30 de novembro de 2014

30/11 - Bem-aventurado Bernardino de Fossa


Sacerdote da Primeira Ordem (1420-1503). Aprovou seu culto Leão XII no dia 26 de março de 1828.


Bernardino Amici, pregador e escritor franciscano, nasceu em 1420 em Fossa, perto de Áquila. Em Perúsia, onde se tinha formado em direito, ingressou nos frades menores em 1445. Viveu em vários conventos da Úmbria e dos Abruzos, mas a residência mais habitual foi em Áquila. Por três triênios o elegeram para ministro provincial da sua província, e também foi procurador geral da ordem na cúria romana. Tomou parte em vários capítulos gerais realizados em Áquila, Assis, Milão, Roma e Mântua. Várias vezes recusou o bispado de Áquila.

Foi célebre pregador, em Itália e não só; deu brado uma quaresma que pregou na Dalmácia em 1465. Nos últimos anos da vida divulgou alguns escritos seus de caráter teológico e histórico, mas a maior parte das suas obras ficou inédita.
Como filho fiel do seráfico pobrezinho e ardente ministro de Cristo, propôs-se seguir o trilho de São Bernardino de Sena, a quem várias vezes ouvira pregar e por quem ficara fascinado, em especial quando em 1438 ele pregou em Áquila sobre a Assunção de Maria em corpo e alma ao céu. A multidão imensa no meio da qual se encontrava Bernardino viu brilhar no céu uma estrela luminosa cujo esplendor superava o do sol.

De São Bernardino de Sena copiou o nosso frei Bernardino o espírito de fé e de recolhimento, a prudência, a humildade, a modéstia, o zelo ardente pela glória de Deus. Por isso o vemos a calcorrear cidades e mais cidades a pregar a palavra de Deus, suscitando por toda a parte o entusiasmo e obtendo numerosas conversões.

Durante oito meses esteve prostrado de cama, atormentado por terríveis sofrimentos, suportados como exemplar resignação. Até que um dia lhe apareceu o seu patrono São Bernardino de Sena, que lhe obteve do Senhor a cura completa.

Liberto dos compromissos que a ordem lhe confiara, regressou aos Abruzos e prosseguiu as lides apostólicas com renovado fervor. Fundou novos conventos, entre eles o de Santo Ângelo de Ocre na sua região natal, onde decidiu viver até avançada idade. Aos 83 anos, esgotado pelos trabalhos apostólicos e pela austeridade de vida, retirou-se ao convento de São Julião próximo de Áquila, a preparar-se para o encontro com a irmã morte, que sobreveio no dia 27 de novembro de 1503. Foi um digno filho de São Francisco e fiel imitador de São Bernardino de Sena, e Deus não deixou de avalizar a sua santidade com o dom dos milagres.

29 de novembro de 2014

29/11 - Todos os Santos da Ordem Franciscana


Santos canonizados da primeira ordem, 110; Santas canonizadas da segunda ordem, 9; Santos e Santas canonizados da terceira ordem regular e secular, 53; Religiosos da primeira ordem beatificados, 161; Religiosas da segunda ordem beatificadas, 34; da terceira ordem regular e secular, 95 beatificados. Total de membros das ordens franciscanas canonizados e beatificados, no fim do milênio, 482.

No aniversário da aprovação da regra de São Francisco Honório III, no dia 29 de novembro de 1223. A ordem franciscana recolhe-se em oração festiva para contemplar a grandiosa árvore de santidade nascida daquele livrinho que Francisco dizia ter recebido do próprio Jesus e constituía a “medula do Evangelho”.
Era esse precisamente o projeto de vida e o carisma do pobrezinho: ser sal da terra e luz do mundo, fazer reviver na Igreja o Evangelho em sua pureza, ou seja, apresentar perante os homens a vida de Cristo em todas as suas dimensões: desde a pobreza ao zelo pela salvação de todos, do anúncio da Boa Nova ao sacrifício da cruz.

Quem poderia contar a imensa multidão de Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus – se quisermos utilizar esta terminologia canônica – ou melhor ainda, de todos os irmãos e irmãs, sem nome e sem rosto, que nos limites da sua fragilidade viveram a perfeição evangélica, fazendo da regra franciscana a norma da sua vida? É um imenso capital de santidade e de amor, muitas vezes desconhecido, outras vezes esquecido, quando não mesmo desprezado pelo mundo! O bem dá menos nas vistas do que o mal; no entanto, a história do bem, tantas vezes anônima e despercebida, tem escrito o nome e o rosto de Cristo. É essa história que impede o mundo de cair no desespero e fecunda as atividades da Igreja.

São Francisco disse um dia aos irmãos, numa explosão de alegria: “Caríssimos, consolai-vos e alegrai-vos no Senhor! Não vos deixeis entristecer pelo fato de serem poucos, nem vos assusteis da minha simplicidade nem da vossa, pois o Senhor me revelou que há de fazer de nós uma inumerável multidão e nos propagará até os confins do mundo. Ele me mostrou um grande número de pessoas a vir ter conosco, com o desejo de viverem segundo a nossa regra. Ainda me parece ouvir o ruído dos seus passos! Enchiam diversos caminhos, vindos de todas as nações: eram franceses, espanhóis, alemães, ingleses, uma turba imensa de várias outras línguas e nações”.

Ao ouvirem estas palavras, uma santa alegria se apoderou dos irmãos, pela graça que Deus concedia ao seu Santo.

28 de novembro de 2014

28/11 - São Tiago das Marcas



Sacerdote da Primeira Ordem (1391-1476). Canonizado por Bento XIII no dia 10 de dezembro de 1726.


Em conjunto com João de Capistrano, Bernardino de Sena e Alberto de Sarteano, Tiago das Marcas é uma das colunas da Observância Franciscana, a singular reforma da Ordem no século XV, que, opondo-se a um humanismo exagerado, propôs o retorno à vida pobre e simples e ao zelo apostólico que caracterizou o franciscanismo primitivo.

Nascido em 1391 em Montprandone (Piceno), desde muito novo se sentiu atraído pelo ideal franciscano, e vestiu o hábito dos frades menores no convento dos Cárceres, perto de Assis. Era tão propenso à mortificação, que o seu mestre de teologia e de vida espiritual, São Bernardino de Sena, teve de lhe recomendar certa moderação. Dotado de excepcionais dotes oratórios, uma vez ordenado sacerdote percorreu a Itália e grande parte da Europa a pregar a fiéis, hereges e infiéis, com abundantes frutos de conversão e reforma de costumes.

Recusou a oferta do arcebispado de Milão e foi conselheiro de papas e imperadores. Esteve ao serviço da santa Sé em numerosas missões, e sucedeu a São João de Capistrano como guia espiritual da cruzada contra os turcos.

Sendo um pregador de raras qualidades, exerceu essa forma de apostolado não apenas na Itália, mas ainda em países estrangeiros, como a Bósnia, a Boêmia e a Polônia. Estava em meio duma refeição quando lhe chegou às mãos a ordem papal de partir para a Hungria. Levantou-se imediatamente, sem acabar de comer, para cumprir a ordem recebida. Era assim a sua obediência, absoluta e instantânea.

Levava uma vida de rigor e austeridade. Durante o ano fazia nada menos de sete quaresmas, e nos outros dias a sua alimentação limitava-se a pequenas e pobres rações, como uma malga de favas simplesmente cozidas em água. O seu zelo pela castidade levava-o a disciplinar-se por vezes de noite, ao ser atormentado por tentações carnais. Enfermiço e debilitado pelos jejuns, por seis vezes recebeu a Unção dos Enfermos. Apesar disso resistiu até aos 80 anos na fatigante vida de pregador volante.

Os temas de sua pregação eram idênticos aos de São Bernardino, cauterizando em especial a avareza e a usura. Para combater esta praga social idealizou os Montes de Piedade ou Montepios, onde os pobres podiam empenhar os seus bens por um preço justo e com juros mínimos, ao contrário do que faziam os usuários privados.

No dia 28 de novembro de 1476, com 85 anos de idade, faleceu em Nápoles, onde se conservam os seus restos mortais na igreja de Santa Maria Nova. Apaixonado pelo estudo, traduziu muitas obras e compôs algumas de sua autoria, as quais nos permitem ter um conhecimento profundo da sua vida, da sua espiritualidade e da sua ação apostólica.

27 de novembro de 2014

27/11 - São Francisco Antônio Fasani


Sacerdote da Primeira Ordem (1681-1742). Canonizado por João Paulo II no dia 13 de abril de 1986.

