31 de janeiro de 2012

Minoridade


Palavra Nova esta! Dá impressão que foi Francisco de Assis que inventou! Se não foi ele, o certo é que foi ele quem a Encarnou e Viveu! Vem do latim: “minor”, que pode ser traduzida como humildade, pequenez, serviço, despojamento, desapropriação, simplicidade. Se opõe a poder, prestígio, fama, status, aparência, deslumbre!

“O maior seja como o menor, e quem manda, como quem serve”.
(Lc 22, 26)

“Sendo de condição divina, não considerou o ser igual a Deus como algo a se apegar ciosamente, mas esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo. Humilhou-se e foi obediente até a morte e morte de cruz”
(Epístola de São Paulo)

É uma característica essencial para quem quer levar uma Vida Franciscana! Pode-se dizer que MINORIDADE É A ARTE DE PASSAR DESPERCEBIDO. É como numa partida de futebol, quando não se fala do juiz, quando ele não é nem percebido é porque é um ótimo árbitro! É A ARTE DA DESCOMPLICAÇÃO! É ser como a água… que procura sempre o lugar mais baixo, mais simples para passar…e ali escorre calma e tranqüila; mesmo quando encontra um obstáculo… bate de leve, mas passa de lado sem criar maiores problemas.

A Minoridade faz-nos solidários com os últimos da sociedade”
(Regra Não-Bulada, 9)

A MINORIDADE É UM TESOURO DA ESPIRITUALIDADE!

Por isso podemos dizer que ela tem uma DIMENSÃO VERTICAL, isto é, uma Confiança e um Abandono radical ao Deus da Vida. Abandonar-se inteiramente na Grandeza de Deus! Deus dá e o Humano recebe! Nada guarda para si…mas transforma o que recebe em Serviço, Doação, Generosidade.

“É preciso que Ele cresça e eu diminua”
(Jô 3,30)

Se no latim é “minor” no hebraico é “anaw”, “anawin”, que quer dizer os Menores de Deus! ” Senhor, quem sois vós e quem sou eu? Vós o Altíssimo Senhor do céu e da terra e eu um miserável vermezinho vosso ínfimo servo!” Se houver um deslumbramento, somente diante da Potência de um Deus que se faz Pequeno. Francisco imitou este Deus que se fez menor na pessoa de Jesus Cristo. O Verbo de Deus se humilhou para cumprir uma missão junto ao gênero humano. Deixou as riquezas e as glórias celestiais para experimentar os limites da terra dos humanos. Viveu simples com os simples, pobre com os pobres, transparente com todos. Por isso que Francisco diz: “A extraordinária condescendência que o Senhor do Universo, Deus e Filho de Deus, de tal maneira se humilha, que por nossa salvação se esconde debaixo de uma pequena forma de pão!” E exclama também: “Ó sublime humildade! Ó sublimidade humilde! ” Um Deus que escolhe o menor lugar para servir e alimentar a todos!

“Nada desejem a não ser o louvor de Deus, o progresso da Ordem, o bem de suas almas, a salvação de todos os irmãos”
(Espelho da Perfeição” 80)

Francisco diz que o humano vale somente aquilo que é diante de Deus e mais nada! A Minoridade é buscar a força de Deus e ser instrumento da bondade divina! É ser como a IRMÃ LUA : deixar passar a Luz do Grande Outro! Sem vida e sem água a Lua podia ser nada… mas pelo contrário, ela reflete a luz oculta do Irmão Sol! Não é o centro focal do universo, mas não deixa de brilhar!

A MINORIDADE É UM TESOURO DA CONVIVÊNCIA!

Por isso podemos dizer que ela tem uma DIMENSÃO HORIZONTAL, isto é, uma atitude de acolhida, uma atitude de Prontidão Constante! É ser por demais ACESSÍVEL A TODOS! É ter uma disposição interior que nos exige aceitar como nós somos, aceitar os outros do jeito que eles são… sem nos considerar superior aos outros, ou mais dignos, ou mais capazes… Ser Menor é não se prender a cargos, ofícios, títulos, honrarias…

MINORIDADE É O CONTRÁRIO DE PUBLICIDADE!

Não é uma disposição artificial de humilhação, mas sim uma apreciação justa, objetiva e precisa do Bem e do Mal que existe em nós! O verdadeiro menor sabe a justa medida de todas as coisas! Sabe tomar o lugar que lhe corresponde e comporta-se com naturalidade! Não faz grandes exigências… mas faz muito bem o que é para ser feito. Serve sem esperar recompensa.

A Minoridade sabe conviver com gente desprezada, pobre, enferma, com os excluídos e os mendigos do caminho. Mas não agride ou julga os que se vestem com luxo, comem com abundância, tudo possuem… O menor examina-se a si mesmo antes de criticar os outros.

“A Minoridade faz-nos solidários com os últimos da sociedade”
(Regra Não-Bulada, 9)

“Todas coisas pequeninas da vida, quando postas em prática, concretizam o Minorismo. Mas também fazer o gesto que a outra pessoa precisa e que ninguém se lembra de fazer. Fazê-lo com delicadeza, de tal forma que a gente se complete com o outro, para que ele também se sinta bem de Deus”
(Dom Paulo Evaristo Arns)

Criação: Frei Vitório Mazzuco F°

30 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “O sucesso é uma busca constante de superação…”


“Leva tempo para se ter sucesso porque o sucesso é meramente a recompensa natural de se usar o tempo para se fazer bem qualquer coisa.”
Joseph Ross.



As pessoas procuram o sucesso a qualquer custo, porém o confundem com exposição na mídia, com um prêmio de reconhecimento ou ser o primeiro colocado em exames, vestibulares, concursos, etc… Na verdade, o sucesso é a recompensa natural de se usar o tempo para se fazer bem qualquer coisa. O sucesso está na entrega, no dar o melhor de si, em ajudar as pessoas e viver de maneira mais solidária. O sucesso é uma busca constante de superação, de ir além das fronteiras e de não se conformar com respostas rasas para as questões existenciais.

Você pode conseguir qualquer coisa que queira na vida, se você ajudar o suficiente outras pessoas a conseguirem o que elas querem. E está justamente numa vida de serviço que vamos encontrar o verdadeiro sentido da existência. O bom mesmo é ser feliz e compartilhar as conquistas e as vistorias com aqueles (as) que caminham conosco…

Frei Paulo Sérgio, OFM

29 de janeiro de 2012

A propósito do Jubileu de Santa Clara - II



A propósito do Jubileu de Santa Clara - II

Frei Vitório Mazzuco Fº

Clara de Assis foi a primeira mulher na história da Igreja a escrever uma Regra de Vida para suas Irmãs. Por muitos anos, as Clarissas não possuíam uma Regra própria, original, bem a jeito do seu inconfundível Carisma. Não tinham mesmo? Não era bem assim. Viviam o Evangelho radicalmente, escutando o Mestre e refazendo a sua Boa Nova. Seguiam exemplo e ensinamentos de Francisco. Amavam os frades primitivos numa forte experiência fraterna. Existe Regra maior e melhor? Mas, às vezes, é difícil para o jeito canônico perceber Regra de Vida na naturalidade da palavra encarnada. O Concílio de Latrão, de 1215, proibiu a fundação de novas Ordens. Clara e Clarissas eram uma clara novidade. Como poderia uma mulher e suas mulheres companheiras viveram sem uma Regra que tivesse um dedinho do canonista? Tiveram que aceitar a forte e bela tradição da Regra Beneditina. Clara aceitou, mas pediu muito ao Papa Inocêncio III que as deixassem viver a Pobreza do modo mais radical possível. Conseguiu o “Privilegium Paupertatis”. Santa Regra de Vida viver sem estar presa a nada! Livre de tudo! Possuindo apenas a única riqueza necessária: a capacidade de amar!


Clara sonhava uma Regra parecida com a Ordem dos Frades Menores. Não como cópia, mas como um forte senso de unidade. Ela e Francisco já haviam trocado alma, conversas, ideias, bilhetes e certezas: é preciso escrever uma Forma de Vida na qual se garanta a mais pura observância da perfeição evangélica. Frades e Clarissas assegurando um único projeto de vida. E Francisco, então, escreveu uma Forma de Vida para Santa Clara que diz assim: “Visto que por divina inspiração vos fizestes filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho, quero e prometo, por mim e por meus irmãos, ter sempre por vós diligente cuidado e especial solicitude, assim como tenho por eles”( Cfr. FF pág. 128). Esta foi a Regra primeira e de um cuidado amoroso e originalidade fraterna impressionante! E Clara escreve em seu Testamento: “Para maior segurança, tive a preocupação de conseguir do senhor Papa Inocêncio, em cujo tempo começamos, e dos seus outros sucessores, que corroborassem com os seus privilégios a nossa profissão a santíssima Pobreza, que prometemos aos Senhor e ao nosso bem-aventurado pai, para que, em tempo algum, nos afastássemos dela de maneira alguma” (TestC 42). Estas palavras de Clara e Francisco eram a base da sonhada Regra definitiva. Mas isto não foi conseguido de imediato. Entender a força originante de uma Forma de Vida demora anos!

Continua...

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com/

28 de janeiro de 2012

A Virgem Maria na Ordem Franciscana (4)

Por Cleiton Robson.

São Maximiliano Maria Kolbe:
fiel continuador da tradição mariana da Ordem Franciscana e
grande apóstolo da Imaculada

São Maximiliano não rompeu com a tradição mariana da Ordem, mas a continuou e a adornou de profunda intuição mística referente ao aspecto doutrinal, além de lhe dar uma direção original em relação ao aspecto prático do apostolado.

Sabemos que antes de tudo, São Maximiliano não era teólogo de profissão, que não deixou nenhum tratado mariológico. O seu rico pensamento acerca da Imaculada foi encontrado em suas cartas, nas suas reflexões pessoais, nos seus numerosos artigos publicados em revistas e em escritos preparados para publicação. Entre os citados, o primeiro é o mais importante, pois era necessariamente o material para um livro sobre o qual o Santo trabalhou, particularmente, nos últimos anos de sua vida, com a intenção de publicar um livro sobre a dogmática mariana e sobre a consagração a Nossa Senhora. Este por certo constitui a síntese orgânica de todo o pensamento mariano de São Maximiliano.

Em São Maximiliano, a Imaculada Conceição é o centro de toda a sua espiritualidade. Com o seu olhar retrospectivo, São Maximiliano podia afirmar que a devoção à Imaculada é patrimônio de todos os franciscanos e a causa na nossa tradição.

A Imaculada é vista, por São Maximiliano, sempre como um organismo vivo do mundo sobrenatural cristão e mais como um setor parado, um aspecto paralelo, que é visto em conjunto, talvez nobre, mas irrelevante na globalidade de tudo. Não fala da Imaculada Conceição como um privilégio relacionado à exceção de uma lei, isto é, em senso jurídico, com tudo aquilo que a nós soa como forma de privilégios injustos.

Ele via Maria e sua conceição como um mistério puramente relacionado à salvação, não como uma extrapolação de um aspecto isolado na contemplação solitária. São Maximiliano via Maria dinamicamente, por isso fundou um movimento denominado Milícia da Imaculada. Assim, a devoção de São Maximiliano não é uma devoção do senso comum, mas é cheio de vida evangélica como um carimbo, que marca a vida, é luz e amor revelado por Deus em Maria Imaculada. A totalidade irreversível de sua devoção a ela é que faz a sua espiritualidade, pois esta encontra o seu fundamento, na globalidade da visão e na função salvífica-universal de Maria no mistério da salvação. “A grandeza de Maria para São Maximiliano, é toda interior, pois extremamente ela vive uma vida de simplicidade e ordenada, depositando no Filho sobretudo, no momento mais importante de sua missão, todo o privilégio e toda a honra”.

São Maximiliano Maria Kolbe em sua cela, respondendo cartas
Podemos também perceber que na mariologia de São Maximiliano, estão presentes outras áreas da teologia, sem ater-se tanto na questão mariológica, mas juntamente a ela. Estão presentes também idéias acerca da Trindade, da encarnação de Cristo, sobre o Espírito Santo, a antropologia e sobre a Igreja. Assim, São Maximiliano, partindo do mistério de Maria Imaculada, acaba por se tornar um teólogo, pois levanta e clarifica muitas questões acerca da fé católica.

T

EXTRAÍDO DE: http://www.reflexoesfranciscanas.com.br


A PROPÓSITO DO JUBILEU DE SANTA CLARA

Frei Vitório Mazzuco


O ano do Jubileu de Santa Clara nos ajuda muito a pensar a presença de Santa Clara há 800 anos, não apenas como uma bela figura da história, mas como a grande oportunidade de conhecê-la, de sabermos da sua importância para o franciscanismo, de como dizia seu biógrafo, Clara como uma grande “ Mestra de Vida”. Uma Mestra de Vida nos dá, naturalmente, normas para viver. O que aprendemos com Clara?

Ela é mãe espiritual porque tem um pai espiritual, Francisco de Assis.
Mãe e pai espirituais geram vida e relações. Sentimos que todos somos filhos, filhas, irmãos e irmãs de Clara. Ela é mestra de vida porque fundamentou sua existência no amor esponsal a Cristo. Ele é o modelo vivente, o amado, o espelho. Maria é modelo de mãe guardando a fecundidade da Palavra. A Igreja é a mestra e mãe, guia segura de seu caminho. A fraternidade é a direcionada atenção de seus afetos e cuidados. A minoridade é o seu jeito de abraçar a verdadeira investidura da simplicidade, da desapropriação, do desapego, e da renúncia dos cargos de mando. A clausura é o seu coração recolhido no amor e aberto para o mundo. A alegria é sua boa energia, a transparente fala do sorriso perene, rosto feliz da mulher santa e realizada. A prece é a sua linguagem de amor. A pobreza é a sua perene partilha. A castidade é o seu amor espalhado no cuidado das Irmãs e por toda parte do mosteiro. A obediência é a sua atenciosa escuta da vontade do Amor e do Amado. A sua mística é fazer-se uma só com o Divino numa superação de si mesma para ser sempre Irmã, Esposa e Mãe. A sua perseverança é assumir a vida de cada dia como um lavar os pés das irmãs na humildade e serviço. A santidade brotou naturalmente: uma clara santa brilhando, inundando o mundo em chamas de luz que saíram das frestas das pedregosas paredes de São Damião e clareou a nossa vida.

Para conhecermos Clara e fundamentarmos o que falamos acima, temos que beber na fonte de suas Fontes: escritos, biografias, documentos escritos a respeito da sua vida e experiência.

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com/

26 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “Faz-se necessário acreditar na outra pessoa…”

“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!”
Paulo Freire.

As pessoas devem ser educadas com o mesmo cuidado e ternura com que um jardineiro cultiva um jardim. A dedicação, o tempo, a atenção e o amor são fundamentais nesse processo. Em cada pessoa existe um manancial infinito de possibilidades, porém, é necessário o trabalho de moldar, modelar, fazer saltar aquilo que já está dentro dela… Faz-se necessário acreditar na outra pessoa, conduzi-la pelos caminhos do conhecimento.

Não adianta querer impor ou repetir técnicas antigas, mas permitir abertura de novos horizontes, possibilitar conexão com a própria alma daqueles (as) que foram confiados (as) a nós. A educação é um caminho privilegiado da libertação do ser humano e é por ela que podemos construir um novo jeito de viver entre família, sociedade e países. Pela educação podemos permitir a eclosão de uma nova ética onde haverá maior respeito, solidariedade, justiça, fraternidade e paz!

Por Frei Paulo Sérgio, OFM

25 de janeiro de 2012

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos.

A inspiração originária da forma de vida de Santa Clara



Por Frei João Mannes, OFM

Na presente reflexão tem-se por objetivo fazer algumas considerações acerca do primeiro capítulo da Forma de Vida de Santa Clara, aprovada oficialmente pelo Papa Inocêncio IV, aos 09 de agosto de 1253, dois dias antes de sua morte.

A leitura do primeiro capítulo nos sugere destacar três aspectos fundamentais da Forma de Vida clariana: a origem, o conteúdo central e a obediência e reverência ao senhor Papa (Igreja romana) e ao bem-aventurado pai Francisco (Ordem).

O título do primeiro capítulo da Forma de Vida indica que o processo de conversão de Clara ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo tem início em Deus mesmo: “Em nome do Senhor começa a forma de vida das Irmãs Pobres”. Isto quer dizer que o Senhor fixou terna e afetuosamente sobre ela o Seu olhar e suscitou nela uma resposta, consciente e livre, de amor total a Ele (cf. 2In 19-20). Jesus Cristo acendeu nela o ardentíssimo desejo de deixar todas as vaidades desta terra e unir-se ao Cordeiro imaculado como sua digníssima esposa.

Clara reconhece que a sua vocação é, antes de tudo, uma especial graça de Deus, pois “quanto maior e mais perfeita, mais a Ele é devida” (TestC 2s). Por conseguinte, tinha consciência de que não estava nesta Vida por iniciativa particular, sua, nem pressionada por Francisco, mas porque o altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar o seu coração para fazer penitência, segundo o exemplo e ensino do bem-aventurado pai Francisco (cf. TestC 24s; cf. RSC 6,1).

No princípio da Forma de Vida clariana estão, portanto, o “nome do Senhor” e o “altíssimo Pai celestial”. O Pai celestial manifestou-se, por excelência, na pessoa de Jesus Cristo, a quem deu o nome de “Senhor” porque “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo por solidarismo com os homens. (…) e humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte da cruz” (Fl 2, 7-8). Paradoxalmente, o Senhor é aquele que incondicionalmente ama, serve e se humilha ao extremo. De modo que, ao iniciar a sua Forma de Vida invocando o “nome do Senhor”, Clara anuncia que o sentido fundamental de sua existência consiste em deixar-se impregnar e conduzir pelo “espírito do Senhor e seu santo modo de operar” (RB 10,9). O que importa para Clara é que o espírito de Deus e sua santa maneira de operar perpasse e inspire toda a sua vida, sem que nada seja excluído disso. De modo que o Senhor-Servo é a fonte inspiradora e modeladora e o fim do seu modo de vida.

Poder-se-ia dizer que a Forma de Vida clariana é, talvez, muito mais ponto de chegada do que ponto de partida. Ou melhor, no modo de vida de Clara coincidem o ponto de partida e o ponto de chegada. Pois, o princípio movente e a finalidade de sua existência é viver em comunhão com o Senhor que por amor a nós se fez pobre, a fim de nos enriquecer com sua pobreza (cf. 2Cor 8,9). A meta é que todos cheguem ao estado de homens perfeitos, que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo (cf. Ef 4,13).

Portanto, Clara não teve dúvidas quanto ao conteúdo central da Forma de Vida que voluntariamente professou: “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”. O Evangelho não é letra morta, mas é a Pessoa de Jesus. É a Ele que Clara, totalmente vazia e livre, sem nada de próprio, desejou abraçar. Por isso, ao escrever a Santa Inês de Praga, exorta-a a colocar no Espelho (Jesus Cristo Pobre e Crucificado) toda a sua capacidade de compreender (a mente), toda a sua capacidade de amar (o coração) e toda a sua capacidade de viver em Deus (a alma): “Ponha a mente no espelho da eternidade, (…) e transforme-se, inteira, pela contemplação, na imagem da divindade” (3In 12-13).

E o terceiro elemento que se pretende destacar, à luz do primeiro capítulo da Forma de Vida, é a obediência e referência ao Papa (Igreja) e a São Francisco (Ordem). Quanto à obediência ao Papa constata-se que Clara não quis viver o ideal evangélico fora da Igreja, pois estava perfeitamente consciente de que a sua Forma de Vida estava sendo gerada pelo Senhor no seio da Igreja (cf. TestC 46). E, ao obedecer ao Papa, na verdade ela não obedeceu a um indivíduo ou a uma organização hierárquica, mas à autoridade de Jesus Cristo que ela vislumbra na pessoa do Papa e que instituiu a Igreja: “tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Além disso, sabe-se que Clara e Francisco não teriam ouvido a mensagem do Evangelho caso este não tivesse sido anunciado por um ministro da Igreja. E em relação a Francisco, Clara voluntariamente prometeu obediência não ao ego de Francisco, mas ao Espírito que iluminou e plasmou a existência de ambos (cf. TestC 24s; RSC 6,1). Portanto, Clara obedeceu livremente à intuição originária da Igreja e da Ordem Franciscana.

Por fim, importa frisar que a vida religiosa, sob a inspiração de Clara e Francisco, já é sempre uma resposta a um chamado de Deus. É Deus que convoca à vida religiosa franciscana, e dos que se sentem convocados requer-se o contínuo e intenso esforço espiritual de responder adequadamente ao chamado. Pois, as muitas solicitações do complexo mundo em que se vive, tanto na ordem do ter, do poder, do saber, como na ordem do prazer, são provocações que podem afetar e ofuscar tanto a vocação quanto a decisão pessoal de viver o Evangelho de Jesus Cristo. Nenhuma pessoa, nenhum grupo pode se dizer imunizado do vírus do neoliberalismo.

Ademais, na atualidade, ou na era caracterizada como pós-modernidade, apregoa-se que não existe nenhuma decisão definitiva. De fato, a decisão íntima e pessoal de doar-se livre e responsavelmente aos irmãos e irmãs, a exemplo de Jesus Cristo e sob a inspiração de Francisco de Assis, deve ser continuamente retomada. A promessa de viver em comunhão com Aquele que “assumiu a condição de servo” (Fl 2,7) deve ser reassumida todos os dias para que se torne definitiva. Por isso, a exortação de Clara a Inês de Praga jamais deixará de ser atual e profética: “Olhe dentro desse espelho todos os dias, (…) e espelhe nele sem cessar o seu rosto” (4In 15-16).

ESSE ESPLENDOROSO PAULO - Conversão de São Paulo

ESSE ESPLENDOROSO PAULO

Atos 22, 3-16; Marcos 16; 15-18

Não se pode imaginar a Igreja sem a figura do Apóstolo Paulo, desse Saulo de Tarso, do apóstolo das nações. Que seria uma Igreja confinada a uma mentalidade judaica estreita? Deus suscitou no início da “corrida” da Palavra, a vocação de Saulo que virou Paulo, o gigante: grande viajante missionário, escritor de cartas, homem terno em alguns de seus escritos, místico em muitos deles e quase temperamental e duro em outros. Um gigante que não pode ser descrito em meia dúzia de linhas. Neste 25 de janeiro comemoramos sua conversão.

Saulo não podia concordar com as histórias que se diziam a respeito de Jesus. Era demais. Esse “nazareno” meio sem história estava se igualando a Deus e já havia formado um grupo de seguidores. Não se pode adorar um homem. O livro dos Atos, no dia de hoje, dá a palavra a Paulo. “Persegui até a morte os que queriam seguir o caminho de Jesus. As autoridades judaicas me haviam dado cartas de recomendação. Fui a Damasco pare prender os seguidores dessa ilusão”.

Saulo já estava perto de Damasco. Era meio dia. Uma luz fascinante brilhou ao seu redor. Cai por terra. Jesus estava se manifestando a esse vaso de eleição. “Saulo, Saulo, por que me persegues?” E o Mestre se identifica: “Eu sou Jesus, o Nazareno, que tu persegues nos meus discípulos”.

“Que devo fazer?” Saulo fica cego, procura quem a voz havia indicado, começa a ligar esse Jesus com o Messias prometido nas Escrituras que ele tão bem conhecia. Ananias vem ao seu encontro e diz que sua cegueira está curada. Paulo fica sabendo que Deus grande lhe havia reservado uma missão especial. Paulo será de Cristo, totalmente, terá como lixo tudo o que não for Jesus, o amará profundamente e será seu apóstolo até os confins da terra tudo padecendo pelo seu amado. Sua vida será curta demais para tornar Cristo Jesus amado.

Depois de cair do cavalo, depois de compreender que Deus havia invadido todos os cantos de sua vida, Paulo ouve Ananias: “E agora, o que estais esperando? Levanta-te, recebe o batismo, purifica-te dos teus pecados, invocando o nome dele!

Ninguém como ele compreendeu tão bem a figura de Cristo que sendo de condição divina não igualou a Deus, mas tornou-se servo e obediente. Paulo não sabia se era melhor continuar na vida falando do Senhor Jesus ou morrer e estar com ele. Ninguém falou tão belamente sobre o amor e a caridade como ele. Ninguém como ele compreendeu o tema dos dons e carismas que constroem a Igreja, Corpo Místico de Cristo.


Conversão de São Paulo

O martírio de São Paulo é celebrado junto com o de São Pedro, em 29 de junho, mas sua conversão tem tanta importância para a história da Igreja que merece uma data à parte. Neste dia, no ano 1554, deu-se também a fundação da que seria a maior cidade do Brasil, São Paulo, que ganhou seu nome em homenagem a tão importante acontecimento.

Saulo, seu nome original, nasceu no ano 10 na cidade de Tarso, na Cilícia, atual Turquia. À época era um polo de desenvolvimento financeiro e comercial, um populoso centro de cultura e diversões mundanas, pouco comum nas províncias romanas do Oriente. Seu pai Eliasar era fariseu e judeu descendente da tribo de Benjamim, e, também, um homem forte, instruído, tecelão, comerciante e legionário do imperador Augusto. Pelo mérito de seus serviços recebeu o título de Cidadão Romano, que por tradição era legado aos filhos. Sua mãe uma dona de casa muito ocupada com a formação e educação do filho.

Portanto, Saulo era um cidadão romano, fariseu de linhagem nobre, bem situado financeiramente, religioso, inteligente, estudioso e culto. Aos quinze anos foi para Jerusalém dar continuidade aos estudos de latim, grego e hebraico, na conhecida Escola de Gamaliel, onde recebia séria educação religiosa fundamentada na doutrina dos fariseus, pois seus pais o queriam um grande Rabi, no futuro.

Parece que era mesmo esse o anseio daquele jovem baixo, magro, de nariz aquilino, feições morenas de olhos negros, vivos e expressivos. Saulo já nessa idade se destacava pela oratória fluente e cativante marcada pela voz forte e agradável, ganhando as atenções dos colegas e não passando despercebido ao exigente professor Gamaliel.

Saulo era totalmente contrário ao cristianismo, combatia-o ferozmente, por isso tinha muitos adversários. Foi com ele que Estêvão travou acirrado debate no templo judeu, chamado Sinédrio. Ele tanto clamou contra Estevão que este acabou apedrejado e morto, iniciando-se então uma incansável perseguição aos cristãos, com Saulo à frente com total apoio dos sacerdotes do Sinédrio.

Um dia, às portas da cidade de Damasco, uma luz, descrita nas Sagradas Escrituras como “mais forte e mais brilhante que a luz do Sol”, desceu dos céus, assustando o cavalo e lançando ao chão Saulo , ao mesmo tempo em que ouviu a voz de Jesus pedindo para que parasse de persegui-Lo e aos seus e, ao contrário, se juntasse aos apóstolos que pregavam as revelações de Sua vinda à Terra. Os acompanhantes que também tudo ouviram, mas não viram quem falava, quando a luz desapareceu ajudaram Saulo a levantar pois não conseguia mais enxergar. Saulo foi levado pela mão até a cidade de Damasco, onde recebeu outra “visita” de Jesus que lhe disse que nessa cidade deveria ficar alguns dias, pois receberia uma revelação importante. A experiência o transformou profundamente e ele permaneceu em Damasco por três dias sem enxergar, e à seu pedido também sem comer e sem beber.

Depois Saulo teve uma visão com Ananias, um velho e respeitado cristão da cidade, na qual ele o curava. Enquanto no mesmo instante Ananias tinha a mesma visão em sua casa. Compreendendo sua missão, o velho cristão foi ao seu encontro colocando as mãos sobre sua cabeça fez Saulo voltar a enxergar, curando-o. A conversão se deu no mesmo instante, pois ele pediu para ser Batizado por Ananias. De Damasco saiu a pregar a palavra de Deus, já com o nome de Paulo, como lhe ordenara Jesus, tornando-se Seu grande apóstolo.

Sua conversão chamou a atenção de vários círculos de cidadãos importantes e Paulo passou a viajar pelo mundo, evangelizando e realizando centenas de conversões. Perseguido incansavelmente, foi preso várias vezes e sofreu muito, sendo martirizado no ano 67, em Roma. Suas relíquias se encontram na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na Itália, festejada no dia de sua consagração em 18 de novembro.

O Senhor fez de Paulo seu grande apóstolo, o apóstolo dos gentios, isto é, o evangelizador dos pagãos. Ele escreveu 14 cartas, expondo a mensagem de Jesus, que se transformaram numa verdadeira “Teologia do Novo Testamento”. Também é o patrono das Congregações Paulinas que continuam a sua obra de apóstolo, levando a mensagem do Cristianismo a todas as partes do mundo, através dos meios de comunicação.

