31 de março de 2013

O Domingo de Páscoa


O Domingo da Páscoa da Ressurreição constitui uma ressonância da Vigília pascal, centro de todo o Ano Litúrgico.

A partir da Ressurreição de Cristo, a terra transformou-se em céu, pois a pessoa humana, mesmo neste mundo, pode viver em Deus (cf. 2ª leit., Cl 3,1-4). A Páscoa é a festa da vida; da vida de Cristo e da vida nova dos cristãos. Na mensagem da Páscoa podemos realçar três aspectos:

Primeiro: O sepulcro vazio. Maria Madalena vai ao sepulcro de madrugada e vê que a pedra fora retirada do sepulcro (cf. Ev., Jo 20,1-9). Desde que a pedra foi retirada do sepulcro de Jesus, a terra produziu o seu fruto, a vida brotou da terra; todo sepulcro transformou-se em lugar de esperança, de vida.

Segundo:Os gestos de amor. Jesus dá-se a conhecer ressuscitado sobretudo lá onde se realizam gestos concretos de amor, de serviço ao corpo de Cristo. Basta pensarmos nas mulheres que vão ao sepulcro com aromas para ungir Jesus (cf. Mc 16,1). Lembremos Maria Madalena e a outra Maria. Ao raiar do sol do primeiro dia, vão ver o sepulcro (cf. Mt 28,1). João chegou antes, mas, em deferência a Pedro, mais velho, espera por ele. João, o discípulo amado, vê os sinais e acredita. O amor é que faz reconhecer a Jesus Cristo no mistério pascal. O mesmo podemos perceber no evangelho dos discípulos de Emaús, proclamado na Missa vespertina do Domingo da Páscoa (cf. 24,13-35). Jesus dá-se a conhecer na fração do pão.

Terceiro: O testemunho do Cristo ressuscitado. Maria Madalena toma-se a primeira mensageira do sepulcro vazio e do Cristo ressuscitado. Os discípulos de Emaús voltam a Jerusalém, anunciando que Cristo ressuscitou. Os discípulos que experimentaram o convívio de Cristo desde o batismo no Jordão, como Pedro e João, encontraram o sepulcro vazio e tornaram-se testemunhas do Cristo ressuscitado: “E nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na região dos judeus e em Jerusalém: Deus o ressuscitou ao terceiro dia, e fez que se manifestasse a testemunha. E nos ordenou que anunciássemos ao Povo e atestássemos ser ele o juiz dos vivos e dos mortos estabelecido por Deus (cf. 1ª leit., Atos 10,34a.37-43).

Portanto, faz-se Páscoa, surge a vida, onde as pedras são retiradas dos sepulcros, onde se vive a caridade no serviço do próximo. Estes são os sinais de que Jesus Cristo continua ressuscitando hoje. Eles anunciam a sua ressurreição e suscitam nova vida, pois retiram todas as barreiras que atentam contra a vida.

29 de março de 2013

A Paixão de Cristo em Francisco


Especial a Paixão de Cristo em Francisco

Por Frei Mauro Strabeli


A encarnação do Verbo está ligada, para São Francisco, a outro grande mistério: Jesus Crucificado. Com o "mistério de Jesus Crucificado", Francisco entra na mais alta contemplação da Trindade.

A vocação de Francisco nasce do chamamento a ele feito pelo Crucificado de São Damião. Ao Crucificado ele vai identificar-se tanto, a ponto de trazer dele os estigmas da crucifixão.

A Cruz é, para São Francisco, o sinal do despojamento total do homem para encher-se de Deus.

A meditação e a contemplação de Jesus Crucificado foram experiências que São Francisco foi buscar na própria Palavra de Deus. Parte ele do exemplo do próprio Cristo: "Ele tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo... humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente ate a morte, a morte de cruz!" (Fl 2,6-11).

E o próprio Cristo recomenda a Cruz como caminho de seguimento: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga..." (Lc 9,23). O Novo Testamento coloca na "loucura da cruz" a razão do "ser cristão": "Fui morto na cruz com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim" (Gl 2,19). "Quanto a mim, que eu não me glorie a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo" (Gl 6,14). "Pois a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem. Mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus... Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos" (ICor 1,18.22-23).

E o que é a Cruz para São Francisco? O que é, para ele, Jesus Crucificado? Certamente não é por masoquismo que São Francisco faz da cruz um ponto referencial na sua leitura da Palavra de Deus. Pelo contrário. Amou a cruz por uma compreensão profunda do seu significado e do seu "mistério" - tão desconhecido por nós.

"A cruz, diz J.C.C. Pedroso, deve ser o mais antigo e mais difundido símbolo humano de que se tem conhecimento, muito antes da vinda de Cristo na carne. Nós a encontramos nas seculares mandalas do Tibete, nos tapetes da Pérsia, nos desenhos e na arquitetura de todos os povos. Achamos a coisa mais natural reforçar nossos móveis e construções com barras cruzadas ou assinalar nossas opções no papel com uma cruzinha. Justamente porque está no âmago da nossa natureza enfrentar o corte e o cruzamento que simbolizam a tensão entre os opostos...

A cruz é o símbolo que melhor expressa a união dos opostos que precisa acontecer em toda vida saudável e madura. A cruz é um símbolo muito positivo quando consideramos a vida nova que dela brota. Sem a cruz não pode haver crescimento no amor ou maturidade, nem plenitude ou equilíbrio, nem vida e energia, nem relacionamento pessoal entre Deus e a humanidade.
O amor, a plenitude e a santidade só se tornam autênticos e ativos na presença de uma tensão sempre crescente".

Foi isso que São Francisco compreendeu. Esse foi o significado que ele intuiu no mistério da cruz. Ele entendeu que a vivência em plenitude da Palavra de Deus e de seu Projeto só seriam possíveis mediante a tensão pessoal, uma catarse às vezes duramente conseguida, um conflito entre o querer o bem e se inclinar para o mal.

A cruz é, então, o instrumento de purificação, de realização, de plenitude. A cruz não foi loucura para ele; foi símbolo de purificação e símbolo da dor também. Ela significa luta, sofrimento e até a morte. A crucifixão de Jesus representa o gesto de imenso amor de Deus que, para ser solidário conosco, assume a cruz, os sofrimentos, para ensinar que só dessa fonte é que jorra vida plena.

