30 de março de 2012

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos.Clara de Assis: a coragem de uma mulher apaixonada.



Escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.

Entre Francisco e Clara, "irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo pois sem o Eros nada existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião, Eros que é a fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si mesmo”, escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor, citando um dos melhores pesquisadores de Clara de Assis.

Segundo ele, "esse Eros fez com que ambos se amassem e se cuidassem mutuamente mas numa transfiguração espiritual que impediu que se fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de a "minha Plantinha”. Três paixões cultivaram juntos ao longo de toda vida: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem".

Eis o artigo.

Há 800 anos, na noite de 19 de março de 1221, dia seguinte à festa de Domingos de Ramos, Clara de Assis, toda adornada, fugiu de casa para unir-se ao grupo de Francisco de Assis na capelinha da Porciúncula que ainda hoje existe. As clarissas do mundo inteiro e toda a família franciscana celebram esta data que significa a fundação da Ordem de Santa Clara espalhada pelo mundo inteiro.

Clara junto com Francisco - nunca devemos separá-los, pois se haviam prometido, em seu puro amor, que "nunca mais se separariam” segundo a bela legenda época - representa uma das figuras mais luminosas da Cristandade. É bom lembrá-la neste mês de março, dedicado às mulheres. Por causa dela, há milhões de Claras e Maria Claras no mundo inteiro. Ela, de família nobre de Assis, dos Favarone, e ele, filho de um rico e afluente mercador de tecidos, dos Bernardone.

Com 16 anos de idade quis conhecer o então já famoso Francisco com cerca de 30 anos. Bona, sua amiga íntima conta, sob juramento nas atas de canonização, que entre 1210 e 1212 Clara "foi muitas vezes conversar com Francisco, secretamente, para não ser vista pelos parentes e para evitar maledicências”. Destes dois anos de encontro nasceu grande fascínio um pelo outro. Como comenta um de seus melhores pesquisadores, o suíço Anton Rotzetter em seu livro Clara de Assis: a primeira mulher franciscana (Vozes 1994): "neles irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo pois sem o Eros nada existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião, Eros que é a fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si mesmo”(p. 63). Esse Eros fez com que ambos se amassem e se cuidassem mutuamente mas numa transfiguração espiritual que impediu que se fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de a "minha Plantinha”. Três paixões cultivaram juntos ao longo de toda vida: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem. Combinaram então a fuga de Clara para unir-se ao seu grupo que queria viver o evangelho puro e simples.

A cena não tem nada a perder em criatividade, ousadia e beleza, das melhores cenas de amor dos grandes romances ou filmes. Como poderia uma jovem rica e bela fugir de casa para se unir a um grupo parecido com aos "hippies” de hoje? Pois assim devemos representar o movimento inicial de Francisco. Era um grupo de jovens ricos, vivendo em festas e serenatas que resolveram fazer uma opção de total despojamento e rigorosa pobreza nos passos de Jesus pobre. Não queriam fazer caridade para pobres, mas viver com eles e como eles. E o fizeram num espírito de grande jovialidade, sem sequer criticar a opulenta Igreja dos Papas.

Na noite do dia de 19 de março, Clara, escondida, fugiu de casa e chegou à Porciúncula. Entre luzes bruxoleantes, Francisco e os companheiros a receberam festivamente. E em sinal de sua incorporação ao grupo, Francisco lhe cortou os belos cabelos louros. Em seguida, Clara foi vestida com as roupas dos pobres, não tingidas, mais um saco que um vestido. Depois da alegria e das muitas orações foi levada para dormir no convento das beneditinas a 4 km de Assis. 16 dias após, sua irmã mais nova, Ines, também fugiu e se uniu à irmã. A família Favarone tentou, até com violência, retirar as filhas. Mas Clara se agarrou às toalhas do altar, mostrou a cabeça raspada e impediu que a levassem. O mesmo destemor mostrou quando o Papa Inocêncio III não quis aprovar o voto de pobreza absoluta. Lutou tanto até que o Papa enfim consentisse. Assim nasceu a Ordem das Clarissas.

Seu corpo intacto depois de 800 anos comprova, uma vez mais, que o amor é mais forte que a morte.

Fonte: www.ihu.unisinos.br

29 de março de 2012

REFLEXÃO : "A sorte é companheira"

“O dia que você decide fazer é seu dia de sorte.” (Provérbio Japonês)

A sorte tem um hábito peculiar de favorecer aqueles que não dependem dela, por isso ela é uma energia positiva que nos impele a seguir em frente, a batalhar, a lutar… Sorte é tenacidade de propósito; é ter ideais, metas e objetivos a serem atingidos. A sorte é companheira e amiga daqueles (as) que levantam cedo e são capazes de expor sua vida e sua luta diante do sol.

Decida sempre por querer algo mais, por atingir patamares ainda não atingidos, por galgar degraus que estão acima de você. Quem se contenta com o pouco, acaba estacionando na vida, perdendo o desejo do vôo e olhar no infinito. A sorte é audácia daqueles (as) que sonham e lutam pela realização de seus sonhos. Como dizia Sêneca (pensador romano), “a sorte respeita os valentes e oprime os covardes”…

Tenha um dia pleno de luz, de luta e de muita sorte…

Frei Paulo Sérgio, OFM

28 de março de 2012

Sete Dores de Nossa Senhora

Sete Dores de Nossa Senhora

Esta semana que precede o domingo de Ramos é dedicada à lembrança das dores de Nossa Senhora.

Esta devoção teve início na Itália em 1617, pela Ordem dos Servos de Maria, assim como a missa que é celebrada, em todo mundo, em 15 de setembro e é um dos frutos do carisma mariano, cultivado desde 1233 nessa Ordem. As Dores de Nossa Senhora nos comovam o coração, impulsionando-nos para a prática do bem.


1ª. Dor - Apresentação de meu Filho no templo

Nesta primeira dor veremos como o coração de Maria Santíssima foi transpassado por uma espada, quando Simeão profetizou que o Filho dela seria a salvação de muitos, mas também serviria para ruína de outros. A virtude que aprendemos nesta dor é a da santa obediência. Sejamos obedientes aos superiores, porque são eles instrumentos de Deus.

Quando soube que uma espada lhe atravessaria a alma, desde aquele instante Maria experimentou sempre uma grande dor, mas sempre olhava para o Céu e dizia: 'Em vós confio'. Quem confia em Deus jamais será confundido. Em nossas penas, angústias, confiemos em Deus e jamais nos arrependeremos dessa confiança.

Quando a obediência nos trouxer qualquer sacrifício, confiando em Deus, a Ele entreguemos nossas dores e apreensões, sofrendo de bom grado por amor. Obedeçamos não por motivos humanos, mas pelo amor Daquele que por nosso amor se fez obediente até a morte de Cruz.

2ª. Dor - A fuga para o Egito

Irmãos, quando Jesus, Maria e José fugiram para o Egito, foi grande dor saber que desejavam matar o seu filho, aquele que trazia a salvação! Maria não se aflige pelas dificuldades em terras longínquas; mas por ver seu filho inocente perseguido, por ser o Redentor. Maria suportou o exílio por amor e por alegria por Deus fazer dela cooperadora do mistério da salvação. No exílio Maria sofreu provocações, mas as portas do Céu futuramente abriam para Maria. Esta dor nos ensina a aceitar as provocações do dia-a-dia com alegria de quem sofre para agradar a Deus. Esse agir e esse procedimento chamam-se santidade. No meio da dor sofrem os infelizes, entregam-se ao desespero, porque não têm a amizade divina, que traz paz e confiança em Deus. Por isso, somos convidados a aceitar os sofrimentos por amor a Deus. Exultemos de alegria, porque grande é o nosso merecimento, assemelhando-nos a Jesus Crucificado, que tanto sofreu por amor a vossas almas!

3ª. Dor - Perda do Menino Jesus

Maria procurou Jesus por três dias. Maria tinha consciência de que Ele era o Messias prometido. Quando o encontrou no Templo, no meio dos doutores, ao dizer-lhe que havia deixado sua mãe três dias em aflição, ele respondeu-lhe: “Eu vim ao mundo para cuidar dos interesses de meu Pai, que está no Céu”. À esta resposta do meigo Jesus, Maria emudeceu e compreendeu que sendo o seu Filho, Homem e Deus, aquele que salva assim deveria proceder, submetendo a sua vida à vontade de Deus, que muitas vezes nos fere em proveito de nossos irmãos.

Jesus deixou Maria por três dias angustiada para proveito da salvação. Aqui devemos contemplar as mães que choram, ao verem os seus filhos generosos ouvirem o chamamento divino, aprendendo com Maria a sacrificar o seu amor natural. Se seus filhos forem chamados para trabalhar na vinha do Senhor, não abafem tão nobre aspiração, como é a vocação religiosa. Mães e pais dedicados, ainda que o seu coração sangre de dor, deixem seus filhos partirem, deixem corresponder aos desígnios de Deus, que usa com eles de tanta predileção. Pais que sofrem, ofertem a Deus a dor da separação, para que seus filhos, que foram chamados, possam ser na realidade bons filhos Daquele que os chamou. Lembrem-se que seus filhos a Deus pertencem e não a vocês. Devem criá-los para servir e amar a Deus neste mundo, e um dia no Céu O louvarem por toda a eternidade.

Pobres aqueles que querem prender seus filhos, abafando-lhes a vocação! Os pais que assim procedem podem levar seus filhos à perdição eterna e ainda terão que dar contas a Deus no último dia. Porém, protegendo suas vocações, encaminhando-os para tão nobre fim, que bela recompensa receberão estes pais afortunados! Ainda que aqui chorem de saudades e a separação lhes custe muitas lágrimas, eles serão abençoados! E vocês, filhos prediletos chamados por Deus, procedam como Jesus procedeu comigo: primeiramente obedeça à vontade de Deus, que os chamou para habitar na sua casa, quando diz: 'Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim não é digno de Mim'. Vigiem se, por causa de um amor natural, deixam de corresponder ao chamado divino!

Almas eleitas chamadas e que sacrificam as afeições mais caras e a sua própria vontade para servir a Deus! Grande é sua recompensa. Avante! Sejam generosas em tudo e louvem a Deus por terem sido escolhidas para tão nobre fim.

Vocês que choram, pais, irmãos, regozijam-se, porque suas lágrimas um dia converter-se-ão em pérolas, como as de Maria Santíssima se converteram em favor da humanidade.

4ª. Dor - Doloroso encontro no caminho do Calvário

Contemplemos e vejamos se há dor semelhante à dor de Maria Santíssima, quando encontrou-se com seu divino Filho a caminho do Calvário, carregando uma pesada cruz e insultado como se fosse um criminoso.

'É preciso que o Filho de Deus seja esmagado para abrir as portas da mansão da paz!' Lembremo-nos de suas palavras e aceitemos a vontade do Altíssimo, nossa força em horas tão cruéis de nossa vida.

Ao encontrá-lo, Jesus fitou os olhos de Maria e a fez compreender a dor de sua alma. Não pôde dizer-lhe palavra, porém a fez compreender que era necessário que se unisse à Sua grande dor. Amados irmãos, a união da grande dor de Maria e Jesus nesse encontro tem sido a força de tantos mártires e de tantas mães aflitas!

Almas que temem o sacrifício aprendam nesta meditação a se submeterem à vontade de Deus, como Maria e Jesus se submeteram! Aprendam a calar nos seus sofrimentos.

No nosso silêncio, nesta dor imensa, armazenamos riquezas imensuráveis! Nossas almas hão de sentir a eficácia desta riqueza na hora em que, abatidos pela dor, recorrermos a Maria, fazendo a meditação deste encontro dolorosíssimo. O valor do nosso silêncio se converte em força, quando nas horas difíceis soubermos recorrer à meditação desta dor!

Como é precioso o silêncio nas horas de sofrimentos! Há almas que não sabem sofrer uma dor física, uma tortura de alma em silêncio; desejam logo contá-la para que todos o lastimem! Jesus e Maria tudo suportaram em silêncio por amor a Deus!

A dor humilha e é na santa humildade que Deus edifica! Sem a humildade, trabalhamos em vão; vejam pois como a dor é necessária para a nossa santificação.

Aprendamos a sofrer em silêncio, como Maria e Jesus sofreram neste doloroso encontro no caminho do Calvário.

5ª. Dor - Aos pés da Cruz

Na meditação desta dor encontraremos consolo e força para nossas almas contra mil tentações e dificuldades e aprenderemos a ser fortes em todos os combates de nossa vida.

Contemplemos Maria aos pés da Cruz, assistindo à morte de Jesus, com a alma e o coração transpassados com as mais cruéis dores!

Não nos escandalizemos com o que fizeram os judeus! Eles diziam: 'Se Ele é Deus, por que não desce da cruz e se livra a si próprio?!' Infelizes aqueles que não crêem que Jesus é o Messias. Não podem compreender que um Deus se humilhasse tanto e que a sua divina doutrina pregava a humildade. Jesus precisava dar o exemplo, para que seus filhos tivessem a força de praticar uma virtude, que tanto custa aos filhos deste mundo, que têm nas veias a herança do orgulho. Infelizes os que, à imitação dos que crucificaram a Jesus, ainda hoje não sabem se humilhar!

Depois de três horas de tormentosa agonia, Jesus morre, deixando Maria na mais negra escuridão! Sem duvidar um só instante, ela, contido, aceitou a vontade de Deus e, no seu doloroso silêncio, entregou ao Pai sua imensa dor, pedindo, como Jesus, perdão para os criminosos.

Entretanto, quem a confortou nessa hora angustiosa? Fazer a vontade de Deus foi o seu conforto; saber que o Céu foi aberto para todos os filhos foi seu consolo! Porque Maria também no Calvário foi provada com o abandono de toda consolação!

Sofrer em união com os sofrimentos de Jesus encontra consolo; sofrer por ter feito o bem neste mundo, recebendo desprezos e humilhações encontra força.

Que glória para nossas almas se um dia, por amarmos a Deus com todo o nosso coração, formos também perseguidos!

Aprendamos a meditar muitas vezes esta dor, que ela nos dará força para sermos humildes: virtude amada de Deus e dos homens de boa vontade.

6ª. Dor - Uma lança atravessa o Coração de Jesus

Com a alma imersa na mais profunda dor, Maria viu Longinus transpassar o coração de seu Filho, sem poder dizer uma palavra! Derramou muitas lágrimas... Só Deus pode compreender o martírio desta hora, na alma e no coração!

Depois depositaram Jesus em seus braços, não cândido e belo como em Belém... Morto e chagado, parecendo mais um leproso do que aquele adorável e encantador menino, que tantas vezes apertara ao seu coração!

Se Maria tanto sofreu, não será ela capaz de compreender os nossos sofrimentos? Por que, então, não recorramos a Maria com mais confiança, ela que tem tanto valor diante do Altíssimo?

Por muito ter sofrido aos pés da cruz, muito lhe foi dado! Se não tivesse sofrido tanto, não teria recebido os tesouros do Paraíso em suas mãos.

A dor de ver transpassar o Coração de Jesus com a lança, conferiu a Maria o poder de introduzir, em seu amável Coração, a todos aqueles que a ele recorrerem. Corramos todos a Maria, porque ela pode nos colocar dentro do Coração Santíssimo de Jesus Crucificado, morada de amor e de eterna felicidade!

O sofrimento é sempre um bem para a alma. Regozijemo-nos, pois, com Maria, que foi a segunda mártir do Calvário! Sua alma e seu coração participaram dos suplícios do Salvador, conforme a vontade do Altíssimo, para reparar o pecado da primeira mulher! Jesus foi o novo Adão e Maria a nova Eva, livrando assim a humanidade do cativeiro no qual se achava presa.

Para correspondemos, porém, a tanto amor, sejamos muito confiantes em Maria, não nos afligindo nas contrariedades da vida; ao contrário, confiemos todos os nossos receios e dores a Ela, que saberá dar em abundância os tesouros do Coração de Jesus!

Não nos esqueçamos de meditar esta imensa dor, quando nossa cruz estiver pesada. Nela encontraremos força para sofrer por amor a Jesus que sofreu na Cruz a mais infame das mortes.

7ª. Dor - Jesus é sepultado

Quanta dor padeceu Maria quando teve que ver sepultado seu Filho. A quanta humilhação seu Filho se sujeitou, deixando-se sepultar, sendo Ele o mesmo Deus! Por humildade, Jesus submeteu-se à própria sepultura, para depois, glorioso, ressuscitar dentre os mortos!

Bem sabia Jesus o quanto Maria sofreria vendo-o sepultado; não a poupando, quis que Maria também fosse participante na sua infinita humilhação!

Vejamos como Deus amou a humilhação! Tanto que deixou-se sepultar nos santos Sacrários, a esconder sua majestade e esplendor, até o fim do mundo! Na verdade, o que se vê no Sacrário? Apenas uma Hóstia Branca e nada mais! Ele esconde sua magnificência debaixo da massa branca das espécies de pão! E não o admiramos tanto quanto Ele merece, por Jesus assim Se humilhar até o fim dos séculos!

A humildade não rebaixa o homem, pois Deus Se humilhou até à sepultura e não deixou de ser Deus.

Se queremos corresponder ao amor de Jesus, devemos mostrar que O amamos, aceitando as humilhações. A aceitação da humilhação nos purifica de toda e qualquer imperfeição e, desprendendo-nos deste mundo, passamos desejar mais intensamente o Paraíso.

Apresentamos estas sete Dores de Maria, não para queixar somente, mas para mostrar as virtudes que devemos praticar, para um dia estar ao seu lado e ao lado de Jesus! Receberemos a glória imortal, que é a recompensa das almas que, neste mundo, souberam morrer para si, vivendo só para Deus!

Nossa Mãe nos abençoa e nos convida a meditar muitas vezes nestas palavras ditadas, porque muito nos amo.

27 de março de 2012

REFLEXÃO : "Energia divina"


“Preocupe-se com a opinião dos outros. Três comportamentos de um verdadeiro líder: ouça, aprenda e saiba elogiar!”
Mandamentos do Relacionamento Humano.

Relacionar-se com as pessoas de maneira gentil e atenciosa é um requisito fundamental para ser um bom vizinho, um bom amigo, um bom colega de trabalho etc. Vale lembrar que Jesus disse que devemos amar o próximo como a nós mesmos (Mt 22, 39) e que esse mandamento é básico para a construção de uma nova humanidade. Somente no amor pelo amor o Reino dos Céus chegará plenamente para todos nós…

O amor é construído sobre fundamentos como respeito, cordialidade, cortesia, capacidade de acolher o diferente e a diferença… Na verdade, o amor é um sentimento sublime que pressupõe tantas outras virtudes, pois ele é uma energia divina que nos faz perceber a vida com outro sentido e outros valores. Procure, pois, acolher as pessoas e demonstre interesse por suas ações e suas vidas. O amor se esconde em ações bondosas e desinteressadas…

Frei Paulo Sérgio, OFM

23 de março de 2012

REFLEXÃO : "Nossa essência"


“Quando o indivíduo tem compromisso com sua essência, a vida não se torna
um fardo pesado de carregar” .
Roberto Shinyashiki.


Essência é aquilo que não pode ser perdido, pois se assim acontecer perderá suas características fundamentais. Cada pessoa carrega sua história, suas experiências e suas características. Procurar por nossa essência é investigar aquilo que nos faz plenamente humanos, ir atrás de nossa identidade. É fundamental fazer esse percurso e responder algumas questões: quem sou? Qual a minha historia? O que me identifica como pessoa? Qual a missão que exerço em favor da humanidade?

Quando temos compromisso com nossa história pessoal, criamos também comunhão com a história humana. Destruir o passado é o mesmo que abandonar uma parte de si próprio. O correto mesmo é resignificar a história, fortalecer os ideais humanos e abrir-se para o futuro com esperança e alegria. Para não esquecer: nós é que transformamos a semente em árvore para poder colher os frutos. Então, siga em frente, semeando alegria, esperança e fé nos corações das pessoas…

Frei Paulo Sérgio, OFM

21 de março de 2012

REFLEXÃO : "Criado para ser único em Deus"


“A principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se
aquilo que ele é potencialmente” .
Erich Fromm
.

Nós, humanos, trazemos um desejo profundo de ir além da matéria, de ver além das aparências. Queremos transcender tudo aquilo que quer impedir o voo… Não nos conformamos com a morte, mas desejamos ardentemente viver sempre mais. Nossa missão é fazer saltar aquilo que já trazemos em nós: capacidade, dons, poder, amor! E essa busca de encontro com nosso EU mais profundo é algo que nunca termina…

Procure conectar-se com seus sentimentos, desejos, sonhos… Procure encontrar comunhão com sua alma, pois é nela que está a energia para você ir além, voar, buscar paisagens nunca vistas! Siga em frente e trabalhe muito para construir sua felicidade com equilíbrio e solidariedade. Não deixe que nada e nem ninguém o (a) impeça de construir essa unidade interior. Você foi criado para ser único no TODO, que é Deus!

Frei Paulo Sérgio, OFM

20 de março de 2012

São Francisco de Assis e a Opção pelos Pobres. (Final)

Em que sentido há em Francisco uma opção pelos pobres?

Não encontramos em Francisco este conceito da maneira como foi compreendido e formulado pelas conferências episcopais latino-americanas. Diríamos antes que Francisco fez opção por Cristo pobre. A opção pelos pobres em Francisco é apenas uma conseqüência: como Cristo quis identificar-se com os pobres, assim também Francisco quer coerentemente ter o pobre como parâmetro e referência concreta para sua identificação como Cristo pobre.

Encontramos em Francisco práticas, algumas instituídas, que são práticas inspiradoras para nossa atual opção pelos pobres. E estamos convencidos de que essas práticas constituem base suficientemente sólida para que hoje a Ordem faça uma opção mais corajosa, decisiva e coerente pelos pobres segundo a concepção hodierna de presença e apoio entre os pobres que se organizam. Atualizar o carisma franciscano não significa repetir as práticas de Francisco, mas colher em suas práticas a inspiração que seja luz para as nossas opções. Retomar hoje esta opção é, segundo nosso entender, a atitude mais coerente com o carisma franciscano.


Pistas concretas como conclusão

Mais importante do que precisar a abrangência dos conceitos de pobre ou de excluído é despertar uma sensibilidade profética que nos permita reconhecer e identificar os processos de empobrecimento e de exclusão (causas, agentes, pacientes, meios, conseqüências).

Somente a partir desta sensibilidade é possível fazermos as opções que são as mais coerentes com o nosso carisma. No mundo de hoje, não é suficiente a conversão individual. Se a Ordem, por exemplo, quiser pedir a conversão de instituições profanas (bancos financeiros, FMI, grupos de países ricos como G 8, etc.), deverá mostrar que é possível a conversão institucional. O documento “Graça das origens” diz: “Reconhecemos a urgência de voltar ao essencial de nossa experiência de fé e de nossa espiritualidade, para nutrir, mediante a oferta libertadora do Evangelho, o nosso mundo dividido, desigual e faminto de sentido, como no seu tempo fizeram Francisco e Clara de Assis”. Em outro lugar, continua: “Queremos viver a graça das origens ‘não só como memória do passado, mas também como profecia do futuro’”.

Voltar ao essencial implica necessariamente uma conversão institucional. É, portanto, chegada a hora da conversão da Ordem, não basta celebrar a conversão de Francisco.

Criar viabilidades deveria ser, segundo nossa maneira de entender, a marca da Ordem nos 800 anos de fundação. Muitas vezes, o discurso não passa à concretização, isto é, não consegue ser levado à prática. A justificação aduzida: não é viável. Ora, quando alguém faz uma opção, cria viabilidades. Se não cria viabilidades, é porque não fez opções. O grande papa Inocêncio III pensava que o modo de vida que Francisco pedia para ser aprovado não era viável. Também hoje se corre o risco de dizer que o evangelho é inviável, como teria respondido ao papa o cardeal João de São Paulo. Por tanto, não se pode dar desculpas de inviabilidade, mas antes criar viabilidades.

É necessário que a Ordem mantenha sua vocação profética. Novamente o documento “Graça das origens” faz o apelo: “Percebemos que é muito forte o chamado a ‘não domesticar as palavras proféticas do Evangelho para adaptá-las a um cômodo estilo de vida’, sentimos ‘a urgência evangélica do nascer de novo’”. Não basta ficar estagnada nas belas formulações das CCGG e de outros documentos; é necessário dar a partida, individual e coletivamente, como Ordem.

Frei Celso Márcio Teixeira, OFM.

19 de março de 2012

REFLEXÃO : "Conhecer a si mesmo"


“Quem conhece os outros é sábio; quem conhece a si mesmo é iluminado”.
Lao-Tsé


A relação mais importante na nossa vida é a relação consigo mesmo. Só podemos nos relacionar bem com as outras pessoas a partir do momento que nos conhecemos, nos aceitamos e que tenhamos aprendido a controlar as nossas emoções. Há muitos séculos, Sócrates apontava para a necessidade fundamental do autoconhecimento. A grande causa dos relacionamentos malsucedidos se prendem a isto. Vivemos num mundo conturbado e enfrentamos mil problemas, que muitas vezes, trazem traumas que marcam nossa maneira de ser e que se não forem conhecidos e enfrentados vão acarretar problemas no nosso relacionamento com as pessoas.

