31 de dezembro de 2012

31/12 - SAGRADA FAMILIA DE NAZARÉ




Da alocução de Paulo VI, Papa, em Nazaré, 5.1.1964:

O exemplo de Nazaré:

Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho. Aqui se aprende a observar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado tão profundo e misterioso desta manifestação do Filho de Deus, tão simples, tão humilde e tão bela. Talvez se aprenda também, quase sem dar por isso, a imitá-la.
Aqui se aprende o método e o caminho que nos permitirá compreender facilmente quem é Cristo. Aqui se descobre a importância do ambiente que rodeou a sua vida, durante a sua permanência no meio de nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo o que serviu a Jesus para Se revelar ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem sentido. Aqui, nesta escola, se compreende a necessidade de ter uma disciplina espiritual, se queremos seguir os ensinamentos do Evangelho e ser discípulos de Cristo. Quanto desejaríamos voltar a ser crianças e acudir a esta humilde e sublime escola de Nazaré! Quanto desejaríamos começar de novo, junto de Maria, a adquirir a verdadeira ciência da vida e a superior sabedoria das verdades divinas!

Mas estamos aqui apenas de passagem e temos de renunciar ao desejo de continuar nesta casa o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. No entanto, não partiremos deste lugar sem termos recolhido, quase furtivamente, algumas breves lições de Nazaré.
Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito, tão necessário para nós, que nos vemos assaltados por tanto ruído, tanto estrépito e tantos clamores, na agitada e tumultuosa vida do nosso tempo. Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor de uma conveniente formação, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social.
Uma lição de trabalho. Nazaré, a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora, do trabalho humano; restabelecer a consciência da sua dignidade, de modo que todos a sentissem; recordar aqui, sob este teto, que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que a sua liberdade e dignidade se fundamentam não só em motivos econômicos, mas também naquelas realidades que o orientam para um fim mais nobre. Daqui, finalmente, queremos saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande Modelo, o seu Irmão divino, o Profeta de todas as causas justas que lhes dizem respeito, Cristo Nosso Senhor.

João Paulo II, na Carta dirigida à família, por ocasião do Ano Internacional da Família, 1994, escreve:

A Sagrada Família é a primeira de tantas outras famílias santas. O Concílio recordou que a santidade é a vocação universal dos batizados (LG 40). Como no passado, também na nossa época não faltam testemunhas do "evangelho da família", mesmo que não sejam conhecidas nem proclamadas santas pela Igreja...

A Sagrada Família, imagem modelo de toda a família humana, ajude cada um a caminhar no espírito de Nazaré; ajude cada núcleo familiar a aprofundar a própria missão civil e eclesial, mediante a escuta da Palavra de Deus, a oração e a partilha fraterna da vida! Maria, Mãe do amor formoso, e José, Guarda e Redentor, nos acompanhem a todos com a sua incessante proteção.


Sagrada Família de Nazaré, rogai por nós!

HOMILIA
Da gruta de Belém, onde naquela noite santa nasceu o Salvador, o olhar volta-se hoje para a humilde casa de Nazaré, para contemplar a Santa Família de Jesus, Maria e José, cuja festa celebramos no clima festivo e familiar do Natal.

O Redentor do mundo quis escolher a família como lugar do Seu nascimento e crescimento, santificando assim esta instituição fundamental [família] de todas as sociedades. O tempo passado em Nazaré e que Lucas descreve, no qual diz: “O menino crescia e ficava forte; tinha muita sabedoria e era abençoado por Deus”, representa o mais longo da sua existência. O Menino permanece envolto por uma grande discrição e dele poucas notícias nos são transmitidas pelos evangelistas. Se, porém, desejamos compreender mais profundamente a vida e a missão de Jesus, devemos aproximar-nos do mistério da Santa Família de Nazaré para ver e ouvir. A liturgia de hoje oferece-nos para isso uma oportunidade providencial.

A humilde casa de Nazaré é para todo o cristão, e especialmente para as famílias cristãs, uma autêntica escola do Evangelho. Aqui admiramos a realização do projeto divino de fazer da família uma íntima comunidade de vida e de amor; aqui aprendemos que cada núcleo familiar cristão é chamado a ser pequena «Igreja doméstica», onde devem resplandecer as virtudes evangélicas.

Recolhimento e oração, compreensão mútua e respeito, disciplina pessoal e ascese comunitária, espírito de sacrifício, trabalho e solidariedade são traços típicos que fazem da família de Nazaré um modelo para todos os nossos lares.

Querendo realçar os valores da família na Exortação apostólica «Familiaris consortio», o beato João Paulo II afirmou que “o futuro da humanidade passa pela família”.
Embora, nos tempos atuais, a família esteja sendo assinalada por profundas e rápidas transformações da cultura e da sociedade, a Igreja, porém, nunca deixou de fazer chegar «a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente; a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem é injustamente impedido de viver livremente o próprio projeto familiar» (Familiaris consortio, 1). Ela dá conta da sua responsabilidade e deseja continuar, ainda hoje, «a oferecer o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família».
Para realizar esta sua ingente missão, a Igreja conta de modo especial com o testemunho e contribuição das famílias cristãs. Melhor ainda, «perante os perigos e dificuldades que a instituição familiar atravessa, ela convida a um suplemento de audácia espiritual e apostólica, na consciência de que as famílias são chamadas a ser ‘sinal de unidade para o mundo’, e a testemunhar ‘o Reino e a paz de Cristo, para os quais o mundo inteiro caminha’».

Os cristãos, recorda o Concílio Vaticano II, atentos aos sinais dos tempos, devem promover «ativamente o bem do matrimônio e da família, quer pelo testemunho da sua vida pessoal, quer pela ação harmônica com todos os homens de boa vontade» (Gaudium et spes, 52). É necessário proclamar com alegria e com coragem o Evangelho da família.

Jesus, Maria e José, abençoem e protejam todas as famílias do mundo, para que nelas reinem a serenidade e a alegria, a justiça e a paz, que Cristo, ao nascer, trouxe como dom à humanidade.

Padre Bantu Mendonça

30 de dezembro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz

Bem-aventurados os construtores da paz.

1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz, a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.
À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus, em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.
Na realidade, o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo homem e do homem todo.
Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.
E, no entanto, as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem-sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.
Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, nas palavras de Jesus Cristo: “Bem-aventurados os que constroem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9).


A bem-aventurança evangélica

2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um gênero literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem, sobretudo, no cumprimento de uma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingênuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.

A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teórico-práticos meramente subjetivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autônoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce, cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, “o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz” (v. 11).


A paz: dom de Deus e obra do homem

3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenho da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Bem-aventurado João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.
Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigênito. Assim, o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.

A realização da paz depende, sobretudo, do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais.

A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros coparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.
A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenômenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação de um mundo novo.

Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter “um coração novo e um espírito novo” (cf. Ez 36, 26).
Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal fator do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.
A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.


Construtores da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade

4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.
Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se deem conta de que, assim, estão propondo a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.
Também a estrutura natural do matrimônio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu caráter peculiar e a sua insubstituível função social.

Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a ação da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal ação é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.

Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objeção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.
Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coações quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar atividades educativas, beneméritas e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e atuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente, vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.
O construtor da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento econômico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.

E, entre os direitos e deveres sociais atualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao fato, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento econômico dependeria, sobretudo, da liberdade total dos mercados. Assim, o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos econômicos e financeiros. A propósito disso, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões econômicas, sociais e políticas exigem que se continue “a perseguir como prioritário o objetivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção”. Para se realizar este ambicioso objetivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.


Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia

5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta reta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.

Para sair da crise financeira e econômica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo econômico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento econômico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. Concretamente, na atividade econômica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a atividade econômica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo, sente-se trabalhando não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.

No âmbito econômico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira.
O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias-primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes econômicos e com um controle insuficiente por parte dos governos e da comunidade internacional.
Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objetivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua atividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e econômico.


Educação para uma cultura da paz: o papel da família e das instituições

6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.
Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, econômico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projeto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino.
A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização de uma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor.

Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes.
A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.
Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolares e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as atividades econômicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética.

O mundo atual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.


Uma pedagogia do construtor da paz

7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem comum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será “dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar”, de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48).
É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.
Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens.

Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez, pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua ação, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.
Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.

Vaticano, 21 de dezembro de 2012

26 de dezembro de 2012

Silêncio e contemplação em Clara de Assis



Na esteira da comemoração dos oitocentos anos do carisma clariano, continuamos a refletir sobre a figura ímpar desta notável fundadora de um estilo original de vida evangélica e contemplativa na Igreja.  Apoiados no texto da Irmã Angela Emmanuela  Scandella, OSC,  Chiara ‘Alta donna di contemplazione’, Sette parole per il nostro ‘oggi’, in  Italia Francescana 2012/1, p. 17ss,  vamos refletir sobre o silêncio e a contemplação. Limitar-nos-emos a citar os elementos evidenciados pela autora.

Silêncio 

Pensar em Clara é pensar numa  mulher envolvida pelo silêncio, não um silêncio ritual e forçado, mas buscado, cultivado, alimentado. Pode-se dizer que ela foi “habitada pelo silêncio”. Não podemos deixar de pensar, é claro, no silêncio exterior amplamente documentado pelas Fontes, mas, sobretudo, pensamos naquele silêncio interior, feito de solidão e de escuta, tecido do harmonioso equilíbrio entre o silêncio e a palavra. Bento XVI em sua Mensagem para a Jornada  Mundial da Comunicação  Social  (2012), recordando uma homilia sua de 2006, dizia: “Na loquacidade de nosso tempo, na inflação das palavras, urge tornar presente a Palavra, a Palavra que vem de Deus, a Palavra que é Deus”.  Isto só é possível com uma purificação de nosso pensar. Será urgente um trabalho de burilar  nossas palavras.  Necessitamos de um silêncio que se torne contemplação. Ora, a vida de silêncio das Irmãs Pobres de São Damião tinha, e tem, essa finalidade: permitir que o Deus-Palavra possa dirigir-se  ao fundo do coração dos que o ouvem. Não se trata, como foi dito, de um mero silêncio exterior, mas desta organização existencial de tal sorte que as antenas mais profundas da pessoa não estejam ligadas  a coisas, por vezes, tão desnecessárias, tão “desarrumadoras” da paz interior.  O silêncio exterior ajuda à amada do Amado a não se “distrair”. Respirando em casa um clima de recolhimento exterior, o coração começa a viver harmonia que é terra mais propícia para a contemplação.

Michel  Hubaut, refletindo sobre o tema do silêncio interior, lembra que quem quer fazer silêncio para ouvir a Deus  e unificar sua existência, aprende a descer até o  deserto interior de seu coração, onde o Espírito marca encontro. Aos poucos, o ouvinte do silêncio vai se dessolidarizando do que é fugaz e sem valor verdadeiro. Não despreza nada, mas tudo relativiza. Os santos  “profundamente presentes  à vida de seus contemporâneos são cidadãos de uma pátria invisível, mais real, no entanto, que qualquer realidade  humana. A experiência nos leva a  dizer que somente a graça de Deus  pode fazer da solidão um espaço de silêncio interior que abre a fechadura  da vida íntima do homem onde o Espírito murmura e Deus fala”.

Contemplação.

Mais uma palavra de Clara para os tempos de ontem e de hoje: vida contemplativa como vigília, uma longa vigília que dura a vida inteira, esperando aquele que está para vir, esse alguém que feito de desejo, deixando ressoar em nós o desejo por ele como eco de seu desejo por nós.

Entrelaçam-se aqui os temas da vigília, do desejo que desemboca num estado de vida contemplativo. As Fontes  fazem alusão às vigílias noturnas de Clara, longas vigílias, longas e solitárias “vigilante e incansável”  segundo a Legenda (n. 19), para recolher o veio do sussurro  furtivo (cf  Jó 4, 12) que  Gregório Magno interpreta como o falar do Espírito. “É a experiência da presença e da ação  do Espírito que, em nós, nada mais faz do que repetir, desde o dia de nosso Batismo, aquele Verbum absconditum, para mencionar ainda aquele versículo de Jó,  Verbum que é Jesus Cristo”. Silêncio, Verbum e contemplação.  A Legenda continua: Clara “parecia sempre ter o seu Jesus entre as mãos”, porque o  Senhor é Espírito, recorda São Paulo (2Cor 3,17).  Trata-se do tema dos esponsórios que Francisco aborda  na Carta aos Fieis (1, 5-8).  A experiência espiritual de Clara é uma viva exegese de Francisco. Deus em nós pela presença e ação do Espírito.  Não se trata de uma atualíssima palavra  para nós que vivemos derramados nas coisas  como que vivendo exilados de Deus? Irmã Angela escreve:  “Nossos mosteiros, com sua pobreza  e  fragilidade, continuam sendo aquelas casas  (domus), mesmo deterioradas, mas consagradas à interioridade. Lugares em que restaurando o coração se restaura, tenaz e  humildemente, a Igreja, a Domus Dei em ruína”. Bento XVI, em visita às clarissas  por ocasião de sua visita a Assis, em 17 de junho de 2007, dizia: “Vós nos precedeis no caminho da conversão”. Quando a conversão é verdadeira, não faz barulho. Muitas vezes faz sorrir que  certamente é mais proveitoso do que ficar choramingando pelas contrariedades de cada dia. A ação do Espírito do Senhor purifica, ilumina, transforma  e aponta os  passos a serem seguidos para que seja bem percorrido o caminho da conversão.  Aqui ainda uma palavra atual e para o hoje: uma vida que se enfrenta o risco de  expor-se a Deus numa cultura que não quer correr  risco.

Frei Almir Ribeiro Guimarães.

25 de dezembro de 2012

Natal de Jesus



“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória…” (Jo 1,14).


A encarnação do Verbo de Deus assinala o início dos “últimos tempos”, isto é, a redenção da humanidade por parte de Deus. Cega e afastada de Deus, a humanidade viu nascer a luz que mudou o rumo da sua história. O nascimento de Jesus é um fato real que marca a participação direta do ser humano na vida divina. Esta comemoração é a demonstração maior do amor misericordioso de Deus sobre cada um de nós, pois concedeu-nos a alegria de compartilhar com ele a encarnação de seu Filho Jesus, que se tornou um entre nós. Ele veio mostrar o caminho, a verdade e a vida, e vida eterna. A simbologia da festa do Natal é o nascimento do Menino-Deus.

No início, o nascimento de Jesus era festejado em 6 de janeiro, especialmente no Oriente, com o nome de Epifania, ou seja, manifestação. Os cristãos comemoravam o natalício de Jesus junto com a chegada dos reis magos, mas sabiam que nessa data o Cristo já havia nascido havia alguns dias. Isso porque a data exata é um dado que não existe no Evangelho, que indica com precisão apenas o lugar do acontecimento, a cidade de Belém, na Palestina. Assim, aquele dia da Epifania também era o mais provável em conformidade com os acontecimentos bíblicos e por razões tradicionais do povo cristão dos primeiros tempos.

Entretanto, antes de Cristo, em Roma, a partir do imperador Júlio César, o 25 de dezembro era destinado aos pagãos para as comemorações do solstício de inverno, o “dia do sol invencível”, como atestam antigos documentos. Era uma festa tradicional para celebrar o nascimento do Sol após a noite mais longa do ano no hemisfério Norte. Para eles, o sol era o deus do tempo e o seu nascimento nesse dia significava ter vencido a deusa das trevas, que era a noite.

Era, também, um dia de descanso para os escravos, quando os senhores se sentavam às mesas com eles e lhes davam presentes. Tudo para agradar o deus sol.

No século IV da era cristã, com a conversão do imperador Constantino, a celebração da vitória do sol sobre as trevas não fazia sentido. O único acontecimento importante que merecia ser recordado como a maior festividade era o nascimento do Filho de Deus, cerne da nossa redenção. Mas os cristãos já vinham, ao longo dos anos, aproveitando o dia da festa do “sol invencível” para celebrar o nascimento do único e verdadeiro sol dos cristãos: Jesus Cristo. De tal modo que, em 354, o papa Libério decretou, por lei eclesiástica, a data de 25 de dezembro como o Natal de Jesus Cristo.

A transferência da celebração motivou duas festas distintas para o povo cristão, a do nascimento de Jesus e a da Epifania. Com a mudança, veio, também, a tradição de presentear as crianças no Natal cristão, uma alusão às oferendas dos reis magos ao Menino Jesus na gruta de Belém. Aos poucos, o Oriente passou a comemorar o Natal também em 25 de dezembro.

No Natal de 1223, três anos antes de morrer, São Francisco de Assis quis apresentar ao vivo a cena do presépio. Apresentação que devia logo repetir-se na história da Igreja mediante a sugestiva iniciativa do presépio.

São Boaventura na vida de São Francisco escreve: “Três anos antes de sua morte, na região de Greccio, Francisco quis fazer algo com a maior solenidade possível para reviver a devota memória do nascimento do Menino Jesus”.

A tradição atribui a São Francisco de Assis a introdução do Presépio no amplo ciclo das tradições natalinas. Como narrou São Boaventura, na noite de Natal de 1223 em Greccio, Francisco teria construído uma manjedoura com a palha, com o boi e o asno, e celebrou a Santa Missa, diante de uma multidão proveniente de toda a região.

Na realidade, em Greccio não estavam representados os personagens da Natividade de Belém, nem havia atores encenando a Virgem, São José e o Menino; portanto, mais do que um Presépio, a representação de Greccio deve ser interpretada como uma evolução do cerimonial litúrgico natalino, evocando os mistérios e dramas sacros como eventos comuns, baseados em episódios do Antigo e do Novo Testamento, expressões da religiosidade laica das Confraternidades, muito comuns naquele período, especialmente nas regiões da Umbria e Toscana.

Nas encenações sacras, a partir do século XIV cada vez mais luxuosas, eram constantes os personagens móveis, considerados por alguns como antenados das estátuas atuais.

A progressiva degeneração do drama litúrgico em formas pagãs, quase vulgares, levou a Igreja a condená-lo no Concilio de Treviri, e ao contrário, a favorecer a representação estática da Natividade e do Presépio, contribuindo assim para a sua sucessiva difusão.

Passados mais de dois milênios, a Noite de Natal é mais que uma festa cristã, é um símbolo universal celebrado por todas as famílias do mundo, até as não-cristãs. A humanidade fica tomada pelo supremo sentimento de amor ao próximo e a Terra fica impregnada do espírito sereno da paz de Cristo, que só existe entre os seres humanos de boa vontade. Portanto, hoje é dia de alegria, nasceu o Menino-Deus, nasceu o Salvador.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola

17 de dezembro de 2012

Reflexão : Alegria


“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito: alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens!” (Fl 4, 4-5).


A alegria deve nos motivar para a retidão e a bondade em nosso pensar e em nosso agir, pois como cristãos, somos enviados a transformar a sociedade humana. Portadores da verdadeira alegria, devemos fazê-la sempre mais conhecida através de nossos gestos e ações. A verdadeira alegria consiste em fazer o bem, colocar nossos dons e talentos à serviço da vida. Tal experiência gera maior compromisso, solidariedade e amor entre as pessoas.

Daqui a alguns dias, estaremos celebrando o nascimento de Jesus. Isso deve nos alegrar sobremaneira e dar um novo ânimo à nossa vida. Quem foi atingido pela luz divina está sempre na busca daquilo que bom, correto, saudável, feliz… Quem já fez um encontro transformador com Jesus procura assumir o jeito divino, e, assim, torna-se sinal desse amor que é capaz de transformar vidas e plenificar de sentido a própria jornada humana…

Tenha uma feliz e abençoada semana!

Frei Paulo Sérgio, ofm


16 de dezembro de 2012

FRANCISCO, O CANTOR DE DEUS


Frei Salvio Romero, eremita capuchinho

A beleza do canto, da poesia e da música em geral teve um lugar significativo na vida do nosso pai São Francisco. Ele se tornou o trovador de Deus, o cantor das criaturas e o poeta apaixonado pela dama pobreza. Nos momentos luminosos e nos sombrios, nas horas de dor e de alegria ele nunca desistiu de fazer de sua vida um jubiloso canto ao seu Criador.
 Antes da conversão, o jovem Francisco já demonstrava predileção pelo canto. A Legenda dos Três Companheiros afirma que ele era “aficionado aos divertimentos e aos cânticos” (LTC 2,3). Esta mesma obra nos oferece uma cena que ilustra muito bem como deveria ser a vida secular deste jovem: “Mandou que se preparasse um suntuoso banquete, como muitas vezes o fizera. Quando já refeitos, saíram da casa e os companheiros todos juntos o precediam, indo pela cidade a cantar” (LTC 7,2-3).
 Ao dar-se a sua conversão, ele não abandonou seu gosto pelo canto. Pelo contrário, nova inspiração nasceu do seu encontro com o Cristo e seu Evangelho. Tomás de Celano após nos contar como se deu o rompimento de Francisco com o seu pai, Pedro de Bernardone, apresenta-nos um santo que gostava de cantar: “Vestido agora com andrajos aquele que outrora usava escarlate, ao caminhar por um bosque e cantar os louvores ao Senhor em língua francesa, de repente ladrões caíram sobre ele” (1Celano 16,1). Este mesmo autor nos diz que, depois de ter sofrido algumas agressões por parte desses salteadores, São Francisco “alegrando-se com grande júbilo, começou a cantar em alta voz pelos bosques louvores ao Criador de todas as coisas” (1Celano16,4).
 Durante toda a sua vida, especialmente em momentos de grande exultação, o santo de Assis se exprimia através do canto. Um detalhe registrado por todos os seus principais biógrafos se refere ao idioma utilizado por São Francisco nestes momentos: “Quando fervia dentro dele a mais suave melodia do espírito, ele a expressava exteriormente em língua francesa” (2Celano 127,2). E como se não bastasse o próprio canto, ele acrescentava o instrumento e a dança: “De vez em quando, como vi com meus próprios olhos, ele colhia do chão um pedaço de pau e, colocando-o sobre o braço esquerdo, mantinha um pequeno arco curvado por um fio na mão direita, puxando-o sobre o pedaço de pau como sobre um violino e, apresentando para isto movimentos próprios, cantava em francês cânticos sobre o Senhor. Frequentemente, todas estas danças terminavam em lágrimas, e este júbilo se convertia em compaixão para com a paixão de Cristo” (2Celano 127,3-4).
 Quem não se lembra daquela noite santa de Gréccio, quando o santo com seus frades e demais fiéis entoaram cânticos ao Menino de Belém? Descreve o biógrafo: “O bosque faz ressoar as vozes, (...) os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo. O santo de Deus está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, (...) e com voz sonora canta o Evangelho. E a voz dele, de fato, era uma voz forte, voz doce, voz clara e voz sonora, a convidar todos aos mais altos prêmios” (1Celano 85-86).
 O canto e a música não só estavam presentes nos momentos de júbilo e exultação de nosso pai São Francisco. Nos momentos sombrios e dolorosos, também encontramos um santo que se deixa iluminar pelo canto que brota de seu coração. Quando esteve muito doente dos olhos, fazendo um tratamento em Rieti, pediu um favor a um de seus frades: “Eu gostaria, portanto, irmão, que trouxesses em segredo uma cítara de empréstimo, com a qual, fazendo algum canto honesto, desses algum alívio ao irmão corpo cheio de dores” (2Celano 126). Como o referido irmão não achou conveniente voltar a utilizar o instrumento que tocava antes de sua conversão, na noite seguinte o santo ouviu misteriosamente uma melodia vinda daquele instrumento: “Já que não pude ouvir as cítaras dos homens, ouvi uma cítara mais suave” (2Celano 126,10). Não esqueçamos que foi numa noite de terríveis tormentos, já cego e muito doente, que este santo compôs o seu mais belo cântico, chamado por ele de “Cântico do Irmão Sol”.
 São Francisco também via no canto um meio para levar a mensagem de Cristo ao mundo. Na Compilação de Assis se afirma que, após compor o Cântico do Irmão Sol, o santo desejou enviar Frei Pacífico, excelente músico, com alguns frades a ir pelo mundo a pregar e louvar a Deus. Primeiro falariam ao povo e depois cantariam os louvores de Deus. No final o pregador deveria dizer ao povo: “Somos os jograis do Senhor” (CA 83,27).
O canto, que sempre fora seu companheiro, esteve com ele até ao derradeiro instante de sua vida terrena. Tomás de Celano nos conta que, sabendo da proximidade da irmã morte, o seráfico pai: “chamou a si dois irmãos e filhos seus prediletos, ordenando-lhes que cantassem em alta voz e na exultação do espírito os Louvores ao Senhor pela morte próxima” (1Celano 109). Nos seus últimos dias, São Francisco se preparou para a morte entoando salmos e outros louvores a Deus.Portanto, aprendamos também nós, em toda e qualquer situação, a elevar a Deus um hino de louvor e gratidão. Que o nosso canto transborde de um coração cada vez mais purificado, iluminado e unido a Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.

Pax et bonum!


13 de dezembro de 2012

Reflexão - Conversão



“A verdadeira conversão dá segurança à pessoa, mas não lhe confere o direito de parar de vigiar”. C. H. Spurgeon

Estamos caminhando neste tempo do Advento: tempo de espera, de esperança e de conversão! A conversão é algo que atinge a pessoa como num todo e a faz modificar, transformar. A conversão é uma verdadeira metamorfose, algo que faz nascer uma nova pessoa dentro de nós. E nesta novidade da experiência cristã somos enviados pelos caminhos da vida a compartilhá-la com muitas pessoas que caminham conosco: família, amigos, colegas de trabalho, grupo de convivência…

A encarnação de Jesus Cristo na nossa história abriu-nos o caminho da plenitude: participamos agora do Reino de Deus, pois pelo Filho, Deus Pai nos concedeu a salvação, a passagem para uma vida nova. Tal ação traz à memória uma frase cheia de sentido:  “Lembro-me de que tudo parecia-me novo… os campos, o gado, as árvores. Eu era como um homem novo em um mundo novo” (Billy Bray). É esta transformação integral que a conversão opera em nós!

Frei Paulo Sérgio, ofm

11 de dezembro de 2012

Uma presença confortante e animadora



Por Frei Orlando Bernardi

O último capítulo da Regra de Clara, como a de Francisco, trata de funções que, praticamente, pouco têm a ver com o cotidiano da vida das clarissas e dos frades, porém, são de suma importância para o bom andamento das comunidades. Trata-se do papel do visitador, do capelão e do cardeal protetor da Ordem. A razão ou o pano de fundo se encontra nessa afirmação: “Para que guardemos a pobreza e a humildade de N. S. Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e o santo Evangelho que firmemente prometemos observar. Amém!” (c. XII). Percebe-se, então, que a razão dessas três figuras não é, em primeiro lugar, jurídica, mas sim de uma presença que ajuda a permanecerem firmes e seguras no propósito assumido ao abraçar essa forma de vida. Não se trata, portanto, de alguém que entra na comunidade como guarda, estranho ou, pior ainda, como fiscalizador. Embora a função dessas três figuras pertença mais ao extraordinário da vida monacal, a visita, no entanto, pertence ao ordinário, quer dizer ao cotidiano. Tanto Francisco como também Clara desejam que a presença amiga e fraterna dos superiores continue junto aos irmãos e irmãs. Aliás, Clara escreve no c. X que a abadessa “visite as irmãs” de sua comunidade. Veja-se que se trata da mesma comunidade. Para Francisco, talvez, esse mesmo ofício esteja presente na figura da “mãe” da Regra dos eremitérios.

