18 de outubro de 2011

Páginas Franciscanas

DAS NOVE COISAS QUE AJUDAM A ALCANÇAR A DEVOÇÃO

Todos aprendemos a admirar São Pedro de Alcântara, frade franciscano espanhol místico, reformador da Ordem, conselheiro de Santa Teresa, pregador e grande asceta. A Página Franciscana deste mês, em nossa revista eletrônica, foi extraída de seu opúsculo Tratado da Oração e da Meditação, publicado pela Editora Vozes, p. 116-117. São princípios de ascética e de disciplina. São Pedro é festejado a 19 de outubro e é padroeiro da Catedral de Petrópolis. Nossos leitores não estranhem a construção das frases e algumas maneiras “antigas” de abordar o tema. Não estranhem as construções do texto.

Muitas são as coisas que ajudam a devoção; porque primeiramente faz muito ao caso tomar estes santos exercícios mui deveras e muito a peito, com um coração mui determinado e oferecido a tudo o que for necessário para conseguir esta pérola preciosa, por árduo e dificultoso que seja, porque é certo nenhuma coisa grande haver que não seja dificultosa e assim também o é esta, aos menos nos princípios.

Ajuda a isso também a guarda do coração de todo gênero de pensamentos ociosos e vãos, de todos os efeitos e amores peregrinos, de todas as turbações e movimentos apaixonados, pois está claro que cada coisa destas impede a devoção e que não menos convém ter o coração afinado para orar e meditar do que a viola para tanger.

Ajuda também a guarda dos sentidos, especialmente dos olhos e dos ouvidos e da língua, porque pela língua se derrama o coração e pelos olhos e ouvidos se enche de diversas imaginações, das coisas com que se perturba a paz e sossego da alma. Por onde com razão se diz que há de o contemplativo ser surdo, cego e mudo porque quanto menos se derramar por fora tanto mais recolhido estará por dentro.

Ajuda, para isto mesmo, a soledade, porque não só tira aos sentidos e ao coração ocasião de distração e as ocasiões dos pecados, como também convida o homem a que more dentro de si mesmo e trate com Deus e consigo, movido pela oportunidade do lugar que não admite outra companhia que esta.

Ajuda, outrossim, a leitura dos livros espirituais e devotos, porque dão matéria de consideração e recolhem o coração e despertam a devoção e fazem com que o homem de boa-mente pense naquilo que lhe soube docemente; mas antes sempre se representa à memória o que abunda no coração.

Ajuda a lembrança continua de Deus, o andar sempre na sua presença e o uso daquelas breves orações que Santo Agostinho chama de jaculatórias, porque estas guardam a casa do coração e conservam o calor da devoção. E, assim, se acha o homem a cada hora pronto para chegar-se à oração. Este é um dos principais documentos da vida espiritual e um dos maiores remédios para aqueles que não têm tempo nem lugar para se darem à oração e muitíssimo aproveitarão em pouco tempo o que trouxer sempre este cuidado.

Ajudam também a continuação e perseverança nos bons exercícios em seus tempos e lugares ordenados, maiormente à noite ou de madrugada, que são os tempos mais convenientes para a oração, como toda a Escritura nos ensina.

Ajudam as asperezas e abstinências corporais: a mesa pobre, a cama dura, o cilício e a disciplina e outras coisas semelhantes, porque todas estas coisas, assim como nascem de devoção, assim também despertam, conservam e acrescem a raiz de onde nascem.

Ajudam, finalmente, as obras de misericórdia, porque nos dão confiança para padecer diante de Deus e acompanham nossas orações com serviços, porque se não possam chamar de todo rogos secos e merecem que seja misericordiosamente recebida a oração, pois procede de misericordioso coração.

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