Conhecer a si mesmo não é fácil. Na sociedade em que vivemos nós confundimos isto com aquisições de conhecimentos que nos transformam em identificação de rótulos e características descritivas. Confundimos nossa identidade com nossos papéis. É preciso ir além dos papéis para fazermos contato com nossa história, nossos sonhos, buscas e desejos mais profundos. É preciso coragem e determinação para ir em busca de nosso verdadeiro EU…

Frei Paulo Sérgio, OFM

18 de março de 2012

O Crucifixo Bizantino de São Damião em detalhes.



Foi por meio do Crucifixo de São Damião que Jesus falou a Francisco: “Francisco, reconstrói minha Igreja" (2 Cel: 10- 11). E este fato marca toda a experiência pessoal de Francisco no seguimento de Crist
o Senhor pela radicalidade do Evangelho. Francisco vai tornar presente na sua vida o Mistério do Ressuscitado que Passou pela Cruz. Este fato marcará toda a espiritualidade herdada de Francisco. Como Comunidade nasceu com grande influência de São Francisco, nos tornamos herdeiros da Cruz de São Damião e do anuncio profético e renovador de que Jesus é o Senhor ressuscitado que passou pela Cruz por amor a cada homem.
Poderia, mesmo, afirmar que o ícone da Cruz de São Damião é uma escola oracional de nossa espiritualidade enquanto Ostensório Vivo, enquanto participantes da missão de Francisco de fazer o Amor ser amado por todos os homens no mundo todo.

Um artista desconhecido, natural de Úmbria, pintou o crucifixo no século XII em estilo romântico, sob clara influencia sírio-oriental. Foi pintado num pano colado sobre madeira (nogueira). Tem 1,90m de altura, 1,20m de largura e 12cm de espessura. O mais provável é que tenha sido pintado para ser posto no altar da Igreja de São Damião.
Este é o Crucifixo e o Cristo glorioso que Santa Clara contemplará durante toda a sua vida, durante todo o tempo em que permaneceu no Mosteiro de São Damião (1212 – 1253). Por isso, falará tantas vezes no “Rei da glória”. Em 1257, após a morte de Santa Clara, quando as primeiras clarissas deixaram a igreja de São Damião e passaram a morar na igreja de São Jorge (atual Basílica de Santa Clara), para ficarem junto do corpo de sua Fundadora, levaram consigo este Crucifixo que ficava sobre o altar. A figura central do ícone é o Cristo, não só por seu tamanho, mas também por ser o Cristo a figura luminosa que domina a cena e transmite luz para as demais figuras.
A cruz, cuidadosamente conservada por 700 anos, foi mostrada ao público pela primeira vez, na Semana Santa de 1957, sobre o novo altar da Capela de São Jorge na Basílica de Santa Clara de Assis.

Este crucifixo é de inspiração joanina já que para São João, Cristo Crucificado é o Senhor, o Cordeiro pascal que cumpre tudo segundo a vontade do Pai, no poder do Espírito. No Evangelho de João se fala da Paixão do Senhor como a “sua” hora, em que será Glorificado, não se desassocia a Cruz da Ressurreição. Além disso, João é o único a falar do transpassamento do lado de Cristo e a apresentar os personagens contemplados no ícone. No livro do Apocalipse, João nos fala do Cordeiro imolado mas de Pé, fazendo menção ao mistério do Senhor que vence a morte e trás em si as marcas gloriosas da paixão.

Existem 33 figuras no Ícone:
2 imagens de Cristo
1 mão do Pai
5 figuras maiores
2 figuras menores
14 anjos
2 pessoas nas mãos de Jesus
1 menino pequeno
6 pessoas ao fundo da Cruz
1 galo.
Há 33 cabeças em torno da cruz, dentro das conchas, e sete ao redor da auréola.

A figura do Cristo

A figura central do ícone é o Cristo, não só por seu tamanho, mas também por ser o Cristo a figura luminosa que domina a cena e transmite luz para as demais figuras. "Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (Jo 8, 12). A luz brota do interior da Pessoa de Jesus, viva e vivificante. Como no centro do Castela interior de Santa Teresa, é o Senhor quem dá vida a todas as outras moradas: “Quando Nosso senhor é servido, apieda-se de tudo o que essa alma padece e já padeceu, ansiando por sua presença e amor. Ele já a tomou sobrenaturalmente por sua esposa. Antes de consumar o matrimônio espiritual, a introduz em sua morada, que é a sétima. Assim, como num outro céu, Sua Majestade deve ter em nós um lugar de descanso, onde só Ele reside. Podemos chamá-lo de outro céu. (...) Falemos das almas que fizeram penitência de seus pecados e se acham em estado de graça. Não as consideremos estreitas e limitadas. São um mundo interior, onde cabem tantos e tão lindos aposentos, conforme tendes visto. Dentro delas há um aposento para o próprio Deus”

Como no Ostensório, é Cristo o centro:

“Nossa experiência esponsal com o Senhor se dá, de maneira toda especial, no mistério do Ressuscitado que passou pela cruz, presente na Eucaristia. É na adoração amorosa ao amor de nossas vidas que realizamos o sonho de Deus para nós. Nós nascemos do Senhor Eucarístico, nós existimos no Senhor Eucarístico, nós somos no Senhor Eucarístico e nos encaminhamos para o Senhor Eucarístico. Ele é a fonte e o ápice de nossa existência e até na eternidade este mistério nos tocará!
O Senhor deseja conduzir-nos ao mais íntimo de nós mesmos para nos encontrarmos com Ele; deseja conduzir-nos ao mais íntimo do seu coração e confidenciar-nos segredos de amor. Por isso nossa vocação é profética: anunciamos a partir da nossa vida com o Ressuscitado, pregamos o que d'Ele ouvimos.”

Os olhos de Jesus estão abertos:
Ele olha para o mundo que salvou e diz:”Vinde a mim!”. Ele vive e é eterno. A veste de Jesus é um simples pano sobre o quadril (um efod de linho bordado a ouro) - um símbolo tanto do Sumo Sacerdote como de Vítima; Jesus aparece, assim, como Rei, Sacerdote, Vítima, Altar, Profeta e como Pontífice: a entrega que Ele faz de si ao Pai, no Espírito, é total e radical; é uma entrega de obediência por amor (kenosis). Está ressuscitado e crucificado, crucificado e ressuscitado, é o Cordeiro Imolado, mas de pé. O efod é cingido com três nós, que revelam o Cristo pobre, casto e obediente.
O sofrimento e a morte de Jesus são lidos à luz da sua glorificação, por isso a coroa de espinhos dá lugar à coroa gloriosa da realeza do Cristo Senhor. Na coroa de glória contemplamos a cruz do Senhor envolvida de luz, não negando o seu sofrimento, mas significando a chave de leitura de todo o mistério pascal: a kénosis de Jesus para a nossa salvação e glorificação n’Ele. O tórax e o pescoço são muito fortes, pois estão repletos do Espírito. Atrás dos braços esticados do Cristo está seu túmulo vazio, representado pelo retângulo preto totalmente envolvido-vencido pelo amor redentor do Cristo.

O medalhão e a inscrição.

A ascensão é retratada no círculo vermelho: Cristo está saindo dele segurando uma cruz dourada que, agora é Seu símbolo de realeza. As vestimentas são douradas, símbolo de majestade e vitória. A estola vermelha é um sinal de sua autoridade e dignidade suprema exercidas no amor. Anjos lhe dão boas-vindas no Reino dos Céus, Jesus é o centro do mundo angélico. IHS são as três primeiras letras do nome de Jesus em grego. NAZARÉ é o Nazareno. A ascensão é apresentada dinamicamente acima da inscrição “Jesus nazareno, rei dos judeus.”
“Esse novo que Deus começa a fazer em nós é uma manifestação do seu insondável amor por todos os seus filhos, somos enviados como missionários que tem a missão de preparar os caminhos para o Senhor que vem, e que não tardará. Nossos lábios estarão sempre com o sorriso da expectativa da vinda do Senhor, vinda gloriosa que nos preenche de alegria. Nossa língua materna é o louvor que entoamos em todo tempo e lugar, prolongando o Magnificat de Maria e fazendo-o ecoar onde nossos pés pisarem. Nosso Deus é fiel e quer que esse novo, esse povo que Ele suscita e levanta seja um povo adorador, um povo que se deixa conduzir pelo Espírito, que vive a vida no Espírito. Nossa vida é um dom que Deus faz à Igreja para que ela possa dispor de nós para seus filhos diletos. Nosso testemunho deve ser uma espada de dois gumes a atingir as profundezas da alma de todos aqueles a quem o Senhor nos enviar. Diante de tudo isso que o Senhor nos revela nosso coração só confia, pois sabemos que nada disso somos capazes de realizar se não for Deus a agir em nós, somos Ostensórios, Ele é o centro e a razão de nosso existir, a obra é d'Ele a nós cabe apenas confiar e amar.”

A mão do Pai.

De dentro do semicírculo, na extremidade mais alta da cruz, Ele, que nenhum olho viu, se revela numa benção. Esta benção é dada pela mão direita de Deus, com o dedo estendido. Sob a mão direita está indicado o Espírito Santo (digitus Dei) que assinala todos os verdadeiros penitentes com o Tau.
“Como se vê, essa vocação é uma resposta amorosa do homem ao chamado amoroso de Deus e só a podemos assumir graças a uma especial intervenção do Espírito Santo na nossa história; sem o derramamento do Espírito Santo não há a vocação OV. Assim, nossa alma se enche de louvor, que em nossa vida não se torna um aspecto da oração, mas sim um estado de vida onde tudo se faz ao som do 'magnificat' que canta nossa alma unida a Maria.”

A videira mística.

Em torno da cruz há ornamentos caligráficos que podem significar a videira mística, "Eu sou a videira, vós os ramos..." (Jo 15, 5), e faz relação com "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" (Jo 15, 13), assim, a cruz é lida como Árvore da vida.
Na base da cruz, há algo que parece ser uma pedra - o símbolo da Igreja. É na Igreja que o Senhor depositou os méritos de sua paixão e morte e é por Ela que podemos contemplar as verdades reveladas em Cristo Senhor.
As conchas do mar são símbolos de eternidade - um mistério, guardado no rosto infinito da eternidade, nos é revelado. Entretanto, as conchas permanecem abertas na base da Cruz, dando a entender que o céu se revela a nós na Igreja.

Maria e João.

Como no evangelho de São João, Maria e João são colocados lado a lado. O manto de Maria é branco, significando vitória (Ap 3, 5), purificação (Ap 7, 14) e boas obras (Ap 19, 8) e se estende até o chão. As pedras preciosas no manto dizem respeito às graças do Espírito Santo. O vermelho escuro usado indica intenso amor esponsal, enquanto a veste interna na cor purpúrea lembra a Arca da Aliança (Ex 26, 1-4). A mão esquerda de Maria está no rosto, retratando a aceitação do amor de João, e sua mão direita aponta para Cristo acolhendo João ao tocá-lo e reconhece em João o mistério do Sacerdócio de Cristo continuado nos Apóstolos, enquanto seus olhos proclamam a aceitação das palavras de Cristo: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19, 26). O sangue goteja em João neste momento brotando do lado aberto do Coração de Jesus. O manto de João é cor de rosa que indica sabedoria eterna, o amor esponsal que o envolve completamente em sua túnica branca - pureza. Sua posição é entre Jesus e Maria, o discípulo amado por ambos. Ele está olhando para Maria, aceitando as palavras de Jesus: "Eis aí tua mãe" (Jo 19, 27). Seus pés indicam a permanência na Presença intima de Cristo e a entrega por fazer o Amor amado por todos os homens. João é o dídimo da vocação Ostensório Vivo.
“A Rainha de nossa vocação é Maria (primeira a viver a graça do carisma que Deus nos concede), é nela que aprendemos a realizar a vontade de Deus para nós”
“Ser OV é ser, por graça, atualização de Maria no mundo, daí que todo o que recebe de Deus a graça dessa vocação passará pela escravidão de amor à Virgem Mãe de Deus. Com Maria aprendemos que o cerne da nossa vocação está na oração, em sermos almas esponsais que o Pai reservou para seu Filho no Espírito Santo. A oração é a pedra principal do nosso carisma, ela move o nosso coração consagrado por nos revelar o quão perto Deus está de nós por que nos ama.”
“Viver a liberdade dos filhos de Deus na consagração total de nossas vidas, essa é a vocação que do Senhor recebemos e que aprendemos a viver no Coração Imaculado de Maria. “
“Ao chegarmos aqui, no topo do Alverne, o Senhor revela sua bondade e nos convida a entrarmos na Fenda do Rochedo. O Alverne de nossa vocação é Maria, nosso monte santo no qual o nosso Rei e Senhor se revela ao nosso coração; a Fenda da Rocha é a nossa adoração, na qual nos colocamos diante de Deus para olharmos aquele que nos ama, ouvindo a sua Palavra, bebendo de sua misericórdia, amando-O com tudo o que temos e exclamando: “Meu Deus, meu Tudo!”

As outras figuras maiores:


Maria Madalena

Maria Madalena, que era considerada por Jesus de uma forma muito especial, está junto à cruz. Sua mão está no queixo, indicando um segredo "Ele ressuscitou". Sua veste tem cor escarlate, que simboliza amor intenso e disposto a dar a vida ao Amado Rei e Senhor, e seu manto azul intensifica este símbolo de sua humanidade decaída redimida pela Misericórdia infinita do Senhor.
“Sim, o Pai nos escolheu para si, para sermos instrumentos de sua ação no mundo, para sermos Ostensórios Vivos de seu Filho pelo poder do Espírito Santo. Louvado seja deus que nos escolheu no seu amor para o seu amor! Fomos eleitos para almas esposas de Jesus. Contudo, o Pai não escolheu para o seu Filho os melhores ou mais perfeitos, ao contrário, o Pai escolheu para esposas de seu Filho os mais pobres, mais simples, mais incapazes, mais miseráveis, mais limitadas por sua condição de pecadoras para que, no Espírito Santo fossem santificadas pelo fogo de amor que Ele acende no mais profundo da alma. É o Espírito Santo que transforma toda água que trazemos em nós em vinho novo da graça. Assim, toda glória é dada a Deus por tudo aquilo que Ele faz em nós. Para contemplarmos melhor o mistério da nossa eleição fixemos os nossos em Francisco de Assis que percebeu valer o que era diante de Deus e nada mais, que se sabia pequeno e pecador e a partir dessa graça dada por Deus ele pode se despojar de tudo e de si para receber e acolher de Deus o selo da eleição. Como a Francisco, Deus não nos escolheu pelos nossos méritos mas pelos méritos de Jesus, nosso Grande Deus e Senhor, e para Ele e nos selou, no Espírito Santo, como almas eternamente desposadas.”

Maria de Cleófas.

Usa veste cor castanha, símbolo de humildade e abertura fecunda à Palavra de Deus, e seu manto verde claro – esperança- ornado com finos brocados de ouro mostram a Obra Nova que o Cordeiro realiza naqueles que se deixam conduzir por sua voz. Sua admiração por Jesus é demonstrada no gesto de suas mãos ao ouvir o anuncio de Madalena: “Ressuscitou”.
“A Palavra, que é nosso alimento diário e nossa principal regra de vida, que deve ser rezada, pois por ela o Senhor nos transforma”
“O amor esponsal é abrasado no coração dos que se colocam na presença do Senhor Eucarístico para ouvi-lO com a sincera disposição de deixar-se transformar pela Palavra. Para que esse fogo de amor se acenda em nós precisamos nos dispor a buscá-lo, e, uma vez começada a busca é o Senhor quem se encarrega de nos conduzir nas veredas ardentes de seu amor. O amor esponsal é um fogo que arde no nosso coração, tornando o nosso coração um com Ele, e nos consome impulsionando-nos a dar tudo no Senhor, para fazê-lo ser amado por todos os homens; esse Amor nos leva ao testemunho do Senhor com ousadia e com martírio. Esse fogo do Espírito Santo nos santificará em cada momento de nossa vida ao nos abrasar dele mesmo para a maior glória de Deus, por Jesus Cristo Ressuscitado presente em nós, que deixou em nós, em nossas vidas, suas marcas de amor.”

O Centurião de Cafarnaum.

Ele segura, na mão esquerda, um pedaço de madeira representado sua participação na construção da sinagoga (Lc 7, 1-10). A criança ao lado é o seu filho curado por Jesus. As três cabeças atrás do menino mostram: "e creu tanto ele, como toda a sua casa" (Jo 19, 28-30). Tem três dedos estendidos, símbolo da Trindade, e os outros dois fechados, simbolizando o mistério das duas naturezas de Jesus Cristo (divina e humana). "Este homem era verdadeiramente o filho de Deus" (Mc 15, 39) Representa o coração que se converte e nos recorda que fomos escolhidos por sermos os mais fracos e não merecedores do imenso chamado que Deus nos faz.

Figuras menores:

Longinus .

O soldado romano que feriu o lado de Jesus com uma lança; está ao lado da mãe de Deus e seu nome figura no crucifixo. Representa os pagãos (e nós pecadores) que sendo causa da Paixão recebem dela a redenção.
Estefânio

A tradição dá este nome ao soldado que ofereceu a Jesus uma esponja encharcada com vinagre após Ele ter dito "tenho sede" (Jo 19, 28-30); está ao lado do centurião. Representa os judeus (e nós cristãos) que sendo causa da Paixão recebem dela a redenção.

Os santos desconhecidos.
Embaixo dos pés de Jesus, há seis santos desconhecidos que estudiosos afirmam ser Damião, Rufino, Miguel, João Baptista, Pedro e Paulo, todos patronos de igrejas na área de Assis. São Damião era o patrono da igreja que alojou a cruz e São Rufino, o patrono de Assis. Essa parte da pintura está muito danificada e não permite uma adequada identificação. Note-se que todos os que estão aos pés de Jesus mantém a cabeça erguida expressando a espera do retorno glorioso do Senhor.

Os anjos que discutem

Há dois grupos de anjos - que animadamente discutem as cenas que se desenrolam diante deles. “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16) . Estão colocados próximos a Jesus e em relação aos homens, ao serviço da obra de Jesus nos homens.

O sepulcro.

Como foi mencionado anteriormente, atrás de Cristo está o seu túmulo aberto. Cristo está vivo e venceu a morte. O vermelho do amor supera o negro da morte. Os gestos de mão indicam fé, a fé dos santos desconhecidos que acolhem a salvação realizado pelo Cordeiro Imolado que se apresenta de pé e vitorioso (Jo 20, 3-9).

O galo.

À esquerda das penas de Cristo encontra-se um galo. Em primeiro lugar, a inclusão do galo recorda a negação de Pedro, que depois chorou amargamente. Em segundo, o galo proclama novo despertar do Cristo ressuscitado, Ele que é a verdadeira luz (1 Jo 2, 8). "Mas sobre vós que temeis o meu nome, levantar-se-á o Sol de Justiça que traz a salvação em seus raios" (Mt 3, 20).

Conclusão

Os ícones são escolas de oração e de vida. Depois desse pequeno passeio pela espiritualidade dos ícones eu te convido a parar diante do Crucifixo de São Damião e a deixar o Espírito Santo te conduzir a uma profunda contemplação da nossa vocação Ostensório Vivo. Que sua oração te arrebate ao cerne de nossa vocação! Repare que no ícone todos os personagens tem as feições iguais a de Jesus, mostrando assim que nossa vocação esponsal nos deve conduzir a ser semelhantes ao Amado de nossa alma.
“Nossa busca é uma entrega total e radical na busca do Amado e do encontro com o Amado nós O comunicamos ao mundo. Essa identidade imprime em nós marcas profundas, com quais o Senhor nos consagra. É Deus quem nos consagra e essa consagração é ser transformado na pessoa de Cristo.”

17 de março de 2012

REFLEXÃO : "Julgar com amor e misericórdia"


“Basta julgar bem para agir bem; e faz melhor quem julga melhor”.
Renê Descartes

Julgar não é tarefa fácil: exige reflexão, capacidade de avaliar várias possibilidades, de não tomar decisão precipitada. No dia a dia estamos sempre diante de questões que precisamos avaliar. A decisão é sempre algo que nos incomoda e inquieta. É preciso cuidado, critério e uma busca intensa de Deus para que nossa consciência seja fortalecida nos momentos de prova.

Estamos habituados a julgar os outros por nós próprios, e se os absolvemos complacentemente dos nossos defeitos, condenamo-los com severidade por não terem as nossas qualidades. Deve-se, portanto, evitar toda projeção e procurar ver cada pessoa na sua individualidade e capacidade. Cuide para que o critério fundamental da justiça possa perpassar seus julgamentos. E não se esqueça do critério mais sublime do amor e da misericórdia, pois “com a mesma medida que medirdes os outros vós sereis também medidos” (cf. Mt 7,1).

Tenha um abençoado fim de semana.

Frei Paulo Sérgio, OFM

16 de março de 2012

“O homem novo se alimenta da Palavra!”

Frei Almir Ribeiro Guimarães

O fruto da Sagrada Escritura não é um fruto qualquer, mas a plenitude da felicidade eterna. De fato, a Sagrada Escritura é precisamente o livro no qual estão escritas as palavras de vida eterna, porque não só acreditamos mas também possuímos a vida eterna, em que veremos, amaremos e serão realizados todos os nossos desejos (São Boaventura, Breviloquium).


1. Viver, viver em plenitude, viver no Espírito e do Espírito! Viver com viço e com vigor. Não somos seres banais. Estamos no mundo, mas já deixamos o mundo. Somos criaturas novas.

Tivemos nosso interior visitado pelo Espírito e, no dia a dia de nossas existências, levamos uma vida que designamos de “espiritual”. Esse nosso soerguimento lembra a palavra de Paulo, que nos faz tanto bem: “Vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3,3). Carregamos em vasos de barro essa vida nova que borbulha em nós. Solteiros ou casados, religiosos ou sacerdotes, homens ou mulheres, jovens e idosos, serventes de pedreiros e altos executivos, levamos uma vida espiritual. Temos pleníssima consciência que esse “estado” novo precisa de nutrimento, de alimentação. Do contrário, as pessoas rirão de nós, como se fala na comparação da casa construída sobre a areia e a rocha. Começamos com tanto entusiasmo, mas foi tudo tão fugaz, tão sem base. A vida nos ensinou que precisamos nos retirar para a oração, tentar estratégias de seguimento de Jesus, praticar o amor fraterno. A primeira e mais fundamental das fontes de nutrimento da vida espiritual é encontro com a Palavra.

2. Nos últimos anos sentimos que a Igreja vem lançando insistente convite no sentido de que mais nos aproximemos da Palavra. Bento XVI, no final da Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, escrevia: “Cada um dos nossos dias seja plasmado pelo encontro renovado com Cristo, Verbo do Pai feito carne. Ele está no início e fim de tudo, e n’Ele todas as coisas subsistem (cf Cl 1,17). Façamos silêncio para ouvir a Palavra do Senhor e meditá-la, a fim de que a mesma, através da ação eficaz do Espírito Santo, continue a habitar e a viver em nós e a falar-nos ao longo de todos os dias de nossa vida. Desta forma, a Igreja sempre se renova e rejuvenesce graças à Palavra do Senhor, que permanece eternamente (cf.1Pd 1, 25; Is 40,8). Assim também nós poderemos entrar no esplêndido diálogo nupcial com que se encerra a Sagrada Escritura: “O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem”! E, aquele que ouve, diga: ‘Vem’! [...] O que dá testemunho destas coisas diz: ‘Sim, Eu venho em breve’! Amém. Vem Senhor Jesus!” (Ap 22, 17-20) (n. 124). A Palavra nos rejuvenesce.

3. Cristãos e religiosos temos incontáveis momentos de contato com a Palavra: na celebração da missa, na recitação da liturgia das horas, na celebração dos sacramentos, no exercício da lectio divina, na leitura particular das Escrituras. Longe de nós todo espírito fundamentalista e toda mentalidade superficial na abordagem da Palavra. Estamos sendo convidados a nos aproximar de maneira atenciosa, nova e humilde dessa Palavra (desdobrada em palavras) que pode nos tirar da mediocridade da vida. Fato consolador e encorajador: ao longo de toda a nossa vida somos alimentados por essa Palavra que nutre os famintos e mata a sede da garganta dos que têm a garganta ávida de Deus.

4. Sim, hoje se reconhece, ao menos teoricamente, a centralidade da Palavra de Deus. Em todas as atividades de formação e de pastoral se busca dar lugar para a escuta. Interessantes reflexões do Editorial da “Revista del Clero Italiano” (5/2010) podem nos ajudar. Hoje, o primeiro lugar não é dado à evangelização, mas à escuta. Jesus o havia firmemente lembrando a Marta que ela perdia o fio da meada da vida ocupando-se exageradamente de atividades exteriores. Muitos cristãos, religiosos e sacerdotes dizem que estão sobrecarregados e que não podem se dedicar mais intensamente à escuta. Agentes de pastoral, cristãos, religiosos e sacerdotes não podem dizer que o sentido de suas vidas seja o cansaço advindo do trabalho. “O cansaço não enche de sentido uma existência. As muitas coisas empreendidas podem esconder o medo de alguém se interrogar sobre o modo de construir sua vida e podem dar a ilusão – porque mortos de cansaço – que padres (também leigos) deram sua colaboração para a construção do Reino!”.

5. Rezamos a Liturgia das Horas, celebramos ou participamos de sacramentos, pregamos ao povo a Palavra. A realização dessas atividades, de per si, não enche nosso coração. Há sempre o risco de falarmos da Palavra sem sermos habitados por ela. O exagero de atividades pode nos distrair da escuta da Palavra de Deus e da escuta das pessoas. Meditação, estudo, reflexão, oração são fundamentais para manter o patrimônio da fé com características de frescor e de persuasão. Através dessa tentativa de escuta vamos fazendo uma experiência humana banhada pela Palavra, ganhando sabedoria que chega até o agir cotidiano tornando significativo o trabalho pastoral ou simplesmente a vida cristã. Nada mais nocivo do que uma frenética atividade seja na pastoral, nas causas abraçadas pelos religiosos, na vida cristã, na construção da família, atividade privada de alma e de direcionamento, na construção da família. Não dá para viver uma vida cristã, exercer o pastoreio, assistir a grupos quando não se tem alma, entusiasmo, “gás” e se caminha a esmo. Sentimos que nossa vida espiritual e nosso agir pastoral precisam provir da fonte do coração.

6. O autor do Editorial da “Rivista del Clero” a que nos referimos, analisando evidentemente a realidade da Igreja na Itália, escreve: “Minha impressão, de fato, é que uma espécie de resignada canseira esteja se infiltrando em nossas comunidades. Daí o perigo de buscar a “sobrevivência” arquitetando estratégias secundárias, de fôlego curto. É como se faltasse, de um lado a verdadeira esperança evangélica e, de outro, como se as pessoas se contentassem com um conhecimento superficial e fragmentado da sociedade em que atuamos. E assim, não obstante sua boa vontade, o agente de pastoral, pressionado pela urgência de tarefas, dispersivas e dispersantes, sobrecarregado de atividades que não agradam porque infrutuosas, corre o risco de chegar ao desalento. A pastoral, em sua totalidade, precisa ser revisitada e renovada. Daí na necessidade da escuta assídua da Palavra, escuta do mundo de hoje e escuta das pessoas.

7. Vivemos um tempo de transição. Fala-se em redesenhamento das instituições, da pastoral, da vida cristã no mundo, da vida consagrada. As vestes que usávamos se tornaram apertadas. Não podemos nos contentar com pequenos arranjos que dão a impressão de resolver o presente, o momento. Seria pouco prudente tomar decisões apressadas num tempo de transição. Não conseguimos respostas para nossas indagações. Melhor formular bem as perguntas, colocar interrogações pertinentes. Desde os anos 70 do século passado fomos fazendo “experiências”. Os sacerdotes continuam fazendo o que sempre fizeram. O que sentimos é que as respostas precisarão ser dadas através de uma escuta nova e séria. Nada de incessantemente colocar remendo novo em trapos velhos. Precisamos conhecer as raízes e as motivações da “crise” que vivemos, da turbulência que atravessamos. Ouvir as pessoas, ouvir o bate-estaca do mundo, “ouvir” o grito dos acontecimentos e a Palavra. Nosso tempo é tempo de escuta, mais de escuta do que fala, mas de escuta do que de invenção de estratégias pastorais. Necessário se faz cuidar para que uma decisão apressada nunca venha a ser tomada como solução. Estamos buscando.

8. Necessitamos tentar escutar. Soa aos nossos ouvidos a palavra de Pedro dirigida a Jesus: “Só tens palavras de vida eterna”. O arcebispo de Gênova, na Itália, Cardeal Angelo Bagnasco, escreveu Carta Pastoral (2009-2010) sobre as fontes da vida espiritual: Caminhar pelas sendas do Espírito. Lemos ali: “No imenso mercado de tantas palavras, o homem moderno busca a Palavra, como o comerciante que busca uma pérola preciosa. A Palavra da qual todos têm necessidade aponta para o sentido último deste frágil universo, de nossa tormentosa história. O homem busca luz a respeito da morte e da dor, especialmente quando esta última bate à porta. É desta palavra que todos têm desejo. As outras palavras ganham sentido na medida em que servem a este palavra decisiva”.

9. Abeirar-se da Palavra… Do Evangelho emerge o semblante de Cristo: suas palavras, seus silêncios, seus gestos, seus sentimentos, seu relacionamento com o Pai. Todos os que buscam viver intensamente sua vida espiritual sempre buscaram esta fonte cristalina. Santo Inácio de Antioquia, dizia: “Entrego-me ao Evangelho como à carne de Cristo”. Os bispos italianos em documento recente escreviam: “Haveremos de nos nutrir da Palavra de Deus suspirando por ela como a criança busca o peito da mãe: para a vitalidade da Igreja esta é uma experiência essencial”.

10. Cotidianamente nos acercaremos de um trecho do evangelho. Para tanto basta fé e um pouco de boa vontade. É como expor-se à claridade do sol para tornarmo-nos luminosos. Dom Angelo Bagnasco afirma: “O Evangelho ‘frequentado’ todos os dias passa a ser nossa casa acolhedora mesmo sendo ele exigente e colocando nossa alma exposta”. O Evangelho não é um livro entre outros livros. É a Palavra de Deus transformado em vida para ser contemplada e narrada. Ele tem uma força que transforma e é derramada no fiel. Ele precisa ser recebido no mais profundo da esperança. Vale refletir sobre estas palavras de André Gide, um agnóstico francês: “Não é porque me disseram que tu és o Filho de Deus que escuto tua palavra: tua palavra é bela acima de qualquer palavra humana e por isso reconheço que és o Filho de Deus”.

11. Jesus continua conosco a nos explicar as Escrituras, com seu Espírito e na Igreja. Por isso lemos a Bíblia na Igreja e com a Igreja para não correr o risco de interpretações meramente subjetivas e distorcidas. Madeleine Delbrêl, conhecida leiga autora de livros de espiritualidade, dizia que não se deve ler a Bíblia querendo colocá-la moda de nossos dias na convicção de podemos “retocar” a Deus.

12. As palavras dos homens, se não forem mera tagarelice, ajudam a intensificar nossa vida espiritual. Entre as muitas palavras que nos são ditas necessário identificar aquelas que são prenhes de sabedoria, que nos ajudam a trilhar o caminho da verdade, que nos iluminam a nos conhecer a nós mesmos. Sabemos que as palavras humanas podem veicular verdade e comunicação, mas podem igualmente ser instrumento de mentira, de engano e de violência. Homens que desde antiguidade até hoje escreveram com inteligência e humildade iluminam a humanidade. Devem ser tratados com atenção e gratidão. Esses homens de alguma forma exprimem uma palavra de Deus. Insistimos: há histórias humanas, aventuras heroicas, que nos falam de Deus e que alimentam a nossa vida espiritual, mesmo não sendo cristãos. Pensamos em tantos e tantas do passado e do presente, apóstolos da não violência, do amor fraterno, da partilha que gritam aos nossos ouvidos palavras de Deus. Pensamos em médicos, cientistas, biólogos que falam a fala de Deus com sua ciência e sua postura decididamente em favor do homem.

13. Não queremos perder o objetivo principal destas linhas. Estamos nos acercando de uma das fontes da vida espiritual que é a Palavra de Deus. Por isso, parece fundamental que em nossas fraternidades sejamos decididos de fixar, durante a semana, alguns dias ao menos, para um encontro comunitário com a Palavra. Queremos aqui transcrever algumas linhas do Ministro Geral dos Menores do seu texto: “Guiados pela Palavra, mendicantes de sentido”: “A leitura orante da Palavra é arte que procura realizar a passagem do texto bíblico para a vida e se apresenta como precioso instrumento que pode ajudar-nos a superar o abismo que muitas vezes percebemos entre fé e vida, entre espiritualidade e cotidianidade. A leitura orante da Palavra não é uma simples prática de piedade; é um método que visa a pôr em prática a palavra escutada; é uma hermenêutica existencial da Escritura que, antes de mais nada, leva o fiel a buscar Cristo na página bíblica, a pôr a própria vida em diálogo com a pessoa de Cristo que se nos revela e, finalmente, a ver iluminada com nova luz a própria vida cotidiana”.

14. Nada mais simples do organizar um momento de leitura orante da Biblia:

• Momentos de silencio diante de uma cruz, de uma imagem de Cristo ou do Santíssimo.
• Canto para fazer adensar em nosso interior o Espírito e a presença daquele que busca nos falar.
• Leitura de um texto (não longo de mais)
• Momentos de silêncio
• Talvez leitura de um texto de um Padre da Igreja ou de algum outro documento espiritual
• Silêncio, reflexão e troca de ideias
• Canto final

15 de março de 2012

REFLEXÃO : "Aprender a conviver"



“Fale com as pessoas. Nada há tão agradável e animado quanto uma palavra de saudação, particularmente hoje em dia quando precisamos mais de sorrisos amáveis” (Primeiro Mandamento das Relações Humanas).