Francisco Antônio Fasani, natural de Lucera, na região italiana da Apúlia, era filho duma família de modestos lavradores. Sendo ainda muito novo, entrou na ordem franciscana, no convento de Lucera dos frades menores conventuais, e não tardou distinguir-se pela inocência de vida, espírito de penitência e pobreza, ardor seráfico e zelo apostólico, a ponto de parecer um São Francisco redivivo.

Fez o noviciado no convento do Monte Santo Ângelo, no Gárgano, e aí emitiu os votos de consagração ao Senhor em 1699. Quatro anos depois, para completar a formação, foi enviado para o Sacro Convento de Assis, onde foi ordenado sacerdote em 1705.

Dali passou ao colégio de São Boaventura, onde recebeu o título de mestre de teologia – e por isso daí em diante os seus conterrâneos de Lucera começaram a chamar-lhe de o “Padre Mestre”. Voltando para Assis, dedicou-se à pregação pelas aldeias, até que pouco depois voltou definitivamente à sua terra natal.

A partir da cátedra, do púlpito ou do confessionário, o seu apostolado era sempre intenso e fecundo. Percorreu todas as terras da Apúlia e arredores, merecendo o epíteto de “apóstolo da sua terra”. Profundo em filosofia e não menos em teologia, começou por ser leitor e prefeito de estudos no Colégio de Filosofia de Lucera. Depois foi mestre de noviços e guardião do convento, e sempre modelo de observância regular para os confrades, sendo por isso nomeado em 1721, por especial Breve de Clemente XI, ministro da Província religiosa de Santo Ângelo, que nesse tempo era muito extensa. Escreveu diversas obras de pregação, entre elas um “Quaresmal” e um “Marial”. A sua principal preocupação ao falar ao povo era fazer-se entender por todos. Por isso a sua catequese, tipicamente franciscana, era especialmente dirigida ao povo simples, pelo qual ele sentia particular atração.

Outra característica sua foi uma inesgotável caridade para com os pobres. Entre as diversas iniciativas, promoveu o simpático costume de recolher e distribuir prendas úteis para os pobres por ocasião do Natal. Também foi notável o seu zelo sacerdotal na assistência a presos e condenados à morte, a quem acompanhava até o lugar do suplício, para os consolar nos derradeiros momentos. Neste admirável ministério da caridade antecipou-se a São José Cafasso.

Mandou restaurar a bela igreja de São Francisco em Lucera, centro da sua incansável atividade sacerdotal durante 35 anos. Às pessoas de quem era diretor espiritual recomendava a devoção a Santíssima Virgem, em especial no privilégio da Imaculada Conceição.

Aos 61 anos de idade morreu onde nascera, em Lucera, a 29 de novembro de 1742, o primeiro dia da grande novena da Imaculada. O seu corpo é venerado na igreja de São Francisco.

26 de novembro de 2014

26/11 - São Leonardo de Porto Maurício


Sacerdote da Primeira Ordem (1676-1751). Canonizado por Pio IX no dia 29 de junho de 1867.


São Leonardo foi proclamado pela Igreja como Padroeiro das missões entre fiéis, pela orientação particular que deu ao seu apostolado e pela amplidão da sua obra missionária, que se estendeu a todas as cidades da península itálica. Nasceu em Porto Maurício, na Ligúria, e frequentou em Roma o colégio gregoriano. Entrou ainda jovem na ordem dos frades menores, e desde o noviciado propôs imitar o mais fielmente possível a vida de São Francisco. Veio a conseguir o seu intento, sobretudo na penitência, que raiava pelo heroísmo, na altíssima contemplação e no zelo apostólico.

Ordenado sacerdote, dedicou-se por mais de 40 anos à pregação, com grande proveito para os fiéis, escolhendo como temas as mais importantes verdades cristãs, seguindo também  neste pormenor a exortação de São Francisco.

A simples apresentação da sua figura já constituía um bom princípio de pregação: austero, magro, ardente de fé e de amor. O seu estilo retórico, em conformidade com o costume da época valia-se de sinais exteriores destinados a causar impacto e mover à contrição e às lágrimas, apelando à sensibilidade. Neste clima se situa a grande devoção da Via Sacra, de que foi eminente divulgador. Deixou algumas obras escritas, desde simples esboços até tratados de ascética e de pregação.

A pregação de São Leonardo caracterizava-se por algo de dramático e até trágico. Multidões imensas acorriam a escutá-lo, e ficavam impressionadas pela sua palavra ardente, convidando à penitência e à piedade cristã. Dizia dele Santo Afonso Maria de Ligório, que era “o maior missionário do século”. Não era raro durante a sua pregação o auditório inteiro prorromper em pranto e em soluços. Pregou por toda a Itália, mas a região favorita foi a Toscana, por causa do jansenismo, que ele se propôs combater com todo o empenho, abordando para isso os temas que lhe pareceram mais eficazes: o nome de Jesus, a Virgem Maria e a Via Sacra. Quando ele fazia uma missão na Córsega, os bandidos desta atormentada ilha deram tiros para o ar gritando: “Viva Frei Leonardo! Viva a Paz!”.

Bastante desgastado pelos constantes trabalhos apostólicos, foi chamado a Roma, onde, em apaixonados sermões a que o próprio papa por vezes assistia, preparou o clima espiritual para o jubileu de 1750. Foi nessa altura que erigiu a Via Sacra no Coliseu, declarando sagrado aquele lugar onde muitos mártires tinham vertido o sangue por Cristo. No ano seguinte ainda se deslocou à região de Bolonha, para as suas últimas pregações.

Regressando a Roma, ao convento de São Boaventura no Palatino, a 26 de novembro, com 75 anos de idade, terminou a carreira terrena este incomparável missionário do povo cristão. As autoridades tiveram de recorrer às forças de segurança para controlarem a multidão dos devotos que queriam ver o Santo e levar relíquias dele. Foi a respeito dele que disse o papa Lambertini: “Perdemos um amigo na terra, mas ganhamos um Santo no céu”.

25 de novembro de 2014

25/11 - Bem-aventurada Isabel Bona

Virgem, religiosa da Terceira Ordem Regular (1386-1420). Aprovou seu culto Clemente XIII no dia 19 de julho de 1766.

A filha saiu aos pais, humildes e pobres de bens temporais, mas ricos de virtude: também ela se distinguiu desde a meninice por uma piedade rara, inocência virginal e um feito tão doce e amável que todos a tratavam como a “Boa” (Bona), sobrenome por que ficou a ser conhecida.

Quando Isabel contava 14 anos, o padre Conrado Kigelin, seu confessor, aconselhou-a a deixar o mundo e tomar o hábito da ordem terceira de São Francisco. Passou a viver segundo a regra franciscana primeiramente em sua própria casa; mas pouco depois achou melhor deixar os pais para ir viver com uma piedosa terceira franciscana. O demônio para impedir os progressos de Isabel no caminho da perfeição, atormentava-a com frequência. Enquanto ela aprendia a arte de tecelã,  estragava o seu trabalho, fazia-a perder a metade do tempo em reparações de defeitos. Mas Isabel levava sempre a melhor com a sua paciência a toda a prova.

Quando ela completou 17 anos, o padre Conrado Kigelin orientou-a para uma comunidade feminina onde algumas religiosas seguiam com fervor a regra franciscana da ordem terceira. Enquadrada nessa comunidade, Isabel continuou sempre com a mesma doçura e obediência, assídua à oração e à penitência, preferindo os ofícios mais humildes, tão amante da solidão que só saía do convento por motivos de força maior, a ponta de lhe chamarem “a reclusa”.

O demônio continuou a persegui-la de forma implacável, mas sem êxito. Foi atacada pela lepra e outros sofrimentos físicos. No entanto, essas novas provações ainda tornaram mais heroica a paciência de Isabel, que nunca se queixava de nada, pelo contrário, louvava a Deus por tudo.

E Deus compensou as virtudes da sua humilde serva, favorecendo-a com êxtases e visões maravilhosas. Durante o concílio ecumênico de Constança prognosticou o fim do cisma do ocidente e a eleição do papa Martinho V. Jesus concedeu-lhe a graça de experimentar os sofrimentos da sua Paixão e de receber no corpo a impressão das Chagas. Por vezes a cabeça aparecia ferida por espinhos. No meio das dores, exclamava: “Obrigada, Senhor, por me fazeres sentir as dores da tua Paixão!”. As chagas apareciam apenas de vez em quando, mas os sofrimentos eram contínuos. O padre Conrado Kigelin, que foi sempre o seu diretor espiritual, deixou-nos uma biografia da sua dirigida, escrita por ele próprio. Isabel foi uma alma mística, rica de especiais carismas. Morreu a 25 de novembro de 1420, com 34 anos de idade.




24 de novembro de 2014

24/11 -Bem-aventurado Mateus Álvares


Mártir no Japão, da Terceira Ordem (+1628). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.
 
O pai de Mateus Álvares era português, e a mãe japonesa. O filho foi um cristão exemplar já em vida, mas, sobretudo na morte. Pertence ao número imponente dos convertidos japoneses depois da mais antiga experiência de evangelização desse país do extremo Oriente, ligado à história e à glória de São Francisco Xavier.

São Francisco Xavier tinha estado no Japão por volta de 1550, e aí lançara as primeiras sementes do apostolado cristão. Depois dele, a obra evangelizadora foi continuada pelos seus confrades da Companhia de Jesus, com êxito tanto mais surpreendente, quanto era difícil penetrar naquela cultura e mentalidade muito diferente da ocidental, e ainda devido à complexidade da língua japonesa.

Apesar disso, menos de 30 anos depois, em 1587, já se contavam no Japão mais de 200.000 cristãos. Um deles era o Beato Mateus Álvares. Batizado pelos franciscanos, tinha-se inscrito na ordem terceira de São Francisco e esforçava-se por viver segundo o espírito seráfico. Como bom japonês, conhecia perfeitamente as doutrinas e os costumes budistas, e isso permitiu-lhe sair vencedor em variadas discussões e obter numerosas conversões.

Durante certo tempo os missionários do Japão viveram em clima de tolerância e inclusivamente de simpatia. Mas de repente, por motivos diversos e complexos, foi decretada a expulsão dos missionários estrangeiros. Contudo, grande parte dos religiosos não fizeram caso do decreto e continuaram lá, na clandestinidade, prosseguindo com as devidas cautelas o trabalho de apostolado e assistência às comunidades cristãs. Sucedeu que a chegada de novos missionários e o seu proselitismo demasiadamente descarado sobressaltou as autoridades, que decretaram a prisão de todos os missionários e também de cristãos mais notáveis.

Mateus foi detido e levado para a cadeia, onde já encontrou outros cristãos e missionários. Todos sofreram refinadas e humilhantes torturas, entre as quais a de serem expostos à irrisão e escárnio das populações. Eram também solicitados a renegar a fé cristã; mas nem ele nem nenhum dos companheiros desertou. Finalmente a 8 de setembro de 1628 foi executado na colina próxima de Nagasáki, chamada mais tarde a Colina Sagrada. Foi primeiro atravessado com lanças cruzadas que lhe atravessaram o coração, e de seguida decapitado. Antes de morrer dirigiu-se pela última vez ao povo para exortar à perseverança, e aos verdugos para lhes declarar o seu perdão.

Sobre a Colina Sagrada, ou Colina dos Mártires, de Nagasáki, erguia-se um estandarte não de derrota, mas de perene vitória.

23 de novembro de 2014

23/11 - Bem-aventurado Humilde de Bisigniano


Religioso da Primeira Ordem (1582-1637). Beatificado por Leão XIII no dia 29 de janeiro de 1882.


Humilde, cuja terra natal é uma humilde povoação da província de Cosenza, região da Calábria, no sul da Itália, nasceu a 26 de agosto de 1582, e deu mostras duma extraordinária piedade: participava na missa todos os dias, comungava em todas as festas, orava e meditava na Paixão do Senhor em todos os momentos possíveis, até nos trabalhos agrícolas.

Os membros da confraria da Imaculada Conceição, em que se inscreveu, não lhe regateavam elogios, tomando-o por modelo de todas as virtudes. Quando uma vez alguém lhe deu em público uma grande bofetada, a sua única resposta foi apresentar a outra face ao malcriado agressor.

Aos 18 anos sentiu-se chamado à vida religiosa, mas teve de diferir por nove anos a realização desse ideal. Entretanto, continuando no mundo, levava uma vida de religioso. Aos 27 anos foi admitido ao noviciado dos Frades Menores, onde os encarregados da formação dos jovens candidatos eram dois santos religiosos. Embora as dificuldades continuassem, frei Humilde, recorrendo à intercessão de Maria, conseguiu superá-las, e emitiu os votos de consagração ao Senhor no dia 4 de setembro de 1610.

As referidas dificuldades radicavam, sobretudo, no dom do êxtase em que era frequentemente arrebatado, a ponto de lhe chamarem o “frade extático”. Quando tais êxtases começaram a ocorrer-lhe em público, os superiores acharam por bem sujeitá-lo a uma série de humilhantes provas, a ver se tais arroubos seriam de fato uma graça de Deus, e não um embuste. Suportadas e vencidas com êxito essas provações, passou a ser mais apreciado e venerado tanto entre os confrades como entre o povo.

Além do êxtase foi agraciado com outros carismas, como perscrutação dos corações, profecia, milagres e ciência infusa. Apesar de ser analfabeto e pouco inteligente, certas respostas sobre a sagrada Escritura e a doutrina católica deixavam pasmados até mesmo teólogos de nomeada. O arcebispo de Réggio Calábria, como presidente duma assembleia de padres e teólogos, apresentou-lhe certas dúvidas e objeções, a que ele deu resposta rápida e correta. Levado perante o Inquisidor de Nápoles, Monsenhor Campanile, frei Humilde sempre respondeu com franciscana simplicidade.

O ministro geral dos frades menores teve por ele tal apreço que quis levá-lo como companheiro em visitas a várias províncias da ordem; e papas Gregório XV e Urbano VIII, que o chamaram a Roma e o fizeram examinar rigorosamente, depositaram nele grande confiança, a ponto de lhe pedirem orações e conselhos.
As virtudes em que mais se distinguiu foram a humildade, a obediência e a oração. Morreu aos 55 anos na terra onde nascera e passara os derradeiros anos da vida, Bisigniano, a 26 de novembro de 1637.

22 de novembro de 2014

22/11 - Bem-aventurado Salvador Lilli


Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1853-1895). Beatificado no dia 3 de outubro de 1982 por João Paulo II.

Nasceu para a vida terrena numa Capadócia da Itália, província de Áquila, e durante 15 anos trabalhou como missionário na célebre região da Capadócia, atualmente turca, junto à Armênia, onde nasceu pelo martírio para a vida do céu.

Foi o sexto e último filho de uma família de boa prática religiosa e situação econômica desafogada, devido à atividade comercial do pai. O ambiente familiar profundamente cristão fez germinar e crescer no menino Salvador sentimentos de fé e piedade, e ao mesmo tempo as possibilidades econômicas permitiram-lhe uma preparação e instrução escolar fora do comum.

Aos 18 anos, Salvador apresentou-se ao guardião do convento de São Francisco da Ripa, em Roma, pedindo para ser admitido na ordem dos frades menores. Em 1863 resolveu ir como missionário para a Terra Santa, onde desde os tempos de São Francisco os franciscanos são encarregados de cuidar de santuários e assistir a peregrinos. Continuou na Palestina os estudos de filosofia e teologia, primeiro em Belém e a seguir em Jerusalém, onde foi ordenado sacerdote em 1879. No ano seguinte foi à Turquia; como conhecia diversas línguas orientais, a árabe, a turca e a armênia, desenvolveu um frutuoso apostolado entre os cristãos dessas regiões, sobretudo em Marasc.

Em 1885 voltou à Itália para visitar a família e os confrades, e logo no ano seguinte regressou a Marasc, onde, como superior da missão no quadriênio de 1890-1894 realizou importantes obras de caridade e de assistência social em favor dos fiéis.
Coadjuvado por outros confrades, durante 15 anos a sua ação apostólica não se limitou a atividades religiosas, senão que também fomentou a instrução e a promoção social dos pobres. Graças aos seus extraordinários dotes de inteligência e de coração e ao perfeito conhecimento da língua turca, tanto falada como literária, depressa e sem dificuldade granjeou o afeto dos cristãos e a estima e o respeito dos não cristãos, inclusivamente das autoridades, devido, sobretudo, aos empreendimentos de ordem social, como o de ter adquirido uma grande propriedade e a ter dotado de alfaias agrícolas e ter aberto um dispensário.

Em 1885 os mulçumanos desencadearam uma perseguição armada, sistemática e feroz contra a minoria armênia da região. Frei Salvador, que havia dezesseis meses era pároco, além de superior da fraternidade, recusou fazer-se muçulmano. Ferido numa perna, e depois feito prisioneiro com dez dos seus paroquianos, foi assediado pelos maometanos, com subornos e com ameaças, no intuito de o fazerem apostatar. Mas manteve-se sempre firme e inquebrantável; e apesar da ferida da perna, que provocava grande perda de sangue, ainda confortava e animava os outros, dizendo-lhes: “Meus filhos, sede fortes na fé, não vos façais muçulmanos. O sofrimento passa depressa, e no céu está à nossa espera Jesus com todos os seus santos. Coragem! Depois do martírio espera-nos a coroa de glória no paraíso”.

No dia 22 de novembro de 1895, junto com sete cristãos armênios seus paroquianos, foi imolado a golpes de baioneta. No dia 3 de outubro de 1982, como conclusão do oitavo centenário do nascimento de São Francisco (1182-1982), o papa João Paulo II proclamava Bem aventurados Salvador Lilli e os sete cristãos seus companheiros no martírio pela fé em Cristo.

21 de novembro de 2014

21/11 - Bem-aventurada Maria Crucificada (Isabel Maria) Satellico


Virgem da Segunda Ordem (1706-1745). Beatificada por João Paulo II no dia 10 de outubro de 1993.

Isabel Maria nasceu em Veneza no último dia do ano de 1706. Recebeu a primeira educação cristã dos pais e de um tio sacerdote. Era de saúde delicada, e mostrava grandes qualidades para a música e o canto, mas mais ainda para a oração.

Recebida entre as Clarissas para ser por elas orientadas nos caminhos de Deus, prestou-lhes bons serviços como organista e diretora de canto. Aos 19 anos foi recebida como noviça e mudou o nome para Maria Crucificada, pela devoção que consagrava a Maria e à Paixão de Cristo.

Conjugava com uma sublime contemplação uma rigorosa austeridade e penitência, participando assim mais intimamente nos sofrimento do Senhor. O seu ideal foi a perfeita conformação com Cristo crucificado, unida à caridade para com o próximo, e uma filial devoção à Santíssima Virgem. Eleita como abadessa, distinguiu-se pela solicitude para com as irmãs e para com os pobres. Morreu a 8 de novembro de 1745, e é nessa data que se celebra a sua memória litúrgica.

20 de novembro de 2014

20/11 - Bem-aventurada Paula Montaldi


Virgem religiosa da Segunda Ordem (1443-1514). Aprovou seu culto Pio IX no dia 6 de setembro de 1876.


Nascida em 1443, com 15 anos entrou no mosteiro das irmãs clarissas de Santa Luizia, Mântua, onde foi abadessa durante muitos anos. A Paixão de Jesus era para ela o assunto mais frequente das conversas, bem como das meditações e contemplações. Foi também singularmente devota da Eucaristia. Levava uma vida austera, com cilícios, flagelações e jejuns, e sentia-se feliz nas humilhações, fadigas e trabalhos.
No relacionamento com as irmãs mostrava-se cheia de caridade e sempre pronta a ajudá-las em qualquer necessidade. Sob a sua direção o mosteiro de Santa Luzia ganhou fama pelas numerosas vocações e pela vida seráfica das religiosas.
Em agradecimento ao Senhor pelos favores por ele concedidos, costumava repetir esta oração: “Meu Deus, eu te amo de todo o coração, com um amor sem medida, e nunca deixarei de cantar os teus louvores”. Nos 56 anos de vida religiosa, nunca causou qualquer desgosto às irmãs. Como superiora, procurou não apenas o bem espiritual das religiosas, mas também o bem material da comunidade, convencida de que não pode haver perfeita observância da regra se falta o indispensável para a vida. No jardim mandou abrir um poço, que veio a chamar-se o “Poço da Beata Paula”, a cuja água se tem atribuído propriedades curativas.
Era grande a sua confiança em Deus. Amiúde repetia a expressão de São Paulo: “Sei em quem confio!”. Era às vezes arrebatada em êxtase, e outras vezes ouviram-se coros angélicos a cantarem junto ao sacrário. Escreveu vários opúsculos, em especial sobre o nome de Jesus, que lamentavelmente se perderam.
Um dia, estando a orar em êxtase diante dum crucifixo situado ao cimo dumas escadas, foi atacada pelo demônio, que a lançou por terra. Socorrida pelas irmãs, foi reclinada num enxergão. Eram os seus últimos dias e as suas últimas palavras. Exausta pelas prolongadas vigílias, pelos rigorosos jejuns e outras ásperas penitências, assistida pelo seu confessor e pelas irmãs, apertando contra o coração o crucifixo repetia mais uma vez a sua jaculatória predileta “Paixão de Cristo, Sangue de Cristo, misericórdia!”, expirou serenamente no dia 18 de agosto de 1514. Tinha 71 anos, 56 dos quais passados no mosteiro.

19 de novembro de 2014

19/11 - Santa Inês de Assis


Virgem da Segunda Ordem, irmã de Santa Clara (1198-1253). Bento XIV, no dia 15 de abril de 1762, concedeu ofício e Missa em sua honra. 


Inês era irmã de Clara, mais nova do que ela, nascida em Assis em 1198. Em princípios de abril de 1212 foi juntar-se à irmã, que quinze dias antes tinha fugido da casa paterna para abraçar o ideal franciscano e se recolher no mosteiro de Santo Ângelo, nas faldas do Subásio, perto de Assis. Os parentes, exasperados com semelhantes gestos, que consideravam um segundo atentado contra o bom nome da família, serviram-se de todos os recursos para tentarem impedi-la de realizar os seus intentos, sem excluírem mesmo a violência física: Inês chegou a ser brutalmente ferida pelo seu tio Monaldo, que teve o atrevimento de violar a clausura e a tranquilidade do mosteiro. Porém, nem mesmo a força bruta conseguiu fazer vergar a jovem. Foi São Francisco quem sugeriu para a nova consagrada o nome de Inês, porque, pela fortaleza de que dera provas, esta jovem de 15 anos recordava a valentia da mártir romana Santa Inês.
Em 1212 São Francisco trouxe as duas irmãs para São Damião. Em 1220 Inês foi enviada para Florença, como abadessa do mosteiro de Monticelli, fundado no ano anterior. Mas muitos outros mosteiros de Clarissas se orgulham de ter hospedado a santa. Mais tarde regressou a São Damião, onde foi agraciada com uma aparição do Menino Jesus, por isso se representa por vezes Santa Inês com o menino Jesus nos braços. Em Assis Inês assistiu à morte da irmã Clara no dia 12 de agosto de 1253.
No coro do pobrezinho convento de São Damião ainda se podem ler os nomes das primeiras companheiras que seguiram as pegadas de Santa Clara e São Francisco pelo caminho da renúncia total e absoluta pobreza. São conhecidos nomes de senhoras e jovens de Assis que em São Damião tiveram o seu primeiro ninho: Hortolana, Inês, Beatriz, Pacífica, Benvinda, Cristiana, Amada, Iluminada, Consolada… Os três primeiros nomes pertencem a mulheres da família de Santa Clara: Hortolana era a sua mãe, e Inês e Beatriz eram suas irmãs.
Inês foi a primeira a seguir o exemplo da irmã Clara, quinze dias depois dela, pouco depois veio a outra irmã, Beatriz, e por fim a mãe Hortolona. Inês, além de ter sido a primeira, também foi a que mais fielmente seguiu a irmã, vivendo à sua sombra luminosa, sempre delicada e obediente, duma firmeza de caráter excepcional, quase viril, em especial na observância da pobreza. Como superiora foi terna e caridosa, mas inflexível e tenaz. Depois do regresso a São Damião, morreu serenamente três meses depois da irmã Santa Clara, a 16 de novembro de 1253, com 55 anos de idade.

18 de novembro de 2014

18/11 - Bem-aventurada Salomé de Cracóvia


Virgem, religiosa da Segunda Ordem (1211-1268). Aprovou seu culto Clemente X no dia 17 de maio de 1673.


Salomé, princesa da Polônia, nasceu em 1211. Em conformidade com os costumes da época, aos três anos de idade foi prometida como esposa a um príncipe de seis anos, Colomano, filhos do rei da Hungria. A cerimônia da coroação teve lugar no outono desse mesmo ano, e com autorização do papa Inocêncio III foi presidida pelo bispo de Strigônia.
O reinado das duas crianças durou menos de três anos, porque um outro príncipe se insurgiu contra eles e os fez prisioneiros. Nessa altura, contando Salomé com 9 anos e Colomano 12, ambos de comum acordo fizeram voto de castidade. Quando André, filho do rei da Hungria, destituiu o usurpador e repôs a normalidade da situação, puderam ambos regressar à corte húngara.
Ao completar de 16 anos e atingir a maioridade, Salomé considerou-se sempre ligada ao voto de castidade que fizera, e sabendo que a sua beleza poderia seduzir os homens, procurava evitá-los, usava roupas modestas e recusava-se a tomar parte nas festas e diversões mundanas da corte, dedicando à oração o tempo que dessa forma poupava.
Colomano, ainda em vida do pai, governou a Dalmácia e a Eslavônia até morrer até morrer em 1241 numa batalha contra os Tártaros. Entretanto Salomé protegia e ajudava os conventos dos franciscanos e dominicanos. Um ano depois da morte do marido, regressou à Polônia, onde em 1245 vestiu o hábito das irmãs clarissas. Nesse mesmo ano, associada ao seu irmão Boleslau, fundou uma igreja e respectivo convento para os franciscanos, e para as clarissas um hospital e um mosteiro onde ela mesma se enclausurou.
Perante a ameaça dos Tártaros, em março de 1259 parte das clarissas transferiu-se para Skala, onde Salomé fundou novo mosteiro que dotou com alfaias de culto e ornamentos litúrgicos. Durante 28 anos viveu no silêncio e recolhimento do mosteiro, onde foi modelo de penitência, abnegação, humildade, inocência e caridade. Por muitos anos foi uma abadessa bondosa, afável, serviçal, apaixonada pelo ideal da pobreza seráfica.
A 17 de novembro de 1268 foi favorecida com uma aparição da Virgem Santíssima e de seu Filho, percebendo do que se tratava reuniu as irmãs, exortou-as à mútua caridade, à paz, à pureza de coração, à obediência sem limites e ao desprendimento das coisas do mundo. Pouco depois as irmãs viram uma espécie de pequena estrela a formar-se sobre ela e a subir ao céu. Salomé de Cracóvia entregava a Deus a sua bela alma, aos 57 anos. Os seus restos mortais foram mais tarde traslados para a igreja dos franciscanos de Cracóvia, onde ainda hoje se encontram.

17 de novembro de 2014

17/11 - Santa Isabel da Hungria


Viúva da Terceira Ordem (1207-1231), padroeira da Ordem Terceira Franciscana. Canonizada por Gregório IX no dia 27 de maio de 1235.

Esta Santa do século XIII, padroeira da Ordem Terceira Franciscana, consumou a curta vida na prática do bem, deixando atrás de si uma esteira luminosa de amor, exemplo que a cristandade jamais esqueceu.
Isabel era uma princesa, filha do rei André da Hungria e sua esposa Gertrudes. Nascida em 1207, quando ainda era criança foi dada por esposa a Luís, conde da Turíngia, em cujo palácio cresceu no amor de Deus e do próximo. Passava noites inteiras em oração, e os dias a visitar doentes e socorrer os necessitados. Mas a sua grandeza da alma brilhou, sobretudo, após a morte do esposo, que se inscrevera numa cruzada, pois a família do defunto despojou-a de todos os bens e pô-la na rua com os filhos. Assim, aquela que tinha ajudado tanta gente e construíra hospitais para os súditos, viu-se forçada a procurar abrigo num estábulo de animais. No entanto, não queixou dessa tremenda injustiça: Pelo contrário, dirigiu-se a uma igreja dos Frades Menores e pediu para cantarem um Te Deum em ação de graças, por o Senhor a ter assemelhado a si na pobreza. Vestiu o hábito da Ordem Terceira e recebeu de São Francisco o próprio manto como prenda.
Quando mais tarde a justiça lhe repôs os direitos usurpados, que ela reivindicou para os filhos, não mudou de vida: continuou sempre a trabalhar com suas próprias mãos para ajudar os pobres. Com frequência recebia visitas do Senhor na oração.
Nos curtos 24 anos da vida terrena, Santa Isabel experimentou riqueza e miséria, honras e desprezo, e santificou todas as condições de vida duma mulher: extremamente religiosa desde a juventude, esposa afetuosa, mãe carinhosa de três filhos, senhora empenhada no bem do seu povo, viúva precoce espoliada de todos os bens, com três filhos famintos a sustentar e a educar, e em todas as circunstâncias irradiava alegria divina, porque sempre e em tudo se sentia amparada pelo amor de Deus. E o Senhor não a abandonou: os filhos foram reconhecidos como príncipes herdeiros. Para si mesma conservou apenas o tesouro inestimável da pobreza franciscana, que lhe tinha revelado a doçura de Deus.
A faceta mais característica da sua vida é a caridade para com os pobres, a quem ajudava com régia generosidade e visitava nas barracas onde viviam. É célebre o episódio do seu marido, Luís, que cruzou com a esposa quando ela levava escondidas, debaixo da capa, provisões para alguns pobres. Perguntando-lhe ele o que levava escondido, ela simplesmente levantou a capa, e apareceu um belo buquê de rosas, apesar de estar em pleno inverno. Outra vez foi um leproso a quem ela tinha lavado os pés e dado de comer, e depois deixara dormir no seu próprio leito. Quando o marido regressou e soube do caso, ficou indignado e quis ver quem era esse leproso que se tinha enfiado na sua própria cama. Qual não foi o seu espanto quando ao abrir a porta viu o próprio Cristo num nimbo de luz, que logo desapareceu e deixou radiante os dois cônjuges.
Morreu aos 24 anos, a 17 de novembro de 1231, e foi sepultada em Marbugo no dia 19 do mesmo mês.

16 de novembro de 2014

16/11 - Bem-aventurado Luis Guanella


Sacerdote da Terceira Ordem (1842-1915). Fundador dos Servos da caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência. Beatificado por Paulo VI no dia 25 de outubro de 1964.

Natural duma povoação italiana dos Alpes Bergamascos, foi o nono dos treze filhos de uma piedosa família, que desde a infância lhe incutiu uma fé viva e operante, um constante amor ao trabalho e uma terna caridade para com os pobres.
Passada a infância entre os montes que sempre recordou com saudade, frequentou primeiro o Colégio Gálio em Como, e depois, para os estudos eclesiásticos, os seminários diocesanos. Em todos esses centros de estudo se salientou pela piedade, amabilidade e aproveitamento nas disciplinas escolares.
Ordenado sacerdote em 1868, foi em várias freguesias pároco e ao mesmo tempo mestre-escola, pois tinha diploma de professor chegando mesmo a construir uma escola primária. Além disso, tomou iniciativas benéficas em favor dos pobres, e organizou a Ação Católica Juvenil, recentemente fundada. Em 1875 foi a Turim encontrar-se com João Bosco, de quem aprendeu o caminho da santidade e o método pedagógico. Vinculou-se então com votos religiosos à Sociedade Salesiana. Mas em 1878 foi chamado pelo bispo à sua diocese, para ser novamente nomeado pároco. Foi nessas circunstâncias que soou para ele a hora da graça, com a primeira fundação das obras de há muito sonhadas em favor dos pobres abandonados.
Como vários santos sacerdotes do seu tempo, por exemplo, João Bosco, José Cafasso, José Bento Cotolengo e outros, também ele fundou várias obras de beneficência, que rapidamente floresceram devido à dedicação e às qualidades pedagógicas dos seus colaboradores.
Devoto e admirador de São Francisco de Assis, ingressou na Ordem Terceira. Da vida do pobrezinho assumiu o espírito de pobreza e de perfeita alegria, de grande confiança em Deus e continuar a obra fundou duas congregações religiosas: os Servos da Caridade (Guanelianos) e as Filhas de Santa Maria da Providência (Guanelianas). A obra desenvolveu-se admiravelmente tanto na Itália como no estrangeiro. A pia união do Trânsito de São José, por ele iniciada em Roma, conta hoje com mais de dez milhões de membros.
Numa época de exacerbado anticlericalismo, as autoridades laicas não viram com bons olhos essas obras, e ele foi alvos de injustiças e perseguições, mas tudo venceu com a força da fé e o fogo da caridade. Foi à América acompanhado de imigrantes, e muito trabalhou para a assistência religiosa aos mesmos. Para instruir a juventude abriu escolas de iniciação e oratórios. Para assistir às vítimas de terremotos, não poupou energias nem meios materiais.
Em Como, no dia 24 de outubro de 1915, aos 73 anos, concluiu a sua atividade terrena este herói da caridade. O seu corpo venera-se no santuário do Sagrado Coração, em Como.
Foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 23 de outubro de 2011.