24 de janeiro de 2012

A Virgem Maria na Ordem Franciscana (3)


Por Cleiton Robson.

Na Escola Franciscana

Os grandes mestres franciscanos do século XIII, em sua grande maioria, foram contrários à tese da Imaculada Conceição. Fiéis à doutrina da universalidade da lei relativa à propagação do pecado original, achavam que seria uma ofensa a Jesus Cristo, Salvador do universo, subtrair a sua Mãe desta lei e do influxo de sua atividade redentiva. Neste aspecto, segundo a opinião comum, eram de acordo com São Bernardo de Claraval , com o Mestre das sentenças Pedro Lombardo, Santo Tomás de Aquino, entre outros.

Alexandre de Hales, tratando da santificação de Maria no seio materno, aceitou a tese do Mestre das Sentenças, seja por quanto se refere à concepção de pecado original, seja por quanto se refere à santificação no seio materno, mas depois que ela tinha contraído o pecado original.

São Boaventura, cuja mariologia é extremamente rica em conteúdo teológico, também ficou preso na dificuldade proveniente da universalidade do pecado original e na universalidade da redenção operada por Cristo. Por esta razão, não conseguiu conciliar a Imaculada Conceição de Maria com a verdade da fé relativa a Cristo Salvador universal.

O mestre franciscano que por primeiro se distinguiu na defesa da Imaculada Conceição foi Guilherme de Ware, mestre de João Duns Escoto. Antes de tudo, buscou ter presente as três sentenças que circulavam no seu tempo sobre a Imaculada Conceição de Maria:

1.ª) Sustenta a contração do pecado original e sua permanência por um certo período de tempo;
2.ª) Era favorável ao privilégio mariano;
3.ª) Não propriamente decidido quanto à isenção nem quanto à contração.

Guilherme rejeitou a primeira e a terceira sentença e defendeu, energicamente, a segunda. Em seguida, relatou as dificuldades que vêm das autoridades, que podem ser reduzidas às seguintes razões:

a) Universalidade do pecado original e a necessidade de contraí-lo (com exceção de Jesus);
b) Universalidade da redenção de Cristo;
c) Citações explícitas ou implícitas de alguns Padres e teólogos.

Guilherme, tendo presente esses dados, sustenta que o pecado original que reside na alma é causado pela concupiscência da carne. O seu esforço tende a demonstrar que no alto da concepção, antes da infusão da alma, a carne é purificada antes que se torne o corpo da Virgem Maria. Deus intervém com a sua onipotência, para purificar ou preservar da mancha do pecado aquela massa da qual devia ser formado o corpo de Maria. Trata-se de uma purificação no ato da concepção, de modo que o sujeito resulte como purificado da mancha em vista da futura pertença e união com a alma da Virgem. O resultado seria a isenção plena da culpa original.

Deixando claro este ponto, Guilherme provou que é possível a criação da alma com a infusão simultânea da plenitude da graça; então, prova que a isenção do pecado original é devida ao mérito de Cristo. Enfim, sustenta a noção de redenção preservativa, na qual está implícita a noção de possibilidade da Virgem contrair o pecado original. Quanto à prova da Imaculada Conceição, Guilherme insiste sobre a conveniência do privilégio mariano, da qual concluiu que Deus de fato realizou, devendo o Filho honrar a Mãe.

João Duns Escoto, como seu mestre Guilherme, também se deparou com as três possibilidades acerca da concepção de Maria vista anteriormente. Frente a elas, Escoto afirmou que somente Deus sabe qual dessas três possibilidades tenha se verificado em Maria; todavia, pessoalmente, prefere atribuir a ela aquilo que é mais excelente e perfeito. Eis as suas palavras:

“Somente Deus sabe qual destas três possibilidades levou a cabo. Em todo caso, se não está em contradição com a autoridade da Igreja e da Escritura, me parece provável atribuir a Maria o que é melhor”.

Assim, afirmando como certa a possibilidade da concepção de Maria, Escoto procedeu a uma reflexão profunda e sutil para dar as razões de sua experiência mariana. Movido por essa disposição, Escoto logo se deparou com uma dificuldade de ordem teológica. Todos os grandes Mestres da Escolástica eram contra a possibilidade do privilégio mariano, baseando-se no texto paulino “...in quo omnes peccaverunt” (Rm 5,12) – “...porque todos pecaram”. Com isso, a universalidade da redenção operada por Cristo parecia excluir de Maria a possibilidade da sua concepção imaculada.

Duns Escoto, em vez de contornar a dificuldade, enfrentou diretamente mostrando a sua intríseca fraqueza. Se se nega a Maria a possibilidade da concepção imaculada, se vem a negar a eficácia da redenção operada por Cristo. Em sua obra Reportatio Parisiensis, Escoto enfrentou a objeção: Jesus Cristo é Redentor universal, portanto, a Virgem devia contrarir o pecado original, afirmando que é verdadeiro o contrário, ou seja, que ‘a universalidade da redenção operada por Cristo significa que Ele é mediador perfeitíssimo’: “Ex hoc quod Filiius Dei fuit redemptor universalis, sequitur quod fuit perfectissimus mediator”.

No texto da Reportatio, Escoto deduziu a perfeição da redenção, da sua universalidade. Na realidade, a universalidade seria fonte da perfeição ou eficácia da redenção, porque contém todo grau de mediação possível a ser exercido por Cristo aos homens a serem redimidos. A extensão universal da redenção, diretamente, considera a totalidade dos homens que são salvos; sua perfeição ou eficácia no salvar deve ser deduzida da dignidade ou perfeição do Mediador. Assim, em sua obra Oxonense, Escoto fala da mediação universal, mas a fundamenta sobre a excelência ou perfeição suprema do Mediador:

“De fato, o perfeitíssimo Mediador possui o mais perfeito ato possível de mediação em relação a qualquer pessoa pela qual é mediador. Portanto, Cristo tinha o mais perfeito grau da mediação em relação a qualquer pessoa pela qual é mediador; mas por nenhuma outra pessoa tinha um grau mais excelente de mediação como por Maria. Isto, porém, não se teria verificado se não tivesse o mérito de preservá-la do pecado original”.

Com este forte pensamento, Escoto enunciou o princípio de que o perfeitíssimo Mediador possui e, portanto, exerce o grau mais perfeito de possível da mediação, que consiste não mais em libertar uma pessoa do mal já contraído, mas em prevenir que ela o contraia. Aqui, encontramos uma grande novidade no conceito de redenção: ela pode ser libertadora e preservativa. Os predecessores de Escoto tinham somente o conceito de redenção libertadora e, por isso, negavam a Maria o privilégio de sua Imaculada Conceição.

A suma perfeição da mediação de Cristo brota da estrutura de redenção, não é obra de um homem, mas de Deus feito homem, isto é, do Filho eterno de Deus, que entrou, pessoalmente, na nossa história para realizar a salvação.

Dessa forma, Cristo exerceu o máximo de sua mediação em relação à sua Mãe, fazendo com que Ela não contraísse o pecado original. Todas as ações de Cristo eram humano-divinas, sumamente agradáveis à Trindade e por isso, capazes de merecer a salvação. Ora, a aplicação dos merecimentos de Cristo antes da sua aparição sobre a terra já era feita, pelo menos parcialmente, aos Patriarcas. Nenhuma impossibilidade, então, havia para que a Trindade aceitasse os méritos de Cristo de modo pleno e total, para serem aplicados à sua Mãe, a fim de impedir que ela pudesse estar sujeita à lei do pecado original. A razão de tal aplicação era a eleição de Maria para ser a Mãe do Filho de Deus.

A eficácia da mediação de Cristo se enraíza na sua união hipostática e, assim, na infinita perfeição de sua Pessoa. A aplicação de tal eficácia podia e devia ser reservada à sua Mãe. União hipostática e divina maternidade são inseparáveis também na concessão do privilégio da Imaculada Conceição. Na Lectura, Escoto é mais explícito: “Cum ipse fuerit perfectissimus mediator quantum ad personam matris suae, sequitor eam presaervavit a peccato originali”.

A argumentação de Escoto, portanto, se concentra sobre o seguinte ponto: a mediação de Cristo não seria perfeitíssima se não tivesse preservado a sua Mãe do pecado original. Com isso, fundamenta-se a sua célebre frase, que encerra e ‘resume’ toda a sua reflexão: “Deus pôde, quis e a fez Imaculada” – “Deus potuit, decuit et fecit Immaculatam”.

EXTRAÍDO DE : http://www.reflexoesfranciscanas.com.br/

23 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “Procure cultivar em você o senso de humor”



“Sorria para a vida e ela também lhe sorrirá”.
Provérbio Popular


O senso de humor é o critério da liberdade interior, de uma sadia e positiva relação com a verdade. O senso de humor faz a vida mais leve, alegre, serena… Senso é um juízo claro, uma capacidade de discernir e de optar por aquilo que é melhor. Quando cultivamos um bom senso de humor estamos declarando para as pessoas que decidimos de viver de maneira alegre, que optamos pelo lado positivo da vida…

O bom humor é, na maioria das pessoas alegres, o feliz resultado de uma tenaz disciplina. Procure, procure cultivar em você o senso de humor. Seja capaz de rir, de se alegrar com os bons momentos da vida… Celebre suas vitórias com os amigos e distribua sorrisos… sempre!

Por Frei Paulo Sérgio, OFM

22 de janeiro de 2012

Palavras de Fé



"Eis o Coração que tem amado tanto aos homens a ponto de nada poupar até exaurir-se e consumir-se para demonstrar-lhes o seu amor. E em reconhecimento não recebo senão ingratidão da maior parte deles"

21 de janeiro de 2012

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos.


“É difícil separar os nomes de Francisco e Clara. É algo profundo, algo que não pode ser entendido a não ser com critérios de espiritualidade franciscana, cristã, evangélica; não podemos entendê-lo com critérios humanos.
O binômio Francisco-Clara é uma realidade que só se entende com categorias cristãs, espirituais, do céu.”
(João Paulo II – 12 de março de 1982).


1. CLARA DE ASSIS

Por onde passaram os Franciscanos, Santa Clara sempre foi conhecida como uma companheira de São Francisco. Realmente, o estilo de vida de Francisco não poderia ser privilégio dos homens. Muitas mulheres escutavam a sua pregação, observavam o seu estilo de viver o Evangelho e também queriam viver essa experiência. Uma delas foi Clara de Assis.
Clara nasceu em 1194, em Assis, filha de Ortolana de Fiumi e Faverone Offreduccio de Bernardino, família nobre da cidade de Assis. Recebeu da mãe uma sólida educação religiosa e do pai a personalidade forte.
Clara ouvira falar de Francisco e de seu ideal de vida. De como Francisco abandonara a vida confortável proporcionada pelo negócio rentável do pai, para abraçar uma vida de pobreza e entrega.
Aos 18 anos, Clara ouviu Francisco pregar os sermões da Quaresma na igreja de São Jorge, em Assis. As palavras dele inflamaram tanto seu coração, que o procurou em segredo, pois também ela desejava viver a experiência de pobreza, simplicidade e Amor que Francisco anunciava.
No Domingo de Ramos, dia 19 de março de 1212, Clara participou da missa da manhã já decida de seguir os passos de Jesus Cristo. Não havia meio de sair despercebida do castelo de seus pais, mas encontrou a única saída possível pela porta de trás do palacete: a saída dos mortos. Toda casa medieval tinha esta saída, por onde passava o caixão dos defuntos.
À noite, quando todos dormiam, a nobre jovem Clara de Favarone fugiu de casa por esse buraco, abandonou os muros da cidade e percorreu a estrada até chegar à Porciúncula, onde foi recebida com muita festa pelos irmãos menores.
A “plantinha do Santo Pai”, como seu autodenomina em seu testamento, é venerada como padroeira da devoção à Eucaristia representada em suas imagens pela custódia levada nas mãos. Mas as devoções populares estiveram sempre ligadas aos pedidos de bom tempo, de “tempo claro”. Em 1958, no dia 14 de fevereiro, o Papa Pio XII declarou-a Padroeira da televisão.

2. A DESCOBERTA DAS FONTES

Contudo, pouca gente sabia que
essa mulher tinha um valor transcendente, capaz de trazer novidades para o terceiro milênio. Com a celebração do seu centenário de nascimento, em 1993, vieram à luz muitas publicações e, especialmente, pelo menos entre nós, as Fontes Clarianas. É uma preciosa coleção de documentos do século XIII, em sua maioria, desconhecidos até o princípio do século XX, e ignorados em sua totalidade pelo público. Para apresentá-las sucintamente, podemos dizer que as Fontes Clarianas dividem-se em três grandes tipos de documentos: os biográficos, os históricos e, a parte mais preciosa, os escritos da própria Santa Clara. Entre seus escritos destacamos: A Regra (Clara foi a primeira mulher a escrever uma Regra na Igreja), O Testamento (onde faz uma recapitulação de sua vida para ressaltar o dom da vocação e mostrar como as Irmãs deviam seguir o caminho que é Jesus Cristo), a Bênção mas principalmente, as Cartas a Inês de Praga: ela demonstra um carinho surpreendente para com essa princesa que poderia ter sido imperatriz mas preferiu ser Irmã Clarissa. Passa-lhe uma experiência espiritual profunda e riquíssima, firmando os mesmos fundamentos de São Francisco, mas de uma maneira bem pessoal e original.

3. A ESPIRITUALIDADE

Santa Clara foi uma verdadeira mestra da vida espiritual. Espiritualidade é uma maneira de viver de acordo com a fé, ou de viver a “vida do espírito”. Não é uma ciência nem uma teoria e, por isso, embora trate das coisas de Deus e das coisas da alma, e pressuponha um bom conhecimento vivencial dessas realidades, não se confunde nem com a teologia nem com a psicologia. Para Clara, contemplar é contemplar Jesus. Nós só vemos Deus indiretamente, como em um espelho, e o espelho é Jesus Cristo, Deus feito homem. Nós amamos Deus, a Glória, mas só conseguimos nos entregar ao esplendor da Glória, aos raios de sua Luz que nos atingem - e o esplendor é Jesus Cristo. Da substância divina, nós só conseguimos viver a sua figura, aquilo tudo que chegou a nós em Jesus Cristo. Jesus Cristo é o objeto total de nossa contemplação. Quando contemplamos, o que entra pelos nossos olhos, os olhos do corpo e os olhos do espírito, é Jesus Cristo.

4. RENOVAÇÃO A PARTIR DO FEMININO

Quando lemos Santa Clara, temos, ao mesmo tempo, a sensação de encontrar algo muito antigo e jubilosamente novo. Porque ela diz o mesmo que foi dito por São Francisco, mas de uma maneira pessoal. A gente encontra o mesmo Jesus Cristo Pobre e Crucificado, o mesmo Irmão, o mesmo Esposo, o mesmo Amigo. mas a apresentação é original. Clara ensina a espiritualidade franciscana de um outro ângulo. E essa sua visão feminina chama a nossa atenção porque, neste final de século, todos, homens e mulheres, nos sentimos carentes de um feminino válido e profundo, que a nossa cultura ocidental ignorou, impediu, e parece mesmo ter perdido. Nós nos sentimos isolados pelo individualismo e pelo subjetivismo, somos ilha no meio do povo e da multidão. Quando falamos em povo, não temos mais o calor humano da familiaridade, porque a palavra virou uma expressão fria da ideologia. Como é importante voltar a poder encontrar um povo família, em que nos sintamos alguém! Por isso nos encantamos ao ouvir Clara falando em Jesus Cristo e em nossas mínimas realidades de uma forma tão humana, tão quente, tão feminina. É desse feminino que estamos precisando. Francisco encanta a humanidade por ser um homem que equilibrou o feminino. Clara, por ser uma mulher que equilibra o masculino. Como ele deu ternura à força dos grandes homens, ela deu vigor a sabedoria das mulheres plenas.

Fr. José Carlos C. Pedroso, OFMCap

19 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “É para a liberdade que Jesus Cristo nos libertou.”

“Os homens realmente livres e que amam submetem-se espontaneamente às exigências interiores do amor e da liberdade”
F. Varilon

As pessoas livres são as que fazem a liberdade acontecer; as pessoas iguais produzem a igualdade; as pessoas irmãs instauram a fraternidade. E é nesta ação contínua de construir a liberdade que conduzimos muitas pessoas ao seu encontro. Na vida tudo é aprendido, construído, trabalhado… Aprendemos a ser livres quando entendemos que temos um céu a conquistar, um mundo mais justo e fraterno para estabelecer no chão da existência.

É para a liberdade que Jesus Cristo nos libertou. Portanto, nunca queiramos retornar a um “paraíso” de escravidão. Trabalhemos, pois, com vigor e intensidade em favor da liberdade. Lembremos sempre que liberdade não significa fazer somente o que se quer, mas fazer o que deve ser feito. Significa ter respostas e ações em favor das pessoas, da paz, do bem, da fraternidade…

Frei Paulo Sergio, OFM

18 de janeiro de 2012

A Pedagogia de São Francisco de Assis

Por Frei Fernando de Araújo, OFMConv.

Ainda hoje, o mundo contempla os ensinamentos deixados por Francisco de Assis. A sua relação com Deus e com os homens mostra como ele entrou na dinâmica do verdadeiro encontro consigo e com outro. A partir da descoberta do profundo amor de Deus, que se manifestou de forma concreta na encarnação do verbo, Francisco começou a traçar um caminho que conduz o homem à verdade de si mesmo e do outro. Por isso, podemos falar de uma pedagogia de Francisco de Assis.

Podem-se encontrar autores que se deparam com essa pedagogia e mostram a sua atualidade para o homem pós-moderno. Um deles é Max Scheler, fundador da fenomenologia dos valores, que via em Francisco de Assis alguém que ousou realizar uma síntese dentro de um processo vital, que é a mística do amor omnimisericordioso, acósmico e pessoal. Via nele um homem que não olhava só para baixo, mas também para cima. O que Scheler afirma é que Francisco soube conviver muito bem com as realidades humanas e divinas. Francisco partiu do humano para chegar ao divino. Por isso, ele traz Deus para junto de seu povo. O Deus de Francisco é um Deus que caminha com seu povo e que quis estar junto dos seus por meio de seu Filho Jesus Cristo.

Para Scheler, ao superar os limites da criatura e do mundo, Francisco cria uma síntese de tal forma que as dimensões humana, pessoal, fraterna e religiosa e as dimensões criatural e cósmica concorrem para dar origem ao momento utópico da harmonização global. É a harmonia entre Deus, natureza e homem. Por isso, Francisco foi capaz de louvar o criador por toda a obra da criação.

Olhando a vida do santo, podemos perceber os traços de seus ensinamentos nos seguintes acontecimentos: quando procura o sultão e gera a possibilidade do dialogo; no encontro com o lobo de Gubbio, que despertou o desejo de paz; na vivência da pobreza, que possibilitou a liberdade e que gerou no ser humano a gratuidade da qual brota o amor e o perdão; na relação com a criação, que gera a responsabilidade pela ecologia; e na acolhida da morte, como uma reconciliação global. Por tudo isso, a pedagogia do santo de Assis é tão atual e ao mesmo tempo desafiadora. A visão de Francisco foi uma visão do ser humano e a capacidade de cada criatura se relacionar com Deus e com toda sua criação.

Em seu livro Francisco de Assis: um caminho para educação, frei Orlando Bernardi, OFM, afirma que a grande revelação franciscana, ou seja, a grande pedagogia de Francisco de Assis foi perceber no leproso o caminho que conduz a Deus. Naquela cena, acontece o encontro com uma das criaturas mais temidas de seu tempo. Ao se deparar com o leproso, Francisco começa a fazer um encontro consigo mesmo, porque vendo a miséria do outro consegue perceber que também é um homem com fragilidades e debilidades. Enxerga que poderia estar naquela mesma situação. Assim, descobriu no leproso um ser humano igual a todos e digno de ser abraçado e beijado. Desse modo, o encontro com o leproso se torna uma verdadeira revolução antropológica, é uma nova descoberta do homem realizada por Francisco.

Frei Orlando, explicando o encontro de Francisco com o leproso, mostra que Francisco teve misericórdia e que manifestou o vivo amor que ardia em seu coração. Ele experimenta a misericórdia como uma força misteriosa e surpreende, que se abriga no coração humano e que transforma o amargor em doçura de corpo e alma. Além disso, ela possui a capacidade de revelar a grandeza do humano frente à mais deprimente das situações da vida.

Tudo isso aconteceu porque a maneira de agir de Francisco foi diferenciada. O que prevalecia nos seus ensinamentos era um caminho comum, onde todos tinham oportunidade de crescerem no verdadeiro seguimento de Jesus Cristo. Aqui se pode acrescentar que a fraternidade franciscana é totalmente antropológica e que tem por finalidade buscar o sentido da vida e realização humana.

É muito importante ter em mente que o caminho percorrido pelo pobre de Assis foi de profundas experiências humanas. Estas o levaram a fazer verdadeiras experiências místicas. Ele soube viver o seu tempo e também transformá-lo. Diante dos acontecimentos, ele traçou planos que visavam levar homens e mulheres a procurar alternativas para as situações mais insustentáveis, por tomarem consciência de que são pessoas amadas por Deus. Fez tudo isso, seguindo o caminho fixado no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque o livro de sua pedagogia foi o Evangelho.

Assim, pode-se perceber que toda pedagogia de Francisco está no empenhar-se com todas as forças em ser fiel a Cristo e seu Evangelho. Assim, o homem pode ser fiel e a si mesmo para conseguir manter o seu propósito desde a experiência de Jesus Cristo, pobre e crucificado. Ele também apontou caminhos que ainda hoje precisam ser observados para superar certos conflitos existentes. Deste modo acontecerá a construção do Reino de Deus. O ponto de partida é a descoberta do ser humano com toda sua grandeza, mas ao mesmo tempo com sua fragilidade. Porque foi no abraço do leproso que Francisco descobriu o ser humano em toda sua miséria e grandeza. Foi com o leproso que se manifestou a presença da fragilidade e da força que sustenta a esperança e alimenta o futuro. Uma característica da espiritualidade franciscana é perceber a presença de Deus nos pobres e todos aqueles que vivem à margem da dignidade humana.

O grande ensinamento que o poverello de Assis apresenta ao mundo moderno é a capacidade de sonhar com dias melhores e que outra sociedade é possível, baseada unicamente na pratica do amor. Ele apresentou Jesus Cristo como o formador dos sonhos e das utopias humanas, capaz de garantir a possibilidade de todos viverem em busca do verdadeiro ideal de uma fraternidade universal, que é um sonho que se pode realizar. T

EXTRAÍDO DE: http://www.reflexoesfranciscanas.com.br/2012/01/pedagogia-de-sao-francisco-de-assis.html

17 de janeiro de 2012

UM CERTO FRANCISCO DE ASSIS


Pequeno retrato de Francisco de Assis

Vivia na cidade de Assis, na região do vale de Espoleto, um homem chamado Francisco (1 Celano 1)

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Todo mundo conhece Francisco da cidade de Assis. Ele é patrimônio da humanidade. Esse Francisco, esse italiano natural da verdejante região da Úmbria, experimentara no peito o anseio pelas coisas grandes e foi se tornando o Irmão Francisco, Frei Francisco. Não havia nascido para a mesmice e a mediocridade, para a banalidade e para a rotina. Tudo nele se revestia do novo, da novidade que procede do Deus de toda novidade.

Frei Tomás de Celano, contemporâneo de Francisco, foi encarregado de escrever a biografia oficial do santo. É ele, pois, que nos pinta um quadro com os traços desse Francisco do mundo inteiro que continua cativando todos os tempos.

“Como era bonito, atraente e de aspecto glorioso na inocência de sua vida, na simplicidade das palavras, na pureza do coração, no amor de Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no trato afetuoso, no aspecto angelical! Tinha maneiras simples, era sereno por natureza e de trato amável, muito oportuno quando dava conselhos, sempre fiel às suas obrigações, prudente nos julgamentos, eficiente no trabalho e em tudo cheio de elegância. Sereno na inteligência, delicado, sóbrio, contemplativo, constante na oração e fervoroso em

todas as coisas. Firme nas resoluções, equilibrado, perseverante e sempre o mesmo. Rápido para perdoar e demorado para se irar, tinha a inteligência pronta, uma memoria luminosa, era sutil ao falar, sério em suas ações e sempre simples. Era rigoroso consigo mesmo, paciente com os outros e discreto com todos.

Muito eloquente, tinha o rosto alegre e o aspecto bondoso, era diligente e incapaz de ser arrogante. Era de estatura pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, rosto um tanto longo e fino, testa plana e curta, olhos nem grande nem pequenos, negros e simples, cabelos castanhos, pestanas retas, nariz proporcional, delgado e reto, orelhas levantadas mas pequenas, têmporas chatas, língua apaziguante, fogosa e aguda, voz forte, doce, clara e sonora, dentes unidos, iguais e brancos, lábios pequenos e delgados, barba preta e um tanto rala, pescoço fino, ombros retos, braços curtos, mãos delicadas, dedos longos, unhas compridas, pernas finas, pés pequenos, pele fina, descarnado, roupa rude, sono muito curto, trabalho contínuo.

E como era muito humilde, mostrava mansidão para com todas as pessoas., adaptando-se a todos com facilidade. Embora fosse o mais santo sabia estar com os pecadores como se fosse um deles” (1Celano 83).

Este foi o retrato de Frei Tomás de Celano. Muitos preferem simplesmente designá-lo de Frei Francisco, de Irmão Francisco. Durante poucos anos, um pouco mais de quarenta, percorreu os caminhos desta terra e deixou lembranças nas pétalas das flores, no espelho das águas, nas chagas dos leprosos e no voo das cotovias. Ele honrou a humanidade. Foi nosso irmão e o retrato mais acabado de Jesus Cristo.

Éloi Leclerc, franciscano francês, foi martirizado na alma e sofreu no corpo os horrores da Segunda Guerra Mundial. Em obra do outono de seus dias (O Sol nasce em Assis), o autor faz uma reflexão sobre o grande drama humano da guerra, dos campos de concentração, da desumanidade. Mas o livro é também “a história de um encontro maravilhoso: meu encontro com um daqueles homens tão raros de nossa história que não nos deixam desesperar do ser humano. Trata-se de Francisco de Assis. Se espírito – o espírito de Assis, como é chamado – nos traz a luz, uma luz da qual precisamos atrozmente. Aquele homem fez surgir no meu coração o Sol, e com o Sol toda a criação. Foi para ele que me voltei. Foi a ele que eu pedi o segredo de uma verdadeira fraternidade humana. Pouco a pouco, além das grandes aflições e das tragédias deste mundo, Francisco abriu minha alma para a harmonia profunda das coisas e de tudo o que vive. Num universo desencantado, ele foi para mim o encantador. Mostrou-me o caminho de uma verdadeira humanidade, corrigindo o que o nosso humanismo dos direitos humanos tem de limitado e mesmo de ambíguo e perigoso. Parece-me que, se a humanidade um dia encontrar a alegre esperança e o sentido da caminhada para sua realização, será na direção inaugurada pelo Pobre de Assis” (Vozes, Petrópolis, p.9-10).

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João Bernardone conhecido como Francisco

• Filho de Pedro Bernardone, comerciante de tecidos e de Pica, que pertencia a uma família da região francesa da Provence.

• Exerce a profissão do pai, na venda de tecidos.

• Rapaz dotado de um espírito muito vivo.

• Generoso e alegre; gosta dos divertimentos e de cantos; gosta de passear pela cidade de dia e de noite.

• Generoso nos gastos, dissipa em noitadas e festanças o que tem e o que ganha.

• Falta-lhe medida na maneira de se vestir: veste-se mais suntuosamente do que permitem suas condições.

• Cortês em seus comportamentos e palavras faz o propósito de não dizer palavras injuriosas e ofensivas e resolve não dar resposta aos que o provocam maldosamente.

• Ambicioso, audacioso, empreendedor.

• É escolhido como rei da juventude; pagas as despesas e tem humor jovial.

• Aproxima-se dos pobres e generosamente os cobre de esmolas.

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Síntese de sua trajetória

Minúscula biografia

• Nascido em Assis, no vale de Espoleto, na Itália em 1181 ou 1182. Passa sua juventude no luxo e nas diversões. Sonha com a glória e quer ser cavaleiro ( quer entrar no universos das armas). Com a idade de vinte anos, devido às rivalidades entre as cidades italianas, ele é feito prisioneiro em Perugia alguns meses.

