22 de março de 2013

O papa Francisco de Assis





Frei Jacir de Freitas Faria, OFM (*)



Atônito, o mudo recebeu a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. Surpreso, o mundo acolheu o argentino Jorge Mário Bergoglio, oriundo do ‘quase fim do mundo’, para ser o Papa Francisco. Alguns arriscaram um palpite sobre o nome do futuro papa: quem sabe Francisco? Seria simbólico. Durante o conclave, a praça São Pedro acolheu um italiano de nome  Massimo, que havia caminhado a pé, vestido franciscanamente como os pobres de Assis, desde a cidade de São Francisco, para rezar pelo novo papa. Em suas orações, ele implorou ‘um papa para os pobres e próximo deles’.

Estaria aí o espírito de Francisco de Assis inspirando o conclave? Sim. Um papa jesuíta escolheu o nome Francisco como marco inspirador de seu pontificado. E ele mesmo explicou o porquê da escolha do nome: “Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo. Quando a coisa começou a ficar um pouco ‘perigosa’, ele começou a me tranquilizar. E quando os votos chegaram a 2/3, aconteceu o aplauso esperado pois, afinal, eu havia sido eleito Papa. Ele me abraçou, me beijou e disse: ‘não se esqueça dos pobres’. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente me lembrei de São Francisco de Assis e desejei uma igreja pobre, para os pobres. O nome apareceu no meu coração. Para mim, São Francisco é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e protege as criaturas.”

Nascido no ano de 1182, na bucólica Assis, cidade italiana que ainda se conserva medieval, Francisco marcou o seu tempo pelo seu amor à natureza. Patrono da Itália, ele é lembrado como o homem da “paz e do bem”. Natureza, paz, harmonia formam o tripé da mística franciscana pela não violência. Amor aos pobres, simplicidade, minoridade, humildade e diálogo formam o legado que Francisco de Assis nos deixou.

No episódio do chamado de São Francisco, conta-se que o jovem e rico Francisco estava rezando diante do crucifixo na igreja de São Damião, em Assis, quando o crucificado lhe falou: “Francisco, vai e restaura a minha igreja, que está em ruínas” (S.Boaventura, Legenda Maior II,1). Entusiasmado, ele saiu dali, vestiu um túnica de pobre e começou a reconstruir as paredes da igrejinha da Prociúncula, com pedras, conforme ele pedia.

Não demorou muito e Francisco percebeu que não se tratava de reconstruir não a igreja de pedra, mas a outra, que estava em decadência, envolta em escândalos que feriam os princípios do evangelho. A restauração seria espiritual, a da “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”.

As atitudes de simplicidade e acolhida do Papa Francisco encantou o mundo. O fato de ele pedir para ser abençoado; não usar a cruz de ouro própria dos papas, tampouco os sapatos vermelhos; solicitar aos argentinos para não irem a Roma para a missa de posse, mas dar o dinheiro a viagem aos pobres; não aceitar usar o carro papal etc. são sinais evidentes de sua escolha pelo nome Francisco de Assis, o santo dos pobres e do povo.

“A Cúria Romana precisa urgente e estruturalmente ser reformada, assim como o seu modo de evangelizar” afirmou Dom Cláudio Hummes. Aliado a isso, muitas outras questões estão no coração do papa e nas páginas dos jornais. Que Deus ilumine o papa Francisco, aquele que veio para reformar como São Francisco de Assis. Era isso o que a Igreja mais precisava neste momento. Sua escolha foi iluminada pelo Espírito Santo, que continuará nos iluminando, a nós e ao papa jesuíta de coração franciscano.


(*) Frei Jacir de Freitas Faria, OFM, é frade  franciscano, escritor, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, especialista em evangelhos apócrifos, professor de exegese bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, em Belo Horizonte e em cursos de Teologia para leigos.  Autor do livro ”Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos. Poder e heresias!” (Vozes), dentre outros. Veja mais: www.bibliaeapocrifos.com.br

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