29 de fevereiro de 2012

Quando o coração dá muitas voltas

Encontro consigo mesmo

Que pretendemos fazer de nossas vidas? Para onde caminhar? Que fazer desse espaço que se chama minha vida, nossa vida? Na sua juventude, o coração de Francisco, esse de Assis, deu muitas voltas em seu peito. Continuamos a série de reflexões sobre um certo Francisco de Assis. Esta é uma pagina para grupos vocacionais e para pessoas que não querem viver mediocremente.

1. Francisco vai vivendo sua vida na Assis dourada e cheia de promessas. Novos tempos para a cidade. A nobreza deixa de imperar. Surgem novas classes. O pai de Francisco é um comerciante que anda tendo muito sucesso. O dinheiro impera. Os nobres se refugiam em seus castelos. Há classes emergentes. Novos ricos. As revoluções populares derrubam a fortaleza de Assis. No meio de tudo isso há um jovem chamado Francesco. Jovem, podendo tornar-se rico, mas que não se sente bem em lugar nenhum. Seu desejo de glória parece não realizar-se. O que fazer da vida? Para onde ir? Ficar a vida toda vendendo tecidos na loja do pai? Ganhar dinheiro? Casar-se? Ter uma porção de filhos? Simplesmente envelhecer e morrer? Que fazer da vida? Esta é uma pergunta que sempre nos trabalha por dentro. Sim, o que estamos fazendo, ou o que faremos de nosso existir? Parece que, no começo de seu processo vocacional, Francisco começou a frequentar mais seu interior. Foi quando seu coração começou a dar muitas voltas. Francisco começou a se encontrar consigo mesmo.

2. Francesco está em torno dos vinte anos de existência. O mundo está aos seus pés. O que é certo: ele não deseja viver mediocremente. Quer agarrar tudo. Começa a buscar, de maneira bem prática, seu caminho. Inicia um verdadeiro processo de discernimento vocacional. Engaja-se nas batalhas e lutas de sua Assis contra a cidade de Perúgia. Ali, no campo de batalha, vestido com roupas de guerreiro, pensa poder encontrar a glória… Depois… depois poderia voltar vitorioso e as meninas não o largariam mais. Seria coroado de troféus. Mas não são assim que as coisas acontecem. O jovem Francesco é feito prisioneiro. A Legenda dos Três Companheiros diz que seus companheiros de cárcere estavam muito tristes. Francisco, sempre jovial e alegre, não se mostrou triste. Disse aos circunstantes: “O que vocês pensam de mim? Haverei ainda de ser honrado no mundo inteiro!” (3 Companheiros 4). Tem-se a nítida impressão que Francisco começa a se preocupar com seu futuro. Não deveremos pensar em primeiro lugar que sonhe com grandezas quaisquer. Pensava em ideais nobres como o da cavalaria. Esse tempo da prisão deve ter purificado o interior do jovem.

3. As coisas iam sendo trabalhadas em seu coração. Naquele cárcere, privado de liberdade, em contacto com bandidos e criminosos Francisco tem ocasião de refletir sobre sua vida. Esta situação de reflexão vai continuar durante o tempo de doença que viveu de volta à casa. A mãe cuidava dele. Dedicava-se às atividades comerciais e assim enchia o tempo. São Boaventura afirma que nesse tempo ignorava ele os planos de Deus a seu respeito. Não estava acostumado a pensar nas coisas divinas. Mas acrescenta que o sofrimento pode dar compreensão às coisas da alma. Francisco vai sendo trabalhado pelo Alto. Sempre a pergunta: “O que fazer da vida?”

4. Outro episódio importante foi o do sonho do palácio cheio de armas. Sonha em ser cavaleiro, bonito, elegante, galante, tendo as moças a seus pés… coberto de honras. Francisco interpretou este sonho como se ele estivesse fadado a ser um grande príncipe. Há nele um desejo de buscas. “Despertando, levantou-se de manhã animado e alegre, pensando de maneira mundana, como quem ainda não saboreia plenamente o espírito de Deus, que devia ser um príncipe magnífico e, julgando e visão um presságio de grande prosperidade, deliberou empreender uma viagem à Apúlia a fim de ser constituído cavaleiro….” (3Companheiros 5).

5. E continua a busca de seu caminho. Os biógrafos falam da visão de Espoleto. Estava no empenho de tornar-se cavaleiro, de pegar em armas, na busca das glórias terrenas. Ouviu meio dormindo alguém que lhe dizia: “Quem te pode fazer melhor ou maior: o servo ou o senhor? Francisco diz que é melhor servir ao senhor. A voz lhe diz: Por que andas servindo o empregado e não o patrão? Francisco não entendia as coisas. Era o Mistério de Deus que começava atraí-lo. Elaborava-se a sua vocação. Precisava servir a um patrão. Mas quem era esse patrão, esse senhor?

6. Depois desta visão de Espoleto, os biógrafos falam de uma mudança de comportamento por parte de Francisco. O alegre Francisco se torna pensativo. Numa determinada ocasião após o jantar seus companheiros de festas iam à frente, cantando. Francisco permanecia mais atrás, pensativo. Parece que Deus começa a empurrar a porta de seu coração. Era uma visita de Deus. Dizem os biógrafos que Francisco experimentou uma grande doçura no fundo do coração. Os companheiros pensavam que estava amando, que tinha arranjado uma namorada. Sua cabeça dava muitas voltas. Ele estava diferente. Características desse momento da vida de Francisco: atitude de reflexão, recolhimento interior, disponibilidade, exame da possibilidade de arriscar a vida.

7. A pergunta fundamental é esta: O que queres de mim? Os biógrafos de Francisco dizem que ele começa a não levar tanto em conta as coisas superficiais e dedica-se mais à oração. O que antes amava aos poucos vai perdendo o gosto e o filho de Pietro di Bernardone vai se desligando das coisas do mundo. Começava a ser visitado pelo Espírito. O doce começava a se tornar amargo e o amargo, doce. Pede à Providência que lhe mostre um caminho. Parecia que sabia da existência de um tesouro, mas ignora onde encontrá-lo. Tudo indicava que ele teria que vender todas as coisas, também sonhos e vaidades.

8. Uma oração aflorava em seus lábios: “Iluminai as trevas de minha alma, dai-me uma fé íntegra, uma esperança firme, uma caridade perfeita. Concedei meu Deus que eu vos conheça muito para poder agir segundo a vossa vontade”. O homem de Assis estava vivendo uma santa inquietude. Muitas etapas haveriam de ser percorridas antes de encontrar o verdadeiro caminho a trilhar. Para ele e para todos nós fica a questão: O que queres de mim, Senhor? O coração de Francisco andava dando muitas voltas…

Para continuar a reflexão
Como Francisco se tornou prisioneiro em Perúgia (Legenda dos Tres Companheiros 4)
O sonho das armas (Legenda dos Três Companheiros 5)
É melhor servir ao senhor do que ao servo (Legenda dos Três Companheiros 6)

Para refletir

  1. O que mais chamou sua atenção na leitura desta reflexão?
  2. O que estava se passando com Francisco?
  3. Que tipo de perguntas os jovens costumam fazer a respeito de seu amanhã?

    Frei Almir Ribeiro Guimarães

29/02 - Bem-aventurada Caridade Brader


(1866-1943). Virgem, fundadora das Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada.

Maria Caridade Brader é também conhecida como Maria Josafá Carolina Brader, Madre Caritas, Maria Caridade do Amor do Espírito Santo.

Nasceu em 14 de agosto de 1860 em Kaltbrunn, Suíça como Maria Josafa Carolina Brader.

Filha única de José Sebastião Brader e Maria Anna Carolina Zahner. Educada em uma família piedosa, ela era conhecida como uma menina muito inteligente e recebeu a melhor educação que os seus pais podiam dar. Seus pais tinham grandes planos para o seu futuro, mas em vez de continuar os estudos ela sentiu um forte chamado para a vida religiosa e entrou para o convento franciscano em Maria Jilf, Alstatten em 1º de Outubro de 1880, tomando o nome de Maria da Caridade do Amor de Espírito Santo, e fez seus votos definitivos em 22 de Agosto de 1882.

Ela foi inicialmente designada como professora. Quando foi possível para as irmãs em clausura se tornarem missionárias, irmã Caritas, como era conhecida, foi voluntária com outras 5 irmãs para trabalhar em Clone, no Equador em 1888.

Ela trabalhou durante 6 anos como professora e catequista das crianças. Em 1893 foi transferida para Túquerres, Colômbia, onde as condições eram muito difíceis, mas ela superou todos as dificuldades em breve estava ensinando a fé aos pobres e desamparados.

Ela fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada em Tuquerres, Colômbia em 31 de Março de 1893. Inicialmente composta de jovens irmãs com inclinação para o trabalho missionário elas foram em breve recebendo moças do local e outras mulheres Colombianas. Caritas serviu como Superiora Geral da Congregação de 1893 até 1919 e de novo de 1928 a 1940. As Irmãs enfatizavam a boa educação, com muitas preces e uma vida austera. Elas receberam a aprovação papal para a Congregação em 1993 e hoje elas estão nos na América Central, América do Sul, México, Suíça, Mali, Roménia e Estados Unidos.

Caritas faleceu em 27 de fevereiro de 1943 em Pasto Colômbia e o seu tumulo logo se tornou um local de peregrinação e de devoção popular e vários milagres foram assinalados junto da sua campa a e alguns creditados à sua intercessão.

Foi declarada Venerável em 29 de junho de 1999, e beatificada em 23 de março de 2003 pelo Papa João Paulo II.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

27 de fevereiro de 2012

Encontro entre Deus e o homem

Cada pessoa é um mistério e, no mistério pessoal, é que Deus se revela. Agora queremos refletir sobre o encontro com o Deus vivo por meio de Cristo na força do Espirito. Assim aprofundamos o tema da vida espiritual. Seguimos basicamente o texto de Enzo Bianchi, superior da comunidade de Bose, na Itália (La vie spirituelle chrétienne, in Vie consacrée 2000, n.1, p. 39-43).