Jesus viveu o dilema de fugir do sofrimento: "minha alma está numa tristeza de morte... Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim esse cálice" (Mt 26,38-39a). Mas, como homem total, assumiu a sua condição: "Contudo, não seja feito como eu quero, e sim como tu queres" (Mt 26,39b). Este gesto maravilhoso de amorosa submissão à vontade do Pai, sem valer-se de sua condição divina, faz de Jesus, o homem verdadeiro: assumiu a condição de servo (Fl 2,7). "A cruz é mistério... Simboliza, com suas duas traves que se atravessam, a dilaceração do cristão entre Deus e a humanidade, entre o bem e o mal, como todas as outras tensões da vida.

Francisco expressou isso muito bem em sua famosa exclamação: "O amor não é amado!". A cruz não é para São Francisco o que é para nós: sinal de glória, de honra, ou símbolo cultural. Era, sim, instrumento de real e profunda meditação e contemplação, pois resume em si toda a ambivalência humana, toda tensão, toda procura, todo crescimento, toda realização, toda a vida.

"A cruz é a chave da história humana e da história de cada um". Parece ser esse o sentido de toda a meditação de São Francisco sobre a Paixão do Senhor, bem como o sentido da VIA SACRA, instituição devocional bíblica, sem dúvida, inspirada na sua espiritualidade.
Extraído do livro "Leitura Franciscana da Bíblia", de Frei Mauro Strabeli, OFMCap - Centro Franciscano de Espiritualidade.

Comentário e Reflexão sobre a Sexta-feira Santa


Na sexta-feira santa, temos a longa passagem do evangelho de João, que é a narração da Paixão do Nosso Senhor Jesus Cristo. (Jo 18,1-19,42)

O motivo da morte de Jesus está exatamente na causa do poder. O que acontece é o conflito de Jesus com os chefes, eles procuram motivos e razões para acusá-lo e para matá-lo.

Na época de Jesus, as pessoas que representavam o poder político-religioso eram os fariseus (legalistas), saduceus (ritualistas) e os escribas (sacerdotes).

Primeira razão para querer matar Jesus é a popularidade. Jesus está próximo do povo simples, humilde e pobre. As autoridades começaram a acompanhar Jesus para ver o que ele estava falando para o público. Acompanhavam não para admirar os ensinamentos e nem tampouco para aderir à boa-nova. A intenção dos chefes era de procurar meios de condená-lo para o julgamento. Eles queriam encontrar motivos em Jesus como: sonegador de impostos, corrupto, subversivo, etc.
Na verdade, Jesus faz uma crítica dura às autoridades, ao sistema do poder, ele revela as sujeiras nas questões do Templo. Jesus não fica apegado à lei fundamentalista (Moisés), ele prefere conhecer a realidade e a situação da vida do povo. A sua pregação se dirige aos mais fracos, aos excluídos numa profunda sensibilidade humana, de amor e misericórdia. Mantém aproximidades com pessoas não bem vistas na sociedade: as prostitutas, os cobradores de impostos, os publicanos, os doentes impuros e os marginalizados.

Como Jesus não é preso a Lei de Moisés, ele com sua autoridade própria, com sua autonomia, ensina, perdoa os pecadores, opera sinais. Ele fala e faz não mais em nome da Lei e dos profetas, mas no seu nome, como representante de Deus.
“A multidão do povo se admirava de sua doutrina, porque ensinava como quem possui autoridade e não como os escribas” (Mt 7, 28-29)

Para as autoridades judaicas, Jesus era o provocador na tentativa de revolucionar o povo. Na verdade a pregação e a prática de Jesus representaram uma ameaça ao poder político-religioso. Jesus começa a incomodar as autoridades, principalmente quando Jesus cura no sábado; os fariseus, os escribas, os sumos-sacerdotes ficam irritados e começam a conspirar com Herodes para prendê-lo à traição e matá-lo. O responsável pela perseguição de Jesus são os sumos sacerdotes e não o povo.

Jesus circulava no Templo, aproximaram-se os chefes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos, e lhe perguntavam: “Com que autoridade fazes estas coisas? Ou, quem te concedeu esta autoridade para fazê-las?” Jesus respondeu: “Eu vos proporei uma só questão. Respondei-me, e eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. O batismo de João era do Céu ou dos homens? Respondei-me”. Eles cochichavam uns com os outros, dizendo: “Se respondermos ‘Do Céu’, ele dirá: ‘Por que então crestes nele? ’ Mas se respondermos ‘Dos Homens’?” Temiam a multidão, pois todos pensavam que João era de fato profeta. Diante disso, responderam a Jesus: “Não sabemos”. Jesus então lhes disse: “Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas”. (Mc 11, 27-33)
Temos dois fatores para poder julgar Jesus no processo religioso. Primeiro, a questão messiânica e a segunda, a palavra de Jesus sobre a destruição do Templo.

Foi muito difícil para as autoridades religiosas arranjar um motivo, uma desculpa para a condenação. Se fosse condenado como falso profeta, a pena seria o apedrejamento. A acusação religiosa precisava passar por um tratamento político para valer no tribunal romano.
O que fizeram para conseguir a condenação de Jesus?

As autoridades forjaram as acusações para que o mesmo acusado, o condenasse a si mesmo, por meio de um severo interrogatório.

“Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: Tu és o Rei dos judeus? Jesus respondeu: Estás dizendo isso por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim? Depois Pilatos disse a Jesus: Tu és rei? Jesus respondeu: Tu o dizes: eu sou Rei.

Pilatos disse: Hei de crucificar o vosso Rei? Os sumos sacerdotes responderam: Não temos outro Rei senão César. Se soltas esse homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz Rei, declara-se contra César!”

Assim Pilatos está à frente de duas questões: ou Jesus ou César. Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado. Quando se faz a escolha de César ou Jesus, Pilatos para não ter problema com o poder do Império e das autoridades prefere lavar as mãos e deixar que os sumos sacerdotes dos judeus respondessem pela condenação.

A acusação perante Pilatos soa que Jesus, Rei dos Judeus e como tal, é perigoso também para a segurança do Império Romano. A pena era a crucificação para as pessoas revolucionárias contra a ordem social e política do Estado Romano. As autoridades colocam Jesus contra o Império. O poder das autoridades fala mais alto! Morre o mais fraco. O poder do Império sempre vence!
A morte de Jesus deve ser interpretada como consequência de sua missão. Jesus sabia que a sua vinda poderia incomodar o poder arrogante e opressor daquela época, pois ele disse somente a verdade, anunciou o projeto do Reino de Deus e apontou os erros das autoridades. Muitas vezes o poder passa por cima dos mais fracos, para manter sempre no lugar privilegiado. Os interesses egoístas às vezes falam mais alto!

Hoje quantas pessoas não têm voz e vez na sociedade. Os mais fracos são condenados, são excluídos, são oprimidos e injustiçados. Quantas pessoas que usa o poder para diminuir as pessoas e até humilhá-las. Hoje temos muitos escribas e fariseus que são apegados as Leis, são pessoas moralistas, incoerentes e egoístas. Podemos ver nos noticiários das TV’s, os que exercem o poder político, os que criam leis e se tornam incoerentes e corruptos.

Frei Luciano Lopes, OFM.

27 de março de 2013

Reflexão - Vida



“Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”
 Rubem Alves.

Um dos grandes trabalhos da existência é justamente este: refazer, recomeçar, reformar… ou até mesmo começar tudo outra vez! Trabalho intenso de saber quem somos, de decifrar um enigma, de se estruturar uma consciência mais ampla, mais forte, mais capaz de decidir sem os chicotes da culpa. E essa tarefa é pra vida inteira, pois é na dinamicidade da própria vida que vamos nos fazendo, nos construindo, nos impulsionando.

O hoje é esse tempo mágico que nos permite refazer tarefas, apagar escritos, escrever novas histórias… E no caderno da própria vida vamos escrevendo paginas e mais páginas, aperfeiçoando as experiências, crescendo nas relações interpessoais. Se ontem me depararei com portas fechas, hoje posso encontrar uma maneira de abri-las; se ontem não me doei ao máximo, hoje posso amar ainda mais e ser ainda mais feliz…

Frei Paulo Sérgio, ofm

26 de março de 2013

Via-sacra: sua origem remota e seu desenvolvimento no Brasil


1. História da via-sacra

Já no século IV, os romeiros da Terra Santa visitavam, em Jerusalém, de maneira informal, os santos lugares onde aconteceram a paixão e morte de Jesus. Este costume gerou o exercício da via-sacra praticado hoje, especialmente, na Quaresma.

Desde o séc. XVIII são contadas quatorze estações desde a casa do julgamento até o santo sepulcro. As vias-sacras modernas acrescentam uma décima-quinta estação: Jesus ressuscitado.

Em Jerusalém, os antigos romeiros percorriam a "via dolorosa" no sentido inverso, isto é, do Santo Sepulcro ao pretório romano. Segundo tradição antiqüíssima, a Virgem Maria, mãe de Jesus, após a Ressurreição visitava diariamente o cenáculo, a casa de Anás e Caifás, o Calvário, o Santo Sepulcro, o pretório, o Getsêmani, o Horto, o Vale de Cedron e a Fortaleza de Antônia, no Sião. Esta tradição foi retomada no séc. XIII pelos franciscanos em Jerusalém, onde, na Via Dolorosa colocaram algumas capelinhas e marcos de pedra. Estas já seguiam a ordem cronológica e a via-sacra começou a encontrar sua forma atual, justamente no tempo da crescente devoção para com os sofrimentos de Jesus.

Para quem não podia ir até a Terra Santa, os mesmos franciscanos divulgaram as estações da Via Crucis substituídas por quadros pintados. As estações 13 e 14 surgiram no séc. XIV juntamente com as imagens dos sete Passos: Jesus na coluna,
Ecce Homo, as imagens da Procissão do Encontro e do corpo do Senhor Morto, numa sepultura aberta.

O santo frade Leonardo de Porto Maurício (1676-1751) sozinho instalou 576 via-sacras. As orações de uma via-sacra constam no manual:
"Sanctos Exercicios Quotidianos" (1773).

A mulher Santa Verônica, a três quedas de Jesus e o encontro de Jesus com sua mãe, não constam nos Evangelhos. Por isso o papa João Paulo II, em 1991, propôs algumas mudanças na via-sacra.

2. As novas práticas no Brasil

Em muitos centros de romaria, existia a via-sacra pública: em Juazeiro do Norte (CE), Bom Jesus da Lapa (BA), Canindé (CE), e em Aparecida do Norte (SP).

No Rio Grande do Sul, o termo via-sacra poderá indicar a encomendação das almas, realizada na zona rural, nas sextas-feiras da Quaresma. Ao som da matraca e após o pôr do sol, um grupo ou terno de pessoas, dirigido por um capelão, visita às casas para rezar pelas almas. Inicialmente, a casa visitada ficava em silêncio com as portas e janelas fechadas. O capelão alterna orações cantadas com o terno. Depois oferece preces para as almas dos enforcados, dos aflitos, dos acidentados, etc. que são respondidas pelos donos da casa. Após mais algumas orações, a critério do capelão, é permitida a entrada do terno, somente pela porta dos fundos. Recebem um café preto, um chimarrão ou um gole de bebida alcoólica. Terminam a visita com o canto:
“Bendito louvado seja da puríssima Conceição da Virgem Maria Senhora Nossa Concebida sem pecado original”.

O grupo vai aumentando com moradores das casas já visitadas que desejam também fazer “penitência”. O canto tradicional da via-sacra é: A morrer crucificado ou, em latim, o
Stabat Mater.

Na sexta-feira santa, às 4 horas da manhã em Sabará (MG), reúnem-se os devotos na igreja do Rosário, munidos de matracas e muitas velas. Para reviver os passos de Jesus até sua crucificação, fazem uma caminhada penitencial até a capela do Senhor Bom Jesus.

Com a Campanha da Fraternidade, surgiram novas formas de vias-sacras que mostram a paixão, morte e ressurreição de Jesus, misturados ao sofrimento do povo brasileiro. No ano de 1999, 3000 crianças e adolescentes, ajudados pela Pastoral do menor, realizaram uma via-sacra pelas ruas do centro de São Paulo (SP).