Essas visitas aos irmãos e irmãs das comunidades franciscanas se reportam, inicialmente, ao costume da Igreja nascente em que o fundador da comunidade a visitava com a finalidade de mantê-la firme e segura na fidelidade ao compromisso da fé. A carta de Francisco a um Ministro mostra muito bem qual a direção que se devia tomar a esse respeito. Além disso, com respeito a Clara, Francisco assumiu um compromisso de constante presença (Test.Cl 4). Por ocasião de sua viagem ao Oriente deixara a Frei Felipe Longo para representá-lo. Ao voltar, notou que essa presença se transformara em cargo estável, fato que o aborrecera sobremaneira e a Clara também, certamente. De imediato, pediu ao Papa a revogação. Nomeou a Frei Pacífico como continuador de sua presença junto às irmãs. Ao longo da história posterior, a figura do visitador assumiu mais um acento jurídico que, propriamente, presencial.
Além do visitador, Clara fala de um capelão com um companheiro clérigo. Entende-se essa presença por causa da administração dos sacramentos. Note-se, particularmente, a preocupação e o cuidado com que fala dessas presenças. Prudente e conhecedora das fraquezas humanas quer, de antemão, prevenir futuros abusos ou escândalos de que a história é testemunha!

A figura do cardeal protetor foi introduzida por Francisco (RB 12,4) com a função de “governar, proteger e corrigir… a fim de permanecer súditos e submissos… e observar a pobreza, a humildade e o santo Evangelho”. Assim formulada a exigência de Francisco tem um acento bem mais jurídico que fraterno. No entanto, durante a vida quer de Francisco, quer de Clara, sabe-se como se criaram laços de intimidade e de compreensão mútuas que fizeram dessa figura um consulente e um arrimo nas oportunidades mais importantes das duas Ordens. Para comprová-lo seja suficiente esse trecho da carta escrita pelo Cardeal Hugolino a Clara em que a chama de “mãe de sua salvação”: “Caríssima irmã Clara, desde que a multidão dos afazeres me obrigou a afastar-me de vosso mosteiro e me privou das consolações que me proporcionavam vossas santas palavras e devotas conferências, se apoderou de mim tal amargura de coração, tal abundância de lágrimas e dor tão insuportável que, se não encontro aos pés de Jesus o consolo da habitual piedade, temo cair para sempre naquelas angústias em que, talvez, desfalecerá meu espírito e minha alma se dissolverá. E com razão, pois falta aquela alegria gloriosa que senti ao falar do Corpo de Cristo convosco, enquanto celebrava a Páscoa contigo e com as demais…” (Analecta franciscana III, 183). Posteriormente, essa função foi assumida pela Sagrada Congregação dos Religiosos.

8 de dezembro de 2012

O coração que batia no peito do Menino

É como se amor de Deus tivesse fome dos homens

Que coragem tu tens!  Assim, tão pequenino de entregar a todos; a quem vem ao teu encontro ofereces teu sorriso; a quem te olha te mostras acolhedor ; é como se teu amor tivesse fome dos homens (S.Efrém).
1. Estamos colocando nossos passos nas trilhas do Advento. Santo Efrém fala de um pequenino corajoso que a todos se entrega, mostra seu sorriso e a todos acolhe. Os verdadeiros discípulos de Jesus vivem um período de vida todo especial e serenamente belo durante o Advento. Gostam de contemplar a bondade suma de Deus que se manifesta na fragilidade do Menino das Palhas. O poeta que é Santo Efrém diz belamente:  “É como se teu amor tivesse fome dos homens”.


2. Os textos e os personagens do Advento nos colocam diante do mistério do amor apaixonado de Deus pelos seus. Os que saboreiam o salmos, se deleitam na leitura do profetas que anunciavam o Messias e se debruçam  sobre os evangelhos da infância, dão-se conta que o Senhor, grande e belo, vem ao encontro do homem decididamente.  O Deus grande, a Trindade Santíssima, na sua plenitude, quis estabelecer comunhão com os seres humanos, gratuitamente.  Houve o plano, a decisão de, na plenitude dos tempos, o Verbo encarnar-se e fincar sua tenda entre nós. Veio para o que era seu. Corajosamente, através do Menino do Natal, começou a nos olhar de perto, a fazer com que notássemos o carinho do Pai por cada um de nós.
3. Como  concretamente Deus resolve mostrar sua vontade de aproximação do homem e de comunhão com ele? Tudo se faria por meio da adorável figura de Jesus,  Palavra eterna de Deus tornada carne, coração, pernas, braços, voz. Santo Efrém diz que  o pequenino se entrega a todos, que torna sorriso acolhedor. Aos que tiverem sensibilidade, Deus aparece na fragilidade de Jesus. O coração de Deus bate no peito do Menino!
4. Durante toda a sua vida, ele percorrerá caminhos e estradas poeirentas para encontrar os que ama. Aqui olhará nos olhos de um cobrador de impostos, ali ensinará o esplendor da vida nova no sermão da montanha, mais adiante chorará a morte de seu amigo Lázaro, ou então pedirá  água à mulher de Samaria. Efrém tem razão:  é como se Deus feito criança, feito gente, feito homem tivesse fome dos homens. Não satisfeito de ter gasto suas vida em andanças, em embates e discussões, foi levado até o alto da cruz. Ali esvaziou-se totalmente. E aos que pudessem passar por ele, diria: “Aqui estou eu tentando ainda atrair ao meu coração aberto o coração de todos os que passam…”.  Natal é festa de delicadeza. Diante da cena do Menino e de sua Mãe, ficamos sempre impressionados.
5. Não podemos esquecer que o Menino sorridente do presépio é também o pobre ser alquebrado  no alto da cruz com o Coração aberto. O coração do Menino e do justo suspenso entre o céu e a terra batem a batida do amor.  Por vezes, o ser humano se sente como que abandonado na trajetória da vida, na travessia dos desertos. E o coração do indigente lamenta:  “Por que, Senhor, me abandonaste desta forma ao longo do sofrimento? O Senhor, no entanto, em luz indizível responde, encorajando-o:  Eis os sinais dos pregos  e as minhas chagas;  sofri tudo isto, alma querida, porque estiveste ferida e presa de tantos inimigos.  Curei-te e libertei-te porque te fiz à minha imagem. Por ti sofri, eu que sou o impassível. A aflição da minha alma foi para o teu bem” (Pseudo Macário-Simão).
É como se o Menino das  Palhas, e condenado com o  Coração aberto, tivesse fome do amor dos homens.
Frei Almir Ribeiro Guimarães

7 de dezembro de 2012

Imaculada Conceição de Maria - Pequenos e Fracos, como a Virgem de Nazaré



Frei José Carlos Pedroso, OFMCap

Quando chegou o tempo da manifestação do Reino, Deus mandou um anjo a uma virgem de Nazaré. Hoje, cada um dos substantivos desta frase evoca tanta experiência de cultura que, embora saibamos que estamos diante de grandes mistérios de Deus, podemos não ter uma perspectiva muito clara: Deus resolveu começar tudo com uma mulher, jovem, solteira, pobre, noiva de um carpinteiro, moradora de um vilarejo tão miserável que nem constava dos possíveis mapas de Israel.

Era tudo que se podia imaginar de secundário e inferior na cultura do tempo: uma criatura para a qual nenhum poderoso iria olhar. Mas o Deus da Bíblia trabalha, com predileção, justamente com o pobre, o pequeno, o fraco, o desprezado. Seu Filho seria o filho dessa mulher, uma mulher pobre numa aldeia no fim do mundo. Os auxiliares imediatos de seu Filho seriam pescadores por quem ninguém daria nada. Entravam na linha dos “anawin”, os pobres de Deus do Antigo Testamento.

É fundamental entendermos esse sentido de ser virgem: não pertencer a ninguém, não contar nada como elemento constituinte do povo, não ser de nada. É disso que Deus precisa para começar a fazer um contemplativo, porque é dessa massa que Ele faz um Cristo.

Essa pobreza, esse nada da Mãe de Jesus é importante na contemplação de Francisco e Clara, que aí fundamentaram toda sua vida de recolhimento e de ação. Ser pobre de tudo para ser rico de Deus, como Maria, era seu grande sonho, a realização de sua alegria.

Celano conta que Francisco… “celebrava com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos… Queria que nesse dia os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, que se concedesse uma ração maior e mais feno para os bois e os burros… Não podia recordar sem chorar toda a penúria de que esteve cercada nesse dia a pobrezinha da Virgem.

Francisco achava que Maria dava maior valor à pobreza evangélica de seu Filho que a qualquer outra coisa. Quando lhe pediram para conservar parte dos bens dos noviços para a acolhida dos frades de passagem, respondeu: “Se não houver outro meio de atender aos indigentes, despe o altar da Virgem e tira os seus ornatos. Podes crer que é melhor guardar o Evangelho de seu Filho e despojar o altar do que deixar o altar ornado e seu Filho desprezado. O Senhor mandara que alguém restitua à sua Mãe o que ela nos tiver emprestado”

Para ele, Maria era uma pobre tão unida à pobreza de Jesus que enviou esta exortação a Clara e suas irmãs: “Eu, frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza do altíssimo Senhor nosso Jesus Cristo e da sua santíssima Mãe, e nela perseverar até o fim. E rogo a vós, minhas senhoras, e vos aconselho a viver sempre nesta santíssima vida e pobreza. E guardai-vos muito bem de afastar-vos jamais dela de modo algum por ensino ou conselho de alguém” .

Clara pensava do mesmo jeito e fez a mesma associação muitas vezes. Colocou em sua Regra essa “vontade” de Francisco, e ainda a terminou com o desejo de que ela e as irmãs observassem “sempre a pobreza e a humildade de nosso Senhor Jesus Cristo e da sua santíssima Mãe”. E também une Mãe e Filho na redenção: Medita sem cansar o mistério da cruz e as dores da Mãe em pé junto à cruz”.

Francisco amava os pobres porque neles contemplava Jesus e Maria: “Quando vês um pobre, meu irmão, tens à frente um espelho do Senhor e de sua pobre Mãe. Também nos doentes deves ver as enfermidades que ele assumiu por nossa causa!”.

E Clara concordava: “E por amor do santíssimo e diletíssimo Menino, envolto em fraldas e reclinado no presépio, e de sua santíssima Mãe, admoesto, suplico calorosamente e exorto as minhas irmãs a vestir sempre roupas vis”.

(Extraído do livro “Olhos do Espírito”, de Frei José Carlos Pedroso, OFMCap, Edições Loyola)

6 de dezembro de 2012

Imaculada Conceição de Maria - Maria Mãe da Igreja



Frei Clarêncio Neotti, OFM

A Igreja sempre venerou Maria como sua mãe. Mesmo porque há uma razão lógica: ela é a Mãe de Jesus, cabeça da Igreja e a Igreja é o corpo místico de Cristo, princípio e primogênito de todas as criaturas celestes e terrestres (Ef 1,18). Por isso mesmo, Maria é a mãe de todos os que nasceram pelo Cristo, tornaram-se irmão de Cristo e em Cristo, e são herdeiros de sua graça, sua vida e sua glória. Foi, porém, em pleno Concílio Ecumênico Vaticano II, no dia 21 de novembro de 1964, que o Papa Paulo VI deu solenemente a Maria o título de “Mãe da Igreja”.

Os Bispos do mundo inteiro acabavam de assinar a Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja, e o Papa acabara de promulgar, em sessão pública, o novo documento, que implantaria os rumos futuros da eclesiologia e da prática pastoral. Diferentemente do que se pensara na fase preparatória do Concílio, os Padres Conciliares não fizeram um documento especial sobre o papel de Maria na história da salvação, mas inseriram a doutrina mariana, a pessoa de Maria e sua função como co-redentora, no próprio documento sobre a Igreja, ressaltando a Mãe de Jesus como membro, tipo e modelo da Igreja.

Maria é vista conexa ao mistério trinitário, em sua dimensão cristológica, pneumatológica (Espírito Santo) e eclesiológica. Logo no início do capítulo VIII da Lumen Gentium, intitulado “A Bem-Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja”, marca-se toda a linha de doutrina: “A Virgem Maria, que na Anunciação do Anjo recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime e unida a ele por um vínculo estreito e indissolúvel, é dotada com a missão sublime e a dignidade de ser a Mãe do Filho de Deus, e por isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo. Por esse dom de graça exímia supera de muito todas as outras criaturas celestes e terrestres. Mas, ao mesmo tempo, está unida, na estirpe de Adão, com todos os homens a serem salvos. Mais ainda: é verdadeiramente a mãe dos membros (de Cristo), porque cooperou pela caridade para que, na Igreja, nascessem os fiéis que são membros desta Cabeça. Por causa disso, é saudada também como membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e caridade. E a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de piedade filial como mãe amantíssima” (n. 53). Este parágrafo contém os pontos desenvolvidos nessa parte do documento.

Reconheceu o Papa Paulo VI naquele discurso de encerramento da terceira sessão do Concílio que era a primeira vez que um Concílio Ecumênico apresentava síntese tão vasta da doutrina católica acerca do lugar que Maria Santíssima ocupa no mistério de Cristo e da Igreja. E, emocionado, afirmou que queria consagrar à Virgem Mãe um título que sintetizasse o lugar privilegiado de Maria na Igreja. E declarou: “Para a glória da Virgem e para o nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o povo de Deus, tanto dos fiéis quanto dos pastores, que a chamam de Mãe amorosíssima. E queremos que, com este título suavíssimo, seja a Virgem doravante ainda mais honrada e invocada por todo o povo cristão”. Alguns anos mais tarde, no dia 15 de março de 1980, o título foi acrescentado à Ladainha lauretana, logo depois da invocação “Mãe de Jesus Cristo”.

No mesmo solene discurso, Paulo VI lembrou que o título não era novo para a piedade dos cristãos, porque desde os primórdios do Cristianismo Maria foi amada como mãe e o povo sempre recorreu a ela como um filho recorre à mãe. E argumentou: “Efetivamente, assim como a maternidade divina é o fundamento da especial relação de Maria com Cristo e da sua presença na economia da salvação, operada por Cristo Jesus, assim também constitui essa maternidade o fundamento principal das relações de Maria com a Igreja, sendo ela Mãe daquele que, desde o primeiro instante de sua encarnação, uniu a si, como cabeça, o seu corpo místico, que é a Igreja”.

