3 de maio de 2011

Paz e misericórdia que emanam do Senhor Ressuscitado (Parte 2)

Cristo nos dá o verdadeiro exemplo de igualdade: “Pondo-se no meio dos discípulos, disse: Paz a vós” (Jo 20, 19). Coisa é – e muito notável! – que diga o evangelista que Cristo pôs-se no meio. E sempre esteve Cristo no meio: Na Transfiguração, na Ceia, na Crucifixão, e agora ali. Não estava Ele no centro apenas por ser o Senhor de todas as coisas, mas por ser o Doador de tudo.

Na transfiguração é luz; na ceia faz-se comida e bebida; na crucifixão é doador da salvação; e com os discípulos dá a paz. Naquele instante com suas palavras ensina a paz e com o lugar ensina o meio de a conseguir: a igualdade. Maravilhosa e suma igualdade é esta de Cristo! Estava cercado de Pedro, que o tinha negado, e de João, a quem muito amava e que o segui até o pé da cruz, mas nem se afasta de Pedro e nem se aproxima de João, senão que fica no centro de todos, a todos fala de igual forma e a nenhum favorece mais. “A todos – dirá Padre Vieira – oferece a paz: Pax vobis; a todos tira o temor: Nolite timere; a todos anima e consola: Quid turbat estis? A todos convida: Habetis aliquid quod manduceter? A todos regala: Dedit eis relíquias; a todos se entrega e franqueia todo: Pulpate, et videte” (op. cit.). Mas nem mesmo de João Vos aproximastes mais? Não! Pois o que portava Cristo em si e consigo era a paz. E se não houver igualdade, e igualdade para todos, não há paz.


Além daquela perturbação exterior, que incomoda a tantos seres que deveriam portar a paz, há aquela causada interiormente pelo pecado e pelo estar fora da graça. Assim, São Tomás de Aquino dirá: “Ninguém é privado da graça santificante a não ser em razão do pecado, razão pela qual o homem se afasta do verdadeiro fim e estabelece o fim em algo não verdadeiro. Assim sendo, seu apetite não adere principalmente ao verdadeiro bem final, mas a um bem aparente. Por esta razão, sem a graça santificante, não pode haver verdadeira paz, mas somente uma paz aparente” (Suma teológica II-II, q. 29, a. 3).

Como Tomé estão muitos ainda hoje. Quantas vezes nos deixamos levar pela incredulidade e pela desesperança? Quem temos colocado no centro de todas as coisas? Será que é a Jesus que temos dedicado particular atenção? Sim, Cristo deve ser o nosso centro e não o mundo com sua aparente autoridade; não as nossas vontades, mas Cristo. Eis que de todos os lados somos puxados, exceto no centro. De um lado somos puxados pelo negativismo e pelo consumismo, pela inveja e pela autossuficiência; do outro somos puxados por um positivismo exacerbado, pela cultura politeísta que o mundo tende a centralizar, pelo querer o homem que Deus faça suas vontades. O único lugar que não será o homem puxado é no centro. E não tem a terra mais que um centro; e não deve ter a nossa vida mais que um centro: Jesus Cristo.

“Qual a maior desigualdade que jamais fez Deus, e qual a maior que cometeram os homens?” Pergunta Padre Vieira. Ao que responde: “A maior desigualdade que fez, nem podia fazer Deus, foi dar seu Filho pela redenção do homem. Vender o Filho para resgatar o escravo; condenar a inocência para absolver a culpa; morrer o imortal para ressuscitar o morto; deixar quebrar e perder os diamantes, para reparar o bano. Enfim, padrecer o Criador para que a criatura vil não padeça... E a maior que cometeram os homens, qual foi? Venderam esse mesmo Filho, e pregaram esse mesmo Filho com cravos em uma cruz... Oh bárbara, oh desumana, oh horrenda, oh sacrílega, oh infernal desigualdade! A de Deus mais que admirável por excesso de misericórdia, a dos homens mais que abominável por ultimo extremo de injustiça e crueldade” (op. cit.). Mas, mesmo com a violência, não perde Cristo o título de Príncipe da Paz, outrora outorgado pelos profetas (cf. Is 9,6). Tão cruéis foram os homens com Cristo, e tão manso fora Cristo com os homens! A que lhe haveremos de atribuir tão grande feito? “A paz que eu vos dou não a dou como o mundo no-la dá” (Jo 14, 27).

Tamanha é a misericórdia do Senhor. Por isso, Santo Agostinho exalta-a de forma admirável: “Quem tão longânime, quem tão abundante em misericórdias? Pecamos e vivemos; aumentam os pecados e vai-se prolongando a nossa vida; blasfema-se todos os dias, e o sol continua nascendo sobre bons e maus. Por todos os lados convida-nos à correção, por todas as partes, à penitência, falando-nos por meio dos benefícios das criaturas, concedendo-nos tempo para viver, chamando-nos pela palavra do pregador, por nossos pensamentos íntimos, pelo açoite e castigos, pela misericórdia do consolo” (Enarrationes in Psalmos Ps 102,16).

Na Sua aparição a Santa Faustina Kowalska, Jesus lhe diz:
“As almas se perdem apesar da minha amarga Paixão. Ofereço-lhes a última tábua de salvação, ou seja, a Festa da Minha Misericórdia. Se não adorares Minha Misericórdia, morrerão por toda a eternidade. Secretária da Minha Misericórdia, escreve, fala às almas desta grande misericórdia, pois está próximo o dia terrível, o dia da Minha justiça” (Diário de Santa Faustina,nº 965 ).
A todos quer o Senhor salvar, mas nem todos querem se aproximar Dele. O próprio Cristo recorda a dureza dos corações humanos. E hoje faço-vos o convite: Ide à Misericórdia Divina! Aproximai-vos sem temor dela! No quadro que Jesus mandou que pintasse, em honra a Sua misericórdia, encontra-se a inscrição: Jesus, eu confio em Vós! Sim, Senhor, em Ti eu confio, e a tua Misericórdia eu adoro. Voltai-vos para nós, pobres pecadores, e dai-nos a graça de contemplar Vossa face por toda a eternidade.

Damos graças ao Senhor pela Beatificação do Papa João Paulo II. Que a vida de intimidade que ele teve com Deus, nos sirva de exemplo, para que possamos chegar um dia à santidade, à qual todos nós somos convidados. T

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