29 de outubro de 2011

Discurso do Papa a participantes do Encontro de Assis, no Vaticano

Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé
(tradução de Leonardo Meira - equipe CN Notícias)



Discurso
Aos participantes da Jornada de reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e Justiça no Mundo
Sala Clementina
Sexta-feira, 28 de outubro de 2011



Distintos Convidados,
Queridos Amigos,


Acolho-vos, nesta manhã, no Palácio Apostólico e agradeço-vos mais uma vez por vosso desejo de participar na Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e Justiça no Mundo, realizada ontem, em Assis, 25 anos depois daquele histórico primeiro encontro.

Em certo sentido, este encontro é representativo dos bilhões de homens e mulheres que, em todo o nosso mundo, estão ativamente engajados na promoção da justiça e da paz. É também um sinal da amizade e fraternidade que floresceu como fruto dos esforços de muitos pioneiros neste tipo de diálogo. Possa esta amizade continuar a crescer entre os seguidores das religiões do mundo e com os homens e mulheres de boa vontade em toda parte.

Agradeço aos meus irmãos e irmãs cristãos por sua presença fraternal. Agradeço também aos representantes do povo judeu, que são particularmente próximos a nós, e a todos vós, distintos representantes das religiões do mundo. Eu sei que muitos de vós tendes vindo de longe e empreenderam uma viagem exigente. Expresso a minha gratidão também para com aqueles que representam as pessoas de boa vontade que não seguem uma tradição religiosa, mas estão comprometidas com a busca da verdade. Eles estiveram dispostos a compartilhar conosco desta peregrinação como um sinal de seu desejo de trabalhar juntos para construir um mundo melhor.

Olhando para trás, podemos apreciar a visão do falecido Papa João Paulo II em convocar o primeiro encontro de Assis, e a necessidade contínua de homens e mulheres de diferentes religiões testemunharem que a viagem do espírito é sempre um caminho de paz.

Encontros deste tipo são necessariamente excepcionais e pouco frequentes, mas são uma expressão viva do fato de que todos os dias, em todo o mundo, pessoas de diferentes tradições religiosas vivem e trabalham juntas em harmonia. É certamente significativo para a causa da paz que tantos homens e mulheres, inspirados por suas convicções mais profundas, estejam empenhados em trabalhar para o bem da família humana.

Desta forma, tenho certeza de que o encontro de ontem deu-nos uma noção de o quanto seja genuíno o nosso desejo de contribuir para o bem de todos os nossos companheiros seres humanos e o quanto temos a compartilhar um com o outro.

À medida que seguimos nossos caminhos separados, busquemos força nesta experiência e, onde quer que estejamos, continuemos a atualizá-la no nosso caminho que conduz à verdade, a peregrinação que conduz à paz. Agradeço a todos vós de todo o meu coração!

28 de outubro de 2011

Espírito de Assis

Bento XVI pede que cresça a amizade entre os homens

Leonardo Meira


AP
Papa e líderes religiosos reunidos em Assis, na Itália
O Papa Bento XVI recebeu em audiência no Vaticano os participantes da Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e Justiça no Mundo, que aconteceu nesta quinta-feira, 27, em Assis (Itália).

A audiência ocorreu na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, na manhã desta sexta-feira, 28. Logo após, o secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, ofereceu um almoço aos membros das Delegações no Átrio da Sala Paulo VI.

"Em certo sentido, este encontro [de Assis] é representativo dos bilhões de homens e mulheres que, em todo o nosso mundo, estão ativamente engajados na promoção da justiça e da paz. É também um sinal da amizade e fraternidade que floresceu como fruto dos esforços de muitos pioneiros neste tipo de diálogo. Possa esta amizade continuar a crescer entre os seguidores das religiões do mundo e com os homens e mulheres de boa vontade em toda parte", ressaltou o Pontífice.

