20 de março de 2012

São Francisco de Assis e a Opção pelos Pobres. (Final)

Em que sentido há em Francisco uma opção pelos pobres?

Não encontramos em Francisco este conceito da maneira como foi compreendido e formulado pelas conferências episcopais latino-americanas. Diríamos antes que Francisco fez opção por Cristo pobre. A opção pelos pobres em Francisco é apenas uma conseqüência: como Cristo quis identificar-se com os pobres, assim também Francisco quer coerentemente ter o pobre como parâmetro e referência concreta para sua identificação como Cristo pobre.

Encontramos em Francisco práticas, algumas instituídas, que são práticas inspiradoras para nossa atual opção pelos pobres. E estamos convencidos de que essas práticas constituem base suficientemente sólida para que hoje a Ordem faça uma opção mais corajosa, decisiva e coerente pelos pobres segundo a concepção hodierna de presença e apoio entre os pobres que se organizam. Atualizar o carisma franciscano não significa repetir as práticas de Francisco, mas colher em suas práticas a inspiração que seja luz para as nossas opções. Retomar hoje esta opção é, segundo nosso entender, a atitude mais coerente com o carisma franciscano.


Pistas concretas como conclusão

Mais importante do que precisar a abrangência dos conceitos de pobre ou de excluído é despertar uma sensibilidade profética que nos permita reconhecer e identificar os processos de empobrecimento e de exclusão (causas, agentes, pacientes, meios, conseqüências).

Somente a partir desta sensibilidade é possível fazermos as opções que são as mais coerentes com o nosso carisma. No mundo de hoje, não é suficiente a conversão individual. Se a Ordem, por exemplo, quiser pedir a conversão de instituições profanas (bancos financeiros, FMI, grupos de países ricos como G 8, etc.), deverá mostrar que é possível a conversão institucional. O documento “Graça das origens” diz: “Reconhecemos a urgência de voltar ao essencial de nossa experiência de fé e de nossa espiritualidade, para nutrir, mediante a oferta libertadora do Evangelho, o nosso mundo dividido, desigual e faminto de sentido, como no seu tempo fizeram Francisco e Clara de Assis”. Em outro lugar, continua: “Queremos viver a graça das origens ‘não só como memória do passado, mas também como profecia do futuro’”.

Voltar ao essencial implica necessariamente uma conversão institucional. É, portanto, chegada a hora da conversão da Ordem, não basta celebrar a conversão de Francisco.

Criar viabilidades deveria ser, segundo nossa maneira de entender, a marca da Ordem nos 800 anos de fundação. Muitas vezes, o discurso não passa à concretização, isto é, não consegue ser levado à prática. A justificação aduzida: não é viável. Ora, quando alguém faz uma opção, cria viabilidades. Se não cria viabilidades, é porque não fez opções. O grande papa Inocêncio III pensava que o modo de vida que Francisco pedia para ser aprovado não era viável. Também hoje se corre o risco de dizer que o evangelho é inviável, como teria respondido ao papa o cardeal João de São Paulo. Por tanto, não se pode dar desculpas de inviabilidade, mas antes criar viabilidades.

É necessário que a Ordem mantenha sua vocação profética. Novamente o documento “Graça das origens” faz o apelo: “Percebemos que é muito forte o chamado a ‘não domesticar as palavras proféticas do Evangelho para adaptá-las a um cômodo estilo de vida’, sentimos ‘a urgência evangélica do nascer de novo’”. Não basta ficar estagnada nas belas formulações das CCGG e de outros documentos; é necessário dar a partida, individual e coletivamente, como Ordem.

Frei Celso Márcio Teixeira, OFM.

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