1. A vida espiritual pretende ser uma experiência de Deus, desse Altíssimo que, encontrado, conhecido e amado torna-se aquele que molda toda a vida do cristão e lhe dá sentido. Como fazer essa experiência de Deus? Ele não é aquele que não se pode ver sem morrer 0 (cf. Ex 33,20)? Ora, o fiel conhece uma experiência do Altíssimo que transcende a própria inteligência e que diz respeito a seu coração, sua vontade e seu agir. Trata-se de uma experiência que se traduz com palavras humanas: sinto, creio que Deus está presente. Tais palavras, em certos momentos, são tão fortes que quem as experimenta pode fazer um relato delas. Acontece com o homem de hoje aquilo que aconteceu com Isaías no templo ou Elias na caverna. Como Moisés, o fiel é convidado a tirar a sandália dos pés porque pisa uma “terra santa”. Tais palavras parecem inquestionáveis em determinados momentos de sucesso na caminhada espiritual. Nos momentos de secura e de aridez, de desolação e de abandono, elas parecem perder sua força. O fiel perde o pé e duvida. Os que atravessam regiões exuberantes e desertos secos continuam a se sentir ligados a Deus. Caminham em sua presença e suplicam que ele não se ausente. Os que fazem a experiência de Deus são testemunhas de sua fala e de seu silêncio.

2. O homem é um ser quaerens, um buscador. É capaz de andar à cata de Deus. No cristianismo, no entanto, é Deus que vem ao encontro do homem e lhe propõe a aventura da Aliança. Trata-se de uma experiência espiritual pela qual Deus, através do Espírito Santo percebemos o Senhor próximo e vivo. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho unigênito que está no seio do Pai, este o deu a conhecer”. Assim, a convivência com o Filho nos leva ao Pai. Deus fica sendo sempre aquele que por primeiro chama o homem e o atrai por meio de Jesus. O Pai afirma: “Este é o meu Filho bem amado… escutai-o”. O Filho se entrega ao Pai e nós nos entregamos no Filho. Por aí começa a experiência cristã de Deus.

3. O encontro entre Deus e o homem somente é possível graças ao poder do Espírito Santo, porque Deus é Espírito e é ele que torna o cristão morada do Espírito Santo , capaz de encontra-lo e acolhê-lo. O Espírito que desce naquele que crê dá um começo de vida espiritual engendrando o homem como filho de Deus. A mesma palavra do Pai pronunciada no Jordão é repetida para cada cristão em seu novo nascimento no momento do batismo: vida filial, vida fraterna com Jesus, vida do Espírito em nós… “Esta nova criação que acontece com o Batismo deverá ser assumida posteriormente pelo cristão, que consentirá no desenvolvimento coerente da graça santificante. Diríamos que o cristão deve tudo preparar em si para uma aquisição coerente do Espírito Santo”.

4. Necessário prestar atenção a alguns desvios. O encontro com o Deus que vem, será o encontro com o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Palavra feita carne, o Deus que no Espírito Santo nos salva e nos dá como dom sua própria vida, a vida divina. Na vida espiritual se procura e se busca no encontro com o Deus vivo, três vezes santo, quer dizer o Outro. Trata-se de uma vida espiritual cristã. “Vida espiritual cristã: não a busca de uma fusão impessoal com Deus, mas uma vida marcada pela aliança como encontro de uma alteridade. Há muita voracidade religiosa hoje, também na Igreja; busca-se mais a religião do que a fé, deseja-se um Deus imediatamente acessível, disponível em suas operações e recusa-se a arte do encontro e da comunicação na diferença, no respeito da alteridade, aceitando-se as distinções e a distância. Rejeita-se, assim, a santidade de Deus. Este tipo de comportamento leva a uniões holísticas e impessoais. Na espiritualidade cristã, o caminho não é o de uma divinização fácil e impessoal mas uma senda que começa com a regeneração pela graça em criaturas novas até se tornar filhos no Filho de Deus por meio do seguimento de Cristo vivido na história, na comunidade dos fiéis, em companhia dos homens. É caminhar na direção de Deus orientados pelo Espírito Santo”.

5. Necessário também prestar atenção a certos expedientes modernos que “garantem” o encontro com Deus por meio de práticas mecânicas, ascese oriental. Faz-se necessário prestar atenção à proliferação de escolas e técnicas de oração. A vida espiritual necessita de ascese, de métodos, de exercícios. Quem salva, no entanto, quem leva à comunhão com Deus é o Espírito Santo. É a graça e não o que vem do homem. Pode se dar que nosso orgulho humano tenha a pretensão de pensar a vida espiritual como uma empreitada da qual nós seriamos os protagonistas, uma vida marcada por nossas obras, nossos progressos, nossas contradições e nossas quedas. Fomos salvos pela graça. Não fomos nós que o escolhemos, mas Jesus que nos escolheu e nos enviou a produzir frutos e frutos que permaneçam, (cf. Ef 2,8; Jo 15,16).

6. Deus criou o homem no seu Filho e os destinou antes da fundação do mundo a ser filho no Filho; para que isso fosse possível Deus enviou seu filho para que se tornasse homem e por primeiro levasse os homens para Deus graças às energias do Espírito. Pode-se falar de um caminho de volta ao Pai, desse itinerário da vida espiritual, caminho que a imaginação humana descreveu como ascensão ao céu, uma escada que da terra vaio até Deus; um itinerário a ser percorrido na dessemelhança até a conformidade com Deus, um retorno a se realizar, um êxodo a ser vivido e que encontra seu cumprimento pascal na morte. O homem que aceita caminhar no Espírito, viver uma vida sob o senhorio do Espírito, aceita viver a Páscoa na qual ele se oferece em holocausto a Deus, assim se encontra nele como Filho do próprio Deus, vivendo a vida de Deus.

À guisa de conclusão:

Resta-nos ver com se viverá concretamente essa vida espiritual. Há o encontro com a Palavra, o empenho da conversão, o seguimento de Cristo, a prática do amor fraterno, a oração que culmina com a plena consciência da inabitação da Trindade, o ir pelo mundo.

Frei Almir Ribeiro Guimarães

26 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : “Procure ser sinal”


“Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24).

Estamos iniciando um tempo especial que nos convida a abrir nossas mentes e corações para a ação divina. Somos amados (as) por Deus e Ele quer participar ativamente de nossas projetos, ações… enfim, participar de nossas vidas. Nesta manhã o sol nos aquece e ilumina. A vida pulsa diante de nós… Procure, então, olhar a vida e as pessoas com esperança e alegria.
Não perca tempo com coisas negativas… Evite o mal, procure a luz e esteja aberto à prática do bem. Perder a vida significa desgastá-la pelo amor de Deus e pelo amor que constrói esperança e gera solidariedade. Não desperdice o tempo sublime e maravilhoso da vida. Procure ser sinal, ponte, travessia! Faça sua vida virar uma canção, uma poesia… Aprenda a cantar a canção da sua vida e seja feliz por tudo aquilo que você é e pela bênção que Deus envia sobre você neste momento!

Frei Paulo Sérgio, OFM

REFLEXÃO : “Mire teu olhar na direção da vida”


“Conversão é uma ação divina que tira o homem do desespero”.
Frei Paulo Sérgio

As pessoas, para serem verdadeiramente ganhas, precisam ser ganhas pela verdade. Somente a verdade divina é capaz de atingir positivamente a alma humana, pois ela deseja e busca o caminho que conduz a Deus. Escutar a alma é produz reconciliação; omitir seu clamor é caminhar na direção do abismo existencial. Conversão não é um caminho de tristeza, mas de alegria; de aproximação de Deus e de práticas amorosas em favor das pessoas.

Procure, na escuta da Palavra de Deus, a sabedoria para dirigir teus pensamentos e ações. Mire teu olhar na direção da vida e contemplarás muitas pessoas necessitadas de ti, de tua ação e de teu poder. Na conversão encontramos o equilíbrio de nossa fé e de nossa prática religiosa. Procure estar na proximidade do Senhor neste tempo favorável de conversão e de caminhada na direção da páscoa de Jesus. Que tua busca seja abençoada e tuas ações, assertivas!

Boa quaresma… Feliz tempo de conversão e mudança de vida!

Frei Paulo Sérgio, OFM

25 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : O humano não se contenta com o finito

“Nunca saberás o que é suficiente enquanto não souberes o
que é mais que suficiente”.

William Blake

O suficiente é aquilo que pode satisfazer nossas necessidades, mas não nossos desejos mais intensos. Nossa alma não se contenta somente com o suprimento de nossas necessidades materiais; ela busca saciar-se daquilo que é eterno, daquilo que não se vendem nas lojas. Comece perguntando pelo amor que demonstras a ti mesmo, pelo amor que unge tuas relações. Pergunte pelo sentido maior de tua existência, por aquilo que realmente te faz feliz.

O humano não foi criado para se contentar com aquilo que é finito, pois ele é um projeto infinito. Ele tem sede e desejo de ir além dos muros… quer transcendência, alçar vôos, descobrir novos horizontes… Por isso, nunca se contente com o pouco. Procure satisfazer teu desejo de eternidade, construa relações pautadas na sinceridade, no amor fraterno, na capacidade de acolher aqueles (as) que ainda não conseguiram voar…

Frei Paulo Sérgio, OFM

24 de fevereiro de 2012

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos.


A propósito do Jubileu de Santa Clara - V


Link
POR Frei Vitório Mazzuco Fº


Um testamento é sempre um texto convergente, um escrito de quem chega ao ápice de uma vida, ao ápice de uma experiência. Um testamento escrito na hora de passar o bastão, de fazer correr a tocha da inspiração numa hereditariedade necessária, é muito importante para a caminhada segura dos que vem depois. Não estamos falando aqui de um testamento de bens materiais, que Santa Clara não os possuía, mas sim de um Testamento Espiritual, sua única riqueza.

Assim como Francisco de Assis, Clara de Assis escreve um Testamento, tendo bem
presente os traços da herança espiritual de Francisco. Porém, o Testamento de Clara tem a sua especificidade própria. Francisco, em seu Testamento, deixa aos frades uma recordação, uma admoestação, uma forte exortação para que sejam fiéis à Regra. Clara quer tornar bem evidente a sua vontade de que suas filhas não se afastem da Pobreza.

O Testamento de Clara, escrito em 1247, destaca o bem maior que é a vocação e a necessidade de corresponder generosamente a esta convocação de viver nos caminhos do Senhor. Não é viver apenas segundo o modo regular da vida religiosa vigente, ou exigida pela regra de Inocêncio IV, mas sim viver com todo empenho a Pobreza absoluta, a exigência de seguir um caminho de humildade, simplicidade, prece e bênção. Aliás, estes pontos determinam as linhas mestras deste Testamento.