No mesmo ano, jovens coordenaram a via-sacra em Minas Novas (MG). As preces falavam de uma vida nova para o Vale do Jequitinhonha. O sofrimento estampado no rosto dos atores, já característico do povo do Vale, tornava mais real a encenação da crucifixão. Muitos fiéis choravam emocionados.

Em 1995 em Getúlio Vargas (RS), a 18ª Romaria da Terra encenou e rezou uma via-sacra com relatos do sofrimento do povo de hoje. Na cidade de Ponte dos Carvalhos (PE), o padre passou a celebrar com o povo uma via sacra em que figuravam o camponês, a viúva, a prostituta e até Martin Luther King.

Frei Francisco van der Poel, OFM.

25 de março de 2013

Seis dias antes da Páscoa…


Segunda-feira Santa
Isaias 42, 1-7; João 21, 1-11

Estamos em plena semana santa. Nossa atenção se volta para os últimos momentos da vida do Senhor Jesus, nossa esperança, nosso redentor e esposo de nossos corações. Sabemos perfeitamente que evocando os momentos da vida do Senhor, mormente, o que está ligado à sua paixão e morte, automaticamente, nosso pensamento voa para a noite da luminosidade, para o dia que o Senhor fez para nós, para páscoa. Não somos discípulos do Cristo morto, mas do que reviveu para sempre.

Aquele que amamos, aquele que vai ocupando, aos poucos, todos os espaços do que chamamos de vida espiritual é o eleito do Pai, o Filho muito amado, no qual o Pai se compraz. Esse servo descrito por Isaías tem tudo a ver com o Esposo e Amado de nosso coração. “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas… não esmorecerá nem se deixará abater…. eu o constitui como centro da aliança do povo, como luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
No final dessa semana, uma claridade banhará a terra. Aquele que vai ser transfixado será luminosamente transfigurado.

O salmo de meditação (Sl 26) pode ser colocado nos lábios e no coração de Jesus: “O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida, perante quem eu tremerei? (…) Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes. Espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor!”. Na silenciosa meditação desses dias escutamos a voz do Amado: “O Senhor é minha luz e minha salvação!”.

Seis dias antes da Páscoa o Senhor foi a Betânia. Tinha o coração cheio de interrogações e de apertos. Antes de subir para Jerusalém queria ter a alegria do conforto do encontro com amigos de verdade: Marta, Maria e Lázaro. Estes ofereceram-lhe um jantar, esse momento de calma em que os corações tinham tempo para escutar os sons do interior: apreensão, incentivo e desejo de coragem, vontade de estar com gente fiel. E uma mulher inopinadamente resolve quebrar um frasco de perfume. Judas se mostrou incomodado com tal desperdício. Onde se viu? Tantos necessitados e aquele gasto à toa. O peito de Jesus quase que a estalar de dor teve ainda força de dizer energicamente: “Deixa-a, ela fez isto em vista da minha sepultura. Pobres sempre tereis convosco, enquanto a mim nem sempre me tereis”.

Tudo isso se passou seis dias antes da Páscoa…

Frei Almir Ribeiro Guimarães

24 de março de 2013

“Os passos da Semana Santa”


Frei Almir Ribeiro Guimarães

1. No tempo que passa, vamos construindo nosso semblante eterno. Desde a nossa juventude aprendemos a contemplar a adorável figura de Cristo. Ele foi ocupando lugar central em nossas existências. Alguns de nós, mesmo tendo sido batizados quase como recém-nascidos, na adolescência, na juventude, ou na idade madura, numa das encruzilhadas da vida, fomos seduzidos por Cristo. Tivemos dele um conhecimento experiencial. Ele deixou de ser uma figura do passado e se tornou palpavelmente para nós quem ele é: Senhor vivo e ressuscitado, sentido de nossas vidas. Naquele momento tínhamos vontade de dizer como Paulo que passamos a ter como lixo tudo o que não for Cristo Jesus. Durante os dias da Semana Santa somos convidados a contemplar os passos daquele que nos tocou o coração. Na solene liturgia celebramos o mistério de sua passagem, da páscoa de Cristo, da morte para a vida. Não se trata de um teatro, de uma encenação, de um drama que assistimos como espectadores, mas da atualização nos gestos da Sagrada Liturgia, do mistério pascal. Quando celebramos os dias da Semana Santa e, mais especialmente, o Tríduo Pascal é nossa história que é revivida. Morremos a nós mesmos e ressuscitamos com Cristo Jesus. Somos, com ele, criatura nova. É a Páscoa do Senhor, mas é também a nossa Páscoa.

2. Tudo começa no domingo das palmas. Jesus entra em Jerusalém, montado num burrico, acolhido com ramos de oliveiras, ovacionado como rei. Um rei montado num burrico, depois um rei com uma coroa de espinhos, depois um rei sentado no trono da cruz, depois, finalmente, nosso rei, rei de nossos corações, rei ressuscitado, nosso Senhor “Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a sua Paixão e imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos aos seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que se aproxima e acolhermos aquele Deus que lugar algum pode conter” (…) Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de sua graça, ou melhor, revestidos dele próprio, – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27)- prostremo-nos a seus pés como mantos estendidos” (Santo André de Creta, Of. Das Leituras do Domingo de Ramos).

3. No Domingo das Palmas, além ouvir o relato da Paixão somos levados a contemplar o servo sofredor do Profeta Isaías. Jesus vai iniciar sua dolorida Paixão. Ele é a concretização do servo sofredor sem beleza, nem formosura, aquele do qual se arranca a barba, que se tornaria uma só chaga para que em suas chagas fôssemos salvos. Quando participamos com atenção da Liturgia do Domingo de Ramos damo-nos conta que começou o drama. Paulo nos lembra que ele, de condição divina, tornou-se servo, obediente, obediente até a morte e morte de Cruz. Trata-se da kénosis, do abaixamento. Os discípulos de Jesus não podem querer palmilhar outro caminho. Eles salvarão o mundo com Cristo se tiverem a coragem de servir, no abaixamento… Uma Igreja que não vai ao fundo do poço como seu Chefe é uma Igreja sem o brilho que devia ter.