Além de a seus irmãos cristãos e ao povo judeu, o Papa agradeceu aos representantes das diversas religiões que vieram de longe e empreenderam uma viagem exigente. "Expresso a minha gratidão também para com aqueles que representam as pessoas de boa vontade que não seguem uma tradição religiosa, mas estão comprometidas com a busca da verdade. Eles estiveram dispostos a compartilhar conosco desta peregrinação como um sinal de seu desejo de trabalhar juntos para construir um mundo melhor", disse.

Acesse
.: NA ÍNTEGRA: Discurso de Bento XVI

"Olhando para trás, podemos apreciar a visão do falecido Papa João Paulo II em convocar o primeiro encontro de Assis, e a necessidade contínua de homens e mulheres de diferentes religiões testemunharem que a viagem do espírito é sempre um caminho de paz", indicou.

Bento XVI salientou que é significativo para a causa da paz que tantos homens e mulheres, inspirados por suas convicções mais profundas, estejam empenhados em trabalhar para o bem da família humana.

"Tenho certeza de que o encontro de ontem deu-nos uma noção de o quanto seja genuíno o nosso desejo de contribuir para o bem de todos os nossos companheiros seres humanos e o quanto temos a compartilhar um com o outro. À medida que seguimos nossos caminhos separados, busquemos força desta experiência e, onde quer que estejamos, continuemos a atualizá-la no nosso caminho que conduz à verdade, a peregrinação que conduz à paz. Agradeço a todos vós de todo o meu coração!", concluiu.

O ESPÍRITO DE ASSIS - DISCURSO DO PAPA BENTO XVI


DIA DE REFLEXÃO, DIÁLOGO E ORAÇÃO
PELA JUSTIÇA E A PAZ NO MUNDO
"PEREGRINOS DA VERDADE, PEREGRINOS DA PAZ"

Assis, Basílica de Santa Maria dos Anjos
Quinta-feira
, 27 de Outubro de 2011

Queridos irmãos e irmãs,
distintos Chefes e representantes das Igrejas
e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,
queridos amigos,

Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos factores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de carácter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.

Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias. E não é somente o facto de haver, em vários lugares, guerras que se reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre presente e caracteriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem. Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.

Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes. Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o carácter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.

A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de facto a violência é algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De modo mais subtil mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objecta-se: Mas donde deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por acaso não deriva do facto que se apagou entre vós a força da religião? E outros objectarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas? Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é «Deus do amor e da paz» (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo.

Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa, colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspecto multiforme, que possui uma motivação exactamente oposta: é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso. Como dissemos, os inimigos da religião vêem nela uma fonte primária de violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o desaparecimento da religião. Mas o «não» a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.

Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado; queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.

A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma concepção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida rectamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.

Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito. Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».

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25 anos do Espírito de Assis



















"Se todos os caminhos levam a Roma, o Santo Padre quis que levassem, também, a Assis. Em 1986 não podia encontrar um lugar mais significativo para um encontro mundial de oração pela paz. Não hesitou: na escolha daquela colina e daquela "estrela", Ele foi o guia iluminado e pertinaz.


João Paulo II tinha-se deslocado a Assis em 3 de Novembro de 1978, duas semanas apenas após a sua eleição, depois em 12 de Março de 1982, peregrino com os Bispos italianos para o oitavo centenário do nascimento do Poverello. Quando, em 25 de Janeiro de 1986, anunciou em S. Paulo fora dos Muros o encontro para 27 de Outubro seguinte, dá o motivo da escolha da cidade de Úmbria, dizendo que Assis é "o lugar que a figura seráfica de S. Francisco transformou num centro de fraternidade universal". E, de fato, os representantes de todas as religiões aí se encontraram, com toda a naturalidade, como "em sua casa". Recordo que o Grande Rabino Elio Toaff, para a oração hebraica, tinha encontrado a área de uma antiga sinagoga.