Continua

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com/

23 de fevereiro de 2012

Uma quarta-feira salpicada de cinzas

Senhor, a semana tem sete dias.
A maioria das pessoas prefere o domingo;
há outras que gostam do sábado.
Poucos diriam apreciar a quarta-feira.
Nós, cristãos, sempre haveremos de
associar a quarta-feira ao tema das cinzas.
Desde pequenos fomos nos acostumando a receber
na fronte esse punhadinho de pó no dia seguinte à terça-feira gorda.
Sobre o altar ou na credência são colocados os potes com cinza.
Antes de se tornarem pó, essas cinzas eram galhos,

ramos frondosos que carregamos no domingo das palmas,
cantando hinos ao Cristo Rei.
Garbosos nós os empunhávamos,
aclamando o rei entrando em sua cidade montado num burrico.
A força e a imponência dos ramos se converteram
na insignificância das cinzas.
Se desse um pé de vento o pó se haveria de espalhar
por todo o templo.
As cinzas simbolizam a fragilidade, o efêmero, o fugaz.
Somos únicos no mundo, constituímos a realização de um sonho de Deus,
ao mesmo tempo somos nada, caniço pensante, mas caniço!
Cinza, poeira, terra.
Viemos do nada, o Senhor quis que existíssemos.
Somos imagem dele, mas amanhã deixaremos de existir.
Não somos onipotentes, não somos deuses.
Vivemos agora o tempo da quaresma,
sem sandálias nos pés,
sem títulos de honra,
como gente humilde
gente consciente de sua fragilidade.

Dá-nos, Senhor, nesse tempo oportuno
nesse tempo de salvação
entrar frequentes vezes no silêncio do quarto,
buscar teu rosto no mistério do silêncio.
Que saibamos dar sem ver a quem
e enfeitar no rosto quando estivermos jejuando
de nós mesmos e nos privando daquilo a que temos direito.
Queremos fazer o jejum de nossos acertos de contas,
de nossas reivindicações e autossuficiência.
Do pó viemos e para o pó voltaremos.
Esta é uma quarta-feira salpicada de cinzas.

B) Chama que queima como o fogo

Simeão, o novo teólogo (sec. X)

Dá-me, Cristo, beijar teus pés,
permite-me oscular tuas mãos,
estas mãos que me criaram pela tua palavra,
estas mãos que tudo fizeram sem cansaço.

Dá-me de cumular de teus dons sem ser saciado.
Que possa ver o teu rosto, ó Verbo
e desfrutar de tua beleza inexprimível,
de contemplar e saborear tua visão, visão inefável,
visão invisível, visão tremenda.

Tu estás para além da natureza, além de tudo
totalmente todo, tu, meu Deus, meu Criador.
É-nos permitido ver um reflexo de tua glória divina
e uma luz simples, uma luz doce;
Revela-se como luz, como luz se une inteiramente a nós
em totalidade, teus servos;
luz que se contempla pelo espírito e de longe;
luz que se descobre de repente em nosso interior,
luz que desliza como a água e arde como o fogo
no coração daquele que ela se apossa…
Por meio desta luz vim a saber, meu Salvador,
que minha alma humilde e pobre fora tocada,
que ela ardia e se consumia.

Não tolero me calar, meu Deus,
e esconder nos abismos do esquecimento as obras
que realizaste e que realizas cada dia
para os que te buscam com ardor e que,
com espírito de penitência, se refugiam junto a ti.

Não quero de minha parte
como o servo mau que enterrou seu talento
ser justamente condenado.

Divulgo estas maravilhas e a todos as revelo;
passo adiante o que sei a respeito de tua misericórdia
e as narro às gerações que estão para chegar, ó meu Deus.

REFLEXÃO : A construção da amizade

“Os verdadeiros amigos são como as estrelas no céu. Eles são mais claros
nos tempos de escuridão”
Ana Carolina.


Passe o tempo com seu amigo: um tempo agradável – caminhando, brincando, rezando; e um tempo não tão agradável – discordando, magoando, procurando. A amizade verdadeira é capaz de abarcar todo o espectro da vida. A amizade se constrói em tempos de alegria e bonança, mas também e, principalmente, em tempos de dificuldades, sofrimento e provação. No sucesso, verificamos a quantidade de pseudo amigos; na desgraça, a qualidade dos verdadeiros.

É fácil ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que se diz. Daí que amizade é algo que se constrói, que se edifica e solidifica no chão das experiências e da confiança que se cria com o passar do tempo…

Frei Paulo Sérgio, OFM


17 de fevereiro de 2012

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos. A propósito do Jubileu de Santa Clara - IV


Por Frei Vitório Mazzuco Filho

Vocês podem imaginar Santa Clara diante destas Constituições e Regra? Ficou silenciosa? Indiferente? Aceitou passivamente? Francisco havia ensinado que não se pode obedecer o que é contrário à alma. Claro que Clara ama o Papa... mas não se pode aceitar o que é contrário à pobreza. Os frades visitavam para partilhar presença, preces e esmolas. Pobreza é ter em comum. Como não receber os frades? Como ter dinheiro e propriedades e viver a pobreza?
A resposta de Clara é sem nenhuma rebeldia. Jejum, oração, inspiração e a decisão de escrever pessoalmente uma Regra própria para as Clarissas. A base desta Regra são as mesmas normas que fortificaram o caminho dos Frades Menores, o que ela recebeu de Francisco e a vida já experimentada em São Damião. A nova Regra é apresentada, no dia 06 de setembro de 1252, ao cardeal Rinaldo, protetor das Clarissas, e este intercede junto ao Papa Inocêncio IV pela aprovação definitiva.

O Papa, numa Bula, a confirma e escreve: “Condescendente com as vossas piedosas súplicas, com a autoridade do senhor Papa, confirmamos para sempre a vós todas e a todas que vos sucederem em vosso mosteiro e com o apoio da presente Bula, avaliamos a forma de vida e o modo da santa unidade e da altíssima pobreza, que o vosso beato pai São Francisco concedeu a vós por escrito para observar e aqui reproduzimos” (Bula do Papa Inocêncio IV,15-16).