4. Na quinta-feira santa, de manhã, o Bispo reúne o seu clero e o povo fiel para a Missa do Crisma. Momento importante da vida da Igreja. O Pastor está junto de seus colaboradores, os sacerdotes, os padres. O pastor com os pastores. Nesta manhã são abençoados os óleos para os batizados, para o sacramento da crisma e para a unção dos enfermos, sacramentos da vida, da vida que Cristo nos alcançou com sua paixão, morte e ressurreição. Nesta missa da manhã os sacerdotes renovam seus compromissos, manifestam o desejo de seguirem as orientações do Pastor e viver alegremente seu compromisso celibatário para o bem dos fiéis. Maravilhoso ver um clero idealista, unido ao Bispo e junto do Povo santo de Deus! Ao cair da tarde, os fiéis se reúnem para a Ceia do Senhor. A Igreja prescreve alegria para esse dia: toalhas bonitas, paramentos brancos, flores, hino do Glória, alegria profunda. O Mestre dos olhos do infinito reúne os seus para a ceia do adeus. Antes há um gesto que desconcerta. Ele depõe o manto e, colocando uma toalha à cintura, lava os pés dos seus. Pedro resiste. Não quer aceitar. Mas o Mestre insiste. Só permitindo tal gesto Pedro poderá ter parte com Cristo. O Lavapés é quase um sacramental. As cerimônias desta tarde se passarão com solenidade, mas também despojamento. Dispensam-se muitos comentários. Os gestos falam mais do que as palavras. Jesus, na verdade, faria o verdadeiro lavapés no alto da cruz. O sangue do Salvador lavaria não nossos pés, mas haveria de nos purificar por inteiro, por dentro, lá no fundo de nosso ser gente. Depois de lavar os pés, o Mestre retoma o manto e dá seu corpo e seu sangue. Corpo que é dado e sangue que é vertido. Festa do dom, do amor, festa antecipada. Somente no dia seguinte ele haveria de dar, efetivamente tudo, até a última gota de sangue. Veneramos com respeito imenso esse pão que dá vida e esse sangue que alimenta. Nossas missas não são espetáculos. Elas, na singeleza dos gestos, trazem para o hoje do mundo o corpo que é dado e o sangue que é vertido. Francisco tinha um carinho todo especial pela Eucaristia. “Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igreja que estão pelo mundo inteiro e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo”.

5. A propósito do lavapés: “Pedro falou com bastante rudeza. Julgava bem, mas ignorando o modo como Deus age, foi por espírito de fé que recusou, mas, em seguida, obedeceu de bom coração. Na verdade é assim que o fiel cristão deve se comportar; não deve se obstinar em suas decisões, mas ceder à vontade de Deus. Pois se Pedro exprimiu sua opinião de maneira tão humana, arrependeu-se por amor a Deus” (Das homilias de Severiano de Gábala).

6. Temos todos um carinho extraordinário para com a Eucaristia. Desde a nossa infância aprendemos a olhar com adoração o sacrário e a experimentar paz imensa, na hora da comunhão, quando dizemos que não somos dignos de que o Senhor entre em nossa morada. Importante que saibamos valorizar o domingo, dia da Ceia do Senhor, dia de missa, dia em que a família vai ter com o Mestre. Queremos entrar em comunhão de destino com Cristo. Desejamos ardentemente comer esta ceia que nos revigora e nos robustece. Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, diz a liturgia. Pão, vinho, vida, história, doação, entrega, caridade, sacramento da caridade.

7. Terminada a reunião com os apóstolos, colocados os gestos e ditas as palavras que seriam repetidas depois, através dos tempos, para fazerem a memória do Mestre, Jesus experimentou aperto no coração e foi rezar no Jardim das Oliveiras. As veias e artérias do Senhor se estreitaram. Ele sua sangue. Pede que o Pai afaste o cálice…. os apóstolos dormem…e Jesus se entrega ao Pai, que nele se faça a vontade do Pai…O Mestre é traído, julgado, mal julgado, rapidamente julgado. E condenado. As coisas se aceleram. A véspera da grande festa pedia que tudo se consumasse antes do por do sol. Não havia tempo. Esse que carrega a cruz, esse que está sentado no trono da cruz, esse que não consegue enxergar porque seus olhos estão cheios de sangue, de escarro e de poeira lá está feito o mais vil de todos os homens. Tudo isso aconteceu para pudéssemos abandonar as trevas e ser alçados à luz. Temos vontade de gritar com Francisco: “O amor não é amado, o amor não é amado…” Ficamos sempre impressionados com a figura de Maria, ao pé da cruz, a Pietà, a Senhora das Dores, aquela que, naquele momento, compreendera a palavra do velho Simeão: “uma espada de dor atravessará teu coração…”. E, depois de algumas horas de sofrimento e abandono, de silêncio e de total prostração, inclinando a cabeça, ele morre para a vida do mundo.

8. “Queres compreender mais profundamente o poder esse sangue? Repara onde começou a correr e de que fonte brotou? Começou a brotar da própria cruz e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista,um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com esse cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro, e eu recebi o fruto do sacrifício.”(São João Crisóstomo). Diante da cruz temos vontade de repetir com a Liturgia: “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”.

9. O sábado santo é dia de silêncio. Os antigos escritores sagrados afirmam que o rei dormia ele foi até o Hades, aos abismos para buscar Adão e tirá-lo das trevas. Sábado santo, dia de recolhimento e de meditação, dia de silêncio. “Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grane silêncio e uma grande solidão. Grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Vai antes à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos” (De uma Homilia antiga do grande sábado).
10. A Igreja se enfeita de luzes e harmonias na vigília da ressurreição. Fora do templo, prepara-se a fogueira. O círio é aceso, ele penetra no templo, espanca as trevas, acaba-se o combate entre a escuridão e a claridade. A luz saiu vitoriosa. Jesus vive. É O Senhor. Ressuscitou. Exulte a Igreja inteira por uma tão bela noite. Para trás o deserto, o Mar Vermelho, o tempo do maná e das codornizes, das panelas do Egito e das incertezas durante a travessia rumo à Terra Prometida. Chegamos ao Coração do Senhor, nossa Terra Prometida, ressuscitado, vivo. Tomamos posse da verdadeira Terra Prometida. Para sempre o Senhor nos tirou das trevas e da morte e passamos a ser luz e vida. Noite santa da Vigília, noite dos batismos, noite da renovação de nossos compromissos cristãos, noite da água e da luz, do aleluia e do júbilo. “Nesta solenidade à sombra da árvore da fé brilha o esplendor dos círios com o fulgor que irradia da pura fonte batismal. Nesta solenidade, desce do céu o dom da graça que santifica os recém-nascidos e o sacramento espiritual do admirável mistério que os alimenta. Nessa solenidade a assembléia dos fiéis, alimentada no regaço materno, adorando a Unidade da natureza divina e o nome da Trindade, canta com o Profeta o salmo da grande festa anual: Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 117, 24).

