31 de março de 2011

ORAÇÃO, JEJUM, MISERICÓRDIA...

Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.

O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.

Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.

Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e presteza.

Peçamos, portanto, destas três virtudes – oração, jejum, misericórdia – uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração sob três formas distintas. Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas
pelo jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus como ensina o Profeta: Sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um coração arrependido e humilhado (Cf. Sl 50,19).

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá frutos se for regado pela misericórdia, pois a aridez da misericórdia faz secar o jejum. O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da misericórdia.

Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu não o possuirás.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

Fonte: Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo (Sermo 43: PL 52,320.322) (Séc.IV)

30 de março de 2011

Meditação Diária



Faça tudo com sentimento de perfeição. Faça as coisas com vontade de fazer! Não faça nada pela metade! Faça as coisas com desejo de acertar e com empenho, dando o melhor de si. A alegria e o prazer com que você faz as coisas será seu diferencial, sua marca registrada, sua contribuição para a melhoria do mundo.

Surpreenda as pessoas com "momentos mágicos". Contagie sua casa, seus amigos, seu ambiente de trabalho... Faça com que ao entrar num ambiente, as pessoas se contagiem com a aura positiva que emana de você. Com certeza, você será mais feliz assim...

27 de março de 2011

CLARA DE ASSIS

CLARA DE ASSIS -

No dia 18 de Março de 1212, Clara de Assis sai de sua casa e vai para a igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula, encontrar-se com Francisco de Assis.

De modo que estamos numa caminhada jubilar, para celebrar em 2012 este encontro que marca para sempre a história da Ordem. É um momento privilegiado para, mais uma vez, redescobrir Santa Clara, a mãe, esposa e irmã de toda família franciscana. É muito comovente o reencontro com a mãe! A partir de então, a Ordem tem uma faceta feminina. Clara traz o brilho da personalidade e a força de seu carisma pessoal. Tem a mesma escolha de Francisco: o Evangelho. O que a move é o Amor a Jesus, Pobre e Crucificado. O Deus humilde, simples, despojado. A grandeza de um Deus que se fez servo. Ela também quer ser assim, de grande dama da sociedade assisiense, ser serva e irmã de inumeráveis irmãs. Quando o Amor é grande demais não dá para ser sozinha: arrasta consigo uma família de Irmãs que, assim como Clara, ganha juventude através dos séculos.
Com certeza, podemos dizer que, sem Clara, a experiência de Francisco não seria completa. Ela é uma testemunha excepcional da busca radical da vivência do Evangelho que abalou Assis a partir destes seus dois jovens cidadãos. Entre Francisco e Clara está um protótipo de um ideal, um modelo pleno de humano, uma conversão que mistura radicalidade e ternura, espírito e afeto. Escreve Caetano Esser, um dos grandes estudiosos do Franciscanismo: “Clara seguiu de perto São Francisco na sua nova vida e nas vivências do início da Ordem. Dele assimilou profundamente o Espírito, conservando em si o estado mais puro deste Espírito. O seu testemunho é digno da mais alta consideração” (Origem e Valores Autênticos da Ordem, Milão,1972).

Imagem do Painel no Colégio Nossa Senhora Aparecida - Consa - das Irmãs de Ingolstadt, em São Paulo.

23 de março de 2011

Papa na Audiência Geral: O mundo precisa de paz

Bento XVI acolheu na Praça São Pedro, no Vaticano, dia de Audiência Geral, milhares de fiéis e peregrinos provenientes de várias partes do mundo.


Na catequese de hoje, o Papa falou sobre São Lourenço de Brindisi, ilustre doutor da Igreja. São Lourenço entrou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos e foi ordenado sacerdote em 1582.


Este notável poliglota foi um pregador incansável e apreciado na Itália e fora dela. Sabia expor com clareza e doçura os fundamentos bíblicos e patrísticos dos artigos da fé cristã, questionada por Martinho Lutero. Na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, São Lourenço foi professor de Teologia, mestre de noviços e ministro geral.