15 de novembro de 2014

15/11 - Bem-aventurada Maria da Paixão


Religiosa da Terceira Ordem Regular (1839-1904). Fundadora das Franciscanas Missionárias de Maria. Foi beatificada no dia 14 de Maio de 2006.

 
Helena Chapotin nasceu em Nanci, França, a 21 de Maio de 1839, e faleceu em São Remo a 15 de novembro de 1904. Superadas muitas provas, em 1865 ingressou na congregação das religiosas da Maria Reparadora em Tolosa, e logo no ano seguinte partiu para a Índia, onde foi superiora e seguidamente provincial da missão de Medura, onde com zelo incansável deu novo alento às atividades missionárias já iniciadas e as multiplicou.
Chamada a Roma em 1877, com a benção de Pio IX fundou uma nova congregação, das irmãs franciscanas de Maria (vítimas, adoradoras e missionárias), a qual em 1885 foi agregada à ordem franciscana regular sob a obediência dos frades menores. Em 1896 Leão XIII aprovou as constituições do novo instituto, redigidas pela fundadora. Foi ela quem até à morte o governou, multiplicando casas e obras com uma rapidez assombrosa por toda a Europa e mais ainda em terras de missão.
Contudo, na véspera da morte, reconheceu: “Se o instituto fosse obra minha, morreria comigo. Mas é obra de Deus!”. Seguindo as pisadas da fundadora, as franciscanas missionárias de Maria oferecem com gosto a própria vida para completarem o que falta à Paixão de Cristo. Um refrão muito repetido pela madre Maria da Paixão era este: “A nossa pátria é todo o gênero humano”. Por isso as religiosas do seu instituto estão sempre prontas para irem viver em qualquer parte e aí darem testemunho do Evangelho, em especial nos países e lugares onde a Igreja está menos presente, no meio dos pobres e deserdados. Desde o sangue das sete santas mártires da China em 1900, até os incontáveis e obscuros sacrifícios de tantas outras irmãs, entre as quais a B. Maria Assunta Pallotta, as missionárias de Maria têm pago com a vida, e por vezes com o próprio sangue, a sua dedicação a povos e países que se encontram em situação dramática.
Para conferir a esse ideal uma base sólida e segura, a fundadora não encontrou melhor ponto de apoio do que o espírito de Francisco de Assis. Desde a juventude ela se sentira atraída pelo santo pobrezinho. Quando se lhe tornou possível enxertar no tronco robusto da família franciscana o novo rebento que Deus por seu intermédio suscitara, para dela receber uma maior participação de espírito evangélico, de pobreza, de simplicidade e de alegria, sentiu plenamente realizado o seu próprio carisma e o desígnio de Deus sobre ela e sobre a sua obra.
Da mesma seiva e do mesmo espírito se nutrem ainda hoje as 9.000 franciscanas missionárias de Maria, pertencentes a 63 nacionalidades e distribuídas por mais de 73 países dos cinco continentes, continuando a obra de Maria da Paixão. A extrema diversidade das irmãs da congregação quanto a origens, línguas, culturas e atitudes, bem como a vastíssima gama de compromissos apostólicos, encontram em Cristo, Palavra e Pão, um centro de união e comunhão na diversidade, que foi sempre característica fundamental do Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria.
Maria da Paixão foi beatificada em Nápoles, no dia 14 de Maio de 2006.

14 de novembro de 2014

Especial -Santa Isabel, padroeira da Ordem Terceira Secular


Um modelo de zelo para salvar o mundo


Diz a lenda que Isabel foi invocada mesmo antes de nascer. Um vidente anunciou seu glorioso nascimento como estrela que nasceria na Hungria, passaria a brilhar na Alemanha e se irradiaria para o mundo. Citou-lhe o nome, como filha do rei da Hungria e futura esposa do soberano de Eisenach (Alemanha).

De fato, como previsto, a filha do rei André, da Hungria, e da rainha Gertrudes, nasceu em 1207. O batismo da criança foi uma festa digna de reis. E a criança recebeu o nome de Isabel, que significa repleta de Deus.

Ela encantou o reino e trouxe paz e prosperidade para o governo de seu pai. Desde pequenina se mostrou de fato repleta de Deus pela graça, pela beleza, pelo precoce espírito de oração e pela profunda compaixão para com os sofredores.

Tinha apenas quatro aninhos quando foi levada para a longínqua Alemanha como prometida esposa do príncipe Luís, nascido em 1200, filho de Hermano, soberano da Turíngia. Hermano se orientava pela profecia e desejava assegurar um matrimônio feliz para seu filho.

Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria companheira para Luis. E a perseguiam e maltratavam, dentro e fora do palácio.

Luis, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de casar-se quanto antes. O que aconteceu em 1221.

A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Certa vez, Luis a surpreendeu com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder… Mas ele, delicadamente, insistiu e… milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno inverno. Feliz, guardou uma delas.

Sua vida de soberana não era fácil e freqüentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso, os filhos, Hermano, de 1222; Sofia, de 1224 e Gertrudes, de 1227.
Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que o duque Luis se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.

Quando Luis ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos a chegar na Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter freqüentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Familia Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!

Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e a expulsaram do castelo de Wartburgo. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno inverno. Duas servas fiéis a acompanharam, Isentrudes e Guda.

De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, Lá dentro dela o Senhor a chamava para doar-se ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburgo e lá foi morar com suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legitimo de Luis. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de fato feliz. Por ordem do confessor, conservou alguma renda, toda revertida para os pobres e sofredores.

Construiu abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela se sentia de fato rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de dar-lhes maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!

De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. Suas servas atestam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade os sacramentos dos enfermos. Quando seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre herança, respondeu tranqüila: “Minha herança é Jesus Cristo !” E assim nasceu para o céu! Era 17 de novembro de 1231.

Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira da Ordem Franciscana Secular.

FREI CARMELO SURIAN, O.F.M.

Extraído de : http://franciscanos.org.br/

14/11 - Santos Nicolau Tavelic, Deodato de Rodez, Pedro de Narbona e Estevão de Cúneo Nicolau Tavelic (Mártires na Terra Santa)


(1340 -1391) Sacerdotes e mártires da Primeira Ordem. Canonizados por Paulo VI no dia 21 de junho de 1970.

 
É o primeiro croata canonizado, uma figura extraordinária no ambiente do seu tempo. Nasceu por volta de 1340 em uma cidade da Dalmácia, e quando era ainda adolescente ingressou na ordem dos frades menores. Depois de ordenado sacerdote foi enviado como missionário para a Bósnia, onde durante 12 anos se dedicou totalmente à conversão dos bogomilos, hereges de tendência maniqueísta, juntamente com Deodato de Rodez.

Em 1384 dirigiram-se ambos à Palestina, onde se associaram a outros dois confrades, Pedro de Narbona e Estevão de Cúneo, todos eles futuros mártires de Cristo. Entretanto fixaram-se em Jerusalém, no convento de São Salvador, em oração e estudo. Depois de muito meditar sobre o assunto, Nicolau p, Nicolau projetou uma missão muito ousada. Missão com que já sonhada anteriormente por São Francisco, movido pelo Espírito Santo, pelo zelo da fé e pelo desejo de martírio. Tratava-se de anunciar publicamente em Jerusalém, aos chefes dos mulçumanos, a pessoa e a doutrina de Cristo.

Deodato

Nasceu em uma cidade francesa que nos textos originais latinos é designada por Ruticinium, identificada com a cidade atualmente chamada Rodez, sede episcopal, a uns 600 quilômetros a sul de Paris. Fez-se frade menor quando ainda era moço, e foi ordenado sacerdote na província franciscana da Aquitânia.

Por volta de 1373 o vigário geral P. Bartolomeu do Alverne fizera um apelo com o fim de recrutar religiosos para uma particular expedição missionária à Bósnia. Um bula de Gregório XI publicada nessa altura apresentava boas perspectivas para o progresso da fé nessas zonas infestadas pela heresia dos bogomilos, seita herética de fortes tendências maniqueístas, cujos principais representantes uniam aos erros dogmáticos uma rígida austeridade de vida.

Deodato de Rodez foi parar a esse campo de atividade para secundar o desejo do vigário geral da ordem e do papa Gregório XI, e pelos mesmos motivos e nas mesmas circunstâncias foi também Nicolau Talevic. Do encontro entre os dois santos, nasceu uma profunda amizade, que os amparou durante quase 12 anos no meio de enormes dificuldades e canseiras, comparáveis às dos grandes missionários da Igreja. Há um relato pormenorizado dessa heroica expedição apostólica da Bósnia, bem como do martírio ocorrido posteriormente.

Em 1384 foram ambos para a Palestina, onde se encontraram com outros dois confrades já mencionados, com quem viriam a compartilhar as atividades apostólicas e a palma do martírio.

Pedro de Narbona

Da província franciscana da Provença, durante vários anos aderiu à reforma iniciada em 1368 na Úmbria e tendente a uma mais perfeita observância da regra de São Francisco. Em pouco tempo essa onda reformista se espalhou por toda a Úmbria e pelas Marcas, a ponto de em 1373 já contar com uma dezena de eremitérios. Tratava-se de um movimento de fervor que procurava renovar o elã inicial da vida franciscana, em especial no ideal da pobreza e na prática da piedade. O fato de Pedro de Narbona ter vindo do sul da França para os eremitérios da Úmbria mostra bem o seu fervor religioso e esclarece bem tanto a sua vida anterior como a sua permanência em Jerusalém.

Estevão

Natural de Cúneo, no Piemonte, fez-se frade menor em Génova, na província franciscana da Ligúria. Durante 8 anos trabalhou ativamente na Córsega, como membro do vigariato franciscano dessa ilha. Pode-se dizer que terá feito aí um bom noviciado apostólico. Depois passou como missionário para a Terra Santa, onde a 14 de novembro de 1391 selou com o martírio a pregação do evangelho, demonstrando que o islamismo não é a religião verdadeira, e que Cristo, e não Maomé, é o enviado de Deus para salvar a humanidade.

No dia 11 de novembro de 1391, após intensa preparação, os quatro missionários puseram em prática o projeto delineado. Saíram juntos do convento, levando cada um deles um papel dobrado ao meio, com uma página interior escrita em latim e outra em árabe. Dirigiam-se à mesquita, mas os árabes não os deixaram entrar, e perguntaram-lhe o que queriam. Eles responderam que queriam falar com o Cadi, pois tinham a dizer-lhe coisas muito úteis para a salvação. Responderam os mulçumanos que o Cadi não estava na mesquita, mas lhe indicariam onde era a casa dele.

Quando chegaram na presença dele, abriram os papéis e leram os escritos, explicando-os e apresentando as suas razões, mais ou menos nesses termos: “Senhor Cadi, e senhores todos aqui presentes, pedimos-vos que escuteis as nossas palavras e lhes presteis a máxima atenção, porque tudo quanto vamos dizer é muito importante para vós; é justo e verdadeiro, isento de qualquer embuste, e útil para aqueles que o queiram pôr em prática”. E começaram a fazer uma exposição da mensagem do evangelho de Cristo, o único Salvador, demonstrando ao mesmo tempo a falsidade da lei de Maomé. Reuniu-se grande multidão de mulçumanos, que numa primeira reação se mostraram espantados, depois irritados, e finalmente furiosos. Nunca tinham ouvido semelhantes afirmações contra o Corão nem contra o Islã.

Ao ouvir este discurso inflamado, o Cadi dirigiu-se aos quatro religiosos perguntando-lhes: “Isso que estais por aí a dizer, dizei-lo com pleno conhecimento e liberdade, ou resulta de um momento de exaltação fanática, sem controlo da razão? Foi por ventura o papa ou algum rei da cristandade que vos mandou cometer semelhante loucura?”. Os religiosos responderam imediatamente: “Viemos aqui simplesmente enviados por Deus. E vós, se vos recusais a acreditar em Cristo e a receber o batismo, não tereis a vida eterna”.

Foram de imediato condenados à morte e, no dia 14 de novembro de 1391, foram assassinados, despedaçados e queimados.

13 de novembro de 2014

13/11 - São Diogo de Alcalá


Religioso da Primeira Ordem (1400-1463). Canonizado por Sixto V no dia 2 de julho 1588.

 
Diogo nasceu pelo ano de 1400 em São Nicolau do Porto, na região espanhola de Andaluzia. Sentindo desde muito novo inclinação  para vida solitária e penitente, durante vários anos viveu como eremita junto da igreja de São Nicolau, no seu torrão de natal. No entanto, à oração e contemplação aliava o trabalho manual, como cultivo de uma horta e a confecção de cestos de vime e pequenos utensílios para uso doméstico, os lucros desses trabalhos destinava-os por inteiro a ajudar os pobres. A fama de sua virtude estendeu-se a povoações vizinhas, e passou a ser venerado por muita gente.

Entretanto começou a sonhar em voos mais altos, e resolveu ingressar na ordem dos frades menores. Dirigiu-se nesse intuito a um convento próximo de Córdova, onde foi admitido ao noviciado, e a seu tempo à profissão dos votos religiosos. Exerceu vários ofícios humildes em diversos conventos da província religiosa, até que em 1441 foi enviado às Canárias para evangelizar os nativos, que tinham recaído em superstições e idolatrias. Só por obediência aceitou o cargo de guardião de um convento para o qual fora eleito em 1446. Dedicou-se com especial empenho a defender os indígenas da exploração por parte dos conquistadores, que por isso mesmo lhe levantaram muitas dificuldades e causaram muitas contrariedades, a ponto de em 1449 pedir autorização para regressar à Espanha. No ano seguinte em 1450, foi com um confrade a Roma, para ganhar o jubileu e assistir à canonização de São Bernardino de Sena.

Aconteceu que o convento romano de Araceli, onde os dois religiosos se tinham hospedado, foi atingido pela epidemia que nesse ano flagelou a cidade de Roma, e quase todos os frades, que eram muitos, caíram doentes. Diogo desfez-se em cuidados para com eles, quer a respeito de tratamentos, quer para providenciar ao sustento necessário, que era escasso, apesar das providências tomadas pelas autoridades públicas. Foi um autêntico herói nesse apostolado de caridade, cuidando dos doentes e socorrendo os pobres mais afetados pela carestia resultante da peste. Chegou a curar muitos enfermos pelo simples contato das mãos, untada no azeite da lâmpada colocada junto à imagem de Nossa Senhora.

Ao voltar à pátria, viveu de novo em diversos conventos antes de a morte lhe abrir as portas do céu, em Alcalá de Henares, perto de Madrid, a 12 de novembro de 1463, aos 63 anos de idade. A fama de santidade de vida desse humilde irmão leigo franciscano, unida aos muitos milagres que Deus por sua intercessão realizou, levou Sisto V a inscrevê-lo no catálogo dos santos, a 2 de julho de 1558.
São Diogo de Alcalá fez reviver a figura daqueles irmãos, simples e humildes, que nos tempos do franciscanismo primitivo foram o orgulho e a alegria de São Francisco, que no trabalho, no silêncio e na penitência conquistavam almas para Cristo. Na ordem franciscana é venerado como especial patrono dos irmãos não clérigos.

12 de novembro de 2014

12/11 - Bem-aventurado João da Paz


Ermitão da Terceira Ordem (1270-1340). Aprovou seu culto Pio IX no dia 10 de de 1857.

 
De João da Paz conservam-se notas biográficas em três dísticos colocados no seu túmulo. Neles se afirma em resumo que era de nobre estirpe, que viveu inicialmente como eremita numa mata solitária, mas depois, por amor de Deus, voltou à sua cidade natal e aí construiu uma igreja dedicada à Santíssima Trindade e um oratório a São João Evangelista.

Nasceu em Pisa, em 1270, mais ou menos. Recebeu o apelido “da Paz” por ter vivido muito tempo num eremitério situado junto de uma porta da cidade chamada “porta da paz”. Teve na juventude uma educação e formação verdadeiramente cristã. Não admira por isso que o seu nome figure entre os primeiros cristãos de Pisa que abraçaram a ordem terceira da penitência, recentemente instituída pelo pobrezinho para santificação dos simples fiéis.

Antes de se fazer terceiro franciscano tinha sido soldado da república de Pisa. Entretanto, iluminado pela graça, foi refletindo sobre seu modo de vida militar, que não lhe pareceu consentâneo com o espírito do Evangelho. Por isso decidiu separar-se do mundo e seguir Jesus mais de perto, pelos caminhos da penitência. Contava com 35 anos quando trocou a vida militar pela de terceiro franciscano.