No dia 9 de Agosto de 1253, dois dias antes de sua morte, Santa Clara recebe em mãos a sua Regra de Vida aprovada pelo Papa. O que ela perseguiu em vida recebe na hora da passagem para a vida eterna. No Processo de Canonização de Santa Clara, a Irmã Filipa nos relata: “E no fim de sua vida, tendo chamado todas as suas Irmãs, recomendou-lhes cuidadosamente o Privilégio da Pobreza. E como desejava enormemente que a Regra da Ordem fosse bulada, mesmo que tivesse que pôr essa bula na boca em um dia e morrer no dia seguinte, assim lhe aconteceu, pois veio um frade com a carta bulada, que ela tomou reverentemete e, embora estivesse à morte, colocou ela mesma aquela bula na boca para beijá-la. E depois, no dia seguinte, a predita dona Clara passou desta vida para o Senhor, verdadeiramente Clara sem mácula, sem escuridão do pecado, foi para a claridade da luz eterna. Do que não têm dúvida nem a testemunha nem as Irmãs e nenhum dos outros todos que conheceram a sua santidade” (PC 32).

O texto original desta Regra foi encontrado em Assis, no Proto Mosteiro de Santa Clara, em 1893. Esta Regra é muito importante para a Santa Unidade do carisma clariano.

EXTRAÍDO DE: http://carismafranciscano.blogspot.com/

16 de fevereiro de 2012

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2012


“Converte-te e crê no Evangelho”!

Ao recebermos a imposição das cinzas, no início da quaresma, somos convidados a viver o Evangelho, viver da Boa Nova. A Boa Nova que recebemos é Jesus Cristo. Ele abriu um novo horizonte para todas as pessoas que nele creem.

Crer no Evangelho é crer em Jesus Cristo que na doação amorosa da cruz deu-nos vida nova e concedeu-nos a graça de sermos filhos do Pai. Com sua morte transformou todas as realidades, criando um novo céu e uma nova terra.

A quaresma é o caminho que nos leva ao encontro do Crucificado-ressuscitado. Caminho, porque processo existencial, mudança de vida, transformação da pessoa que recebeu a graça de ser discípulo missionário. A oração, o jejum e a esmola indicam o processo de abertura necessária para sermos tocados pela grandeza da vida nova que nasce da cruz e da ressurreição.

Assim, atingidos por Ele e transformados n’Ele, percebemos que todas as realidades devem ser transformadas, para que todas as pessoas possam ter a vida plena do Reino.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade, desde o ano de 1964, como itinerário evangelizador para viver intensamente o tempo da quaresma.

A Igreja propõe como tema da Campanha deste ano: “A fraternidade e a Saúde Pública”, e com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). Deseja assim, sensibilizar a todos sobre a dura realidade de irmãos e irmãs que não têm acesso à assistência de Saúde Pública condizente com suas necessidades e dignidade. É uma realidade que clama por ações transformadoras. A conversão pede que as estruturas de morte sejam transformadas.

A Igreja, nessa quaresma, à luz da Palavra de Deus, deseja iluminar a dura realidade da Saúde Pública e levar os discípulos-missionários a serem consolo na doença, na dor, no sofrimento e na morte.

E, ao mesmo tempo, exigir que os pobres tenham um atendimento digno em relação à saúde. Que ela se difunda sobre a terra, pois a salvação já nos foi alcançada pelo Crucificado.

À nossas Comunidades, grupos e famílias, uma abençoada caminhada quaresmal e celebremos a Jesus Cristo que fez novas todas as coisas.

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Secretário Geral da CNBB

Pe. Luiz Carlos Dias
Secretário Executivo da CF

15 de fevereiro de 2012

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2012


«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras»

(Heb 10, 24)


Irmãos e irmãs!

A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.

Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da » (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.

1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.

O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte, o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).

A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim, a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo, entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.

O fato de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem em conta não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto, a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.

O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.

Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – tem como base eesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e onipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).

3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.

Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim, a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.

Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).

Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.

14 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : “O humano se faz e se constrói no trabalho de humanização…”


“A felicidade de grandes homens consiste em levar amor e
solidariedade a quem necessita”
Walyson Garrett.

Como humanos carregamos dentro de nós instintos e desejos intensos: esse é nosso lado animal, aspectos ainda não trabalhados, ainda não educados, ainda não integrados em nosso psique. O outro lado é consciente, iluminado pelos pela energia do amor, da solidariedade, da capacidade de acolher a bondade. É preciso, pois, buscar o equilíbrio, trabalhar nossos instintos, jogar luz em nossa parte sombria.

O humano se faz e se constrói no trabalho de humanização, na capacidade de vivenciar elementos fundamentais: fraternidade, solidariedade, gentileza, educação para a paz, sentimentos de amor e alegria. É preciso que nós, humanos, sejamos capazes de fazer um pacto e em favor de uma ética universal que evidencia o respeito pela diferença, que acolha as pessoas em sua individualidade e que veja em cada pessoa um dom único de Deus. Precisamos de uma ética que valorize e defenda a vida na sua origem, na sua manifestação e no seu esplendor!

Frei Paulo Sérgio, OFM

13 de fevereiro de 2012

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2012



1. A Igreja no Brasil, para enfrentar os grandes desafios à ação evangelizadora, percebe a necessidade de voltar às fontes e recomeçar a partir de Jesus Cristo. Toda a ação eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e para o Reino do Pai. No contexto eclesial, não há como empreender ações pastorais sem nos colocarmos diante de Jesus Cristo.

2. Esta perspectiva norteia as novas Diretrizes Gerais da Ação Pastoral. Ela é condição para que, na Igreja, aconteça uma conversão pastoral que a coloque em estado permanente de missão, com o advento de inúmeros discípulos missionários, enraizados em critérios sólidos para ver, julgar e agir no enfrentamento dos problemas concretos e urgentes da vida de nosso povo.

3. A Campanha da Fraternidade, celebrada na quaresma, intensifica o convite à conversão. Ela contribui incisivamente para que este processo ocorra e alargue o horizonte da vivência da fé, na medida em que traz, para a reflexão eclesial, temas de cunho social, portadores de sinais de morte, para suscitar ações transformadoras, segundo o Evangelho.

4. Nesse ano, o tema proposto é “Fraternidade e a Saúde Pública”, com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). A saúde integral é o que mais se deseja. Há muito tempo, ela vem sendo considerada a principal preocupação e pauta reivindicatória da população brasileira, no campo das políticas públicas.

5. O SUS (Sistema Único de Saúde), inspirado em belos princípios como o da universalidade, cuja proposta é atender a todos, indiscriminadamente, deveria ser modelo para o mundo. No entanto, ele ainda não conseguiu ser implantado em sua totalidade e ainda não atende a contento, sobretudo os mais necessitados destes serviços.

6. Entendendo ser um anseio da população, especialmente da mais carente, um atendimento de saúde digno e de qualidade, a Campanha da Fraternidade 2011 aborda o tema da saúde, conforme os objetivos a seguir propostos.

Objetivo Geral

Refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde.

Objetivos Específicos

a. Disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de hábitos de vida saudável;

b. sensibilizar as pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a integração na comunidade;

c. Alertar para a importância da organização da pastoral da Saúde nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde ela já existe;

d. Difundir dados sobre a realidade da saúde no Brasil e seus desafios, como sua estreita relação com os aspectos socioculturais de nossa sociedade;

e. Despertar nas comunidades a discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação do seu justo financiamento;

f. Qualificar a comunidade para acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos públicos com transparência, especialmente na saúde.

REFLEXÃO : “A amizade oferece segurança, liberta do medo e é a condição básica da verdadeira felicidade.”

“A amizade existe para viver mais intensamente a vida”.
Epicuro

A amizade é doadora da alegria de viver tanto para os nossos amigos como para nós mesmos. A amizade torna-se uma partilha de vida tão intensa que um colabora pelo bem-estar e pela felicidade do outro. A amizade é cultivo, é cuidado, é ação de trabalhar pela felicidade do (a) amigo (a). A amizade oferece segurança, liberta do medo e é a condição básica da verdadeira felicidade.

Sabemos que somos forçado a colher aquilo que plantamos, por isso, devemos semear alegria, esperança e amor nos corações das pessoas. Quem for capaz de apostar na capacidade humana de crescimento e evolução tornar-se-á um sinal de esperança no coração das pessoas. Procure fazer bem sua parte e, se possível, leve outras pessoas a encontrar e praticar o bem.

Frei Paulo Sérgio, OFM

10 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : “Procure cativar as pessoas e encontrarás verdadeiras pérolas…”


“As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros,
por isso levo-as no coração”.
Dom Hélder Câmara
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As pessoas são presentes de Deus em nossos vidas. Algumas são colocadas em nossos caminhos como verdadeiros anjos, portadoras de mensagens de esperança, confiança e alegria… Outras tornam-se amigas, capazes de partilhar sentimentos, sonhos e amor. Essas eternizam-se dentro de nós e passam a fazer parte integrante de nossas vidas, pois ajudam-nos a sermos pessoas melhores, mais felizes e amadas.

Procure cativar as pessoas e encontrarás verdadeiras pérolas que te ajudarão a celebrar melhor a vida. Deus nos concede amigos (as) e permite também que sejamos amigos daqueles (as) que nos cativaram. E nessa troca temos a oportunidade de crescer e evoluir em nossa trajetória humana, pois o amor da amizade é um sentimento puro e verdadeiro. No amor da amizade experimentamos um pouco do amor pleno de Deus!

Por Frei Paulo Sérgio, OFM

8 de fevereiro de 2012

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos. A propósito do Jubileu de Santa Clara - III




Frei
Vitório Mazzuco

Em 1219, o Cardeal Hugolino, cardeal protetor das Clarissas, elabora uma norma chamada “Constituições Hugolinas”. Era uma espécie de Regra. Bem feita e rigorosa. Bem curial, mas não muito clariana. Texto bom , mas exigente em termos de jejum e silêncio; um modo um tanto formal de entender a Pobreza que Clara sonhava, e sem entender muito a ligação com a Ordem dos Frades. Esta unidade com a Ordem dos Frades era por demais importante para Clara.
Pouco antes de morrer, Francisco de Assis escreve consanguíneas palavras, tão ternas e precisas, conhecidas como “Última Vontade escrita para Santa Clara”: “ Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e perseverar nela até ao fim; e rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho para que vivais sempre nesta santíssima vida e pobreza. E estais muito atentas para, de maneira alguma, nunca vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém” ( FF, pág. 191). A Forma de Vida é a Pobreza, Regra de qualquer jeito fraterno. Só a Pobreza pode gerar fraternidade. Esta é a Regra desejada!