São Lourenço de Brindisi contribuiu muito para o aprofundamento e a renovação da vida cristã, fazendo apelo à coerência de vida com fé professada. Ele passou muito tempo em oração e convidou os sacerdotes e seminaristas a fazerem o mesmo. Foi canonizado em 1881 e proclamado Doutor Apóstolico pelo Beato Papa João XXIII, em 1959, por ocasião do quarto centenário de seu nascimento.


Bento XVI frisou que São Lourenço foi um homem de paz e bom seguidor de Francisco de Assis. "Hoje como nos tempos de São Lourenço de Brindisi, o mundo precisa de paz, necessita de homens e mulheres pacíficos e pacificadores. As pessoas que creem em Deus devem ser sempre fontes e agentes de paz" – disse o pontífice.

Meditação Diária


A vida flui e acontece no fantástico de cada instante. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Não há como parar, segurar, reter... É preciso encontrar o lugar adequado, estar no devir das coisas, entender a dinâmica do vai e vem de tudo que está diante de nós... e também dentro de nós. A flor desabrocha porque faz parte da sua natureza oferecê-la, provocar encanto e paixão.

Cada pessoa é um universo em si. E o sentido de cada existência estará na possibilidade de tornar-se uma “abertura” para a própria vida. Já disse o mestre Jesus que “quem procurar reter sua vida vai perdê-la, mas aquele que doá-la, vai ganhá-la” (Mt 10,39). Está aí o paradoxo que nos envolve e nos fascina ao mesmo tempo!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

21 de março de 2011

Meditação Diária

Não desanime de você, ainda que a colheita de hoje não seja muito feliz. Não coloque um ponto final nas suas esperanças. Ainda há muito o que fazer, ainda há muito o que plantar, e o que amar nessa vida... Ao invés de ficar parado no que você fez de errado, olhe para frente, e veja o que ainda pode ser feito...

Redescubra-se em cada amanhecer. Há muito o que semear, há muito o que fazer, há muito o que amar. A vida é um canteiro a ser semeado: flores surgirão se soubermos selecionar e cultivar as semente lançadas. É preciso perseverança e muita paciência na missão de semear amor nos corações das pessoas...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

19 de março de 2011

19/03 - São José, Patrono Universal da Igreja


O Papa Pio XI, em 8 de dezembro de 1870, proclamou São José Patrono Universal da Igreja. Em 1956, o Papa Pio XII (1939-1958) instituiu a festa de São José Operário, a ser celebrada no dia 1º de maio, Dia Universal do Trabalho.

São Mateus afirma em seu Evangelho que São José “era um homem justo” (Mt 1,19). Isto, na linguagem bíblica, significa um homem repleto de todas as virtudes, de santidade completa, perfeito. Jesus quis ter um pai na terra: O anjo do Senhor, aparecendo-lhe em sonho, diz-lhe: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo” (Mt. 1,20). E depois: “Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta” (Mt 1, 21-22).

No Evangelho consta que São José era carpinteiro: “Não é este o filho do carpinteiro?”(Mt 13, 55). Mas a expressão é mais genérica, pois diz “filius fabri”, quer dizer, filho de artesão.

Papa João Paulo II: “Precisamente em vista da sua contribuição para o mistério da Encarnação do Verbo, José e Maria receberam a graça de viverem juntos o carisma da virgindade e o dom do matrimônio. A comunhão de amor virginal de Maria e José, embora constitua um caso muito especial, ligado à realização concreta do mistério da Encarnação, foi todavia um verdadeiro matrimônio” (cf Exort. Apost. Redemptoris custos, 7).

O escritor Chico de Alencar lembra: “São José, o mestre Carpina. Muitos cultuam os santos católicos através de uma devoção voltada para os pedidos de milagres. São José, o pai de Jesus, é invocado para que mande as ”águas de março” para o sertão nordestino. Água que vivifica e ampara como ele, São José, a seu Pequenino. Mas o fato dele ser um trabalhador manual, mestre da carpintaria, também marcou, para todo o mundo, a doutrina social católica. Iluminada pelas mãos calejadas pelo trabalho do parceiro de Maria, a Igreja afirma, desde Leão XIII, a dignidade da pessoa humana, a destinação universal dos bens, o predomínio do trabalho sobre o capital, o princípio da solidariedade e a realização do bem comum. Que São José Operário, além da chuva para os que sofrem com a seca, nos dê as bênçãos dessa humanização!”.

18 de março de 2011

Meditação Diária


Na verdade, as pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem aproveitar as melhores oportunidades que aparecem em seus caminhos. Não perdem tempo, arriscam, não têm medo de errar... Infelizmente o medo de errar acaba tirando nossa chance de acertar. Somente errando é que aprendemos, crescemos, fortalecemos nosso espírito...

A vida nos oferece inúmeras oportunidades. Opte por uma, mesmo que o coração doa pelas outras que se perderam... Melhor será arrepender por aquilo que se experimentou do que por aquilo que não foi vivenciado. Aproveite os bons momentos da vida: celebre-os com aqueles (as) que você ama. A felicidade está em momentos plenos de significado...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

16 de março de 2011

Meditação Diária


A História tem demonstrado que os mais notáveis vencedores normalmente encontraram obstáculos dolorosos antes de triunfarem. Eles venceram porque se recusaram a se tornarem desencorajados por suas derrotas. Venceram porque não deram ouvidos aos pessimistas... Foram em frente, apesar das dificuldades, das críticas e das quedas.

Não é a força, mas a constância dos bons sentimentos que nos conduz à felicidade. Daí que precisamos perseverar em nossos sonhos, projetos objetivos. O tempo da colheita requer preparo, semeadura, paciência, chuva, sol, dias e noites... Plante e terás o que colher! Insista em tua busca. Persevere. Continue em frente... Deus abençoará teu esforço. Ela não será em vão!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

14 de março de 2011

Meditação Diária


A memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que, graças a este artifício, conseguimos suportar o passado. E o passado, quando trabalhado e integrado em nós dá-nos impulso e energia para conquistarmos o futuro. Cultive o autoconhecimento, percorra seu caminho, perdoe as pessoas que te magoaram... Somente assim você conquistará seu equilíbrio e sua felicidade.

Precisamos aprender a celebrar cada conquista, cada estágio alcançado... Só não podemos parar no tempo e na jornada. Celebrar tudo aquilo que já aconteceu e abrir-nos ao futuro. Que ela seja bem vindo e nos traga esperança e vida!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

11 de março de 2011

Meditação Diária


Quem gosta de viver não tem preguiça de reinventar, nem medo de ousar. Quem gosta de viver não tem medo de ternura, da gentileza, do amor. Quem gosta de viver, aprende que o melhor da vida está em colocá-la a serviço das pessoas e da vida. É assim que nossa elevação espiritual permite-nos ser e também que o outro seja ao mesmo tempo...

Aproveite bem o tempo que a vida lhe proporciona. Cada momento de vida é precioso demais para ser desperdiçado com contendas, brigas e desamor. Celebre a amizade, a fraternidade, os momentos de encontro, os momentos de festa e de alegria. Celebre a vida e perceba a mão de Deus agindo e conduzindo sua existência...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

10 de março de 2011

Quaresma, Paulo e Francisco de Assis


Quaresma, Francisco e Paulo


Francisco foi em dia de carnaval, ao lago de Perusa, à casa de um discípulo seu, onde passou a noite, foi inspirado por Deus para observar aquela Quaresma em uma ilha do lago de Perusa.

Francisco pediu ao discípulo que o levasse em sua barquinha a uma ilha do lago, onde não habitasse ninguém, e isto fizesse na noite de Quarta-feira de Cinzas sem que nenhuma pessoa o percebesse. Francisco só levou consigo dois pãezinhos.

E, chegando à ilha, Francisco lhe rogou por favor que não revelasse a quem quer que fosse a sua permanência na ilha e só o fosse procurar na Quinta-feira Santa; e assim o discípulo voltou para casa.

E Francisco ficou sozinho: e ali não havendo habitação em que ficasse, entrou num bosque muito copado, no qual muitos espinheiros e arbustos se reuniam a modo de uma cabana ou de uma cova, e naquele lugar se pôs em oração e a contemplar as coisas celestiais.

E ali passou toda a Quaresma sem comer nem beber, além da metade de um daqueles pãezinhos, conforme o que encontrou o seu discípulo na Quinta-feira Santa, quando o foi procurar: o qual achou dois pãezinhos, um inteiro e outro pela metade.