Para evitar, também, a mínima aparência de sincretismo, o Papa acompanhou, passo a passo, os dez meses de uma minuciosa e laboriosa preparação. Dedicou, ainda, inteiramente, quatro "Angelus" consecutivos para explicar o significado de um acontecimento que alguns tardaram a compreender. Nada foi deixado ao imprevisto e em nenhum momento uns rezaram com a oração dos outros. Mas, a não ser nestes momentos propriamente religiosos, o encontro desenvolveu-se na mais fraterna liberdade. Vejo ainda o pequeno autocarro, que de manhã nos levava de Santa Maria dos Anjos à Basílica de São Francisco. Sentados lado a lado, João Paulo II, o Arcebispo de Cantuária, um metropolita russo e o Dalai Lama: não falavam de religião, simplesmente se sentiam felizes por estarem juntos. Vejo ainda o Papa maravilhado como todos nós pelo arco-íris que despontou, de surpresa, sob um céu tempestuoso; à tarde, no grandioso refeitório do Sagrado Convento onde recebia os seus hóspedes, disse-me, à parte, que aquele sinal fora para ele um sinal visível de uma aliança entre Deus e todos os descendentes de Noé.

Desde aquele dia, Assis tornou-se, no coração de João Paulo II, como que a arca espiritual onde se refugia a humanidade inteira. Nas horas de maior desalento aí se dirige pessoalmente e abre as portas da oração como fez em 9 e 10 de Janeiro de 1993, em plena guerra dos Balcãs e como fará em 24 de Janeiro próximo [2002], face às perturbações que devastam a terra.

Mas trata-se, ainda, de compreender bem o significado de tal passo, insólito e raro. Para isso, é preciso voltar a um importantíssimo discurso aos Cardeais e à Curia Romana, pronunciado no dia 22 de Dezembro de 1986. O Papa confidenciava-lhes a chave de leitura teológica do ato com o qual convidava, pela primeira vez na história, os representantes das Igrejas e das religiões do mundo para um dia de oração, de peregrinação e de jejum pela paz.

Foi então que lançou "um apelo pressuroso para encontrar e manter o espiríto de Assis como motivo de esperança para o futuro", aquele "espírito de Assis" que João Paulo II não deixou de fazer soprar desde há quinze anos nesta nossa terra perturbada e sobre águas revoltas de violência e divisão. Comunidades cristãs, crentes de todas as religiões, como o exemplo de Eliseu que recebeu o manto de Elias, revestem-se hoje do "espírito de Assis" e tornam-se por toda a parte artífices da paz. Assim em cada ano, a Papa desejou enviar uma mensagem de paz aos encontros inter-religiosos de oração, organizados pela Comunidade de Santo Egídio. A originalidade e a audácia de Assis consistiram em pôr no primeiro plano a "energia pura" da oração e do jejum, mobilizando (se posso ousar dizer esta palavra) todos os líderes religiosos a assumir o seu dever imperioso de educar as consciências humanas no serviço da justiça e da paz.

A luz de Natal ilumina e aquece a nossa noite. É louco, com a loucura de Deus, tudo isto que "o espírito de Assis" pode imaginar e criar, no seguimento dos anjos que cantam: "glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama".

"Espírito de Assis" desce sobre nós!

26 de outubro de 2011

Meditação Diária


"Enquanto houver vontade de lutar haverá esperança de vencer”.

(Santo Agostinho)

A maior vitória na competição é derivada da satisfação interna de saber que fizeste o teu melhor, que obtiveste o máximo daquilo que deste. É nisso que reside a perseverança e a perfeição. É preciso entender que perfeito não é aquilo que não tem defeito ou que carece de qualquer falha. Perfeito é aquilo que foi feito com o máximo empenho e a melhor dedicação.

Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer, por isso, mantenha firme dentro de ti esse desejo intenso de fazer o melhor, de dar o melhor de ti, de nunca perder o desejo pela vitória. E a esperança sempre será tua companheira de viagem, pois ela não deixará perder o desejo de seguir em frente, de conquistar cada dia e de fazer de tua jornada algo realmente grandioso...

Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

25 de outubro de 2011

25/10 - Dia de Santo Antônio Galvão



Apresentação

Liturgicamente, o Dia de Santo Antônio Galvão é comemorado em 25 de outubro. Frei Galvão morreu em 23 de dezembro de 1822, mas como a data deixava a festa dentro da novena do Natal, foi transferida para o mesmo dia, porém no mês de outubro. Em 1998, o Papa João Paulo 2º beatificou Frei Galvão no dia 25 de outubro. Segundo a Igreja, o período entre os dias 23 e 25 é de celebrações e festas.
No dia 22 de outubro teve início no Convento São Francisco de São Paulo, onde o primeiro santo brasileiro viveu 60 anos, o Tríduo e Festa de Frei Galvão (veja a programação neste Especial).
Neste ano, o povo brasileiro celebra quatro anos da canonização do seu primeiro santo, ocorrida no dia 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento 16.
Segundo Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, ter um santo que viveu entre nós tem um significado muito especial. "Significa, antes de tudo, que os santos não são mitos inventados pela fantasia humana, nem caíram do céu, como seres superiores, que não fazem parte da nossa experiência histórica. São pessoas reais, com endereço e história pessoal, com familiares e parentes, e que também lutaram pela vida e sofreram. Os nossos santos são membros da família humana, irmãos de caminhada da comunidade eclesial. Mas foram grandes cristãos, que viveram um intenso amor a Deus e aos irmãos, deixaram um testemunho de fé e caridade, que serviu e serve ainda como referência: muitas outras pessoas, olhando para eles ou aproximando-se deles, sentiram-se encorajadas a imitar seus exemplos e a viver como eles. Os santos são grandes amigos de Deus, que já alcançaram a “casa do Pai”e agora vivem na companhia de Deus; e também são nossos amigos, totalmente interessados em que nós alcancemos igualmente a vida eterna e estejamos, um dia, em sua companhia. Por isso nós podemos recorrer à sua intercessão e eles pedem a Deus por nós".
Cronologia da vida de Frei Galvão

1739 - Nasce em Guaratinguetá Antônio Galvão de França - o futuro Santo Antônio Santana Galvão.
1752 - Ingressa no Seminário de Belém da Cachoeira, mantido pelos Jesuítas na Bahia, com 13 anos.
1755 - Morre a Mãe, Dona Isabel Leite de Barros.
1757 - O jovem seminarista regressa a Guaratinguetá, permanecendo 2 anos com família.
1760 (15 de abril) - Orientado pelos franciscanos do Convento Santa Clara de Taubaté, ingressa na Ordem de São Francisco, recebe o hábito franciscano e inicia o período de Noviciado, no Convento de São Boaventura de Macacu, Porto das Caixas (Itaboraí), Capitania do Rio de Janeiro.
1761 (16 de abril) - Professa solenemente na Ordem franciscana e jura dar a vida, se necessário for, para defender o privilégio da Imaculada Conceição de Maria Santíssima.
1762 (11 de julho) - É ordenado Sacerdote no Rio de Janeiro e celebra sua 1ª Missa Solene em Guaratinguetá.
1762 (24 de julho) - Transferido para o Convento São Francisco, em São Paulo, continua seus estudos de Filosofia e Teologia.
1766 (9 de novembro) - Com 27 anos de idade, consagra-se como filho e perpétuo escravo de Nossa Senhora, assinando com o próprio sangue o documento consagração.
1768 (23 de julho) - Concluídos os estudos de Filosofia e Teologia, é nomeado Confessor, Pregador e Porteiro do Convento São Francisco.
1769 ou 1770 - É nomeado Confessor do Recolhimento de Santa Teresa, onde conhece a irmã Helena Maria do Espírito Santo.
1770 (30 de junho) - Falece o Capitão-mor Antônio Galvão de França, pai de Frei Galvão.
1770 (25 de agosto) - Participa da fundação, da solene sessão da "Academia dos Felizes", primeira Academia de Letras de São Paulo.
1774 (2 de fevereiro) - Funda, com Madre Helena Maria do Espírito Santo, o Recolhimento da Luz, protegido pelo Governador da Capitania, Dom Luís Antônio de Sousa Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus.
1775 (23 de setembro) - Morre Madre Helena do Espírito Santo.
1775 (29 de junho) - O Governador Martim Lopes decreta o fechamento de Recolhimento da Luz.
1775 (agosto) - O Recolhimento é reaberto.
1776 (9 de agosto) - Frei Galvão é nomeado Comissário da Ordem Terceira de São Francisco de Assis (atual Ordem Franciscana Secular).
1777 - É nomeado visitador do Convento São Luiz de Tolosa de Itu.
1779 - É novamente designado Comissário da Ordem Terceira, mas somente exerce o primeiro ano desse mandato.
1780 - É condenado ao desterro no Rio de Janeiro, pelo injusto e arbitrário Governador Martim Lopes, que, pressionado pela população, revoga o decreto de exílio. Frei Galvão retorna a São Paulo em triunfo.
1781 (6 de outubro) - É nomeado Mestre de Noviços e Presidente no Convento de São Boa¬ventura de Macacu, mas o Bispo de São Paulo e a Câmara conseguem impedir que ele se afaste da cidade .
1788 (25 de março) - As religiosas da Luz, até então instaladas em construções provisórias, transferem-se para o novo e amplo edifício, projetado e construído por Frei Galvão, que dá às religiosas os Estatutos por ele elaborados.
1796 - Recebe o privilégio de uma Presidência e uma Guardiania.
1792 - É mais uma vez nomeado Comissário da Ordem Terceira de São Francisco. Ao que parece, não chegou a assumir a funçâo.
1798 (24 de março) - É eleito Guardião (superior) do Convento de São Francisco, na capital paulista. O Bispo e a Câmara Municipal, receosos de que as novas funções o impeçam de prosseguir suas atividades no Recolhimento da Luz, intercedem para que ele seja dispensado da nomeação. Mas os superiores o mantém como Guardião e Capelão da Luz.
1801 - É reeleito Guardião de seu Convento.
1802 (9 de abril) - Recebe o privilégio de definidor (Conselheiro do Pe. Provincial, sem precisar ausentar-se de São Paulo).
1802 (15 de agosto) - Depois de 28 anos de esforços de Frei Galvão, é inaugurado e abençoado o Recolhimento da Luz.
1804 - É nomeado Visitador do Convento franciscano de Taubaté e de Itu.
1807 - Nomeado Visitador Geral e Presidente do Capítulo provincial de sua Ordem, mas renuncia a esses cargos por motivos de saúde.
1808 - Recebe a nomeação para Visitador dos Conventos do Sul pelo provincial Frei Antônio de Santa Úrsula Rodoalho. Vai em Missão a Piraí do Sul, onde deixa de presente uma estampa de Maria Santíssima (Da devoção desta estampa, nasce o Santuário das Brotas). Mas depois renuncia ao cargo.
1811 (25 de agosto) - Funda em Sorocaba o Recolhimento de Santa Clara.
1812 - Depois de 11 meses em Sorocaba, retorna a São Paulo.
1819 (por volta de) - Por graves problemas de saúde, passa a residir na Luz, com autorização do Bispo e de seus superiores franciscanos.
1822 (23 de dezembro) - Morre aos 83 anos de idade e é sepultado no presbitério da Igreja do Mosteiro da Luz.
1922 - Solene comemoração do centenário de sua morte em São Paulo.
1928 - 1ª biografia escrita por madre Oliva Maria de Jesus.
1938 (5 de junho) - Início do 1º processo de beatificação de Frei Galvão (Frei Adalberto Ortmann,OFM) nomeado por Dom Duarte Leopoldo e Silva.
1949 - 2º processo: Dom Carlos Vasconcelos Mota constitui um Tribunal eclesiástico para a causa da beatificação. Postulador Frei Dagoberto Romag.
1969 (23 de dezembro) - 3º processo: Dom Agnelo Rossi reabre o processo.
1980 (23 de novembro) - 4º processo: Dom Paulo Evaristo Arns retoma com firme decisão o andamento do processo, que só dá largos passos quando assume a causa a irmã Célia Cadorim em 1990.
1991 (5 de fevereiro) - Solene exumação dos restos mortais de Frei Galvão.
1996 - Frei Galvão é declarado "venerável".
1997 (8 de abril) - É aprovada a beatificação.
1998 (25 de outubro) - Solene Beatificação de Frei Galvão, na Praça de São Pedro, em Roma, pelo Papa João Paulo II.
2007 (11 de maio) - Canonização de Santo Antônio de Sant'Ana Galvão no Campo de Marte em São Paulo pelo Papa Bento XVI.

O beato que conheceu a colher de pedreiro

Pode parecer estranho, mas agora os pedreiros e todos os operários da construção civil podem se orgulhar, porque o primeiro Beato brasileiro gastou 28 anos de sua vida usando a colher de pedreiro, além de traçar no papel ou em alguma tábua a planta do Recolhimento (hoje, Mosteiro) e da Igreja da Luz, em São Paulo!
Frei António de Sant'Anna Galvão, além de franciscano, sacerdote e fundador, pode, ou melhor, deve ser apresentado também como construtor e invocado como padroeiro de quem ganha o pão trabalhando entre andaimes, erguendo paredes, construindo casas ou projetando prédios, como fazem os engenheiros, os pedreiros e os serventes de pedreiro.
A tela de Carlos Oswald imortalizou Frei Galvão exercendo a dura profissão de pedreiro, como os Evangelhos imortalizaram José e Jesus de Nazaré na profissão de carpinteiros.
Para Deus, o que conta é o trabalho feito com dignidade e com o objetivo de colaborar na transformação do mundo e no bem-estar das pessoas. Isto é a glória de Jesus! Isto é santidade na sua expressão humano-divina!
As mãos que na Santa Missa erguiam ao Pai o Corpo e Sangue de Jesus para pedir misericórdia, erguiam também o tijolo e a colher com argamassa para o bem-estar dos homens, filhos de Deus.

Sobre as “Pílulas de Frei Galvão”

As pílulas de Frei Galvão nasceram do grande amor, zelo e caridade que Frei Galvão tinha para com os doentes. Um dia, não podendo visitar um rapaz que estava com muitas dores, escreveu em um papelzinho uma invocação à Virgem Imaculada, e disse ao portador: “leve ao enfermo e diga-lhe para tomar isso com fé e devoção à Maria”. Daí aconteceu a cura. Posteriormente, fez a mesma coisa para uma senhora em perigo de morte, no parto. Ela e o filho se salvaram.
Quando ele morreu, as Irmãs Concepcionistas, a quem ele orientava espiritualmente, faziam estas pílulas e as distribuíam ao povo que acorria às portas dos mosteiros. Há quase duzentos anos, existe a tradição das Pílulas Milagrosas de Frei Galvão.

Que são as pílulas? Um sacramental, objeto de fé. Um sacramental liga-se profundamente à fé, ao Mistério de Jesus, Salvador. O Sacramental sempre se relaciona com Cristo, Maria ou os santos.
Exemplos: uma imagem, uma medalha, o terço etc. No caso das pílulas, trata-se de um sinal de fé e de devoção que Frei Galvão tinha à Virgem Imaculada. As pílulas são expressões do seu amor e compaixão para com os doentes, sinal de sua confiança na proteção de Maria. Devem ser tomadas em espírito de fé e devoção.
Temos notícias constantes das inúmeras graças e curas alcançadas por meio da Novena das Pílulas de Frei Galvão. Destinam-se aos enfermos do corpo ou do espírito. A cada enfermo, costumamos distribuir uma novena: isto é, uma oração para se rezar 9 dias e um pacotinho com 3 pílulas. Toma-se uma no 1° dia; outra, no 5º dia; e a terceira no último dia da novena. Não costumamos enviar grandes quantidades para uma pessoa distribuir. Nosso costume é endereçar a Novena das Pílulas para uma pessoa concreta. O quanto possível, jamais distribuí-las para que alguém faça ‘estoque’ para atender outras pessoas.
Aspectos da Espiritualidade e do Apostolado
Dom Frei Caetano Ferrari
1 - Místico e Contemplativo: Homem de
oração e devoto de Nossa Senhora

Frei Galvão distingui-se, primeiramente, por uma rica "espiritualidade franciscana e mariana". Um verdadeiro filho de São Francisco: homem de oração, de vida simples e penitente. Um devoto apaixonado de Nossa Senhora: no dia em que professou na Ordem, fez "juramento de defesa à Imaculada Conceição" como era costume naquele tempo. Os Frades eram defensores do privilégio da Conceição Imaculada, cujo dogma só foi proclamado em 1854. Mas, 4 anos depois da ordenação, aprofundou aquele compromisso, assinando com o próprio sangue uma "Cédula irrevogável de filial entrega a Maria Santíssima, minha Senhora, digna Mãe e Advogada", pela qual consagrava-se "como filho e perpétuo escravo" da Mãe de Deus.

Era uma espiritualidade que nasceu e se alimentava de uma forte experiência de Deus. E se manifestava em convicções e atitudes muito claras e firmes: absoluta confiança na Providência Divina e submissão total à vontade de Deus.

A partir dessa base, dá para entender bastante bem de seu comportamento e ações. Era de obediência irrestrita. Nomeações e transferências: logo as assumia e se punha a cumprir. Decisões de autoridades a seu respeito: obedecia sem pestanejar. Vejam-se, por exemplo, a nomeação e transferência para o Noviciado de Macacu, a ordem do Governador quanto ao fechamento do Mosteiro e quanto a sua expulsão da cidade, etc. O que entendia ser vontade de Deus, como as inspirações da Irmã Helena, corria para pôr em prática. Por traz havia sempre a serenidade de quem confia em Deus.

Podem ser vistas como expressões fortes da mística e contemplação de Frei Galvão sua luta e empenho, por mais de 40 anos, em favor da fundação do Recolhimento da Luz e da formação e direção espiritual das Irmãs para a vida contemplativa, e sua fidelidade, por 60 anos, ao juramento de servir à causa da Conceição Imaculada e propagar sua devoção.
2 - Pregador e Missionário itinerante: Apóstolo de São Paulo
Impulsionado pelo amor de Deus, que trazia no coração, Frei Galvão foi o grande pregador e anunciador da Palavra de Deus, tendo como centro de sua ação evangelizadora a cidade de Paulo. Logo que terminou os estudos, foi eleito em Capítulo Provincial "Pregador, Confessor e Porteiro" no Convento São Francisco. A sua pregação estava sempre aliada com o contato direto com o povo: a acolhida no Confessionário e Portaria, sua bondade e compreensão, seus conselhos e orientações, seu socorro e ajuda aos necessitados, enfermos e sofredores. Pouco a pouco sua fama atravessou fronteiras.

Sempre a pé, andou a pregar por muitas localidades fora da cidade: Sorocaba, Porto Feliz, Itu, Taubaté, Parnaiba, Indaiatuba, Mogi das Cruzes, Paraitinga, Pindamonhangaba, Guaratinguetá. A serviço da Província, viajou para mais longe: ao Rio de Janeiro, mais de uma vez, e chegou até Castro, Paraná, como Visitador da Ordem. As viagens, feitas a pé, se transformavam em roteiros missionários de pregação às diversas localidades. Em todos os lugares anunciava o Evangelho e a devoção à Imaculada. Ao passar por Piraí do Sul, indo para Castro, deixou a estampa de Nossa Senhora das Brotas, que lá se encontra na Capela das Brotas, e é venerada até os dias de hoje. Não seria exagerado dizer que a devoção à Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Aparecida, a partir de seu Santuário na pequena cidade do Vale do Paraíba e ao lado de Guaratinguetá, tivesse sido alimentada pelo trabalho de difusão desta devoção por parte de Frei Galvão.

Frei Galvão foi chamado "Apóstolo de São Paulo". Sua pregação tocava as pessoas e era acolhida pelo povo de todos os lugares, que para ouvi-lo se reunia em multidão.

Como Comissário da Ordem Terceira de São Francisco, eleito por duas vezes, cuidou de formar os Irmãos na vivência do ideal franciscano como caminho de santificação e de verdadeiro apostolado leigo.
3 - Confessor e Conselheiro: Missionário da paz e da caridade
O maior bem que Frei Galvão trazia no coração era Deus. Este bem ele distribuía a quem o procurava. As pessoas da cidade e de longe vinham a procura de Frei Galvão para se confessar, para buscar seu conselho e orientação de vida. Ele se destacou como confessor e conselheiro do povo. Portador da bênção e do perdão de Deus, só podia mesmo trazer a paz: a paz da reconciliação com Deus, a paz da pessoa com outra pessoa, a paz na família, a paz na sociedade. Em Itu, deu-se o caso de pacificação de uma família que se costuma contar. Ele era um conselheiro sábio, prudente, maduro, mais do que isso, cheio de Deus. Por isso mesmo era considerado "Homem virtuosíssimo" e foi chamado "Homem da paz".
Além de Confessor do povo, dedicou parte importante de sua vida, primeiro como Confessor e Atendente das Irmãs Carmelitas, no Recolhimento Santa Teresa, depois, até o fim da vida, como Confessor e Diretor espiritual das Irmãs Concepcionistas do Recolhimento da Luz. Para o Recolhimento da Luz foi tudo: co-fundador com a Irmã Helena, construtor, arquiteto, pedreiro, esmoler, sustentador, Confessor, Capelão e Orientador espiritual.

Embora sendo pacífico e pacificador, era defensor da justiça. Basta lembrar o caso da condenação à morte do soldado conhecido pelo nome de "Caetaninho". Frei Galvão não hesitou em pôr-se declaradamente em sua defesa, não obstante o confronto inevitável com o Governador da Capitania que ordenara a condenação, uma condenação injusta e arbitrária.

Se era todo amor para Deus, era-o também para os necessitados. Aprendera em família a dar esmolas. Conta-se que, em criança, dera uma toalha de crivo e bordado da Mãe a um pobre que pedia esmolas. Acostumara a ser generoso, sobretudo com os pobres e necessitados. Conta-se também que ao tempo da construção do Mosteiro da Luz passava toda semana pelos bares das proximidades e pagava as dívidas dos serventes da obra, que eram negros escravos.

O povo o amava e o defendia. Assim aconteceu quando o Governador por vingança decretara o desterro de Frei Galvão. O povo cercou a casa do Governador que se viu obrigado a revogar a sentença. Com razão o povo distinguiu Frei Galvão com o nome de "Homem da caridade".

Por todos estes títulos, o povo considerava Frei Galvão um santo, e sendo assim, ainda em vida, todos o chamavam "Padre Santo". Fama esta que não se extinguiu depois da morte, mas perdurou por todo o tempo e o está levando, finalmente, à Beatificação.

Para a glória da Ssma. Trindade, o louvor da Imaculada Conceição, a honra de São Francisco e o bem de todos nós franciscanos e franciscanas e de todo o povo de Deus. Assim Seja!
Frei Galvão, Missionário da Paz

Frei Galvão, no cenário brasileiro-franciscano, é para nós uma honra e uma glória, por ser o primeiro santo brasileiro a subir às honras do altar, destacando-se como o “Missionário da Paz e da Caridade”.
Foi um homem marcadoa pela fé e pela alegria, por ser possuído de Deus, por estar comprometido com os homens de seu tempo, fermentando em seu coração o Espírito do Senhor, fazendo-o o Apóstolo da Paz e do Bem. Frei Galvão é uma Bênção para a.Província Franciscana da Imaculada e um Benfeitor para o povo brasileiro.
Este é o meu modesto parecer sobre este homem de Deus.
Frei Atílio Abati, ofm