Propôs-se reativar “A Pia Casa da Misericórdia”, com o fim de aliviar os sofrimentos dos pobres, dar abrigos a peregrinos e dedicar-se a outras obras de caridade. Mas não se limitou a isso, até porque o seu ideal e a sua grande aspiração era a vida eremítica. Nesse intuito construiu uma cela junto à porta da paz, e aí se dedicou à penitência e a oração, a fim de alcançar de Deus o perdão para as próprias culpas e implorar para os seus compatriotas, frequentemente vítimas de sangrentas lutas, anelada paz. Durante vários anos João fez brilhar a cidade de Pisa com o esplendor das suas virtudes, e o seu nome andava na boca de toda a gente, para quem ele se mostrava sempre afável e carinhoso, desfazendo-se para bem de todos.

Deus fez dele pai espiritual de numerosos discípulos que lhe seguiram o exemplo e se vieram a chamar os “eremitas terceiros franciscanos”. Foi a eles que em 1330 o arcebispo de Pisa entregou o eremitério de Santa Maria da Sambuca, que sob a sua direção veio a produzir belos frutos de santidade. Aí deixou João um grupo dos seus eremitas, enquanto ele voltou para o seu oratório da porta da paz, onde passou o resto dos seus dias numa vida mais celestial do que terrena.

Ao atingir a idade de 70 anos, consumidos pela vida austera a que se sujeitara, preparou-se para a morte, que o veio acolher como terna irmã, a 13 de novembro de 1340.

11 de novembro de 2014

Especial -Santa Isabel, padroeira da Ordem Terceira Secular


As duas paixões de Isabel de Hungria

Mensagem do Ministro Geral para o Jubileu de 2007

Queridos irmãos: O Senhor lhes dê a paz!

Que mensagem nos dirige, Irmãos Menores, a figura de Santa Isabel? Que pode dizer aos franciscanos de hoje, uma mulher envolta na penumbra de um passado remoto e em um mundo cheio de legendas? Que pode nos dizer esta mulher passados tantos anos e tantas coisas?

Sua mensagem, e que a converte em uma figura realmente atual, ganha força em suas duas grandes paixões: a paixão por Cristo e a paixão pelos pobres. Uma dupla paixão que a coloca em perfeita sintonia espiritual e carismática com Francisco, a quem sem dúvida se inspirou, e com Clara, ambos corações conquistados por Cristo e conquistados pelos pobres, nos quais descubriram a Cristo. Toda sua vida, inclusive sua vida de extrema penitência, só pode ser entendida à luz destas duas paixões.

No caso de Isabel, sua paixão por Cristo levou-a assumir o Evangelho como sua forma de vida, e a vivê-lo no mais genuíno estilo de Francisco: simplesmente, sem rodeios, em todos seus aspectos espiritual e material. Propósito este que se manifesta em suas atitudes existenciais mais profundas, tais como: o reconhecimento do senhorio absoluto de Deus; a exigência de despojar-se de tudo e fazer-se pequena como uma criança para entrar no reino do Pai; o cumprimento, até suas últimas consequências, do mandamento novo do amor.

Ela não deixou nada escrito, mas numerosas passagens de sua vida só podem ser entendidas a partir de uma compreensão literal do Evangelho. Tornou realidade o programa de vida proposto por Jesus no Evangelho:

>> Quem procura ganhar a sua vida , vai perdê -la; e quem a perde , vai conservá -la; Pois , quem quiser salvar a sua vida , vai perdê -la; mas , quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia , vai salvá -la (Lc 17, 33; Mc 8, 35).
>> Então Jesus chamou a multidão e os discípulos . E disse : «Se alguém quer me seguir , renuncie a si mesmo , tome a sua cruz e me siga . Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la (Mc 8, 34-35).

>> Jesus respondeu : «Se você quer ser perfeito , vá , venda tudo o que tem , dê o dinheiro aos pobres , e você terá um tesouro no céu . Depois venha , e siga -me (Mt 19,21).

>> Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. (Mt 10,37).

Sua paixão por Cristo se manifestava e se alimentava graças à uma comunhão profunda com Ele através de uma vida de oração intensa, contínua, às vezes, até o arrebatamento. A consciência constante da presença do Senhor era a fonte de sua fortaleza, de sua alegria, e de seu compromisso com os pobres. Mas também o encontro com o Cristo nos pobres estimulava sua fé e sua prece, pois seu encontro com eles a fazia “identificar-se” com eles. Nada estranho, pois na sua peregrinação para Deus, estava marcada por passos decididos de desprendimento até chegar ao depojamento total como Cristo na cruz. Ao final não lhe restou nada mais que uma túnica cinza e pobre de penitência, que quis conservar como símbolo e mortalha.

Sua paixão por Cristo, que sendo rico se fez pobre, levou Isabel a segui-lo radicalmente e a descobri-lo e servi-lo em seus “representantes, os pobres e crucificados da terra”, como disse o documento final de nosso Capítulo Extraordinário (Shc 9). Isabel servia pessoalmente aos abatidos, aos pobres e enfermos. Cuidou dos leprosos, a escória da sociedade, como Francisco. Dia a dia, hora a hora, pobre a pobre, viveu e consumiu a misericordia de Deus no rio de dor e de miséria que a envolvia. Nos desventurados, Isabel via a pessoa de Cristo (Mt 25,40). Isto lhe deu forças para vencer sua repugnancia natural, tanto que chegou até a beijar as feridas purulentas dos leprosos.

Forjada na forma evangélica de Francisco de Assis, como Poverello, e Clara, sua “Plantinha”, Isabel abandonou os romances e ambições do mundo, a pompa de sua corte, as comodidades, as riquezas, os trajes de luxo… Deixou seu castelo e armou sua tenda entre os desprezados e feridos para servi-los.

A santidade consiste em amar como Jesus amou. Amar a Deus e amar o próximo, dois mandamentos que não se podem separar. Paixão por Cristo, paixão pelos pobres, duas paixões que necessariamente vão sempre juntas. Tudo isso não será uma loucura? Sim, esta a loucura de amor que não conhece limites, é a loucura da santidade. E a de Isabel é uma autêntica loucura. Em sua vida brilha com singular esplendor a supremacia da caridade. Sua pessoa é um canto de amor, modelado no serviço e abnegação, para semear o bem. É esse amor que fez brotar nela uma ardente força interior, própria de uma “mulher varonil”, como é Isabel, e levava-a irradiar alegria e serenidade, mesmo na tribulação, solidão e dor. E fiel ao que escreveu: “Temos de fazer os homens felizes”, conforme dizia às suas irmãs, Isabel alegrava o coração de quem a ela se acercava. O fundo de sua alma estava habitado pelo reino da paz.

Isabel passou por esta vida como um meteoro luminoso de esperança. Lançou luzes na escuridão de muitas almas. Levou a alegria aos corações dos aflitos. Nada poderá contar as lágrimas que secou, as feridas que cicatrizou, o amor que despertou.

Neste momento em que nossa Ordem está empenhada na renovação profunda para seguir “mais de perto” e “mais radicalmente” a Cristo, e quando o Capítulo Geral Extraordinário nos convidou repetidas vezes a “ser menores com os menores da terra”, Isabel se nos apresenta não só como uma mulher profundamente evangélica, senão também como um modelo a seguir em sua paixão por Cristo e pelos pobres.

Invoquemos a personalidade tão singular de Isabel, para que, através do conhecimento e da admiração por esta figura, todos quantos que seguimos a Cristo, seguindo os passos de Francisco, de Clara e de Isabel, nos convertamos em instrumentos de paz e alegria, e aprendamos a derramar um pouco de bálsamo nas feridas de nosso entorno, a humanizar o que nos rodeia, a secar algunas lágrimas. Coloquemos nosso coração onde não há misericordia do Pai. O compromisso que viveu Isabel estimule nosso compromisso. Seu exemplo e intercessão iluminam nosso caminho até o Pai, fonte de todo o amor: o Bem, todo o bem, sumo bem; o silêncio e o júbilo.

Mensagem do Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Fr. José Rodríguez Carballo, OFM, no dia 17 de novembro de 2006, quando foi aberto do ano jubilar do 8º Centenário de Nascimento de Santa Isabel, que se encerrou no dia 17 de novembro de 2007.

Extraído de: http://franciscanos.org.br/