Concluindo

Ela, a mulher de Magdala, tinha se levantado muito cedo, cedo demais. Não tinha dormido. Queria levar ungüentos para o corpo do seu Senhor. E, de repente, ele não estava lá. Haviam roubado o Corpo de seu Senhor. Ela corre, indaga, pergunta, questiona. Não suporta mais. Haviam matado seu Amor e agora roubado seu Corpo. E depois das inquirições Maria ouve o Mestre, sob a aparência de um Jardineiro. “Maria” . “Mestre… meu Mestre”. Aquele que havia cativado o coração de Maria vivia. A vida tem sentido.

Cristo, nossa esperança vive no meio de nós. Aleluia!

23 de março de 2013

Reflexão - Desculpar




“A vingança nos torna igual aos inimigos. O perdão faz-nos superiores a ele”. 

Nas relações humanas têm momentos onde ferimos as pessoas; noutros momentos, ferimos até aquelas que amamos. As rosas possuem espinhos para proteger sua delicadeza… E nós aprendemos a retirá-los para apreciarmos ainda mais sua beleza e seu perfume. Tal comparação também pode ser feita para nossas vidas: em algum momento da vida ferimos as pessoas para proteger a nossa fragilidade, nossa incapacidade, nosso medo… Desculpar, perdoar são atitudes que nos elevam, nos fazem crescer!

Quando des-culpamos, estamos tirando o fardo que pesa sobre os ombros dos outros. Quando somo desculpados, são os outros que retiram os fardos que pesam sobre nós. O perdão é algo divino, pois nos ajuda a criar a semelhança de Deus em nós. Quando perdoamos crescemos em nossa humanidade, quando perdoamos ascendemos em nossa divindade. Desculpar e perdoar nos faz mais gente, mais humanos, mais generosos… E o divino brilha em nós!

Frei Paulo Sérgio, ofm.

22 de março de 2013

O papa Francisco de Assis





Frei Jacir de Freitas Faria, OFM (*)



Atônito, o mudo recebeu a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. Surpreso, o mundo acolheu o argentino Jorge Mário Bergoglio, oriundo do ‘quase fim do mundo’, para ser o Papa Francisco. Alguns arriscaram um palpite sobre o nome do futuro papa: quem sabe Francisco? Seria simbólico. Durante o conclave, a praça São Pedro acolheu um italiano de nome  Massimo, que havia caminhado a pé, vestido franciscanamente como os pobres de Assis, desde a cidade de São Francisco, para rezar pelo novo papa. Em suas orações, ele implorou ‘um papa para os pobres e próximo deles’.

Estaria aí o espírito de Francisco de Assis inspirando o conclave? Sim. Um papa jesuíta escolheu o nome Francisco como marco inspirador de seu pontificado. E ele mesmo explicou o porquê da escolha do nome: “Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo. Quando a coisa começou a ficar um pouco ‘perigosa’, ele começou a me tranquilizar. E quando os votos chegaram a 2/3, aconteceu o aplauso esperado pois, afinal, eu havia sido eleito Papa. Ele me abraçou, me beijou e disse: ‘não se esqueça dos pobres’. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente me lembrei de São Francisco de Assis e desejei uma igreja pobre, para os pobres. O nome apareceu no meu coração. Para mim, São Francisco é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e protege as criaturas.”

Nascido no ano de 1182, na bucólica Assis, cidade italiana que ainda se conserva medieval, Francisco marcou o seu tempo pelo seu amor à natureza. Patrono da Itália, ele é lembrado como o homem da “paz e do bem”. Natureza, paz, harmonia formam o tripé da mística franciscana pela não violência. Amor aos pobres, simplicidade, minoridade, humildade e diálogo formam o legado que Francisco de Assis nos deixou.

No episódio do chamado de São Francisco, conta-se que o jovem e rico Francisco estava rezando diante do crucifixo na igreja de São Damião, em Assis, quando o crucificado lhe falou: “Francisco, vai e restaura a minha igreja, que está em ruínas” (S.Boaventura, Legenda Maior II,1). Entusiasmado, ele saiu dali, vestiu um túnica de pobre e começou a reconstruir as paredes da igrejinha da Prociúncula, com pedras, conforme ele pedia.

Não demorou muito e Francisco percebeu que não se tratava de reconstruir não a igreja de pedra, mas a outra, que estava em decadência, envolta em escândalos que feriam os princípios do evangelho. A restauração seria espiritual, a da “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”.

As atitudes de simplicidade e acolhida do Papa Francisco encantou o mundo. O fato de ele pedir para ser abençoado; não usar a cruz de ouro própria dos papas, tampouco os sapatos vermelhos; solicitar aos argentinos para não irem a Roma para a missa de posse, mas dar o dinheiro a viagem aos pobres; não aceitar usar o carro papal etc. são sinais evidentes de sua escolha pelo nome Francisco de Assis, o santo dos pobres e do povo.

“A Cúria Romana precisa urgente e estruturalmente ser reformada, assim como o seu modo de evangelizar” afirmou Dom Cláudio Hummes. Aliado a isso, muitas outras questões estão no coração do papa e nas páginas dos jornais. Que Deus ilumine o papa Francisco, aquele que veio para reformar como São Francisco de Assis. Era isso o que a Igreja mais precisava neste momento. Sua escolha foi iluminada pelo Espírito Santo, que continuará nos iluminando, a nós e ao papa jesuíta de coração franciscano.


(*) Frei Jacir de Freitas Faria, OFM, é frade  franciscano, escritor, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, especialista em evangelhos apócrifos, professor de exegese bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, em Belo Horizonte e em cursos de Teologia para leigos.  Autor do livro ”Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos. Poder e heresias!” (Vozes), dentre outros. Veja mais: www.bibliaeapocrifos.com.br

21 de março de 2013

Reflexão - Ternura


“Ternura é aquele afeto brando, que no amor nos leva a dar mais do que receber”. Manuel Bandeira.