O cardeal Hugolino tornou-se Papa com o nome de Gregório IX. Em seu papado, precisamente no ano de 1228, confirma o “Privilegium Paupertatis” dado por Inocêncio III. Surpreendentemente, no ano de 1230 proíbe os frades de visitarem os mosteiros das clarissas. Em 1239 reafirma as suas “Constituições Hugolinas” ( 1219), e insiste: “Nós vos damos por Regra a de São Bento”.

Em 1245, já estamos no papado de Inocêncio IV, e ele mantém as “Constituições Hugolinas” até 6 de Agosto de 1247, quando promulga uma Regra. Esta Regra do Papa Inocêncio IV está bem mais próxima dos ideais e inspirações de Clara e Francisco. Até chega a ser conhecida como Regra de São Francisco. Não era; era do Papa mesmo! Inocêncio IV, nesta Regra, apresenta o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores como pai espiritual da Ordem das Clarissas; mas cria um problema: permite que as Clarissas tenham rendimentos e propriedades.

6 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : “A fagulha da eternidade mora dentro de nós e chama-se alma…”

“Feliz daquele que atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver.”
Dom Hélder Câmara

Nossa passagem por esta vida pode ser breve ou longa, pois vivemos sob a tutela do tempo e construímos nossa existência no espaço e na história. Mas, se conseguirmos abrir a janela da eternidade, perceberemos que existe uma maneira de romper com tudo aquilo que é efêmero e temporal. A fagulha da eternidade mora dentro de nós e chama-se alma… Ela é nossa porção divina!

Se você conseguir amar as pessoas e a vida e sentir Deus agindo em você, com certeza encontrará um sentido mais profundo para sua vida. E essa abertura trará alegria e satisfação para todos os seus afazeres. Sua vida passará a ser ungida pelo óleo da felicidade e você encontrará satisfação e prazer em cumprira a missão que Deus confia a você. Desperte para o lado bom da vida… Seja grato (a) a Deus por tudo que você tem e por tudo que você é!

Frei Paulo Sérgio, OFM

4 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : “A palavra certa, verdadeira e casta é aquela que abre caminhos…”

“As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são verdadeiras”.
Lao-Tsé

A palavra é a comunicação por excelência do ser humano, pois ela verbaliza, cria e traz a própria imagem daquilo que é pronunciado. A palavra certa e verdadeira é aquela que brota da reflexão e é aquecida pelos sentimentos do coração. E a palavra certa nem sempre agrada, pois ela purifica, faz saltar emoções e sentimentos. A palavra certa, verdadeira e casta é aquela que abre caminhos, mesmo que possa causar dor ou insatisfação no primeiro momento.

E como fazer com que a palavra seja empoderada de amor? Como proporcionar uma comunicação propositiva, encarnada e capaz de transformar? Talvez refletindo mais, meditando mais e rezando mais antes de pronunciar. O poder da palavra está no poder do amor, na capacidade de atingir o coração das pessoas e possibilitar crescimento e evolução. Quem comunica amor está na sintonia da verdadeira comunicação!

Frei Paulo Sérgio, OFM

3 de fevereiro de 2012

Um Deus que mendiga amor


Francisco de Assis ficava impressionado com a indigência de Deus em Jesus. A cena do presépio lhe entrara até o coração. Um Deus frágil, dependente dos seios da mãe e dos cuidados dos homens. No alto da cruz, pregado, amarrado, preso ele teria querido que alguém o tirasse dali. Um Deus pobre, indefeso, gritando: “Vede, se existe amor maior do que o meu?” Essa foi a tática do Senhor: aproximar-se dos homens gentilmente, sem espalhafato, suplicando-lhes a esmola da atenção. Os que respondem aos apelos do Coração rasgado do Redentor são cumulados de todos os bens e de todas as graças. O Deus que se manifesta em Jesus, sobretudo no alto da cruz, é um indigente. Santo Agostinho comentando o episódio da samaritana diz com muita propriedade: “Jesus pedia água à mulher, mas estava sedento de sua fé”. Bento XVI, por sua vez, escreveu: “Na Cruz, o próprio Deus mendiga o amor de sua criatura. Tem sede do amor de cada um de nós”. Os que se acostumam com a fragilidade Deus conhecem os mistérios do Senhor. Nosso Deus mendiga amor.

2 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO : “O espírito vai se fortalecendo em nós quando crescemos nessa experiência tão humana de repartir…”


“O espírito se enriquece com aquilo que recebe, o coração com aquilo que dá”
Victor Hugo.

As experiências da vida ensinou-me que ninguém é consolado neste mundo sem que tenha primeiro consolado outras pessoas. E também que nada recebemos sem que, primeiramente, tenhamos dado, ofertado, compartilhado… O espírito vai se fortalecendo em nós quando crescemos nessa experiência tão humana de repartir, de fazer outras pessoas felizes, de fazer brotar um sorriso de uma criança ou de um ancião.

Somente quem se possui é capaz de dar; somente quem entendeu a profundeza da encarnação de Jesus Cristo na história humana é capaz de servir de maneira desinteressada. Amar nunca foi e nunca será uma tarefa fácil, pois amar implica ser solidário, comprometer-se com o destino da humanidade. Amar significa ser gente até a raiz, ser pessoa na semelhança de Jesus Cristo.

Por Frei Paulo Sérgio, OFM