Encontro consigo mesmo
Que pretendemos fazer de nossas vidas? Para onde caminhar? Que fazer desse espaço que se chama minha vida, nossa vida? Na sua juventude, o coração de Francisco, esse de Assis, deu muitas voltas em seu peito. Continuamos a série de reflexões sobre um certo Francisco de Assis. Esta é uma pagina para grupos vocacionais e para pessoas que não querem viver mediocremente.
1. Francisco vai vivendo sua vida na Assis dourada e cheia de promessas. Novos tempos para a cidade. A nobreza deixa de imperar. Surgem novas classes. O pai de Francisco é um comerciante que anda tendo muito sucesso. O dinheiro impera. Os nobres se refugiam em seus castelos. Há classes emergentes. Novos ricos. As revoluções populares derrubam a fortaleza de Assis. No meio de tudo isso há um jovem chamado Francesco. Jovem, podendo tornar-se rico, mas que não se sente bem em lugar nenhum. Seu desejo de glória parece não realizar-se. O que fazer da vida? Para onde ir? Ficar a vida toda vendendo tecidos na loja do pai? Ganhar dinheiro? Casar-se? Ter uma porção de filhos? Simplesmente envelhecer e morrer? Que fazer da vida? Esta é uma pergunta que sempre nos trabalha por dentro. Sim, o que estamos fazendo, ou o que faremos de nosso existir? Parece que, no começo de seu processo vocacional, Francisco começou a frequentar mais seu interior. Foi quando seu coração começou a dar muitas voltas. Francisco começou a se encontrar consigo mesmo.
2. Francesco está em torno dos vinte anos de existência. O mundo está aos seus pés. O que é certo: ele não deseja viver mediocremente. Quer agarrar tudo. Começa a buscar, de maneira bem prática, seu caminho. Inicia um verdadeiro processo de discernimento vocacional. Engaja-se nas batalhas e lutas de sua Assis contra a cidade de Perúgia. Ali, no campo de batalha, vestido com roupas de guerreiro, pensa poder encontrar a glória… Depois… depois poderia voltar vitorioso e as meninas não o largariam mais. Seria coroado de troféus. Mas não são assim que as coisas acontecem. O jovem Francesco é feito prisioneiro. A Legenda dos Três Companheiros diz que seus companheiros de cárcere estavam muito tristes. Francisco, sempre jovial e alegre, não se mostrou triste. Disse aos circunstantes: “O que vocês pensam de mim? Haverei ainda de ser honrado no mundo inteiro!” (3 Companheiros 4). Tem-se a nítida impressão que Francisco começa a se preocupar com seu futuro. Não deveremos pensar em primeiro lugar que sonhe com grandezas quaisquer. Pensava em ideais nobres como o da cavalaria. Esse tempo da prisão deve ter purificado o interior do jovem.
3. As coisas iam sendo trabalhadas em seu coração. Naquele cárcere, privado de liberdade, em contacto com bandidos e criminosos Francisco tem ocasião de refletir sobre sua vida. Esta situação de reflexão vai continuar durante o tempo de doença que viveu de volta à casa. A mãe cuidava dele. Dedicava-se às atividades comerciais e assim enchia o tempo. São Boaventura afirma que nesse tempo ignorava ele os planos de Deus a seu respeito. Não estava acostumado a pensar nas coisas divinas. Mas acrescenta que o sofrimento pode dar compreensão às coisas da alma. Francisco vai sendo trabalhado pelo Alto. Sempre a pergunta: “O que fazer da vida?”
4. Outro episódio importante foi o do sonho do palácio cheio de armas. Sonha em ser cavaleiro, bonito, elegante, galante, tendo as moças a seus pés… coberto de honras. Francisco interpretou este sonho como se ele estivesse fadado a ser um grande príncipe. Há nele um desejo de buscas. “Despertando, levantou-se de manhã animado e alegre, pensando de maneira mundana, como quem ainda não saboreia plenamente o espírito de Deus, que devia ser um príncipe magnífico e, julgando e visão um presságio de grande prosperidade, deliberou empreender uma viagem à Apúlia a fim de ser constituído cavaleiro….” (3Companheiros 5).
5. E continua a busca de seu caminho. Os biógrafos falam da visão de Espoleto. Estava no empenho de tornar-se cavaleiro, de pegar em armas, na busca das glórias terrenas. Ouviu meio dormindo alguém que lhe dizia: “Quem te pode fazer melhor ou maior: o servo ou o senhor? Francisco diz que é melhor servir ao senhor. A voz lhe diz: Por que andas servindo o empregado e não o patrão? Francisco não entendia as coisas. Era o Mistério de Deus que começava atraí-lo. Elaborava-se a sua vocação. Precisava servir a um patrão. Mas quem era esse patrão, esse senhor?
6. Depois desta visão de Espoleto, os biógrafos falam de uma mudança de comportamento por parte de Francisco. O alegre Francisco se torna pensativo. Numa determinada ocasião após o jantar seus companheiros de festas iam à frente, cantando. Francisco permanecia mais atrás, pensativo. Parece que Deus começa a empurrar a porta de seu coração. Era uma visita de Deus. Dizem os biógrafos que Francisco experimentou uma grande doçura no fundo do coração. Os companheiros pensavam que estava amando, que tinha arranjado uma namorada. Sua cabeça dava muitas voltas. Ele estava diferente. Características desse momento da vida de Francisco: atitude de reflexão, recolhimento interior, disponibilidade, exame da possibilidade de arriscar a vida.
7. A pergunta fundamental é esta: O que queres de mim? Os biógrafos de Francisco dizem que ele começa a não levar tanto em conta as coisas superficiais e dedica-se mais à oração. O que antes amava aos poucos vai perdendo o gosto e o filho de Pietro di Bernardone vai se desligando das coisas do mundo. Começava a ser visitado pelo Espírito. O doce começava a se tornar amargo e o amargo, doce. Pede à Providência que lhe mostre um caminho. Parecia que sabia da existência de um tesouro, mas ignora onde encontrá-lo. Tudo indicava que ele teria que vender todas as coisas, também sonhos e vaidades.
8. Uma oração aflorava em seus lábios: “Iluminai as trevas de minha alma, dai-me uma fé íntegra, uma esperança firme, uma caridade perfeita. Concedei meu Deus que eu vos conheça muito para poder agir segundo a vossa vontade”. O homem de Assis estava vivendo uma santa inquietude. Muitas etapas haveriam de ser percorridas antes de encontrar o verdadeiro caminho a trilhar. Para ele e para todos nós fica a questão: O que queres de mim, Senhor? O coração de Francisco andava dando muitas voltas…
Para continuar a reflexão
Como Francisco se tornou prisioneiro em Perúgia (Legenda dos Tres Companheiros 4)
O sonho das armas (Legenda dos Três Companheiros 5)
É melhor servir ao senhor do que ao servo (Legenda dos Três Companheiros 6)
Para refletir
- O que mais chamou sua atenção na leitura desta reflexão?
- O que estava se passando com Francisco?
- Que tipo de perguntas os jovens costumam fazer a respeito de seu amanhã?
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário