeste da Europa. Em 1573, o Papa Gregório XIII mudou o título da comemoração para "Festa do Santo Rosário" e esta festa foi estendida pelo. Após as reformas do Concílio Vaticano II a festa foi renomeada para Nossa Senhora do Rosário.


O ROSARIO FRANCISCANO


A Coroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora, chamada também de Coroa Seráfica ou Rosário Franciscano, compõe-se de sete mistérios, com um Pai-Nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai, em honra das sete alegrias de Nossa Senhora, consubstanciadas nos seguintes principais mistérios:

1. Encarnação do Verbo divino

2. Visitação da Mãe de Deus à sua prima santa Isabel

3. Nascimento de Jesus

4. Adoração prestada ao Divino Infante pelos três reis magos

5. Encontro de Jesus no Templo

6. Jubilosa Ressurreição do Salvador

7. Coroação da Virgem Imaculada no céu

Histórico: Em 1442, na época de São Bernardino de Sena, divulgou-se a notícia de Nossa Senhora ter aparecido a um noviço franciscano, que desde criança tinha o costume de oferecer à Virgem Maria uma coroa de rosas. Mas quando entrou na Ordem dos Frades Menores, sentia-se muito triste por não lhe ser permitido continuara a oferecer à Virgem os ramos de flores. Chegou mesmo a pensar em desistir da Ordem seráfica. Apareceu-lhe então, a Virgem a consolá-lo e indicar-lhe outra oferta diária que seria para ela ainda mais agradável. Sugeriu-lhe que, todos os dias, rezasse sete dezenas de ave-marias intercaladas com a meditação de sete misteriosos acontecimentos da sua vida que a tinham enchido de alegria. Assim terá nascido a coroa franciscana, o rosário das sete alegrias. São Bernardino foi um dos primeiros a praticar e divulgar esta piedosa devoção.


(
Liturgia das Horas)