Sentir é o verbo mais afetuoso que a vida nos entrega a todo momento e que, muitas vezes, se alimenta de uma espera desatenta, de um olhar amorosa, de um toque que aquece o coração… Que a gente possa aprender a ter um olhar capaz de enxergar nas miudezas da vida a beleza da própria vida, o encanto que há nos corações, a bondade que ainda existe na alma das pessoas!

A ternura é um sentimento que faz a gente continuar acreditando, através de gestos, que é possível viver com mais amor, solidariedade e delicadeza. Abaixo a rudeza, a grosseria, os gritos, o desequilíbrio… Que possamos crescer nesse espírito fraterno que permite plantar e colher coisas boas, gestos bondosos, alegria e muito senso de gratidão ao Criador pela beleza da vida…

Frei Paulo Sérgio, ofm

19 de março de 2013

19/03 - São José


Esposo da Virgem Maria, pai legal de Jesus, patrono da Igreja, dos carpinteiros e dos doentes.


Festa para toda a Igreja, para os carpinteiros, para os pais e suas famílias, para os doentes que honram São José como seu patrono. O nome de José é muito comum e por isso mesmo são muitos os que hoje festejam seu onomástico. Também é festa para a Ordem Franciscana, pois São José é um dos seus protetores: muitos santos religiosos têm por ele uma terna devoção. Muitos membros da Ordem difundiram amplamente seu culto.
São raros os dados sobre as origens, a infância e a juventude de José, o humilde carpinteiro de Nazaré, pai terrestre e adotivo de Jesus Cristo, e esposo da Virgem de todas as virgens, Maria. Sabemos apenas que era descendente da casa de David. Mas, a parte de sua vida da qual temos todo o conhecimento basta para que sua canonização seja justificada. José é, praticamente, o último elo de ligação entre o Velho e o Novo Testamento, o derradeiro patriarca que recebeu a comunicação de Deus vivo, através do caminho simples dos sonhos. Sobretudo escutou a palavra de Deus vivo. Escutando no silêncio.
Nas Sagradas Escrituras não há uma palavra sequer pronunciada por José. Mas, sua missão na História da Salvação Humana é das mais importantes: dar um nome a Jesus e fazê-lo descendente de David, necessário para que as profecias se cumprissem. Por isso, na Igreja, José recebeu o título de “homem justo”. A palavra “justo” recorda a sua retidão moral, a sua sincera adesão ao exercício da lei e a sua atitude de abertura total à vontade do Pai celestial. Também nos momentos difíceis e às vezes dramáticos, o humilde carpinteiro de Nazaré nunca arrogou para si mesmo o direito de pôr em discussão o projeto de Deus. Esperou a chamada do Senhor e em silêncio respeitou o mistério, deixando-se orientar pelo Altíssimo.
Quando recebeu a tarefa, cumpriu-a com dócil responsabilidade: escutou solícito o anjo, quando se tratou de tomar como esposa a Virgem de Nazaré, na fuga para o Egito e no regresso para Israel (Mt 1 e 2, 18-25 e13-23). Com poucos mas significativos traços, os evangelistas o descreveram como cuidadoso guardião de Jesus, esposo atento e fiel, que exerceu a autoridade familiar numa constante atitude de serviço. As Sagradas Escrituras nada mais nos dizem sobre ele, mas neste silêncio está encerrado o próprio estilo da sua missão: uma existência vivida no anonimato de todos os dias, mas com uma fé segura na Providência.
Somente uma fé profunda poderia fazer com que alguém se mostrasse tão disponível à vontade de Deus. José amou, acreditou, confiou em Deus e no Messias, com toda sua esperança. Apesar da grande importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua morte. Os teólogos acreditam que José tenha morrido três anos antes da crucificação de Jesus, ou seja quanto Ele tinha trinta anos.
Por isso, hoje é dia de festa para a Fé. O culto a São José começou no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade. Em 1870, o Papa Pio IX o proclamou São José, padroeiro universal da Igreja e, a partir de então, passou a ser venerado no dia 19 de março. Porém, em 1955, o Papa Pio XII fixou também, o dia primeiro de maio para celebrar São José, o trabalhador. Enquanto, o Papa João XXIII, inseriu o nome de São José no Cânone romano, durante o seu pontificado.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

18 de março de 2013

Reflexão - Respeito


“Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram” (Machado de Assis).

Quem pensa nas consequências dos seus gestos sabe que as pessoas nos respeitam muito mais pelas imagens que construímos dentro delas do que pelas palavras que proferimos fora delas. E a construção que é feita dentro é que tem valor, pois é o que marca, é que fica, é o que permanece… E nessa experiência devemos ter a gentileza suficiente para não permitir que os cristais se quebrem…

Daí a importância fundamental do cuidado que devemos ter quando estamos pisando o chão sagrado da alma das pessoas. É aí que podemos ganhar o perder, elevar ou destruir… É aí que podemos construir um espaço amoroso onde o respeito, a igualdade e a liberdade devem reinar. Se você ama, então deve acolher a outra pessoa como ela é, ainda que você preferisse que ela fosse diferente…

Tenha uma ótima e produtiva semana!

Frei Paulo Sérgio, ofm

16 de março de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana - III

Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº



Uma Teologia Franciscana olha a floração que vem dos textos sagrados. É a floração do saber e viver com raiz na fé. É recolher o fruto saboroso que vem do solo fértil da fé. 

O humano, pequeno fragmento da Criação, quer ver, contemplar e louvar. Como procurar? Como conhecer? Invocar com fé e louvor. O Inefável, o Imenso está nos seres por Presença, nada lhe é oculto; por Substância (existe em todas as coisas); e por Potência (opera em todas as coisas ). Quais são as suas Perfeições? Quais são as suas Qualidades? Para Francisco, a qualidade é a melhor maneira de não se prender à quantidade.

A Teologia Franciscana não é uma disciplina, é a Vida! Por isso, aquele mendigo que andou pelas ruas de Assis não tinha menos competência que um teólogo... Ele também pôde falar do encanto da vida. Ele tinha intuição, o teólogo tinha a ciência. A teologia tinha a leitura de sua experiência de fé, mas não a sua fé. Ele tinha a evidência do Infinito.