E depois, naquele lugar, onde Francisco fizera tão maravilhosa abstinência, realizou Deus muitos milagres; pela qual coisa começaram os homens a edificar casas e habitá-las; e em pouco tempo construiu-se um bom e grande castelo e houve um convento de frades, o qual se chama o convento da Ilha; e ainda os homens e mulheres daquela aldeia têm grande reverência por aquele lugar, onde Francisco passou a sua Quaresma. (Baseado no I Fioretti de São Francisco de Assis. Capitulo 07. Editora Vozes-1985-Pg. 29-30).

9 de março de 2011

Meditação Diária


Quem cura o queijo é o tempo. Quem cura as feridas e enxuga as lágrimas é o tempo. Quem nos conduz para a maturidade da vida é o tempo. Quem faz o fruto maduro, pronto para a degusta, é o tempo... Quem nos criou no tempo foi o próprio Deus, para que nossa jornada pudesse ser amadurecida pelo sol, regada pela chuva, amada pelos que caminham conosco.

Não lute contra o tempo e nem permita que a ansiedade pelo amanhã retire de você a energia e o prazer de viver o hoje com gratidão e alegria. Lembre-se que o tempo cura o coração e possibilita novos amanheceres. Muitos transformam o sol em um risco amarelo, outros fazem de um risco amarelo o próprio sol...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

8 de março de 2011

Meditação Diária


Quem pode conhecer a alma do poeta ou da poetisa? Por onde gira sua imaginação, seus poemas, suas frases e... principalmente o não dito que escondeu por detrás das letras? Como fazer de nossas almas também poetas e poetisas de esperança e vida? Assim, Cecília continua em nós... nos sonhos, nos contos, nos poemas e nas rimas.

Nesse espírito quero desejar Feliz Dia Internacional da mulher para você, mulher, que faz parte da minha vida. Que possamos encontrar o equilíbrio para uma vida mais sã, mas bonita e mais feliz. Que Maria, a grande mulher da história, a Mãe do Filho Encarnado de Deus abençoe e proteja todas vocês: mulheres de foca, de fé e de coragem...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

7 de março de 2011

Meditação Diária


Procure dar valor as coisas, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam. Essa será a única maneira de você dar o verdadeiro sentido às coisas, às pessoas, aos relacionamentos. É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão.

A razão será sempre o amor que impulsiona o desejo, o querer, o fazer... O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver, de quem se abre para viver a vida como ela é...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

4 de março de 2011

1ª sexta-feira do mês - A FERIDA QUE CURA

Bendito sejas, meu Senhor, pela água desta cruz,
que brotou juntamente com o sangue do Cristo crucificado.
Teu Espírito clama em mim, ó Deus humilhado:
“Eu sou a Ferida que cura o homem que crê!”
Michel Hubaut, OFM

1. Não nos cansamos de contemplar o mistério de Cristo. Ele, feito homem simples e andarilho, perambulou pelos caminhos poeirentos da Palestina, encontrou pessoas, fez convites e caminhou com a testa erguida na direção de Jerusalém, essa cidade dourada que tinha a triste fama de matar profetas. Nossos olhos e nosso interior se detêm de modo especial nos últimos momentos da vida do Mestre. Contemplando à distância, ajudados pelo Místico de Patmos, revestimo-nos, de modo especial no tempo da quaresma e da semana santa, dessa dimensão contemplativa que admira os extremos de amor do Senhor. Sim, na realidade aqueles momentos passados entre o céu e a terra, em que Jesus contempla do “alto” as coisas de “baixo” ficam gravados indelevelmente nas dobras do coração do discípulo.

2. Um pouco antes de inclinar a cabeça, quando ainda tudo girava em seu interior, o Filho, chegou ao cume da obediência. E, perscrutando os desejos do Pai, se amor-oblação para que o mundo pudesse viver. São Clemente I, assim se exprimiu: “Na caridade Deus nos assumiu para si. Pela caridade que tem para conosco, nosso Senhor Jesus Cristo, obediente à vontade divina, por nós entregou o seu sangue e sua carne por nossa carne e a sua alma, por nossa alma” (L.Horas III, p. 74). Esses últimos momentos da vida de Jesus são puro dom. Como puro dom é aquele momento, em que na mais modesta capela, um sacerdote, emprestando sua voz a Jesus, diz: “Isto é o meu corpo que é dado por vos1”.