Cito mais um trecho do discurso do Papa em que fala de Maria, imaculada, sim, mas ligada a nós pecadores por laços estreitíssimos: “Embora na riqueza das admiráveis prerrogativas, com que Deus a ornou para fazê-la digna Mãe do Verbo Encarnado, está ela pertíssimo de nós. Filha de Adão como nós e por isso nossa irmã por laços de natureza, ela é a criatura preservada do pecado original em vista dos méritos do Salvador; aos privilégios obtidos, junta a virtude pessoal de uma fé total e exemplar… Nela, toda a Igreja, na sua incomparável variedade de vida e de obras, acha a forma mais autêntica da perfeita imitação de Cristo”.

Ninguém, que chega à Praça São Pedro, em Roma, deixa de se impressionar com a imensa colunata de Bernini, construída em mármore e pedra, como um grande, afetuoso e festivo abraço de acolhimento aos peregrinos. Por cima da colunata, 140 estátuas de tamanho natural, de santos e santas nascidos nas mais diferentes camadas sociais, representam visivelmente a comunhão dos santos, que não é coisa do passado ou apenas do céu, mas a família viva que se une aos cristãos que entram na Basílica. Ora, Nossa Senhora não figura entre os santos da colunata.

O Papa João Paulo II, em 1981, mandou colocar na parte externa e alta da Secretaria de Estado, que olha para a Praça de São Pedro, a imagem de Maria Mãe da Igreja. Todos a vêem de qualquer ponto da Praça. Trata-se de uma cópia feita em mosaico da conhecida como Nossa Senhora da Coluna. Assim chamada, porque seu original estava pintado numa coluna de mármore da primitiva basílica de São Pedro. Quando essa foi destruída, em 1607, para dar lugar à grande Basílica como a temos hoje, a parte da coluna com a imagem foi posta, na nova igreja, sobre o altar que abriga as relíquias de três papas, os três com o nome de Leão (II, III e IV), onde está até hoje. Dessa pintura, de autor anônimo, foi feito o mosaico que agora domina discretamente a Praça. Vestida de azul celeste, Maria tem nos braços, em gesto de oferecimento ao povo, o Menino que, sorridente, abençoa com a mão direita, à moda grega. Ambos, Mãe e Filho, olham para longe, como que contemplando a Praça, a Cidade e o mundo, derramando sobre todos um olhar de inefável bondade, trazendo à memória a parte final da Lumen Gentium, onde Maria é considerada sinal de segura esperança e de conforto ao povo de Deus em peregrinação (n. 68).
Sob a imagem, em grandes letras de bronze, legíveis da Praça, está escrito: “Mater Ecclesiæ” (Mãe da Igreja).

Paulo VI, que dera a Maria o título oficial de “Mãe da Igreja”, desenvolveu o tema na Exortação Apostólica sobre o Culto à Virgem Maria, um dos documentos mais bonitos de seu pontificado. O Papa apresenta, através das festas marianas do calendário litúrgico, Maria como modelo da Igreja, e pede que suas considerações de ordem bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica sejam levadas em conta na orientação da piedade popular e na elaboração das novas orações marianas (n. 29). O Papa fala de Maria como modelo de quem sabe ouvir e acolher a Palavra de Deus com fé. Esta é uma missão específica da Igreja: escutar, acolher, proclamar, venerar e distribuir a Palavra de Deus como pão de vida (n. 17). Fala de Maria como modelo de pessoa orante e intercessora. Ora, a Igreja todos os dias apresenta ao Pai as necessidades de seus filhos, louva sem cessar o Senhor e intercede pela salvação do mundo (n. 18). Fala de Maria Virgem e Mãe, modelo da fecundidade da virgem-Igreja, que se torna mãe, porque, pelo batismo, gera os filhos concebidos pela ação do Espírito Santo (n. 19). Fala de Maria, que oferece ao Pai o Verbo encarnado, sobretudo aos pés da Cruz, onde ela se associou como mãe ao sacrifício redentor do filho. Diariamente a Igreja oferece o sacrifício eucarístico, memorial da morte e ressurreição de Jesus (n. 20).

Quando falamos de Maria como modelo, há o perigo de vê-la longínqua, ou ao menos fora de nós, como vemos os nossos heróis. Na verdade, Maria é parte essencial da Igreja. Podemos dizer que a Igreja está dentro de Maria e Maria está dentro da Igreja. Essa verdade foi acentuada, sobretudo, pelo Papa João Paulo II na encíclica Redemptoris Mater, que leva o sugestivo título: A Bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja que está a caminho: “Existe uma correspondência singular entre o momento da Encarnação do Verbo e o momento do nascimento da Igreja. E a pessoa que une esses dois momentos é Maria: Maria em Nazaré e Maria no Cenáculo de Jerusalém” (n. 24). Depois de acentuar Maria no centro da vida da Igreja, conclui o Papa: “A Virgem Maria está constantemente presente na caminhada de fé do Povo de Deus” (n. 35). “A Igreja mantém em toda a sua vida, uma ligação com a Mãe de Deus que abraça, no mistério salvífico, o passado, o presente e o futuro; e venera-a como Mãe da humanidade” (n. 47).

5 de dezembro de 2012

Imaculada Conceição de Maria - Maria Santíssima na Piedade Franciscana




Por Frei Constantino Koser, OFM


O intenso amor a Cristo-Homem, qual o praticara São Francisco e qual o legara à sua Ordem, não podia deixar de atingir Maria Santíssima. Já as razões do coração católico de São Francisco e seu cavaleirismo o levavam a amor aceso da virgem Mãe de Deus. “Seu amor para com a bem-aventurada Mãe de Cristo, a puríssima Virgem Maria, era de fato indizível, pois nascia em seu coração quando considerava que ela havia transformado em irmão nosso o próprio Rei e Senhor da glória e que por ela havíamos merecido alcançar a divina misericórdia. Em Maria, depois de Cristo, punha toda a sua confiança. Por isto a escolheu para advogada sua e de seus religiosos, e em sua honra jejuava devotamente desde a festa de São Pedro e São Paulo até à festa da Assunção”.

São Francisco não é apenas um santo muito devoto, muito afeiçoado à Mãe de Deus, mas é um dos santos em que a piedade mariana aparece numa floração original e singular, sem contudo se afastar, por pouco que seja, das linhas marcadas pela Igreja. A Idade Média, da qual é Filho, teve uma piedade mariana cheia dos mais suaves encantos, porque fundada toda sobre a nobreza de sentimentos e a cortesia de atitudes de cavaleiros. Os cavaleiros se consideravam paladinos da honra e da glória de Maria Santíssima.

São Francisco, que em sua concepção específica da vida religiosa partia deste ideal e que considerava os seus como “cavaleiros da Távola Redonda”, cultivou com esmero e com intensidade toda sua o serviço da Virgem Santíssima nos moldes do ideal cavaleiroso, condicionado pelo seu conceito e pela sua prática da pobreza. Nada mais comovente e delicado na vida deste Santo, que a forte e ao mesmo tempo meiga e suave devoção à Mãe de Deus. Derivada do amor de Deus e de Cristo, orientada pelo Evangelho e vazada nos moldes e costumes do cavaleirismo medieval, transposto a uma sobrenaturalidade, pureza e força singularíssima, esta piedade mariana do Santo fundador é parte integrante do que legou à sua Ordem e aí foi cultivada com esmero.

