31 de maio de 2011

Meditação Diária


“A justiça proporcionar-te-á a paz, mas também trabalhos”.

(Ramón Llull, escritor, filósofo, místico e missionário espanhol)

Não há nada mais relevante para a vida comunitária e social que a formação do sentimento da justiça. Esta busca intensa molda nossas ações, proporciona que reflitamos mais em cada ato, ainda que nossa consciência seja limitada diante da imensidão de desejos e boas ações que estão diante de nós. O caminho da justiça permite-nos conhecer a paz, pois ambas caminham de mãos dadas. Quem não pratica a justiça, não será um promotor da paz!

Tudo na vida exige sacrifício, doação, entrega e muito trabalho. A paz também é conquistada e não mendigada. A paz começa primeiramente dentro de cada pessoa, para, depois poder ser compartilhada. A paz começa dentro de nós: somente passando pelo caminho da pacificação de nossos instintos e desejos poderemos ser mensageiros e transmissores da paz...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

30 de maio de 2011

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos


FRANCISCO E CLARA, CLARA E FRANCISCO E SÃO DAMIÃO

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Continuamos a percorrer as páginas do livro Chiara di Assisi. Un silenzio che grida, de Chiara Giovanna Cremaschi. Pensamos nas clarissas, pensamos em todos os que se interessam por Clara. Neste mês de março queremos refletir sobre dois episódios singelos e belos ligados ao Mosteiro de São Damiao: a cura de Frei Estêvão e o sermão dito das Cinzas (p. 80-85). Os dois nos falam de como eram os relacionamentos entre Francisco e os seus irmãos e Clara e suas irmãs. Lembramos que não se trata de uma tradução ipsis verbis, mas de uma adaptação.

1. No transcorrer dos anos, a mediação de Francisco em São Damião se torna menos visível. As irmãs vão descobrindo o caminho que vai sendo construído no interior dos muros, por meio dos relacionamentos entre essas mulheres que foram chamadas a viver a aventura evangélica nesse limitado espaço, ao longo de cada dia. Há uma reciprocidade nos relacionamentos entre Francisco e Clara. Percebemos que se recorre a Clara devido a dificuldades experimentadas pelos frades. Um certo Frei Estêvão fora acometido de insânia. Não se pode definir do que realmente se tratava: uma inesperada loucura, depressão ou outra doença psíquica? Tratava-se de uma pessoa doente que causava dificuldades para a vida fraterna.

2. Francisco mandou o irmão ao mosteiro de São Damião para que Clara traçasse sobre ele o sinal da cruz. O carisma de cura de Clara transpirara para além dos muros de São Damião e Francisco não hesitou em mandar seu irmão a Clara. A atitude do Poverello deixa transparecer a reciprocidade da ajuda nas coisas desse cotidiano, nem sempre idílico e fácil. Em nosso caso, o doente chega acompanhado por irmãos ou, quem sabe, meio fortemente preso em suas mãos e é colocado diante dessa mulher serena e harmoniosamente livre no Senhor. A testemunha do Processo de Canonização diz que Frei Estêvão foi conduzido até o lugar onde a santa madre costumava rezar. Para além das conjecturas a respeito do ponto exato em que se achava, Frei Estêvão, devido à dificuldade de estabelecer a planta original de São Damião, temos que pensar na capela, mas na parte das irmãs, ou mesmo no oratório. Quando as irmãs no Processo falam do lugar pensam-no conhecido para quem era familiar a disposição da casa. Por isso, não dão maiores pormenores.

3. Clara traça, como de hábito, o sinal da cruz, obedecendo neste caso ao pedido explícito de Francisco. Imediatamente, Frei Estêvão se acalma e dorme ali naquele mesmo lugar. Não deve causar estranheza que uma pessoa venha a dormir num ambiente reservado à oração. Na Idade Média havia o costume de se levar a própria cama para a igreja a fim de que a pessoa morresse num lugar sagrado. Depois que ele acordou deram-lhe alguma coisa para comer. Pode ser que anteriormente ele rejeitasse a comida ou simplesmente esta observação exprime a delicadeza com a qual se cuidou do doente depois de sua cura. O pormenor da comida lembra o episódio ocorrido com a filha de Jairo, curada por Jesus. O mestre pede que deem de comer à menina (Mc 5, 43). Encontramo-nos diante de uma concretização amorosa na tradução em gestos palpáveis da observância do Evangelho. A testemunha narra brevemente que Frei Estêvão foi embora curado (libertado) porque a cura é liberdade dos grilhões que o impediam de viver em plenitude e de seguir o Senhor com as energias físicas e espirituais. A irmã que dá o testemunho faz questão de dizer que ele foi embora seguindo o seu caminho. Uma anotação singela que tira do relato o cunho de coisa enfeitada e o mostra como sendo o resultado de um gesto de amor.

4. O relacionamento com os frades não é alimentado por discursos e palavras, mas por uma fé que tudo espera de Deus e que coloca a mediação no seu lugar de mero instrumento, sem nenhuma exaltação desmedida do mediador. Clara se limita a traçar a cruz deixando agir aquele que tudo pode. Feito o gesto, ela certamente se retira no intuito de rezar por este irmão que ficará para sempre marcado por esta experiência da bondade de Deus, louvando a Deus pelo dom dado a Clara. Tudo é envolvido pela discrição. Somente pela necessidade de alguém ter que contar o que se passou com uma mulher de vida escondido é que levou a irmã a narrar o fato no Processo. Fica claro a ideia que o Amor se revela em sua serva. O estilo do relato, numa época de gostava do milagre como elemento mais importante da santidade, manifesta a profundidade da comunhão com Cristo e dá sentido a toda realidade. Mostra também essa discrição a pedagogia de Clara que ficava aos pés de Jesus como Maria de Betânia.

5. Agora examinemos o episódio da pregação das cinzas. No Memorial do desejo da alma ( esse o título exato da fonte biográfica conhecida como 2Celano) se diz que a presença de Francisco se tornava menos intensa junto das irmãs, Numa determinada ocasião, ele aparece no mosteiro. Celano afirma que Francisco recebe o pedido de seu vigário para que explicasse a Palavra de Deus às irmãs. Vencido pela insistência ele concedeu. Segundo o biógrafo foi Frei Elias que insistiu no pedido. No decorrer do relato, Tomás de Celano lembra que Francisco havia decidido ganhar certa distância dos mosteiros femininos. Mas o hagiógrafo faz questão de mostrar que o relacionamento da ordem minorítica com São Damião era diferente. O relacionamento de Francisco com as irmãs de São Damião não se limita a uma mera visita, mas o da oferta do dom da alimentação espiritual que caracteriza a mútua ajuda. Tendo-se reunido as senhoras, como de costume para ouvir a palavra de Deus ( cf. Jo 8,47), mas também não menos para ver o pai, ele, depois de ter elevado os olhos ao céu, onde sempre tinha o coração, começou a rezar a Cristo. Depois, manda que seja trazida cinza, com a qual fez um círculo no pavimento ao seu redor, impondo o resto sobre a própria cabeça. Ao verem elas, o bem-aventurado pai dentro do círculo de cinza permanecer em silêncio, brota não pequena estupefação nos corações delas. De repente, o santo se levanta, e estando elas atônitas recita no lugar de sermão o Miserere mei Deus (cf. Sl 50,3). Tendo-o terminando dirigiu-se imediatamente para fora (2Celano 207).

6. O texto nos leva a compreender que Francisco, no começo não queria fazer pregação para as irmãs e depois é voto vencido, mas se limita a improvisar uma muda exortação. Essa atitude do Poverello está em plena sintonia com sua típicas atitudes: o de representar com gestos, com a mímica de toda a pessoa, a mensagem a ser transmitida. O episódio se apresenta, pois, com todas as características de autenticidade. Queremos olhar com atenção as considerações do Celanense. Estamos diante de uma dramatização essencial da vida de penitência: ponto de partida para o caminho dos irmãos e das irmãs e que deveria continuar atuante em toda a existência terrena. Francisco parece carregar cinza, elemento fácil de ser encontrado no caminho porque as comidas eram cozinhadas pelo fogo vivo improvisado ao longo das estradas. Espalha cinzas em sua própria cabeça como se costuma fazer no começo da quaresma. Esse gesto estava em total consonância com o caminho dos irmãos e das irmãs que queriam fazer penitência. Francisco tem consciência de ser pecador. Nada tinha de próprio a não ser os vícios e os pecados, como dizia. O silêncio que se seguiu à aspersão das cinzas não foi um espaço vazio ou embaraçante, como parece deixar transparecer Celano, mas momento de interiorização. Através desse modo de mimar, Francisco torna palpável o abaixamento de Cristo, de sua vida que culminou na cruz. Assim, Clara viu o seu esposo no agir do Poverello e com admirável síntese haverá de exprimi-lo no Testamento: “O Filho de Deus fez-se para nós o Caminho, que nosso bem-aventurado pai Francisco, que o amou e seguiu de verdade, nos mostrou e ensinou por palavra e exemplo” ( Test. Clara 5).

7. Francisco conclui sua pregação muda com a recitação do salmo 50. Sabemos que o salmo em questão é privilegiadamente usado pela liturgia penitencial, e constitui uma pérola do saltério. Canta a misericórdia de Deus dada a quem confessa seu pecado, até o dom do coração novo e de um espírito generoso, capaz de anunciar aos irmãos e às irmãs o nome de Deus, as maravilhas de seu amor, através da própria vida. Para sororidade de São Damião este era um alimento sólido que manava da linfa pura do evangelho, que pode e deve ser procurado ao longo de toda a vida.

28 de maio de 2011

Meditação Diária


"A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância".

(Dalai Lama)

Escutar tornou-se uma verdadeira arte neste tempo de barulho e pouca instrospecção.Escutar é estar atento às várias manifestações de Deus na natureza, na vida, no tempo e na história. A arte de escutar está em comunhão com a capacidade de ver, perceber e contemplar. Somente quem educa o olhar para ver será capaz de escutar com qualidade, pois a escuta requer treinamento, meditação, oração e humildade.

Aproveite bem a vida que Deus te concede. Você e eu somos todos "viajantes" nesta vida frágil, porém bela e divivna. Viajemos, pois, juntos amigo! Façamos da vida uma magia, um momento na eternidade onde tudo passa a ganhar um novo sentido. Aprendamos a "escutar" Deus através da contemplação. Aprendamos a escutar o clamor da vida em atitudes amorosas com as pessoas que fazem a vida acontecer diante de nós...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

27 de maio de 2011

Especial - Mês de Maria, mãe do redentor


Maria Santíssima na piedade de São Francisco

Por Frei Constantino Koser, OFM

O intenso amor a Cristo-Homem, qual o praticara São Francisco e qual o legara à sua Ordem, não podia deixar de atingir Maria Santíssima. Já as razões do coração católico de São Francisco e seu cavaleirismo o levavam a amor aceso da virgem Mãe de Deus. "Seu amor para com a bem-aventurada Mãe de Cristo, a puríssima Virgem Maria, era de fato indizível, pois nascia em seu coração quando considerava que ela havia transformado em irmão nosso o próprio Rei e Senhor da glória e que por ela havíamos merecido alcançar a divina misericórdia. Em Maria, depois de Cristo, punha toda a sua confiança. Por isto a escolheu para advogada sua e de seus religiosos, e em sua honra jejuava devotamente desde a festa de São Pedro e São Paulo até à festa da Assunção".

São Francisco não é apenas um santo muito devoto, muito afeiçoado à Mãe de Deus, mas é um dos santos em que a piedade mariana aparece numa floração original e singular, sem contudo se afastar, por pouco que seja, das linhas marcadas pela Igreja. A Idade Média, da qual é Filho, teve uma piedade mariana cheia dos mais suaves encantos, porque fundada toda sobre a nobreza de sentimentos e a cortesia de atitudes de cavaleiros. Os cavaleiros se consideravam paladinos da honra e da glória de Maria Santíssima.

São Francisco, que em sua concepção específica da vida religiosa partia deste ideal e que considerava os seus como "cavaleiros da Távola Redonda", cultivou com esmero e com intensidade toda sua o serviço da Virgem Santíssima nos moldes do ideal cavaleiroso, condicionado pelo seu conceito e pela sua prática da pobreza. Nada mais comovente e delicado na vida deste Santo, que a forte e ao mesmo tempo meiga e suave devoção à Mãe de Deus. Derivada do amor de Deus e de Cristo, orientada pelo Evangelho e vazada nos moldes e costumes do cavaleirismo medieval, transposto a uma sobrenaturalidade, pureza e força singularíssima, esta piedade mariana do Santo fundador é parte integrante do que legou à sua Ordem e aí foi cultivada com esmero.

São Francisco fez dos cavaleiros de "Madonna Povertá" os paladinos dos privilégios e da honra da Mãe de Cristo. As fontes da vida e da espiritualidade de São Francisco são unânimes em narrar quanto a igrejinha da Porciúncula minúscula, pobre e abandonada na várzea ao pé de Assis, igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos - atraía as atenções de São Francisco e prendia a sua dedicação. Atraiu as suas atenções, quando estava para cumprir, segundo a interpretação que lhe dava, a ordem de Cristo de reconstruir a Igreja Santa. O edifício ameaçava ruínas. São Francisco pôs mãos à obra e em pouco tempo, com pedras e cal de "Madonna Povertá", restituiu a estrutura da capela: "Vendo-a (a capela) São Francisco em tão ruinoso estado, e movido por seu indizível e filial afeto da soberana Rainha do universo, se deteve ali com o propósito de fazer quanto fosse possível para a sua restauração... Fixou neste lugar a sua morada, movido a isto pela sua reverência aos santos anjos, e muito mais pelo entranhado amor da Mãe Bendita de Cristo".

Depois de assinalado por Cristo com os sinais gloriosos, mas dolorosos da Paixão, São Francisco voltou à Porciúncula. De lá partia novamente para pregar, mas voltava sempre. Os irmãos, apreensivos pela sua saúde combalida, obrigaram-no a permitir o levassem aonde melhor podiam atender ao tratamento reclamado pelo eu estado. Quando, porém, ia findar o tempo que Deus lhe concedera, e sabia quando findaria, São Francisco pediu que o levassem novamente à capelinha da Virgem dos Anjos. À sombra da igrejinha entregou sua alma a Deus no trânsito incomparável que foi o seu. Maria Santíssima, tão agraciada por Deus, possui encantos mil e à semelhança do seu Filho Divino é tão rica que um coração humano não pode venerar de uma só vez todas as prerrogativas de que foi cumulada pela generosidade divina.

Há desta forma a possibilidade das mais variadas devoções da Virgem, há a possibilidade de cada qual venerá-la e amá-la sob o aspecto que mais o comove, que mais o inflama.

(Extraído do Livro "O Pensamento Franciscano", Editora Vozes)

25 de maio de 2011

Especial - Mês de Maria, mãe do redentor


Maria de Nazaré, quem é esta mulher?

Por Jesus Espeja

Como cristãos, temos motivos de sobra para celebrar Maria como "rainha e senhora", mas corremos o risco de esquecer a história daquela mulher simples que viveu num pequeno povoado de uma região periférica no mundo daquele tempo. Maria de Nazaré é alguém de nossa raça. Como os demais seres humanos, nasceu e viveu num contexto histórico, social, econômico, político e cultural.

Como as outras mulheres, sua natureza humana se desgastou; viu-se atingida pelas inclemências dos anos e envelheceu. Não viveu segregada e protegida.

Não é fácil conhecer a história de Maria com objetividade, uma vez que as fontes são os Evangelhos, nos quais os fatos históricos já se apresentam interpretados a partir da fé. Não se deve, porém esquecer essa história que há de ser ponto de partida insubstituível em toda reflexão mariológica.

No Novo Testamento há diversas tradições. Maria é referência indireta nos escritos paulinos. Marcos a apresenta como mulher do povo e participante de sua mentalidade. Os Evangelhos da infância apresentam uma teologia bem elaborada sobre a fisionomia espiritual da Virgem, enquanto o quarto evangelista destaca sua fidelidade e seu significado na comunidade cristã.

De todas essas interpretações podemos concluir:
- Maria foi uma mulher simples do povo e sensível às necessidades dos pobres.

Embora os Evangelhos nada digam sobre os pais de Miryam, nome original de Maria, segundo a tradição eles se chamavam Joaquim e Ana. Vivia em Nazaré, um povoado sem renome e de má fama, na região norte chamada Galiléia. Sua existência deve ter sido como a de qualquer outra jovem daquela cultura: arrumar a casa, ajudar os irmãos menores, e participar nas festas religiosas. Ainda se conserva em Nazaré a "fonte da Virgem". Ali ela comentaria com as outras mulheres os acontecimentos e rumores de cada dia.

Contam os Evangelhos que Miryam estava prometida para ser esposa de um carpinteiro justo e honrado que se chamava José, e talvez tivesse emigrado da Judéia. Maria e José pertencem ao povo humilde, de modo que quando seus conterrâneos vêem que Jesus fala tão bem, se admiram: "Mas não é este o filho do carpinteiro e de Maria?" (Mc 6,2).

Aquela mulher é sensível às necessidades dos outros. Sabendo que sua parenta Isabel já está no sexto mês de gravidez, desloca-se para lhe dar assistência. Quando participava de uma festa de casamento, percebe que falta vinho, e procura falar com Jesus para resolver o problema, e impedir que os noivos fiquem envergonhados.

- Miryam recebeu de Deus um favor singular na concepção e no nascimento de Jesus. Movida pelo Espírito, entregou-se totalmente ao projeto de salvação, vivendo sua maternidade até as últimas consequências.

Nos primeiros meses de gestação, a criança se configura física e psicologicamente por obra de sua mãe, que não só a alimenta com a própria vida como também a torna centro de seus pensamentos, afetos e cuidados. A mãe amolda misteriosamente a personalidade de seu filho.

A frase do evangelho é bem eloquente: "Maria deu à luz o filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, por não haver lugar na hospedaria" (Lc 2,7).
Nesse gesto está implícito o amor materno e a ternura que viveu aquela jovem mãe ao encontrar-se diante de seu filho. A experiência singular que Maria teve de Deus não diminuiu seu afeto materno; tornou-o mais profundo, delicado e total.

- A Virgem fez sua caminhada na surpresa e na obscuridade da fé.

Os evangelhos da infância sugerem que os inícios não foram fáceis: conflito com José pela gravidez inexplicável, perseguição do rei Herodes, e fuga do país durante a noite, para defender o filho.

Parece que os familiares de Jesus não entenderam sua decisão de abandonar suas seguranças sociais e dedicar-se ao anúncio do Reino, interessando-se pelos marginalizados. Pensavam que ele havia perdido o juízo e queriam traze-lo de volta à casa. Quando viram que ia tendo êxito, lhe diziam que fosse para Jerusalém, a capital da Palestina: "Ninguém faz tais coisas em segredo, se deseja ser conhecido do público" (Jo 7,4).

Os evangelistas querem deixar bem claro que Maria disse "sim" ao projeto de Deus, sendo "a pobre" inteiramente disponível à vontade divina. Isto, porém não impede, até exige, que vivesse sua entrega num processo histórico marcado pela surpresa, o conflito e o sofrimento. Diante de comportamentos estranhos de Jesus, "ficava perplexa", "vacilava em seu íntimo". Deve ter sido uma mulher contemplativa da passagem de Deus pela história.

Lc 2,49-50 acusa certo desgosto de Maria quando o menino Jesus permanece no templo de Jerusalém sem avisar a seus pais. Maria, sem dúvida, teve de sofrer uma desorientação quando Jesus deixou sua profissão e sua casa; mas, acima de tudo, como toda boa mãe, teve que defender o filho contra as críticas dos familiares. E o transtorno deve ter sido terrível quando a Mãe veio a saber que haviam prendido seu filho, e o tinham condenado por blasfemo. Conforme a tradição evangélica, Maria permaneceu junto à cruz, junto a Jesus abandonado por todos. A fé verdadeira se prova e amadurece na escuridão.

-A última noticia que temos de Maria, com certa garantia histórica, é o que encontramos em At 1,14: permanecia em oração com a primeira comunidade cristã, suplicando a vinda do Espírito. Nada dizem os escritos apostólicos sobre os últimos dias e a morte da Virgem. Segundo Jo 19,27, o "discípulo amado" acolhe em sua casa a mãe de Jesus. Embora a intenção principal do evangelista seja mais teológica que histórica, talvez tenha vindo daí a tradição popular: Maria ficou com o "discípulo amado" (que se veio identificando com João) em Patmos, e ali terminou seus dias.

20 de maio de 2011

Especial - Mês de Maria, mãe do redentor


Devoção franciscana para com a Virgem

Em sua "devoção" Francisco une Maria a Jesus, seu filho.
69. - A bem-aventurada Virgem Maria é tão honrada - como é justo - porque trouxe Cristo em seu seio abençoado. (III Carta, 21)

70. - O Verbo do Pai, tão digno, tão santo e glorioso, de quem o Pai anunciou a chegada, por seu Santo arcanjo Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, do seio da qual o Verbo recebeu verdadeiramente a carne de nossa humanidade frágil. (1 Carta, 4)

Ela foi escolhida e consagrada por Deus
71. - SALVE, Mãe de Deus, ó Maria.
Escolhida pelo santíssimo Pai do céu, o qual
vos consagrou com seu dileto e santíssimo
Filho e o Espírito Santo Consolador...
Salve, Palácio de Deus!
Salve, Tabernáculo de Deus!
Salve, Casa de Deus!
Salve, Traje de Deus!
Salve, Serva de Deus
Salve, Mãe de Deus!
(Saudação à SS. Virgem, 2,4,5)

Ela recebeu a graça e a santidade em plenitude.
72. - Ó Maria, Virgem Santíssima, não há outra semelhante, nascida neste mundo, entre as mulheres; filha e serva do Rei altíssimo, o Pai celeste; mãe de Jesus Cristo, nosso Senhor; esposa do Espírito Santo. (Of. da Paixão, 12)

73. - Salve, Senhora Santa,
Rainha Santíssima, Mãe de Deus, ó Maria,
que sois a Virgem perpétua...
Vós em quem houve e permanece
Toda a plenitude de graça e todo bem.
(Saudação à SS. Virgem, 1,3)

Ela é nossa advogada junto de Deus.
74. - Francisco amava a Mãe do Senhor Jesus com um amor indizível, pois foi ela quem nos deu como irmão o Senhor de majestade e por ela obtivemos misericórdia.
(Boav., IX, 3)

75. - "Em Rivo Torto não temos nenhuma igreja em que possamos rezar o Ofício e louvar a Deus e sua Mãe Santíssima, a quem sempre pedimos que seja nossa advogada". (Fioretti, ad. II)

76. - O homem de Deus tinha uma devoção fervente por Maria, Senhora do Mundo...
Fixou-se em Porciúncula por causa de seu amor pela Mãe de Cristo. Amou sempre este lugar mais do que qualquer outro no mundo. . . ; foi este lugar que, ao morrer, confiou aos irmãos como particularmente caro à Virgem... Foi neste lugar que Francisco, impelido por Deus que lhe revelou sua vontade, fundou sua Ordem dos Frades Menores. (Boav., II, 8)

77. - Não convinha que o nascimento de uma Ordem de virgens... se desse num outro lugar que não num templo consagrado à primeira, e à mais digna de todas as mulheres, a única que é virgem e mãe ao mesmo tempo, no mesmo lugar em que a nova cavalaria dos pobres começa a exercitar-se gloriosamente sob a ordem de Francisco. Desta maneira, a Mãe de misericórdia mostrava claramente a todos que era ela que, em seu santuário, dava origem à primeira como à segunda Ordem.
(Vida de Clara, 8)

78. - Ordeno a todos os meus irmãos, quaisquer que sejam, aos atuais e aos vindouros, que a honrem e glorifiquem sempre, de todo jeito e de toda maneira que for possível, e de tê-la em muito grande devoção e veneração. Quero ainda que sejamos sempre seus fiéis servos.
(Fioretti, ad. II)

79. - Inventava louvores para ela, fazia chegar suas orações até ela, consagrava-lhe os impulsos de seu coração: nenhuma língua humana saberia dizer quantas vezes e com que fervor.
(II Celano, 198)

Imita-lhe as virtudes
80. - Pouco antes de morrer escreveu-nos dos, mais uma vez sua última vontade; "Eu, o pequeno irmão Francisco, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor
Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe, e quero perseverar neste caminho até a morte.
(R. de Clara, VI)

81. - E quando for necessário, que vão pedir esmola... "pois pobre e peregrino, viveu de esmolas, Ele, e a bem-aventurada Virgem, e seus discípulos". (1 Regra, IX, 6)

82. - "Se não puderes atender de outro modo as necessidades dos irmãos, despoja o altar da Virgem e tira-lhe os enfeites. Crê-me: ela ficará muito mais contente em ver o Evangelho de seu Filho observado e seu altar despojado, do que seu altar enfeitado e seu Filho desprezado".
(II Celano, 67)

Recorre à proteção dela
83. Francisco permaneceu algum tempo na dela igreja da Virgem Mãe de Deus, pedindo-lhe, com súplicas incessantes e contínuas, a graça de tornar-se o protegido dela.
(Boav., III, 1)

84. - Depois de Cristo colocava sua confiança em Maria e a escolheu como padroeira sua
e dos seus.(Boav., IX, 3)

85. - Francisco, estigmatizado, despediu-se do Alverne dizendo: "adeus, Santa Maria dos Anjos do Alverne: - eu te recomendo estes meus filhos, ó Mãe do Verbo eterno".
(Fioretti, ad. XX)

18 de maio de 2011

Especial - Mês de Maria, mãe do redentor


Maria, a força da piedade popular

Lina Boff

O que levou o magistério da Igreja a proclamar o dogma da Imaculada Conceição de Maria foi a força da piedade popular, que se expressou através de sua fé e seu culto a Maria, desde as primeiras comunidades do cristianismo primitivo. A contribuição da teologia neste caso, ainda que com suas justas reservas, foi a de acompanhar tal processo, numa atitude de vigilância, no sentido de perceber a força da experiência da fé nas comunidades e debruçar-se, com desprendimento, sobre a afirmação do magistério eclesial, com a finalidade de dar às palavras do dogma uma interpretação que não anulasse uma experiência de fé popular mariana, que já vinha, há séculos, crescendo.
A explicação do dogma se dá levando em conta a maturação da verdade professada pelo culto e pela piedade popular, que vem sendo legitimada, percebida e praticada pelas comunidades de fé. Maria torna-se, gradativamente, não só figura e símbolo, mas ela realiza o plano do Pai com uma missão específica: a de ser a mulher cheia de graça, a mulher que está com o Senhor, a bendita entre as mulheres e aquela que traz em seu seio o fruto bendito, obra do Espírito Santo.

A reflexão teológica, então, busca penetrar o sentido das palavras do dogma para a fé popular para expô-la, com maturidade, dentro do plano divino. Por isso tudo, Maria invocada, cultuada e se encontra profundamente arraigada na fé e no culto popular como a santa e toda imaculada, sobretudo a santa poderosa que intercede junto a Jesus em favor de seus filhos e filhas, peregrinos nesta terra. Ela é a companheira do povo que caminha em direção ao Pai, que enviou o Filho para reconciliar toda a humanidade com Deus, pela força do Espírito Santo.

Texto do livro "Imaculada Maria do Povo, Maria de Deus", do capítulo "A mulher toda santa e imaculada", de Lina Boff, que é teóloga e ensina Teologia Sistemática na Faculdade Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

16 de maio de 2011

A ORAÇÃO DA AVE MARIA COMENTADA


Em comunhão com a Santa Mãe de Deus - A ORAÇÃO DA AVE-MARIA

Comentário da Oração da Ave Maria no Catecismo da Igreja Católica

Na oração, o Espírito Santo nos une à Pessoa do Filho Único, em sua humanidade glorificada. Por ela e nela, nossa oração filial entra em comunhão, na Igreja, com a Mãe de Jesus.

A partir do consentimento dado na fé por ocasião da Anunciação e mantido sem hesitação sob a cruz, a maternidade de Maria se estende aos irmãos e às irmãs de seu Filho "que ainda são peregrinos e expostos aos perigos e às misérias". Jesus, o único Mediador, é o Caminho de nossa oração; Maria, sua Mãe e nossa Mãe, é pura transparência dele. Maria "mostra o Caminho" ("Hodoghitria"), é seu "sinal", conforme a iconografia tradicional no Oriente e no Ocidente.

A partir dessa cooperação singular de Maria com a ação do Espírito Santo, as Igrejas desenvolveram a oração à santa Mãe de Deus, centrando-a na Pessoa de Cristo manifestada em seus mistérios. Nos inúmeros hinos e antífonas que exprimem essa oração, alternam-se geralmente dois movimentos: um "exalta" o Senhor pelas "grandes coisas" que fez para sua humilde serva e, por meio dela, por todos os seres humanos; o outro confia à Mãe de Jesus as súplicas e louvores dos filhos de Deus, pois ela conhece agora a humanidade que nela é desposada pelo Filho de Deus.

Esse duplo movimento da oração a Maria encontrou uma expressão privilegiada na oração da Ave-Maria: "Ave, Maria (alegra-te, Maria)". A saudação do anjo Gabriel abre a oração da Ave-Maria. É o próprio Deus que, por intermédio de seu anjo, saúda Maria. Nossa oração ousa retomar a saudação de Maria com o olhar que Deus lançou sobre sua humilde serva, alegrando-nos com a mesma alegria que Deus encontra nela. "Cheia de graça, o Senhor é convosco". As duas palavras de saudação do anjo se esclarecem mutuamente. Maria é cheia de graça porque o Senhor está com ela. A graça com que ela é cumulada é a presença daquele que é a fonte de toda graça. "Alegra-te, filha de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti" (Sf 3,14.17a). Maria, em quem vem habitar o próprio Senhor, é em pessoa a filha de Sião, a Arca da Aliança, o lugar onde reside a glória do Senhor: ela é "a morada de Deus entre os homens" (Ap 21,3).

"Cheia de graça", e toda dedicada àquele que nela vem habitar e que ela vai dar ao mundo.

"Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus". Depois da saudação do anjo, tomamos nossa a palavra de Isabel. "Repleta do Espírito Santo" (Lc 1,41), Isabel é a primeira na longa série das gerações que declaram Maria bem-aventurada: "Feliz aquela que creu..." (Lc 1,45): Maria é "bendita entre as mulheres" porque acreditou na realização da palavra do Senhor. Abraão, por sua fé, se tornou uma benção para "todas as nações da terra" (Gn 12,3). Por sua fé, Maria se tornou a mãe dos que crêem, porque, graças a ela, todas as nações da terra recebem Aquele que é a própria benção de Deus: "Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus".

"Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós..." Com Isabel também nós nos admiramos: "Donde me vem que a mãe de meu Senhor me visite?" (Lc 1,43). Porque nos dá Jesus, seu filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos lhe confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como rezou por si mesma: "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Confiando-nos à sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus: "Seja feita a vossa vontade".

"Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte". Pedindo a Maria que reze por nós, reconhecemo-nos como pobres; pecadores e nos dirigimos à "Mãe de misericórdia", à Toda Santa. Entregamo-nos a ela "agora", no hoje de nossas vidas. E nossa confiança aumenta para desde já entregar em suas mãos "a hora de nossa morte". Que ela esteja então presente, como na morte na Cruz de seu Filho, e que na hora de nossa passagem ela nos acolha como nossa Mãe, para nos conduzir a seu Filho, Jesus, no Paraíso.

14 de maio de 2011

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos - ORAÇÃO A SANTA CLARA DE ASSIS

ORAÇÃO A SANTA CLARA DE ASSIS











ORAÇÃO A SANTA CLARA DE ASSIS



D.:Santa Clara , nascida em Assis, contemporânea de Francisco, nasceu na família dos Favarone. Nobre, casta e pura, sempre almejou estar com Nosso Senhor Jesus Cristo.



1. Plantinha do Seráfico de Assis , procurou segui-lo em suas pegadas, pegadas profundas , no domingo de Ramos de 1212, quando o Bispo Guido lhe entregou o ramo bento.



T.:Clara, que foste o espelho da perfeição, ensina-nos a refletir o Deus amor, ensina-nos a cativar o Cristo no nosso irmão.



2. Tomou a decisão de seguir a Cristo do jeito de Francisco. À noite fugiu da casa paterna, saindo pela passagem dos “mortos” para encontrar-se com Francisco e seus frades.



3. Foi para Santa Maria do Anjos - Porciuncula , onde fez seus votos. Passou algum tempo no Mosteiro de São Paulo das beneditinas , onde enfrentou a fúria dos parentes, quando tomada do espirito do Senhor veementemente reafirmou sua Fé no Crucificado e com destreza disse não a seu tio, impulsionada pelo Cristo.



T.:Clara, que foste o espelho de perseverança no Amor, ensina-nos a viver o Deus amor e a cativar o Cristo no nosso irmão.



4.Tornou-se tão pesada quanto o chumbo, que seu tio desistiu. Passou a viver em oração e trabalho, no Mosteiro de São Damião, local que fora restaurado por Francisco.



T.:Clara, que foste o espelho de perseverança no Amor, ensina-nos a viver o Deus amor e a cativar o Cristo no nosso irmão.



5.Mesmo na clausura foi mais livre que os pássaros do céu , vivendo na conformidade do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo; soube cativar a todos, às novas irmãs que chegaram ali e aos que estavam no mundo, por sua humildade, por sua luz.



T.:Clara, que foste livre para seguir Nosso Senhor Jesus Cristo, ensina-nos a darmos o nosso sim, a cativar o Cristo no nosso irmão.



6. Quando Assis fora invadida pelos Sarracenos , não vacilou. Foi ao encontro do Esposo amado , Jesus Eucarístico, erguendo o Ostensório. Orou fervorosamente para que nada de mal acontecesse as suas irmãs e ouviu o próprio Jesus lhe responder que nada de mal aconteceria a elas, nem à cidade de Assis.



T.: Dai-nos Clara, a mesma Luz e a mesma coragem para sermos luzes para nossos irmãos e irmãs .



7. Mesmo acamada no tempo de Natal, não podendo estar presente à Igreja assistiu a toda à missa e dois dias antes de morrer, recebeu a bula de confirmação da Regra, do Santo Padre, para o privilégio da elevada pobreza.



8. E moribunda diz a sua alma para ir em paz, pois Aquele que a criou e acompanhou , sempre estaria com ela, pois iria em boa companhia.



T.: Dai-nos Clara, a mesma Luz e a mesma coragem para sermos luzes para nossos irmãos e irmãs . Amém!



D.: Irmãos, Clara foi e é modelo de virtude , oração e obediência à vontade do Pai. Juntos rezemos a oração dos 800 anos do CARISMA CLARIANO.



T.:Ó Altíssimo Pai celestial, por vossa misericórdia e graça, iluminastes vossa serva Clara de Assis, com o esplendor do Cristo Ressuscitado, seu amado esposo, a fim de que, por uma vida vivida no amor, brilhasse como luz aos irmãos e irmãs de ontem e de hoje.

Ouvindo o vosso chamado, seguindo o exemplo de Francisco, Clara trocou a nobreza pela pobreza e, na penitência em São Damião, com jovial alegria, viveu no silêncio, na contemplação e na fraterna comunhão.

Bendito sejais, ó Altíssimo Pai, pelas mulheres e homens, que nestes oitocentos anos abraçaram o ideal de vida de Santa Clara. Por seu testemunho, iluminaram os caminhos da missão e da paz, radiantes de alegria e de esperança.

Concedei, Senhor, à Família Franciscana do Brasil, seguir o caminho da simplicidade, da humildade fraterna, da pobreza numa vida honesta e santa, alimentada pelo pão da Palavra e da Eucaristia, solidária com os pobres e excluídos.

Iluminados pela luz do vosso Espírito que em Clara de Assis brilhou como o sol, jamais percamos de vista, o ponto de partida, da íntima unidade com Jesus Cristo, o irmão pobre do presépio e da Eucaristia. Amém!

Nossa mãe Santa Clara e nosso pai São Francisco de Assis, rogai por nós!



D.: Irmãos e irmãs, peçamos ao Pai que nos ilumine e nos fortaleça para dizermos sempre sim à sua vontade:

Pai nosso...



Final: O Senhor os abençoe e guarde.

Mostre-lhes o seu rosto e tenha misericórdia de vocês.

Volte a sua face para vocês e lhes dê a paz

O Senhor esteja sempre com vocês e

oxalá estejam vocês sempre com Ele.

Amém.
Créditos : Paulo Américo Piotto,OFS e Claudete Letz Martins,OFS - Fraternidade São Francisco de Assis de Vila Clementino - São Paulo-SP

Meditação Diária


“Na estrada da vida tive o prazer e a alegria de conhecer-te. Agora vais comigo para onde eu for”.

(Frei Paulo Sérgio, ofm)

Quantos encontros a vida nos oferece? Quantas pessoas Deus colocou em nossos caminhos, em nossas vidas? Alguns permaneceram por pouco tempo, mas deixaram marcas em nós: foram verdadeiros anjos! Dessa forma, nosso caminho torna-se melhor, mais agradável. Aprendemos a partilhar os bons e maus momentos, crescemos na experiência da fraternidade...

Quando alguém entra em nossa vida, passa a fazer parte de nós. Mesmo que vão para longe, permanecem conosco na forma de lembrança, de energia positiva e de amor que transformou nossas vidas. Levam também um pouco de nós no coração da amizade. Então, meu (minha) amigo (a), caminhemos juntos enquanto Deus nos permitir...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

13 de maio de 2011

Meditação Diária


"Costumo voltar atrás, sim;
não tenho compromisso
com o erro".

(Juscelino Kubitscheck)

Estamos sempre unidos pelo laço do eterno compromisso de sermos o que somos para que não erremos querendo ser o que não somos. Aprimoramos o que somos para que sejamos um, no que queremos ser juntos. É essa responsabilidade que nos faz projetar no percurso de nossa vida: é nela que escrevemos nossa história. É nesse laço de solidariedade e amor que caminhamos com as pessoas!

Voltar atrás não é sinal de fraqueza; pelo contrário: é gesto de força, de quem é humano e aprende com o erro. Cada dia temos a possibilidade de começar de novo. Podemos acertar o que fizemos errado e temos a possibilidade de apostar numa nova perspectiva. Viver é acertar e errar! Viver é um eterno aprendizado. Viver é celebrar as coisas boas que conquistamos e partilhá-las com as pessoas que caminham conosco...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

9 de maio de 2011

Meditação Diária


"Entrego-me à minha causa com paixão, sabendo que a paixão é o poder que cria nova vida, novas alegrias e novas realizações para mim e para os outros"

(Jones, Laurie)

A paixão é condição para que o amor possa surgir. A paixão desperta em nós a energia do “eros” e nos possibilita maior prazer em nossa vida. O prazer em trabalhar, em produzir, em alimentar, em contemplar um pôr-do-sol, em dividir a vida com alguém... Entramos em contato com o “eros” quando compartilhamos a sexualidade do nosso ser (pessoa) e aprendemos a “educar” nossa afetividade e sexualidade para a produção de coisas sublimes.

A paixão também é a energia que nos move a fazer as coisas com afinco, a ter metas, a cumprir nossos projetos. Sem paixão a vida fica sem graça, perde o encanto e o brilho... Viva, pois, sua vida de maneira apaixonada. Faça as coisas com amor e dedique tempo para contemplar as coisas bonitas que lhe Deus proporciona...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

6 de maio de 2011

1ª sexta-feira do mês - FERIDAS QUE NOS CONVIDAM A BUSCAR OS FERIDOS

FERIDAS QUE NOS CONVIDAM A BUSCAR OS FERIDOS

Estamos habituados a contemplar o amor total de Cristo pelos seus de modo particular a partir da ferida de seu peito aberto, das feridas de suas mãos e de seus pés. Nelas se escondem os místicos. Uma tal contemplação não nos leva a uma estéril postura estática, mas sempre deverá nos impelir a aliviar as feridas abertas na carne e na vida de nossos irmãos e irmãs pelo mundo afora. Num belo texto proposto por Bento XVI para a quaresma de 2007 lemos esta exortação calorosa que se dirige também aos devotos do Coração rasgado do Mestre em todos os tempos e lugares. “Contemplar aquele que traspassaram nos impulsionará de tal maneira que venhamos a abrir nossos corações aos outros reconhecendo as feridas infligidas à dignidade do ser humano: seremos levados, em particular, a combater toda forma de desprezo pela vida e de exploração das pessoas, a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas”.

Sempre, nas reflexões sobre o Coração de Jesus, num primeiro momento, nos detemos diante do amor de Deus. Cristo é imagem do Pai que ama até o fim. Quem me vê, diz Jesus, vê o Pai. O Filho e o Pai se misturam no alto da cruz. O Pai do filho pródigo, o bom samaritano estão ali, numa tarde de primavera do Oriente. Um homem de carne e de osso, nu, despojado, sem nada, completamente desapropriado, que foi se fazendo uma chaga só dos pés à cabeça, cheio de hematomas, de corrimento de sangue e em inimagináveis desconfortos vai se entregando, quase desmaiando, morrendo com quatro feridas. Faltava ainda o machucado do lado, do peito, do coração. Um Deus que torna ferida para que os homens se curem. Nós, discípulos do Ferido, fomos levados à hospedaria de seu coração para sermos definitivamente curados. Somos gratos ao Senhor. Pedimos sempre seu perdão e exprimimos-lhe nosso reconhecimento. A vida diária do discípulo não consiste em carolice nem pieguice. É um berro forte de reconhecimento porque as feridas do Senhor nos curaram. O devoto do Coração de Jesus é um contemplativo.

Assim, curados e alegres, passamos a prestar atenção nas feridas de tantos à nossa volta. Ficamos atentos a todas as chagas da humanidade. Um simples elenco de exemplos: meninos e meninas filhos de pais separados, crianças que sofrem porque não conseguem se sentir em casa na casa do pai com a nova esposa, doentes incuráveis. Gente coberta de feridas. Outros: jovens que reagem brutalmente diante da vida porque seus pais os deixaram de lado porque queriam aproveitar a vida; essas velhas de chinelos de dedos, mascando fumo de rolo, sentadas no chão, no terreiro sem filhos, nem netos; esses homens retos e sinceros que foram despedidos de seus empregos e precisam de uns trocados para pagar a conta da luz. Assistencialismo? Chamem o que quiserem, mas são pessoas feridas que nos chamam, a nós que fomos curados pelas feridas do Mestre.

Bento XVI, o Papa Ratzinger, fala do desprezo pela vida: vida ainda no seio da mulher, vida do velho sem vez, sem voz, que alguns querem que morra o mais rapidamente possível, vida de casamento que parece morto bem antes da morte dos cônjuges. Penso aqui em todo um trabalho de pastoral familiar englobando a vida em todos os seus estágios. Há a vida do feto a ser protegida, mas há a vida viçosa da fé que não pode ser expressa apenas pela missa dominical de obrigação Padres e leigos que contemplam as feridas do Coração de Jesus sabem que muitos cristãos estão doentes, possuídos de uma ferida escondida que se chama mediocridade, religião de fachada. Para junto deles vão os verdadeiros devotos do Coração de Jesus, que não são carolas, sem piegas. Agem com caridade e sentem-se enviados pelo Amor que não é amado.

O Papa fala também das feridas de pessoas que são exploradas. Há muitas chagas. Há essas esposas que não são levadas em conta. Há esses maridos que são vistos apenas como “provedores”. Nunca, uns e outros, tiveram a impressão de que pessoas lhes davam a vida. Há essa exploração sexual de crianças, o uso de jovens pelo tráfico, o uso das pessoas que se traduz pelo pagamento de salários de fome enquanto uns nadam nababescamente em dinheiro que deveria lhe queimar as mãos, outros secam por dentro. Os devotos das Feridas do Senhor protestam contra isso.

O Papa fala ainda fala do drama da solidão e do abandono. Solidão das viúvas idosas, solidão do que vivem crises de fé e momentos em que pesa sobre eles a tentação. Sempre de novo o abandono de crianças: abandonadas devido à ausência física e espiritual dos pais, abandonadas porque os pais não lhes propõem a fé cristã, abandonadas porque embora tenham sido batizados em criança mas que nunca foram evangelizadas pela presença e a palavra dos pais. Essas são dessas pessoas solitárias de que fala o Papa.

Assim, a tomada de consciência do amor de Cristo pelo discípulo que contempla o crucificado cheio de chagas nos impulsiona a deitar azeite nas feridas de todos os que vão tombando pelo caminho. O amor recebido, é retribuído.

5 de maio de 2011

Meditação Diária


O humano em nós não está pronto. Ele é uma construção, um pro-jecto, uma possibilidade de vir-a-ser! Jesus Cristo, o humano pleno, ensinou-nos como devemos fazer para atingir nossa plenitude humana. Quando apostamos e investimos na capacidade de evolução das pessoas, estamos apostando em nosso crescimento, em nossa própria evolução e, por que não, em nossa própria transcendência...

Procure exaltar suas qualidades e valores. Procure encontrar o bem que está em cada pessoa, pois assim faz Deus: Ele aposta e acreditar em você! Ele quer a felicidade e o bem para você. Faça assim também com as pessoas que estão próximas a você: exalte suas virtudes, seus valores e o bem que está dentro delas...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

4 de maio de 2011

CLARA DE ASSIS - A VOCAÇÃO

A VOCAÇÃO


O jubileu de Clara de Assis começou a ser preparado em 2009 com o tema: A VOCAÇÃO. Como podemos refletir sobre a vocação de Clara de Assis? Há certo momento da vida que uma convocação bate na alma e a pessoa começa um processo de mudança de pensar, mudança de jeito e de lugar. Não dá para permanecer o mesmo quando uma inspiração começa a tomar conta. Mesmo num contexto diferente de Francisco de Assis, Clara de Assis fez um itinerário espiritual de penitente. Percorrer um verdadeiro caminho penitencial significa mudar de lugar. Clara sai do palácio e vai ao mosteiro. Sai do brilho da nobreza e vai para a transparente simplicidade da pobreza. Sai das etiquetas da nobreza e abraça uma Regra de Vida com forte expressão do Evangelho. Sai da vontade da família biológica e acolhe os desígnios de Deus que a envia a uma família espiritual de Irmãs. Do convívio com Damas Nobres vai ser a mãe e irmã espiritual de Damas Pobres.

A vocação de Clara é conversão, isto é, deixar-se moldar por Deus numa mudança radical dos rumos de sua vida. Ela passa a ser uma mediação humana do projeto divino. Sempre a mediação passa por algo ou alguém. Francisco passou pelos leprosos para chegar até Deus; Clara passou por Francisco para chegar ao Evangelho vivido em seu modo mais límpido.

“Depois que o Altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e

graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência

segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado pai

Francisco, pouco depois de sua conversão, com algumas Ir-

mãs que Deus me dera logo após a minha conversão, eu lhe

prometi obediência voluntariamente, como o Senhor nos

concedera pela luz de sua graça através da vida admirável e

do ensinamento dele”. (Testamento de Clara 24.25)



Clara não tem um rompimento com seu passado, mas sublima sua vida anterior. Não é uma vida de pecado, como de muitos convertidos, mas sim uma vida sadia vivida na infância e adolescência, na juventude e nos cuidados de uma família que sempre a quis bem nascida e bem educada nos mais nobres costumes da corte. Ela não precisou libertar-se das vaidades do mundo, pois já era livre em dividir em obras de caridade e atendimento aos necessitados os bens que possuía, e ser serva entre as servas. Não há vaidade para quem exercita caridade. Vocação é fazer valer o coração e direcionar o centro dos sentimentos para algo maior.

Vocação é ter encontros com modelos vivos. Clara encontrou-se algumas vezes com Francisco de um modo discreto e secreto. Vocação tem este jeito de não fazer barulho; deixar tudo crescer quietinho antes que a opção apareça bem nítida. Depois sim, quanto tudo está evidente começar a dizer. Os dois descobriram que vocação é abrir o coração para um amor sem reservas. Vocação é atração. O que atraiu Clara? O Amado! O mesmo Amado de Francisco, o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo! Francisco apenas mostrou para ela que o Amado é real, próximo, pobre e simples. Ele mostrou para ela que o Amado se fez carne no despojamento total da Senhora Dama Pobreza. Ela revelou para ele que o Amado é o Espelho, reflexo da Beleza Maior. Os dois viveram um cristianismo de sedução, de encantamento, de seguimento apaixonado. Assim como para Francisco, também não foi fácil para Clara os passos da ruptura; foram passos decididos e corajosos. A atração foi tão grande que foi um pulo: fugir de casa, arriscar a reputação, abalar a família e a cidade de Assis, e criar um novo modo de viver uma clausura plena da liberdade e realização de quem ama. Escreveu até uma carta à princesa amiga e santa, Inês de Praga , dizendo assim:


“Que troca maior e mais louvável: deixar as coisas

temporais pelas eternas, merecer os bens celestes

em vez dos terrestres, e possuir a vida feliz para

sempre!” ( 1CtIn 30 )

Vocação é perceber que a convocação é divina inspiração, é preciosa predileção, é acolhimento que vai purificando e guiando a escolha. Mudar de lugar é real para Clara: de seu palácio para a Porciúncula; dali até as beneditinas de Bastia, uma hospedaria de aconchego e proteção; dizer para o tio Monaldo e seus cavaleiros que não voltará mais para a casa, pois agora é uma mulher devotada; depois a vida simples em Santo Ângelo de Panzo. Atrair e reunir a irmã Inês, uma amiga de juventude, o incentivo dos frades, o primo Rufino, que também foi seguir o Evangelho; as preces do pai Francisco, a irmã Beatriz, a mãe Hortolana, as outras Irmãs...e estava aberto o definitivo caminho de São Damião. Enfim chegou aos pés do expressivo Amado, grudado no Amor e na Cruz. Ali Clara cuidou para sempre do lugar da inspiração, o lugar da Vocação, abraçou o Cristo Pobre como uma fecunda virgem pobre.

Em São Damião o recolhimento, o silêncio, a prece, a convivência, o discernimento, a luz para sua nova Ordem e a Ordem dos Mendicantes. Um encontro entre a ação e a contemplação só podia dar conversas de fogo a incendiar a ceia no bosque. O futuro das duas Ordens depende da direção espiritual segura do pai Francisco e do ardente e apaixonado amor da mãe Clara. O futuro das Ordens está na junção da missão e da oração, e nos corações abrasados de tanto amor!

Em São Damião uma vida elevada na Transcendência tem a austeridade na imanência. Não é apenas o escondimento no claustro, mas a imersão no útero de um novo nascimento. Nascer para o um novo Amor, nascer para a Boa Nova, nascer para um novo modo de fazer o chamado sempre ser escutado e não sair mais do lugar do encantamento.

Frei

3 de maio de 2011

Paz e misericórdia que emanam do Senhor Ressuscitado (Parte 2)

Cristo nos dá o verdadeiro exemplo de igualdade: “Pondo-se no meio dos discípulos, disse: Paz a vós” (Jo 20, 19). Coisa é – e muito notável! – que diga o evangelista que Cristo pôs-se no meio. E sempre esteve Cristo no meio: Na Transfiguração, na Ceia, na Crucifixão, e agora ali. Não estava Ele no centro apenas por ser o Senhor de todas as coisas, mas por ser o Doador de tudo.

Na transfiguração é luz; na ceia faz-se comida e bebida; na crucifixão é doador da salvação; e com os discípulos dá a paz. Naquele instante com suas palavras ensina a paz e com o lugar ensina o meio de a conseguir: a igualdade. Maravilhosa e suma igualdade é esta de Cristo! Estava cercado de Pedro, que o tinha negado, e de João, a quem muito amava e que o segui até o pé da cruz, mas nem se afasta de Pedro e nem se aproxima de João, senão que fica no centro de todos, a todos fala de igual forma e a nenhum favorece mais. “A todos – dirá Padre Vieira – oferece a paz: Pax vobis; a todos tira o temor: Nolite timere; a todos anima e consola: Quid turbat estis? A todos convida: Habetis aliquid quod manduceter? A todos regala: Dedit eis relíquias; a todos se entrega e franqueia todo: Pulpate, et videte” (op. cit.). Mas nem mesmo de João Vos aproximastes mais? Não! Pois o que portava Cristo em si e consigo era a paz. E se não houver igualdade, e igualdade para todos, não há paz.


Além daquela perturbação exterior, que incomoda a tantos seres que deveriam portar a paz, há aquela causada interiormente pelo pecado e pelo estar fora da graça. Assim, São Tomás de Aquino dirá: “Ninguém é privado da graça santificante a não ser em razão do pecado, razão pela qual o homem se afasta do verdadeiro fim e estabelece o fim em algo não verdadeiro. Assim sendo, seu apetite não adere principalmente ao verdadeiro bem final, mas a um bem aparente. Por esta razão, sem a graça santificante, não pode haver verdadeira paz, mas somente uma paz aparente” (Suma teológica II-II, q. 29, a. 3).

Como Tomé estão muitos ainda hoje. Quantas vezes nos deixamos levar pela incredulidade e pela desesperança? Quem temos colocado no centro de todas as coisas? Será que é a Jesus que temos dedicado particular atenção? Sim, Cristo deve ser o nosso centro e não o mundo com sua aparente autoridade; não as nossas vontades, mas Cristo. Eis que de todos os lados somos puxados, exceto no centro. De um lado somos puxados pelo negativismo e pelo consumismo, pela inveja e pela autossuficiência; do outro somos puxados por um positivismo exacerbado, pela cultura politeísta que o mundo tende a centralizar, pelo querer o homem que Deus faça suas vontades. O único lugar que não será o homem puxado é no centro. E não tem a terra mais que um centro; e não deve ter a nossa vida mais que um centro: Jesus Cristo.

“Qual a maior desigualdade que jamais fez Deus, e qual a maior que cometeram os homens?” Pergunta Padre Vieira. Ao que responde: “A maior desigualdade que fez, nem podia fazer Deus, foi dar seu Filho pela redenção do homem. Vender o Filho para resgatar o escravo; condenar a inocência para absolver a culpa; morrer o imortal para ressuscitar o morto; deixar quebrar e perder os diamantes, para reparar o bano. Enfim, padrecer o Criador para que a criatura vil não padeça... E a maior que cometeram os homens, qual foi? Venderam esse mesmo Filho, e pregaram esse mesmo Filho com cravos em uma cruz... Oh bárbara, oh desumana, oh horrenda, oh sacrílega, oh infernal desigualdade! A de Deus mais que admirável por excesso de misericórdia, a dos homens mais que abominável por ultimo extremo de injustiça e crueldade” (op. cit.). Mas, mesmo com a violência, não perde Cristo o título de Príncipe da Paz, outrora outorgado pelos profetas (cf. Is 9,6). Tão cruéis foram os homens com Cristo, e tão manso fora Cristo com os homens! A que lhe haveremos de atribuir tão grande feito? “A paz que eu vos dou não a dou como o mundo no-la dá” (Jo 14, 27).

Tamanha é a misericórdia do Senhor. Por isso, Santo Agostinho exalta-a de forma admirável: “Quem tão longânime, quem tão abundante em misericórdias? Pecamos e vivemos; aumentam os pecados e vai-se prolongando a nossa vida; blasfema-se todos os dias, e o sol continua nascendo sobre bons e maus. Por todos os lados convida-nos à correção, por todas as partes, à penitência, falando-nos por meio dos benefícios das criaturas, concedendo-nos tempo para viver, chamando-nos pela palavra do pregador, por nossos pensamentos íntimos, pelo açoite e castigos, pela misericórdia do consolo” (Enarrationes in Psalmos Ps 102,16).

Na Sua aparição a Santa Faustina Kowalska, Jesus lhe diz:
“As almas se perdem apesar da minha amarga Paixão. Ofereço-lhes a última tábua de salvação, ou seja, a Festa da Minha Misericórdia. Se não adorares Minha Misericórdia, morrerão por toda a eternidade. Secretária da Minha Misericórdia, escreve, fala às almas desta grande misericórdia, pois está próximo o dia terrível, o dia da Minha justiça” (Diário de Santa Faustina,nº 965 ).
A todos quer o Senhor salvar, mas nem todos querem se aproximar Dele. O próprio Cristo recorda a dureza dos corações humanos. E hoje faço-vos o convite: Ide à Misericórdia Divina! Aproximai-vos sem temor dela! No quadro que Jesus mandou que pintasse, em honra a Sua misericórdia, encontra-se a inscrição: Jesus, eu confio em Vós! Sim, Senhor, em Ti eu confio, e a tua Misericórdia eu adoro. Voltai-vos para nós, pobres pecadores, e dai-nos a graça de contemplar Vossa face por toda a eternidade.