3. Michel Hubaut, numa bela oração de louvor à água, extasia-se diante da cena do Gólgota. Contempla a Água da cruz que corre paralela ao Sangue. Água para os sedentos, água para os que desejam purificar-se, água que brota da fonte de um novo paraíso. Michel Hubaut, contemplando o Cristo nesse momento, o designa de Deus humilhado. Por isso, os discípulos de Cristo ficam extasiados diante dessa loucura: um Deus que se humilha. E, segundo a expressão poética do frade, Cristo se define: “Eu sou a Ferida que cura o homem que crê!”. Em muitas ocasiões Jesus vai se autodefinindo. Nessa página, ele se define como sendo ferida, chaga, janela. Tudo já estava consumado. Nada mais a fazer. Nada mais a dizer. Um homem que se tornara um verme, sem forças, cambaleante quando ficava em pé antes da crucificação, agora sem energia alguma. Realizava-se naquele momento as palavras de Isaías: “Era desprezado, era o refugo da humanidade, o homem das dores e habituado à enfermidade; era como pessoa de quem se desvia o rosto, tão desprezível que não fizemos caso dele. No entanto, foi ele que carregou as nossas enfermidades e tomou sobre si as nossas dores. E nós o considerávamos, como alguém castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi traspassado por causa de nossas rebeldias, esmagado por causa de nossos crimes; caiu sobre ele o castigo que nos salva, e suas feridas nos curaram” (Is 53, 3-5). Ele reúne ainda o que tem de melhor e de mais expressivo no coração. Trata-se do momento de terminar uma trajetória, momento aparentemente de fracasso, de abandono de uns e de outros, mas suprema revelação do amor que rasga caminhos de salvação. Trata-se do momento de colocar a assinatura na obra de sua vida: Este que morreu de amor e que uma ferida que cura os que crêem.

4. Os que refletem sobre esse amor que vai até o fim procuram, como pede Paulo aos cristãos de Filipos ter os mesmo sentimentos de Cristo Jesus: “Ele, subsistindo na condição de Deus, não se apegou à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se tomando a condição de escravo” (Fl 2, 5 ss).

5. Compreendemos toda a riqueza que aparece no verso de Michel Hubaut: o Deus humilhado, o Deus chagado, com uma ferida que cura os que crêm. E os devotos do Coração de Jesus sabem perfeitamente que, ao longo de suas vidas, nada mais têm a fazer do que contemplar a ferida do amor de Deus que não fecha e cuidar das feridas dos irmãos da face da terra.

Meditação Diária


Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar o autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma. É ter coragem para ouvir sim e também não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que pareça injusta.

Ser feliz é agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. É não ter medo dos próprios sentimentos; acolher as pessoas nas suas alegrias e fracassos. É oferecer o abraço, o colo, o afeto e o amor... sem precisar receber nada em troca!

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

2 de março de 2011

Meditação Diária


O mundo é tão vazio quando pensamos apenas nas montanhas, rios e cidades; mas saber que cá e lá existe alguém que comunga conosco, com o qual também nós convivemos tacitamente, isto transforma o mundo em algo realmente grandioso; isto faz da Terra um jardim florido e habitado por pessoas que realmente entenderam o que é o verdadeiro amor.

Não perca tempo com coisas pequenas e sem sentido. Aproveite bem o tempo que o Pai Eterno te concede. Aprenda a fazer coisas que realmente serão capazes de tocar o coração das pessoas. Na amizade construímos um amor recíproco, cioso da felicidade um do outro. Vamos, pois, caminhar juntos..

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

1 de março de 2011

Catequese do Papa: Perfeição cristã segundo Santa Teresa de Ávila




Cidade do Vaticano (CV) - Queridos irmãos e irmãs:

Ao longo das catequeses que eu quis dedicar aos Padres da Igreja e a grandes figuras de teólogos e mulheres da Idade Média, pude falar sobre alguns santos e santas que foram proclamados Doutores da Igreja por sua eminente doutrina. Hoje, eu gostaria de começar com uma breve série de encontros para completar a apresentação dos Doutores da Igreja.

