9 de outubro de 2011

Especial - Santa Clara de Assis 800 anos



ÚLTIMA VONTADE DE FRANCISCO
ÁS SUAS SENHORAS

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Hoje, sempre tendo diante dos olhos o livro de Chiara Giovana Cresmachi, Chiara di Assisi. Un silenzio che grida, transcrevemos algumas linhas comentando o texto da última vontade de Francisco para suas “senhoras”.

  1. Francisco não podia mais ir ter com Clara. Suas condições de saúde iam se agravando e o impediam de se locomover. Não podia mais decidir sobre suas idas e vindas. Escreve-lhe uma carta e manda-lhe sua bênção para consolá-la (Compilação de Assis 13). Tratar-se-ia de um escrito do qual, talvez, fizesse parte o bilhete que sua plantinha haveria de inserir no final de sua vida em sua Forma vitae como última vontade do Pai? Muito provável que esta palavra, conservada e vivida com tanto zelo em São Damião faça parte da referida carta do Poverello. A finalidade da mensagem é levar conforto, consolação, manifestando plena comunhão com o Deus de toda consolação. Os que se assemelham ao Senhor também se tornam consolação para os outros. Quando nos abeiramos do texto que deve fazer parte de uma carta maior, numa primeira leitura, ficamos admirados porque ele não tem frase de consolo nem de afeto. Além disso, não é dirigido em primeiro lugar a Clara, mas a todas as irmãs que ele chama de minhas senhoras.

  2. Aprofundando-nos, porém, no texto, descobrimos o calor da voz de Francisco que indica o caminho que as senhoras pobres querem caminhar. Trata-se de afirmação que ele as tem no coração, não obstante tudo e todos. Para além da hipótese aventada de que o bilhete seja uma parte de uma carta maior, convém examinar mais de perto as palavras inseridas por Clara no cerne de sua Forma de Vida.: “Eu, Frei Francisco, pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima; e perseverar nela até o fim; e rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos conselho para que vivais sempre nessa santíssima vida de pobreza. E estais muito atentas para, de maneira alguma, vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém”.

  3. No momento em que tudo parece desvanecer, o Poverello se apresenta verdadeiramente como pai. Reconduz os corações desencorajados ao seu centro com a força do testemunho. Esse quero soa vigoroso no peito daquele que está para morrer, que leva até o fim aquilo que havia começado. No passado, no momento de neblina e de tentação, havia lhe valido a palavra de fé de Clara. Agora, no momento em que está para ingressar na Vida e todas as paixões se transformaram na única certeza, ele se dirige às irmãs: aquele que nos amou por primeiro nos deu a garantia da salvação, ao pequeno que está imerso na própria fraqueza, Deus transmite sua força. Por isso, ele, de alguma forma, lembra às irmãs o começo de tudo, o ponto de partida, ou seja, o seguimento que está na origem de um caminho iniciado abandonando tudo e colocando os passos nos passos de Cristo. Acentua o seguir os passos. Trata-se de vida e pobreza, ou melhor, se trata da vida na pobreza, que é o sentido da encarnação, do abaixamento do Filho de Deus na terra até a morte de cruz, pobreza também vivida por sua Mãe. Observamos sempre a referência a Maria quando Francisco se dirige às suas senhoras pobres. Francisco afirma que está nesse seguimento e pede que as irmãs não se desviem nem à direita nem à esquerda, que caminhem pelo custoso caminho da pobreza.

  4. Esta a advertência do Poverello, seu testamento para as irmãs, Clara nunca o esquecerá. Estas breves palavras se tornarão sempre mais fonte de força na estrada íngreme e cheia de insídias percorrida por ela e pelas irmãs. Acontecerá aquilo que Francisco faz alusão no final do bilhete e que em parte já tinha se verificado. Surgirão doutrinas e conselhos, com certa autoridade, que queriam levar o pequeno rebanho de São Damião por outros caminhos, bons sem dúvida, mas diferentes do carisma suscitado pelo Espírito Santo através do Pobrezinho de Assis. Não deixou de haver consolação humana porque enviando a carta à sua plantinha, o pai pediu que o irmão que levou-a lhe transmitisse uma mensagem: “que deixe de lado toda dor e tristeza, porque agora não pode ver-me, mas saiba que antes de sua morte, tanto ela quanto suas irmãs me verão e terão de mim a maior consolação” ( Compilatio, 13).

Mais tarde Clara e suas irmãs poderão ver passar por São Damião o cortejo fúnebre do amado pai Francisco.

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