• Insatisfeito com a vida que leva Francisco faz uma peregrinação a Roma ao longo da qual troca seus ricos trajes com os trapos de um mendigo.

• Em oração na velha igreja de São Damião, Francisco compreende que o Senhor lhe dirige a palavra para que ele restaurasse a igreja que estava em ruínas. Vendendo o que tem busca realizar esta missão. Seu pai, farto com as loucuras do Filho, com o gastar tudo em benefício dos pobres pela a intervenção do bispo de Assis. Francisco resolve então abandonar tudo, colocar suas vestes nas mãos de seu pai e seguir o Pai do céu.

• Ouve o evangelho do envio dos apóstolos que deviam partir em missão sem nada. Esta foi a grande revelação de sua vida. Alguns assisienses se juntam a ele.

• Francisco redige sua primeira Regra e faz uma viagem a Roma para pedir a confirmação por parte do Papa.

• Em 1212 uma jovem de dezesseis anos, Clara, resolve seguir a Pobreza pregada por Francisco.

• Naquele ambiente das Cruzadas e desejando encontrar-se com os muçulmanos como irmãos, Francisco parte para o Egito para encontrar o Sultão e falar-lhe de Deus e de Cristo.

• Em 1223 redige uma nova Regra.

• Em 1224, já doente e exausto, Francisco recebe os estigmas do Cristo crucificado.

• Morre a 3 de outubro de 1226, com a idade de quarenta e quatro anos. É canonizado dois anos mais tarde pelo papa Gregório IX.

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Para continuar a reflexão

Começos da vida de Francisco - 2 Celano 3-4

Para refletir

1. O que mais chama sua atenção nestes texto?
2. O que você já conhece a respeito de Francisco de Assis?


EXTRAÍDO DE: http://www.franciscanos.org.br/n/?p=10520

16 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “Precisamos aprender a arte sublime de tirar as pessoas da marginalidade…”

“Entendo que solidariedade é enxergar no próximo as lágrimas nunca choradas
e as angústias nunca verbalizadas”
Augusto Cury.


Ser solidário é colocar-se na perspectiva da outra pessoa; é entrar na ‘solidão’ daqueles (as) que necessitam de nossa presença, de nosso amor, de nossa atenção. A solidariedade impele-nos a sair de nós mesmos e fazer encontro com as pessoas no espírito caritativo do acolhimento, da disponibilidade e da graciosidade. Vivemos em família, em comunidade e em sociedade: precisamos aprender a arte sublime de tirar as pessoas da marginalidade e trazê-las para o centro existencial da vida…

A solidariedade e a fraternidade caminham sempre juntas, pois são virtudes que nos tiram do isolamento e nos faz ver a vida com os olhos de Deus! Quem ama com o jeito de Deus quer o bem ao próximo, alegra-se com as conquistas dos outros, propõe-se a estar ao lado nos momentos de fragilidade. Quem ama com o jeito de Deus acolhe e celebra encontros de misericórdia…

Por Frei Paulo Sérgio, OFM

14 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “Descubra dentro de você mesmo o valor das pequenas coisas.”


“Diga-lhes que esta vida não cessou de me maravilhar”.
Ludwig Wittgenstein


Viver a vida com intensidade e paixão faz com que os momentos sejam eternizados dentro de nós. E o amor com que fazemos as coisas, a paixão com que dedicamos nossas buscas e ideais será sempre nosso diferencial. E viver nunca será algo enfadonho e pequeno, pois a vida experimentada, compartilhada e celebrada será sempre algo saboroso, sublime e eterno.

Meu (minha) amigo (a), procure viver e celebrar a vida nos seus pequenos e grandes momentos. Descubra dentro de você mesmo o valor das pequenas coisas. Seja grato a Deus pelo ar que você respira, pelo sol que brilha, pela chuva que cai… Diga às pessoas amigas que elas são importantes para você. Que seu amor seja sincero e que ele seja demonstrado por atitudes e ações que realmente confirmem seus sentimentos mais verdadeiros…

Por Frei Paulo Sérgio, OFM

13 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “O chão da amizade requer cuidado, atenção, poda e rega… “

“Nós só percebemos que a amizade é verdadeira, quando precisamos de uma
mão do amigo e ele nos oferece as duas”.
Letícia Larusso



Árvore plantada com amor ninguém derruba. Uma verdadeira amizade, também. Quem planta árvores cria raízes. Quem cultiva amizades também, pois no enraizamento de nossa existência precisamos de apoio, de ajuda, de solidariedade. Crescemos no “húmus” da existência quando aprendemos com as pessoas, quando passamos a confiar naqueles (as) que caminham conosco…

O chão da amizade requer cuidado, atenção, poda e rega… Daí que quando cuidamos da outra pessoa, estamos cuidando também de nós. É este um dos significados do símbolo da amizade: eu cuido do outro, ele cuida de mim… Eu rego a planta da amizade e, nessa ação, estou gerando amor e cuidado para que haja sempre espaço para o crescimento. A amizade verdadeira gera amor desinteressado, amor que quer sempre o bem e a felicidade do (a) outro (a)!

Por Frei Paulo Sérgio, OFM

12 de janeiro de 2012

Vida interior: Adentrar-se no próprio mistério

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Uma lei fundamental precede e ilumina toda outra lei, civil, moral ou religiosa. Assim ela se enuncia:
Artigo único: É preciso viver.
Não há artigo segundo.
Necessário viver. Com avidez. Com intensidade. Só é verdadeiro o que se vive.
Se a fé em Deus e em Jesus ressuscitado fosse um entrave à vida, eu recusaria a fé.
O que é maravilhoso na fé é que ela não cessa de aumentar a exigência, o combate, o fervor de viver, de viver até a embriaguez: e a paixão de ser homem, a paixão de ser mulher, a celebração do casal, e todos os esplendores da carne e do sangue, e todas as luzes, o rir e o soluçar.
Viver. Abraçar. Mesmo a infelicidade.
Viver: ter os braços dirigidos aos músicos e como maestro decidir o momento em que a vida vai dançar, cantar, gritar, chorar talvez. Mas viver.
Escrevo estas linhas com o coração impregnado do evangelho, do evangelho do Gólgota e o evangelho da Ressurreição.
Necessário viver.
Todas as promessas de Jesus no evangelho são promessas de vida.
Necessário ousar viver.
Para saber viver é preciso ousar viver.

Jacques Leclerc
Debout sur le soleil
Seuil, Paris, 1980, p. 13-14


1. Vida, viver, vida espiritual, vida interior. Há esse deitar, levantar, correr, comprar, vender, chorar, esperar, temer, alegrar-se. Há a vida desse casal aparentemente tão ajustado, respirando harmonia. Há essa religiosa de roupas simples, olhar sereno, já quase envelhecida de tudo, mostrando, para além das rugas do rosto, viço e vigor. Há esse senhor que vem da roça comprar mantimentos na cidade e volta pensando sempre na vida dos seus. Há esse mendigo, deitado sob a marquise, com um naco de pão na mão e ajeitando seu cobertor para dormir. Vida. O que conta é viver. Nada além de viver. Mas será preciso viver em profundidade. Não basta apenas dormir, levantar, comer, correr, sofrer. É preciso dar um sentido à vida.

2. A expressão “vida espiritual” é ampla e pode ser ambígua. Refere-se a todos os homens e a cada homem, seja ele crente ou não, cristão ou adepto de outras trilhas religiosas, seja ele leigo casado ou religioso consagrado. Trata-se de uma dimensão da experiência humana. Todo homem vive espiritualmente. Podemos dizer que vida espiritual aparece quando surge pergunta pelo sentido, quando homem instigado pelo conhecimento de si mesmo, começa a explorar aquilo que lhe é interior, a observar o mundo, a escutar, a pensar, a meditar, a escolher, a decidir, a assumir sentimentos e comportamentos. Nesse momento começa nele a vida espiritual.

3. “O fundamento da vida espiritual é a exigência de sentido que habita o homem. Para encontrar esse sentido será necessário buscar, fazer experiências em profundidade. Por isso, a vida espiritual também pode ser designada de vida interior. Quando pensamos na vida espiritual de uma pessoa, procuramos detectar aquilo de mais profundo que existe nela, suas últimas motivações, seu fundamento vital, seus ideais” (Enzo Bianchi, La vie spirituelle chrétienne, in Vie consacrée, 2000, n.1, p. 36).

4. “A vida espiritual não é um patamar de superestruturas inúteis a serem acrescentadas à nossa vida, à nossa idade adulta. A vida espiritual abrange a totalidade da vida, mesmo em seus pormenores cotidianos. Vida essa que se acha como que trabalhada por um convite para buscar sua qualidade, sua profundidade e sua realização. Quem foi desperto para a vida espiritual e pressentiu esse apelo não pode, sem mais nem menos, libertar-se dele. Se vier a rejeitá-lo estará perdendo uma oportunidade única de viver. Acolher esse convite é uma decisão pessoal. Mas ainda não é tudo. Será preciso perseverança, palmilhar com coragem tal caminho, colocar decididamente nele os pés. Em outras palavras, trata-se de encontrar uma sabedoria” (Fêtes et Saisons, n. 258, p. 5).

5. Viver espiritualmente é viver simplesmente a vida de todos os dias. Deus aparece no tecido do cotidiano. “Viver humanamente é uma aventura: difícil, arriscada, dolorosa, alegre. Entre o nascimento e a morte, quantos acontecimentos, quanto amor, quantos medos, quantas feridas, quantas curas, quantos fracassos e ressurreições, conflitos, reconciliações, dúvidas e iluminações. Quanto trabalho para viver, quanta luta, quanta busca pela verdade, quanta tentação de morrer. Mas também quanta coragem. A coragem de viver não seria a coisa mais difundida no mundo? Ora, é precisamente nesse borbulhar humano que Deus resolve vir ao nosso encontro para acompanhar e transfigurar a aventura de nossa vida. O próprio Espírito dá testemunho a nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8,16)” (Régine du Charlat, Qu’est-ce qui fonde la vie spirituelle? , in Croire Aujourd’hui, n. 140, p.23).