E iniciamos com uma santa que representa um dos cumes da espiritualidade cristã de todos os tempos: Santa Teresa de Jesus. Ela nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Em sua autobiografia, ela menciona alguns detalhes da sua infância: o nascimento "de pais virtuosos e tementes a Deus", em uma grande família, com nove irmãos e três irmãs. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): "Eu quero ver Deus", disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa falou de suas leituras da infância e afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que "tudo o que pertence a este mundo passa"; por outro, que só Deus é para "sempre, sempre, sempre", tema que recupera em seu famoso poema: "Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!". Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).

Se, na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, em sua maioria clássicos da espiritualidade franciscana, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração. Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, sempre em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Também na luta contra suas próprias doenças, a santa vê o combate contra as fraquezas e resistências ao chamado de Deus. Escreve: "Eu desejava viver porque compreendia bem que não estava vivendo, mas estava lutando com uma sombra de morte, e não tinha ninguém para me dar vida, e nem eu poderia tomá-la, e Aquele que podia dá-la a mim, estava certo em não me socorrer, dado que tantas vezes me voltei contra Ele, e eu o havia abandonado" (Vida 8, 2). Em 1543, ela perdeu a proximidade da sua família: o pai morre e todos os seus irmãos, um após o outro, migram para a América. Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chega o topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta fortuita de "um Cristo muito ferido" marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). A santa, que naquele momento sente profunda consonância com o Santo Agostinho das "Confissões", descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: "Aconteceu que...de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n'Ele" (Vida 10, 1). Paralelamente ao amadurecimento da sua própria interioridade, a santa começa a desenvolver, de forma concreta, o ideal de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, funda, em Ávila, com o apoio do bispo da cidade, Dom Álvaro de Mendoza, o primeiro Carmelo reformado, e logo depois recebe também a aprovação do superior geral da Ordem, Giovanni Battista Rossi. Nos anos seguintes, continuou a fundação de novos Carmelos, um total de dezessete. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, em Duruelo, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebe de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços. Teresa termina sua vida terrena justamente enquanto está se ocupando com a fundação.

Em 1582, de fato, tendo criado o Carmelo de Burgos e enquanto fazia a viagem de volta a Ávila, ela morreu, na noite de 15 de outubro, em Alba de Tormes, repetindo humildemente duas frases: "No final, morro como filha da Igreja" e "Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos". Uma existência consumada dentro da Espanha, mas empenhada por toda a Igreja. Beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622, foi proclamada "Doutora da Igreja" pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas sempre entesourou ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do "Caminho de Perfeição"), ou seja, a partir da experiência. Teresa consegue tecer relações de amizade espiritual com muitos santos, especialmente com São João da Cruz. Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho. Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada "Livro da Vida", que ela chama de "Livro das Misericórdias do Senhor". Escrito no Carmelo de Ávila, em 1565, conta o percurso biográfico e espiritual, por escrito, como diz a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do "Mestre dos espirituais", São João de Ávila. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida: Para isso, a obra muitas vezes inclui o diálogo de oração com o Senhor. É uma leitura fascinante, porque a santa não apenas narra, mas mostra reviver a profunda experiência do seu amor com Deus. Em 1566, Teresa escreveu o "Caminho da perfeição", chamado por ela de "Admoestações e conselhos" que dava às suas religiosas. As destinatárias são as doze noviças do Carmelo de São José, em Ávila. Teresa lhes propõe um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da Igreja, em cuja base estão as virtudes evangélicas e a oração. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração. A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o "Castelo Interior", escrito em 1577, em plena maturidade. É uma releitura do seu próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Teresa refere-se à estrutura de um castelo com sete "moradas", como imagens da interioridade do homem, introduzindo, ao mesmo tempo, o símbolo do bicho da seda que renasce em uma borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural. A santa se inspira na Sagrada Escritura, especialmente no "Cântico dos Cânticos", para o símbolo final dos "dois esposos", que permite descrever, na sétima "morada", o ápice da vida cristã em seus quatro aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial. À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o "Livro das fundações", escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso. Como na autobiografia, a história é dedicada principalmente a evidenciar a ação de Deus na fundação dos novos mosteiros.

Não é fácil resumir em poucas palavras a profunda e complexa espiritualidade teresiana. Podemos citar alguns pontos-chave. Em primeiro lugar, Santa Teresa propõe as virtudes evangélicas como base da vida cristã e humana: em particular, o desapego dos bens ou a pobreza evangélica (e isso diz respeito a todos nós); o amor de uns aos outros como elemento essencial da vida comunitária e social; a humildade e o amor à verdade; a determinação como resultado da audácia cristã; a esperança teologal, que descreve como sede de água viva. Sem esquecer das virtudes humanas: afabilidade, veracidade, modéstia, cortesia, alegria, cultura. Em segundo lugar, Santa Teresa propõe uma profunda sintonia com os grandes personagens bíblicos e a escuta viva da Palavra de Deus. Ela se sente em consonância sobretudo com a esposa do "Cântico dos Cânticos", com o apóstolo Paulo, além de com o Cristo da Paixão e com Jesus Eucarístico.

A santa enfatiza, depois, quão essencial é a oração: rezar significa "tratar de amizade com Deus, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama" (Vida 8, 5). A ideia de Santa Teresa coincide com a definição que São Tomás Aquino dá da caridade teologal, como amicitia quaedam hominis ad Deum, uma espécie de amizade entre o homem e Deus, quem primeiro ofereceu sua amizade ao homem (Summa Theologiae II-ΙI, 23, 1). A iniciativa vem de Deus. A oração é vida e se desenvolve gradualmente, em sintonia com o crescimento da vida cristã: começa com a oração vocal, passa pela interiorização, através da meditação e do recolhimento, até chegar à união de amor com Cristo e com a Santíssima Trindade. Obviamente, este não é um desenvolvimento no qual subir degraus significa abandonar o tipo de oração anterior, mas um gradual aprofundamento da relação com Deus, que envolve toda a vida. Mais que uma pedagogia da oração, a de Teresa é uma verdadeira "mistagogia": ela ensina o leitor de suas obras a rezar, rezando ela mesma com ele; frequentemente, de fato, interrompe o relato ou a exposição para fazer uma oração.

Outro tema caro à santa é a centralidade da humanidade de Cristo. Para Teresa, na verdade, a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus que culmina na união com Ele pela graça, por amor e por imitação. Daí a importância que ela atribui à meditação da Paixão e à Eucaristia, como presença de Cristo na Igreja, para a vida de cada crente e como coração da liturgia. Santa Teresa vive um amor incondicional à Igreja: ela manifesta um vivo sensus Ecclesiae frente a episódios de divisão e conflito na Igreja do seu tempo. Reforma a Ordem Carmelita com a intenção de servir e defender melhor a "Santa Igreja Católica Romana" e está disposta a dar sua vida por ela (cf. Vida 33, 5).

Um último aspecto fundamental da doutrina de Teresa que eu gostaria de sublinhar é a perfeição, como aspiração de toda vida cristã e sua meta final. A Santa tem uma ideia muito clara da "plenitude" de Cristo, revivida pelo cristão. No final do percurso do "Castelo Interior", na última "morada", Teresa descreve a plenitude, realizada na inabitação da Trindade, na união com Cristo mediante o mistério da sua humanidade.

Queridos irmãos e irmãs, Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Em nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.

Que o exemplo desta santa, profundamente contemplativa e eficazmente laboriosa, também nos encoraje a dedicar a cada dia o tempo adequado à oração, a esta abertura a Deus, a este caminho de busca de Deus, para vê-lo, para encontrar a sua amizade e, por conseguinte, a vida verdadeira; porque muitos de nós deveríamos dizer: "Eu não vivo, não vivo realmente, porque não vivo a essência da minha vida". Porque este tempo de oração não é um tempo perdido, é um tempo no qual se abre o caminho da vida; abre-se o caminho para aprender de Deus um amor ardente a Ele e à sua Igreja; e uma caridade concreta com nossos irmãos. Obrigado.