23 de fevereiro de 2012

Uma quarta-feira salpicada de cinzas

Senhor, a semana tem sete dias.
A maioria das pessoas prefere o domingo;
há outras que gostam do sábado.
Poucos diriam apreciar a quarta-feira.
Nós, cristãos, sempre haveremos de
associar a quarta-feira ao tema das cinzas.
Desde pequenos fomos nos acostumando a receber
na fronte esse punhadinho de pó no dia seguinte à terça-feira gorda.
Sobre o altar ou na credência são colocados os potes com cinza.
Antes de se tornarem pó, essas cinzas eram galhos,

ramos frondosos que carregamos no domingo das palmas,
cantando hinos ao Cristo Rei.
Garbosos nós os empunhávamos,
aclamando o rei entrando em sua cidade montado num burrico.
A força e a imponência dos ramos se converteram
na insignificância das cinzas.
Se desse um pé de vento o pó se haveria de espalhar
por todo o templo.
As cinzas simbolizam a fragilidade, o efêmero, o fugaz.
Somos únicos no mundo, constituímos a realização de um sonho de Deus,
ao mesmo tempo somos nada, caniço pensante, mas caniço!
Cinza, poeira, terra.
Viemos do nada, o Senhor quis que existíssemos.
Somos imagem dele, mas amanhã deixaremos de existir.
Não somos onipotentes, não somos deuses.
Vivemos agora o tempo da quaresma,
sem sandálias nos pés,
sem títulos de honra,
como gente humilde
gente consciente de sua fragilidade.

Dá-nos, Senhor, nesse tempo oportuno
nesse tempo de salvação
entrar frequentes vezes no silêncio do quarto,
buscar teu rosto no mistério do silêncio.
Que saibamos dar sem ver a quem
e enfeitar no rosto quando estivermos jejuando
de nós mesmos e nos privando daquilo a que temos direito.
Queremos fazer o jejum de nossos acertos de contas,
de nossas reivindicações e autossuficiência.
Do pó viemos e para o pó voltaremos.
Esta é uma quarta-feira salpicada de cinzas.

B) Chama que queima como o fogo

Simeão, o novo teólogo (sec. X)

Dá-me, Cristo, beijar teus pés,
permite-me oscular tuas mãos,
estas mãos que me criaram pela tua palavra,
estas mãos que tudo fizeram sem cansaço.

Dá-me de cumular de teus dons sem ser saciado.
Que possa ver o teu rosto, ó Verbo
e desfrutar de tua beleza inexprimível,
de contemplar e saborear tua visão, visão inefável,
visão invisível, visão tremenda.

Tu estás para além da natureza, além de tudo
totalmente todo, tu, meu Deus, meu Criador.
É-nos permitido ver um reflexo de tua glória divina
e uma luz simples, uma luz doce;
Revela-se como luz, como luz se une inteiramente a nós
em totalidade, teus servos;
luz que se contempla pelo espírito e de longe;
luz que se descobre de repente em nosso interior,
luz que desliza como a água e arde como o fogo
no coração daquele que ela se apossa…
Por meio desta luz vim a saber, meu Salvador,
que minha alma humilde e pobre fora tocada,
que ela ardia e se consumia.

Não tolero me calar, meu Deus,
e esconder nos abismos do esquecimento as obras
que realizaste e que realizas cada dia
para os que te buscam com ardor e que,
com espírito de penitência, se refugiam junto a ti.

Não quero de minha parte
como o servo mau que enterrou seu talento
ser justamente condenado.

Divulgo estas maravilhas e a todos as revelo;
passo adiante o que sei a respeito de tua misericórdia
e as narro às gerações que estão para chegar, ó meu Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário