800 anos do Carisma de Santa Clara ~ Casta, pura e virgem
Por Frei Edson Matias, OFMCap.
Ao escrever a sua irmã Inês de Praga disse Clara de Assis:
Ao amá-lo, sois casta;
Ao tocá-lo, sereis mais pura;
Ao recebê-lo, sois virgem. (1CCL 8)
Somente faz um poema assim aquela que percorreu um caminho significativo. As duas co-irmãs falavam e entendiam-se na mesma linguagem: da contemplação. Normalmente se tem dificuldade de entender as expressões místicas dessas personalidades. Corriqueiramente se compreende apenas em sentido sentimental.
Lógico que está envolvido um sentimento profundo de encantamento pela divindade. Entretanto, tal postura está muito longe de um ‘sentimentalismo’. A contemplação parece requerer da pessoa uma abertura total ao Outro que se aproxima. Logo, qualquer sentimentalismo não suporta tamanha abertura, pois sentimentalismo é apego a si mesmo e na contemplação não pode existir qualquer forma de posse, apenas encantamento e espera.
O sentido da castidade e da virgindade foi amplamente expresso por Clara. Não se tratava de genitalidade como é costume infeliz de se interpretar na espiritualidade contemporânea. Não se referia a uma vivência moralista ou alguma espécie de puritanismo, mas a experiência clareana revelou uma profunda ligação entre a divindade e a criatura e a dinâmica da divindade é amor.
Quem ama se torna semelhante a Ele. Uma alma contemplativa é aquela que chegou a um amor mais perfeito. Abriu mão de todas as suas verdades e gratuitamente acolhe Aquele e aqueles que dela se aproxima. Sem formulas, sem dogmas, sem moralismos ou julgamentos. Entretanto, o amor é penetrante, e, no próprio ato gratuito do acolhimento, possibilita a transformação. Na medida em que se aproxima Daquele que nos chamou primeiro nos tornamos mais puros, não por nós mesmos, mas pela ação Daquele que nos chama. Qualquer pretensão de retemos o amor não passa de egoísmo.
Clara foi virgem porque era contemplativa e era contemplativa porque era virgem pela graça. Poderíamos dizer que, Clara aberta sempre a esse Outro que se apresenta, mesmo que não compreendesse claramente, sabia que o amor é esquivo, que qualquer pretensão de posse era uma ilusão. Ser virgem é saber esperar, ter as lâmpadas acesas (Cf. Mt 25)ser pobre em espírito (Cf. Mt 5,3). O desejo de encontrar o amado foi grande, mas Clara sabia que não se podia tê-lo como posse, pois deixaria de ser virgem. Logo, ser casta e virgem era ser transparente como a água límpida que deixa o sol atingir o fundo.
A espiritualidade clareana é de um vigor intenso. Seria ingenuidade de nossa parte olhar Clara de Assis e ver uma mulher fraca, como se tivesse uma anemia espiritual. Ela possuía uma força e vitalidade superiores para sua época. Não se trata de uma espiritualidade infantil, mas de uma vivência intensa do Evangelho, da própria identificação com Cristo: pobre e crucificado. T
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