Continua.


Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

15 de março de 2013

O Papa Francisco, chamado a restaurar a Igreja

* Texto de Leonardo Boff

Nas redes sociais havia anunciado que o futuro Papa iria se chamar Francisco. E não me enganei. Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer:”Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruinas”(S.Boaventura, Legenda Maior II,1).

Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruíu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”(op.cit). Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.

É bom que se saiba que Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.

Por que o Card. Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? A meu ver foi exatamente porque se deu conta de que a Igreja, está em ruinas pela desmoralização dos vários escândalos  que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.

Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ”O não de Francisco àquele tipo de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético”(em Zeit Jesu, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo.

Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas e Ratizinger principalmente punham sobre os ombros a mozeta aquela capinha, cheia de brocados e ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Três pontos são de ressaltar em sua fala e são de grande significação simbólica.

O primeiro: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era cobrado. O Papa não deve presidir com como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como o prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.

O segundo: deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos não se reconhecem como irmãos e irmãs mas reféns dos mecanismos da economia.

Por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.

Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Terra e onde vivem 60% dos católicos. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.

*Leonardo Boff é autor de São Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 1999.

14 de março de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana II

Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº

Até que ponto Francisco é um teólogo? Pela sua vida e não pela academia. Seguiu um ideal de “conformitas”, isto é, ter a mesma forma, ser igualzinho a Palavra e a prática sagrada. Isto significava descer do alto da ostentação do poder de quem sabe, de quem pode e de quem tem; abandonar todos os interesses terrenos, inclusive os interesses do próprio corpo, para ascender espiritualmente. Pobre por convicção e seguidor apaixonado do Evangelho de Jesus Cristo. Isto fez Escola!

Seus seguidores perceberam ali uma Teologia própria e original. Descobriram vestígios de pegadas de um caminho que poderia estar esquecido. A teologia nos lembra que há marcas em nossa alma daquilo que esquecemos. E o Sagrado é o que nos diz algo neste esquecimento. Francisco é uma espécie de saudade que nós temos de nós mesmos. Um fragmento, uma esperança, um momento de mais pura teologia. É difícil dizer porque isto foge ao alcance dos conceitos. O mistério foge da comunicação usual, mas Francisco encontrava esta comunicação. Sua experiência no chão real da fé abriu um caminho de compreensão teológica da existência. Teve um momento que sentiu-se sozinho num mundo de sacralização feita por estruturas religiosas humanas. Ele queria o Sagrado feito por Deus. Foi onde Deus estava. Para ele, o Sagrado faz-se presente em lugares, em momentos, em pessoas, em todo ser criado, em tudo o que está envolvido na manifestação do Sagrado. Ele mostrou que o Sagrado está ao alcance da experiência humana. O temporal deixa transparecer o eterno!

Ao olhar isto a Teologia da Escola Franciscana convoca à valorização da existência. Ela é necessariamente a experiência de Alguém, e este Alguém está aí, é preciso ver! A teologia tem que ser uma ciência de contemplação e não apenas elaboração de conceitos. Ela nos convoca: coloque-se no Templo da Vida, contemple! Que seu espírito seja afeiçoado por aquilo que você contempla da vida e na vida. Ver o Reino do Pai Eterno. É preciso estudar teologia para ver a vida mais presente. A teologia franciscana nos traz a vida para a experiência com mais intensidade. Teólogo é aquele que lê Deus em tudo o que aparece.

Continua


Frei Vitório Mazzuco Fº 

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

13 de março de 2013

Algumas ideias sobre a Teologia Franciscana

Textos de Frei Vitório Mazzuco Fº


Estudar uma Teologia Franciscana presente a partir do século XIV tem valor porque é um passado que se atualiza através da busca da compreensão acadêmica atual. O passado tem valor na medida em que o trazemos para o presente com intensidade e curiosidade. Todos estamos vivendo num ausente que trazemos para o presente através de um conhecimento, de uma curiosidade, de uma compreensão e de uma interpretação. São as modalidades diversas de conhecimento do método teológico que me enviam à compreensão da vida. Se estudarmos bem a Escola Franciscana de Teologia, vamos entender todas as modalidades teológicas. Este é um modo que brinda a Riqueza Universal da Existência. Facilmente, nós passamos por cima das diferenças e vamos para o idêntico.

Nós precisamos da Teologia para clarear algum caminho de fé e conceitos referentes ao Divino. Só o Divino não precisa da Teologia para dizer quem Ele é. Como caminho teológico, entramos nas trilhas da Escola Franciscana. Ela nasceu de um olhar sobre como Francisco de Assis viveu a sua experiência do Sagrado. Francisco não criou e nem nos deu uma Teologia; ele quis apenas mostrar como viveu Deus em sua vida. Os pensadores franciscanos medievais é que elaboraram esta Escola Teológica. É um corpo de ensinamentos que apontam um caminho e não apenas uma doutrina. Teologia Franciscana não é doutrina, mas sim um modo teológico que nos ajuda a perceber a interioridade da vida. É olhar a fé e dizê-la: a fé é a experiência de cada instante.

Deus é a primeira causa da qual o Ser emana formando ideias teológicas e sonhos de eternidade. Ideias eternas são matrizes de tudo o que realmente é. Na compreensão natural e encarnada desta experiência surge Francisco de Assis (1181 – 1226).  Homem tipicamente medieval, carisma irresistível, atraiu grupos de admiradores. Construiu uma comunidade com características fraternas que vivia de esmolas e partilha; uma comunidade que cuidava de leprosos e ia onde ninguém queria ir. Orientava seus seguidores a não aceitar qualquer benefício em dinheiro ou bens materiais; nem armazenar para o futuro ou construir suntuosas moradias. Sua comunidade fraterna transformou-se em Ordem em 1223. Ganhou uma Regra de Vida e foi integrada no jeito eclesial de ser na época. Isto não deve ter deixado Francisco totalmente feliz, mas ele acatou a institucionalização de seu projeto para se proteger da psicose das heresias e de uma provável perseguição; afinal de contas, ele e seus primeiros companheiros estavam vivendo igualzinho o Evangelho. Ele queria apenas isto: ser e viver a Boa Nova!

Continua

Frei Vitório Mazzuco Fº 

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/