Conviver é uma tarefa sempre exigente. Temos que aprender sempre de novo as mesmas lições! Eu também estou no mesmo barco… Sou um aprendiz nas relações interpessoais. Quantas vezes reclamo das pessoas que não se doam como poderiam ou (deveriam) se doar… Às vezes uma angústia entra na minha alma… E imagino que você também passa por tais experiências. Angústia é um aperto que sentimos no coração… É um desejo de estar em todos os lugares ou, talvez, em nenhum lugar.

Somos gerados na carência e isso também tem seu lado positivo: a carência nos tira da onipotência, nos ensina que precisamos das outras pessoas, que nenhuma pessoa é uma ilha. Daí que nossa busca humana não é um caminho retilíneo: tem retas, subidas, curvas, luz e escuridão… Procure, então, em sintonia com as pessoas, criar um espaço de equilíbrio para sua vida. Não esqueça de celebrar suas vitórias e compartilhar também suas fraquezas…

Frei Paulo Sérgio, OFM

13 de março de 2012

São Francisco de Assis e a Opção pelos Pobres. (3ª Parte)

Francisco fez opção pelos pobres?


A práxis de Francisco

Depois de termos visto, de maneira sucinta, o conceito que Francisco tinha de pobre, cabe a pergunta: Francisco fez opção pelos pobres? Para obtermos a resposta, requer-se uma análise do que Francisco instituiu com relação ao pobre. É numa práxis instituída que se pode verificar uma verdadeira opção.

Antes, porém, de prosseguirmos, impõe-se um brevíssimo excursus sobre o termo “instituição” que para muitos autores modernos tem significado negativo. Eles estabelecem dicotomia e oposição entre carisma e instituição, atribuindo-as ao próprio Francisco. A nosso entender, não há carisma, a não ser instituído. Carisma não instituído é pura abstração. O carisma só existe em opções concretamente instituídas. Por exemplo, ao ouvir o evangelho do envio na Porciúncula, Francisco diz: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração”
. E o texto continua: “Por conseguinte, apressa-se o santo pai, transbordando de alegria, em cumprir o salutar conselho e não suporta demora alguma, mas começa devotamente a colocar em prática o que ouviu”.

Neste episódio, constata-se um texto evangélico inspirador, há uma opção instituída por viver esse texto (propósito), inicia-se uma práxis imediata.

Igualmente, ao receber Bernardo e Pedro Cattani, segundo a narração do Anônimo Perusino, após escolherem os textos evangélicos, Francisco diz: “Esta será a nossa regra”. Em seguida acrescenta: “Ide e, da maneira como ouvistes, realizai o conselho do Senhor”
.

O processo é idêntico: textos evangélicos inspiradores, opção instituída de viver de acordo com os textos (esta será nossa regra), a prática imediata.

Pode-se contra-argumentar, dizendo que nos exemplos dados o texto evangélico é o carisma. Insistimos na afirmação de que o texto evangélico só se torna carisma quando assumido como opção, instituído como propósito de vida e levado à prática. Caso contrário, o texto não chega a ser inspirador, não move a vontade a uma opção, permanece, portanto, mera abstração, letra morta.

Após este brevíssimo excursus, retornemos à pergunta: Francisco fez opção pelos pobres? Quais foram suas opções instituídas que traduzem em concreto sua opção pelos pobres?

Embora a ruptura com Pedro Bernardone e com a cidade de Assis (centro de poder e de decisões) tenha significado uma mudança de lugar social (Francisco já não pensa a partir do centro, mas da periferia), a nosso ver, não constitui ainda uma clara opção pelos pobres. De fato, ele se coloca também a serviço dos leprosos, mas não consta que tenha sido um serviço permanente. O beijo ao leproso (se realmente houve), que teria acontecido antes mesmo da ruptura com o pai, não significa ainda uma opção pelos leprosos. Embora os leprosos fossem os excluídos (banidos) da sociedade, no entanto, muitos cristãos em busca de santidade lhes prestavam serviços. Na vida de muitos santos, quando eles se propõem um caminho de santidade, a primeira atitude concreta é voltar-se para os pobres. Talvez dentro deste clichê hagiográfico, também Francisco se tenha voltado para os leprosos.

Após a ruptura com o pai, Francisco dedica-se alternadamente a várias experiências: leva uma vida eremítica (que parece ser a experiência de fundo), priorizando a solidão, os lugares propícios para a meditação, tais como grutas, bosques e regiões inóspitas; presta periodicamente serviço aos leprosos; empenha-se na reconstrução de pequenas capelas abandonadas.

A vida eremítica vai ceder definitivamente seu espaço a uma vida marcadamente itinerante, opção feita na Porciúncula por ocasião da escuta do evangelho do envio, mesmo se de vez em quando Francisco sinta saudades da solidão e procure tempos fortes de contemplação longe do rebuliço das multidões. A reconstrução de capelas foi algo transitório na práxis de Francisco. O serviço aos leprosos continua sendo uma prática da fraternidade primitiva, mesmo sem constituir uma opção
instituída da Ordem. Que este serviço era uma prática pode-se deduzir do texto da Regra não Bulada, quando Francisco alude à permissão de pedir esmola para os leprosos. Já o fato de ter omitido esta permissão na Regra Bulada mostra que não o serviço aos leprosos não era uma opção instituída.

Mesmo não sendo uma opção instituída, a prática do serviço aos leprosos será sempre uma constante na fraternidade primitiva. Em sua itinerância, os irmãos pregadores anunciavam o evangelho ao povo, os não pregadores buscavam outros trabalhos e serviços, entre os quais o dos leprosos. Esta mobilidade do início causará em Francisco, no fim de sua vida, um sentimento de nostalgia, inclusive queria voltar a servir os leprosos.

Há um texto tardio que poderia sugerir o serviço aos leprosos como uma opção instituída: “... nos primórdios da religião, depois que começaram a multiplicar-se os irmãos, quis que os irmãos permanecessem nos hospitais dos leprosos para servi-los; porque, naquele tempo em que chegavam à religião nobres e plebeus, entre outras coisas que lhes eram anunciadas, se lhes dizia que era necessário servir os leprosos e permanecer nas casas deles”. Ainda outro texto poderia causar a mesma interpretação: “E devem alegrar-se, quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre os pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua”.

Estes textos, porém, nos soam mais como uma preferência do que como uma opção instituída, da mesma maneira que Francisco preferia hospedar-se em leprosários a hospedar-se em casas de outras pessoas. De fato, se o serviço aos leprosos fosse uma opção instituída, como justificar que a Regra Bulada e uma legenda importante como a do Anônimo Perusino o ignorem completamente?

Também o fato de Francisco dar esmolas a mendigos e a outras pessoas que lhe pedem não pode ser considerado uma opção pelos pobres. Também Pedro Bernardone e outros ricos davam esmolas aos pobres. E muitos cristãos, mesmo não sendo ricos, praticavam a esmola. Nem por isso se pode dizer que fizeram opção pelos pobres.

Alguns modernos querem ver na esmola algo negativo, interpretam-na inclusive como um meio egoísta de santificação do doador. Isto, porque a desvinculam do sentimento de compaixão. Deste modo, acabam esvaziando a esmola de seu sentido cristão. Os biógrafos insistem em afirmar o sentimento de compaixão que Francisco tem para com os pobres. A LTC afirma um amor profundo e compassivo de Francisco para com eles . A compaixão é o sentimento que dá sentido à esmola. Mas a compaixão não pode ainda ser considerada uma opção instituída por Francisco pelos pobres.

Em que sentido, então, se pode falar de uma opção instituída de Francisco? Recorrendo às fontes, dificilmente podemos falar de uma opção pelos pobres; há, sim, uma opção instituída de Francisco pela vida de pobreza. Francisco institui para a fraternidade uma vida como a dos pobres. O que ele disse ao bispo de Assis a
respeito da posse de propriedades, ele institui na regra: “Os irmãos não se apropriem de nada, nem de casa, nem de lugar, nem de coisa alguma”.

A proibição de usar e de receber dinheiro é instituída na regra. O trabalho manual, meio de sustento dos pobres, é instituído como meio de sustento dos irmãos . A esmola é o recurso alternativo instituído como meio de sustento, no caso de os irmãos não receberem seu salário. O modo de vestir-se é o modo como os pobres se vestem, isto é, com vestes baratas rudes e não com vestes finas e macias. O modo de morar dos irmãos é instituído antes como um hospedar-se, pois são peregrinos e forasteiros. E as casas devem ser pobrezinhas, construídas de galhos e de barro, à maneira das casas dos pobres . A proibição de andar a cavalo é igualmente uma identificação com a vida dos pobres . Até mesmo os utensílios deviam lembrar a vida dos pobres, a opção por uma vida em pobreza .