São Francisco fez dos cavaleiros de “Madonna Povertá” os paladinos dos privilégios e da honra da Mãe de Cristo. As fontes da vida e da espiritualidade de São Francisco são unânimes em narrar quanto a igrejinha da Porciúncula minúscula, pobre e abandonada na várzea ao pé de Assis, igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos – atraía as atenções de São Francisco e prendia a sua dedicação. Atraiu as suas atenções, quando estava para cumprir, segundo a interpretação que lhe dava, a ordem de Cristo de reconstruir a Igreja Santa. O edifício ameaçava ruínas. São Francisco pôs mãos à obra e em pouco tempo, com pedras e cal de “Madonna Povertá”, restituiu a estrutura da capela: “Vendo-a (a capela) São Francisco em tão ruinoso estado, e movido por seu indizível e filial afeto da soberana Rainha do universo, se deteve ali com o propósito de fazer quanto fosse possível para a sua restauração… Fixou neste lugar a sua morada, movido a isto pela sua reverência aos santos anjos, e muito mais pelo entranhado amor da Mãe Bendita de Cristo”.

Depois de assinalado por Cristo com os sinais gloriosos, mas dolorosos da Paixão, São Francisco voltou à Porciúncula. De lá partia novamente para pregar, mas voltava sempre. Os irmãos, apreensivos pela sua saúde combalida, obrigaram-no a permitir o levassem aonde melhor podiam atender ao tratamento reclamado pelo eu estado. Quando, porém, ia findar o tempo que Deus lhe concedera, e sabia quando findaria, São Francisco pediu que o levassem novamente à capelinha da Virgem dos Anjos. À sombra da igrejinha entregou sua alma a Deus no trânsito incomparável que foi o seu. Maria Santíssima, tão agraciada por Deus, possui encantos mil e à semelhança do seu Filho Divino é tão rica que um coração humano não pode venerar de uma só vez todas as prerrogativas de que foi cumulada pela generosidade divina.

Há desta forma a possibilidade das mais variadas devoções da Virgem, há a possibilidade de cada qual venerá-la e amá-la sob o aspecto que mais o comove, que mais o inflama.

(Extraído do Livro “O Pensamento Franciscano”, Editora Vozes)

2 de dezembro de 2012

As três figuras bíblicas do Advento

O profeta Isaías – representa o povo da promessa, Israel

● A Igreja, novo povo de Deus, une-se ao povo eleito na “expectação”.
● Isaías convoca o novo povo de Deus a colocar-se em atitude de espera e de preparação para o Reino messiânico.

João Batista – 2º domingo

● É o profeta que faz a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento.
● Anuncia a vinda do Messias e o mostra presente entre os homens.
● É o que batiza o Messias e o que testemunha a justiça e a verdade.
● Ele próprio é o testemunho de conversão e penitência.
● Convoca à conversão para receberem o Messias e para se preparar ao juízo final.

A Virgem Maria, Nossa Senhora da Expectação – 4º dom.

● Maria já está grávida do Salvador. Ele já está presente, já se manifesta em Maria e por Maria, mas não totalmente.
● Ele ainda precisa nascer, ainda precisa de um “lugar”.
● Jesus deseja nascer em cada coração humano. Deseja que cada pessoa se torne “mãe” do Senhor.
● Torna-se “mãe”, a exemplo de Maria, quem acolhe sua palavra e a põe em prática (S. Francisco).

29 de novembro de 2012

Advento – Liturgia e espiritualidade



Por Frei Régis G. Ribeiro Daher

● O significado da palavra: vinda, chegada.

● O Advento é ponto de partida e ponto de chegada do ano litúrgico (espiral do tempo).

● A Igreja se prepara para o Natal, recordando o nascimento histórico de Cristo.

● O Advento apresenta sempre a tríplice “vinda” de Cristo: Cristo veio, Cristo vem, Cristo virá (ontem, hoje e sempre).

● É esta a chave de leitura dos textos litúrgicos do advento.

● Cristo veio. Mas de que adianta se ele não vem agora para cada pessoa? “Nós é que temos que nascer para Ele” (fr.Walter Hugo).

● O Advento é também o nosso tempo; estamos sempre no “advento” de nós mesmos. Cada um vive no Antigo Testamento de si mesmo.

● Celebrando sua vinda histórica, realiza-se sua vinda atual no mistério do culto, realizando-se assim, mais uma etapa da preparação da última vinda de Cristo.

● A Igreja vive e celebra esta tensão do “já presente” e do ainda “por vir”.

● Cristo é sempre aquele que ainda deve vir e continua chegando para cada um e para todo o mundo.

● O Reino messiânico já está presente pela justificação e pela graça. Mas ainda não está plenamente presente nos corações dos que creem no Senhor Jesus. É preciso que Ele venha para que se instaure o Reino de justiça, de paz, de reconciliação, onde todos se reconheçam irmãos.

28 de novembro de 2012

Visão de conjunto dos textos bíblicos do Advento



1º Domingo do Advento

Caminhar ao Encontro do Senhor que vem
1ª Leitura (Jr 33, 14-16) - Um novo nome para Jerusalém: “Deus nossa justiça”
Salmo responsorial: (Sl 25[24], 4bc-5ab.8-9.10+14) Deus bom, fiel, justo e verdadeiro manifesta a Aliança
2ª Leitura: (1Ts 3,12-4,2) Crescer sempre pela abundante caridade de Deus
Evangelho: (Lc 21,25-28.34-36) A vinda do Filho do Homem

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2º Domingo do Advento

Preparação para a vinda do Senhor
1ª Leitura: (Br 5,1-9) Um novo nome para Jerusalém: “Paz da Justiça e Glória do Temor de Deus”
Salmo Responsorial (Sl 126 [125], 1-2ab.2cd.3.4-5.6) Os grandes feitos de Deus para seu povo.
2ª Leitura: (Fl 1,4-6.8-11) Esperar o Senhor com coração puro e irrepreensível
Evangelho: (Lc 3,1-6) Vocação e pregação de João Batista

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3º Domingo do Advento

Alegria por causa da proximidade de Deus
1ª Leitura: (Sf 3,14-18a) Mensagem a Jerusalém: “O Senhor está no meio de ti”
Salmo responsorial: (Is 12,2-3.4bcd.5-6) Alegria; saciação nas “fontes da salvação”
2ª leitura: (Fl 4,4-7) “Alegrai-vos sempre no Senhor: ele está perto”
Evangelho: (Lc3,10-18) O que é a conversão para cada um

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4º Domingo do Advento

A irrupção do Mistério de Deus em nossa vida
1ª Leitura: (Mq 5,1-4 [2-5a]) De Belém sairá o Pastor de Israel
Salmo responsorial: (Sl 80 [79], 2ac+3b.15-16.18+19) O Pastor de Israel
2ª Leitura: (Hb 10,5-10): “Eis que venho para fazer tua vontade”
Evangelho: (Lc 1,39-45) A visitação de Maria a Isabel

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