Damos graças ao Senhor pela Beatificação do Papa João Paulo II. Que a vida de intimidade que ele teve com Deus, nos sirva de exemplo, para que possamos chegar um dia à santidade, à qual todos nós somos convidados. T

2 de maio de 2011

ENTÃO, O QUE ESTAMOS ESPERANDO?

A experiência humana da vida nos leva a desejar que ela seja sempre jovial e permaneça assim eternamente; em sã consciência ninguém quer a morte e se alguém a procura é porque estragou a vida com um viver infrutífero, sem nexo, sem fundamento algum. Ora, nas condições de desobediência em que se encontra atualmente mergulhada a humanidade, o que podemos esperar? De fato, a proteção divina tem nos dado tempo para a conversão, mas não é o que estamos vendo da parte dos homens, pelo contrário, constatamos um aumento exacerbado de toda espécie de vícios e pecados; logo, este estado de desequilíbrio e morte que estamos vivenciando nada mais é do que os efeitos dessa desobediência aos santos mandamentos da Lei de Deus, isto se constitui um verdadeiro abuso contra a misericórdia divina.

Nenhuma criatura naturalmente é detentora da vida em definitivo, nós a temos como um dom, como uma graça que nos aponta para a plenitude dela mesma em Deus. Sabemos por experiência que tudo o que plantamos colhemos de acordo com o cuidado que damos à plantação. Com efeito, a vida também é assim, nós a estamos plantando no terreno fértil ou não da nossa existência e certamente haveremos de colher os frutos de nossos atos em definitivo, isto é, quando chegar o dia eterno da colheita que é a morte temporal. Ai sim, “... cada um receberá de Deus o louvor que merece”. (1Cor 4,5b). É como nos ensinou são Paulo: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé”. (Gal 6,7-10).

Por pura graça de Deus temos a revelação do seu plano para a nossa salvação: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem-amado”.

“Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e de prudência. Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos - desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra. Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade, para servirmos à celebração de sua glória, nós que desde o começo voltamos nossas esperanças para Cristo.” (Ef 1,3-12).

Por isso, “De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O que era impossível à lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito.

Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele.
Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.

Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados”. (Rom 8,1-17).

Então, o que estamos esperando? “Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça”. (2Ped 3,13). Conforme nos relatou são João: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição. Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.” (Ap 21,1-5).

“Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz”. (2Ped 3,14).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

Meditação Diária


A maioria das pessoas teria sucesso em coisas pequenas, se eles não estivessem preocupados com grandes ambições. É justamente a ambição que estraga a caminhada de muitas pessoas, pois a ambição é um querer que não se satisfaz, um querer que busca os fins sem se preocupar com os meios. A ambição corrói o coração e destrói o amor próprio e o amor fraterno.

Procure trabalhar muito para atingir suas metas e objetivos. Esforce, planeje, divida as tarefas... porém, não se esqueça de rezar a Deus para que Ele te ajude em todos os teus projetos e empresas. Quando Deus está conosco, tudo torna-se melhor e mais prazeroso...

1 de maio de 2011

Paz e Misericórdia que emanam do Senhor Ressuscitado

Neste segundo Domingo da Páscoa, a Igreja nos convida a celebrar três grandes festas que a tomam de profunda alegria, emanada do Senhor ressuscitado. Em primeiro lugar, temos a continuação do Mistério Pascal, vivendo intensamente a vitória do Senhor sobre o pecado e a morte. Em segundo lugar temos a Festa da Divina Misericórdia, que por ordem de Jesus, por intermédio de Santa Faustina, foi instituída no segundo domingo após a Páscoa. E uma terceira ocasião que acrescenta-se a este dia é a Beatificação do Papa João Paulo II, que com a sua vida, soube testemunhar o Evangelho, servindo a Deus e à Igreja.


No dia da Ressurreição, quando ainda não se lembravam das palavras de Jesus, os discípulos encontravam-se perturbados com o sumiço do corpo do Mestre, imaginando que fora roubado. Mas enganavam-se! Aquele que a morte parecia ter destruído, destruiu a morte. Agora, vivo, Jesus renova a todas as coisas, e esta renovação não parte de uma ideologia. A renovação proposta por Jesus não é apenas exterior, e sua ressurreição não é uma estória, mas uma realidade que foi necessária para libertar a todos os homens da cegueira, da obscuridão, gerada pelas trevas. E como outrora encontrava-se uma geração cega, também hoje muitos ainda estão cegos, não obstante a luz de Cristo que brilha e ilumina os caminhos pelos quais devem os homens trilhar. No entanto, para que a luz cumpra sua função, não se pode depender somente dela, mas também daquele que se deixa ou não iluminar. Se estamos a enxergar a luz, mas não queremos trilhar o caminho que nela resplandece, não é culpa dela se tantos ainda continuam nas trevas.

Desejo, por um instante, deter-me na narração evangélica deste dia. No dia para nós feito (Sl118, 24), tendo o Senhor ressuscitado pela manhã, à noite aparece aos seus, que estavam reunidos com as portas fechadas, pois temiam aos judeus que já haviam matado a Jesus, e, sem dúvida, no-lo tentariam matar também.


Estando com as portas fechadas, põe-se o Senhor no meio deles e diz: “Pax vobis – Paz a vós” (Jo 20,19). Paz a vós que tendes inimigos a cercar-vos por todos os lados, como outrora encontravam-se os apóstolos; a vós que nem dentro de vossas casas estais seguros; a vós que sois perseguidos por minha causa; a vós que havereis de morrer por meu nome. E hoje diz-nos também: Paz a vós! A vós que tendes fome; a vós que sois excluídos da sociedade porque condenais suas ideologias anticristãs; a vós que em mim confiais, ainda quando achais que vos esqueci; a vós que credes na Igreja, mesmo diante de tantas perseguições da mídia e diante das diversas tentativas de Satanás para denigrí-la; a vós que sabeis perdoar e rezar pelos que não vos amam; enfim, a todos vós: Paz! E é esta tão almejada pelos vários âmbitos da sociedade, mas nem todos sabem o caminho para alcançá-la. Quantos não se desapegam da paz verdadeira para apegar-se a ideologias falsas de pacificação que o mundo oferece, sem valores evangélicos e firmadas em bases insipientes e frágeis. A inquietação humana, os constrangimentos e a falta de fé são consequências da relutância do homem por falta de uma paz consistente, verdadeira. E enquanto agirem desta forma não poderão reconhecer no próximo um irmão e sim um inimigo a ser combatido.

No seu livro dezenove da Cidade de Deus, Santo Agostinho afirma: "Pax hominus est ordinata concórdia – A paz dos homens é uma concórdia ordenada". Pois certo estava ao afirmá-lo, uma vez que, se não fosse ordenada, ainda que seja concórdia, não seria paz. A ordem gera a paz, e mesmo Cristo quis que assim fosse. Mas esta ordem não pode ser uma imposição desregrada que tenha em vista beneficiar apenas um determinado grupo.


Nela não deve haver exclusões e nem deve-se fazer utilização interesseira da ordem para aniquilar aqueles que se opõem a nós. Se assim agíssemos estaríamos a constituir novos regimes totalitários, onde não se respeitariam os valores humanos, mas apenas aquilo que agradasse aos homens, e a Escritura é clara ao dizer: “Não há paz para os ímpios” (Is 48,22). A verdadeira paz sabe respeitar o próximo e empenha-se em um justo diálogo, despojado das armas, da violência e de qualquer outro preconceito. Esta transpõe as “paredes” que bloqueiam a reciprocidade entre países e povos. E tais como esta deve ser a mensagem evangélica: transpor todas as barreiras.

Duas coisas são necessárias para que se haja esta concórdia ordenada: “Da parte superior, e do que manda, igualdade; da parte dos inferiores, e dos que são mandados, paciência. Sem igualdade de uma parte, e sem paciência de outra, não se poderá conseguir nem conservar a paz. Vós que na família ou na república tendes o mando, se quiseres paz, igualdade; vós que na família ou na república sois mandados e sujeitos, se quereis paz, paciência” (Pe. Antônio Vieira, Sermão da segunda oitava da Páscoa). T