6. Num gênero literário de carta a um amigo, Enzo Bianchi, líder da Comunidade de Bose na Itália, já citado anteriormente, assim descreve a vida interior: “Você decidiu me escrever, porque anda se questionando, nos últimos tempos, a respeito do sentido da sua vida e escrevendo que gostaria de ter mais tempo para si mesmo, para pensar naquilo que é essencial na vida e que merece ser vivido. Suas interrogações exprimem essa exigência profunda de nosso espírito, ou seja, a da vida interior. Cedo ou tarde, essa questão se torna muito viva dentro de cada um porque não vivemos apenas do exterior, projetando-nos fora de nós mesmos, numa contínua “fuga” em que a intensidade das emoções toma o lugar da plenitude de vida. O homem é um “fora”, mas é também um “dentro”. A Bíblia fala de coração. Nós falamos de consciência, de foro íntimo. Não sou totalmente claro, nem evidente para mim mesmo. Sou um mistério. Conheço-me apenas parcialmente. Para viver plenamente precisamos levar em consideração nosso interior”. (Qu’est-ce que la vie intérieure?)

7. Há uma pergunta que precisamos responder com toda coragem, mesmo com dificuldade; Quem sou eu? Será precisamente ela que vai abrir o caminho para a vida interior. Precisamos levar a sério nossa unicidade de corpo e espírito, de exterior e de interior, de apetites do corpo e de desejos pungentes e poderosos da alma. Ao longo do tempo da vida, frequentando nosso interior, vamos descobrindo ou construindo nossa identidade. Cada um é chamado a ser ele mesmo e não copiar outros. Necessário será escutar os abismos interiores e poder realizar suas solicitações. Assim, se pode dizer que levar uma vida interior é caminhar na direção de um sentido, caminhar na direção de um tornarmo-nos nós mesmos, de não vivemos por viver.

8. Trata-se de sair da superfície e da epiderme e tentar refletir, atinar com o sentido das coisas de todos os dias, dos movimentos de nosso coração, das questões que vamos colocando nas diferentes estações de nossa vida. Trata-se de um trabalho de levar a sério a própria unicidade. Voltamos a Enzo em sua carta: “A vida interior exige coragem. É como o começo de uma viagem, não tanto exterior, mas em profundidade, não fora de você, mas em seu interior. E se a perturbação que você experimenta no começo, diante de uma paisagem interior desconhecida, causa receio você vai tomar consciência de que se trata da viagem mais longa e mais penosa, mesmo sem percorrer um quilômetro que seja. Coragem não somente para interrogar-se, mas também para deixar interrogar-se, acolher os acontecimentos da vida como questões que são dirigidas a você: a doença que altera completamente a vida de uma pessoa amada, a morte repentina de um amigo, o casamento de um conhecido, um nascimento que trouxe alegria a um casal conhecido, como também os acontecimentos cotidianos, menos visíveis e menos chocantes que constituem a trama de nosso dia a dia… Trata-se de vida ou morte, de alegria ou de sofrimento”. A vida interior nos leva a pensar em tudo isso e a projetar Deus em tudo. Falamos, então, de viver à luz da fé.

9. Não podem ter acesso a essa dimensão de interioridade os que vivem na superfície das coisas e na busca desenfreada de toda sorte de satisfações. Uma Carta Pastoral de bispos da Espanha fala da falta de interioridade: “A fé se debilita por falta de interioridade. Cada vez há menos espaço para o espírito em nossa vida diária. Muitos consideram a “vida interior” como algo perfeitamente inútil e supérfluo. As vidas são organizadas somente a partir do exterior. Quase tudo o que as pessoas fazem tem como objetivo alimentar a personalidade externa e superficial. Por outra parte, a vida do espírito aparece tão desprestigiada que facilmente é classificada de evasão qualquer empenho de cultivar o mundo interior. Privada de interioridade, a fé se extingue. Enchemo-nos de projetos, ocupações e expectativas, mas o “homem interior” se debilita. Para que a fé seja fonte de luz e de vida, o ser humano necessita penetrar em seu próprio mistério e chegar ao coração de sua vida lá onde é totalmente ele diante de Deus. Quando a pessoa perde o contato com o “nível transcendente” de seu ser, a experiência religiosa se apaga, mesmo continuando a praticar uma “religião externa”. São muitos os cristãos que desconhecem o desejo do Absoluto, não vivem a experiência de uma comunicação pessoal com ele. Vivem buscando segurança religiosa em crenças e práticas a seu alcance, sem penetrar num relacionamento vivo com a realidade misteriosa de Deus”.

10. Somos convidados a fazer um viagem ao nosso interior e tentar escutar o famoso “Conhece-te a ti mesmo!” Esse empenho pede interiorização, uma vida interior, uma integração de experiências e acontecimentos que nos permita chegar a interpretar quem somos nós. As perguntas aí estão: Quem somos nós? Para onde vamos? Que fogo é esse que arde em nosso coração? Quem são os outros para nós? Na medida em que vamos tentando responder a essas e outras questões. Os que visitam seu interior têm melhores condições de compreender o que vem a ser uma vida espiritual cristã.

EXTRAÍDO DE: http://www.franciscanos.org.br/n/?p=10507

11 de janeiro de 2012

REFLEXÃO : “Hoje Deus concede a você um novo dia”.


“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que
acredite que ele possa ser realizado”.
Roberto Shinyashiki

Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela. É assim que você começará a mudar as coisas, que vislumbrará novas possibilidades. Você não tem que ser refém do passado e nem está condenado a repetir sua história. Basta querer transformar e resignificar aquilo que está dentro de você, pois somente você tem o poder de mudar seu próprio destino.

Hoje Deus concede a você um novo dia. É um é um milagre, é um presente que você recebe nas mãos! Faça diferente, faça melhor. Cumpra a missão deste dia com paixão, com dedicação e amor! Não se deixe perturbar pelas críticas e pela má vontade alheia: simplesmente faça, acredite, persevere e seja grato a Deus pela luz que o (a) envolve…

Por Frei Paulo Sérgio

9 de janeiro de 2012

BATISMO DO SENHOR

O filho amado consagrou todas as fontes.

Final do tempo do Natal… Hoje comemoramos o batismo do Senhor. Aquele que não conheceu pecado resolveu identificar-se com os pecadores entrando na fila dos que iam receber o batismo do Batista. Quem vai nos levar ao âmago deste mistério é o bispo São Máximo de Turim:

As celebrações que se acumulam e as alegrias que se multiplicam nos fazem compreender o quanto devemos ao Cristo Senhor. Ainda exultamos com o nascimento do Salvador e já os alegramos com seu renascimento. Ainda não terminou a festa do seu natal e já devemos celebrar a solenidade de seu batismo. Mal nasceu para os homens e já renasce pelos sacramentos.

Hoje, com efeito, – embora muitos anos tenham passado – o Cristo foi consagrado no Jordão. O Senhor dispôs as coisas de tal modo que uma celebração se seguisse à outra, isto é, que num mesmo tempo fosse dado à luz pela Virgem, e gerado pelo sacramento, de modo a haver uma festa continua para os seus dois nascimentos: na carne e no batismo. Como há pouco nos admirávamos ao vê-lo concebido por uma mãe imaculada, veneramo-lo também agora imerso na água pura, e alegremo-nos nesses dois acontecimentos. Pois uma mãe gerou um filho e permanece casta, porque a água lavou o Cristo e está santificada.

Tal como após o parto foi glorificada a virgindade de Maria, também depois do batismo foi comprovada a purificação da água, com a diferença de que à água foi concedido um dom maior que a Maria. Esta, com efeito, mereceu a castidade somente para si, enquanto que a água confere a todos a santidade. Maria mereceu não pecar, e a água purificar os pecados. Maria deu à luz um filho e é pura, a água gera a muitos e é virgem. Maria não teve outro filho além do Cristo, a água se torna com Cristo, mãe dos povos.

Hoje é, portanto, como se fosse um novo Natal do Salvador. Vemo-lo, de fato, gerado com os mesmos sinais e milagres, porém com maior mistério. Pois o Espírito Santo, que o assistiu no seio materno, agora o ilumina em meio ao rio; aquele que preservou Maria para ele, agora santifica-lhe as águas. O Pai, que antes estendeu a sombra poderosa, agora faz ouvir a sua voz. E Deus que outrora envolveu em sombra o nascimento, dá agora, como por deliberação mais perfeita, testemunho da verdade, dizendo: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; ouvi-o (Mt 17,5).

Hoje Cristo é batizado no Jordão. Que batismo é este, em que o batizado é mais puro do que a fonte? Onde a água que lava o corpo não se torna impura, mas enriquecida de bênçãos? Que batismo é este, o do Salvador, no qual as águas em vez de purificar são purificadas? Num novo gênero de santificação, a água não lava, mas é lavada. Desde o momento em que imergiu na água, o Salvador consagrou todas as fontes no mistério do batismo, para que todo aquele que desejar ser batizado em nome do Senhor seja lavado não pela água do mundo, mas purificado pela água de Cristo. Assim, o Salvador quis ser batizado não visando adquirir pureza para si, mas a fim de purificar as águas para nós. (Lecionário Monástico I , p.525-527).


EXTRAÍDO DE: http://www.franciscanos.org.br/n/?p=9905