29 de março de 2013

Comentário e Reflexão sobre a Sexta-feira Santa


Na sexta-feira santa, temos a longa passagem do evangelho de João, que é a narração da Paixão do Nosso Senhor Jesus Cristo. (Jo 18,1-19,42)

O motivo da morte de Jesus está exatamente na causa do poder. O que acontece é o conflito de Jesus com os chefes, eles procuram motivos e razões para acusá-lo e para matá-lo.

Na época de Jesus, as pessoas que representavam o poder político-religioso eram os fariseus (legalistas), saduceus (ritualistas) e os escribas (sacerdotes).

Primeira razão para querer matar Jesus é a popularidade. Jesus está próximo do povo simples, humilde e pobre. As autoridades começaram a acompanhar Jesus para ver o que ele estava falando para o público. Acompanhavam não para admirar os ensinamentos e nem tampouco para aderir à boa-nova. A intenção dos chefes era de procurar meios de condená-lo para o julgamento. Eles queriam encontrar motivos em Jesus como: sonegador de impostos, corrupto, subversivo, etc.
Na verdade, Jesus faz uma crítica dura às autoridades, ao sistema do poder, ele revela as sujeiras nas questões do Templo. Jesus não fica apegado à lei fundamentalista (Moisés), ele prefere conhecer a realidade e a situação da vida do povo. A sua pregação se dirige aos mais fracos, aos excluídos numa profunda sensibilidade humana, de amor e misericórdia. Mantém aproximidades com pessoas não bem vistas na sociedade: as prostitutas, os cobradores de impostos, os publicanos, os doentes impuros e os marginalizados.

Como Jesus não é preso a Lei de Moisés, ele com sua autoridade própria, com sua autonomia, ensina, perdoa os pecadores, opera sinais. Ele fala e faz não mais em nome da Lei e dos profetas, mas no seu nome, como representante de Deus.
“A multidão do povo se admirava de sua doutrina, porque ensinava como quem possui autoridade e não como os escribas” (Mt 7, 28-29)

Para as autoridades judaicas, Jesus era o provocador na tentativa de revolucionar o povo. Na verdade a pregação e a prática de Jesus representaram uma ameaça ao poder político-religioso. Jesus começa a incomodar as autoridades, principalmente quando Jesus cura no sábado; os fariseus, os escribas, os sumos-sacerdotes ficam irritados e começam a conspirar com Herodes para prendê-lo à traição e matá-lo. O responsável pela perseguição de Jesus são os sumos sacerdotes e não o povo.

Jesus circulava no Templo, aproximaram-se os chefes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos, e lhe perguntavam: “Com que autoridade fazes estas coisas? Ou, quem te concedeu esta autoridade para fazê-las?” Jesus respondeu: “Eu vos proporei uma só questão. Respondei-me, e eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. O batismo de João era do Céu ou dos homens? Respondei-me”. Eles cochichavam uns com os outros, dizendo: “Se respondermos ‘Do Céu’, ele dirá: ‘Por que então crestes nele? ’ Mas se respondermos ‘Dos Homens’?” Temiam a multidão, pois todos pensavam que João era de fato profeta. Diante disso, responderam a Jesus: “Não sabemos”. Jesus então lhes disse: “Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas”. (Mc 11, 27-33)
Temos dois fatores para poder julgar Jesus no processo religioso. Primeiro, a questão messiânica e a segunda, a palavra de Jesus sobre a destruição do Templo.

Foi muito difícil para as autoridades religiosas arranjar um motivo, uma desculpa para a condenação. Se fosse condenado como falso profeta, a pena seria o apedrejamento. A acusação religiosa precisava passar por um tratamento político para valer no tribunal romano.
O que fizeram para conseguir a condenação de Jesus?

As autoridades forjaram as acusações para que o mesmo acusado, o condenasse a si mesmo, por meio de um severo interrogatório.

“Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: Tu és o Rei dos judeus? Jesus respondeu: Estás dizendo isso por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim? Depois Pilatos disse a Jesus: Tu és rei? Jesus respondeu: Tu o dizes: eu sou Rei.

Pilatos disse: Hei de crucificar o vosso Rei? Os sumos sacerdotes responderam: Não temos outro Rei senão César. Se soltas esse homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz Rei, declara-se contra César!”

Assim Pilatos está à frente de duas questões: ou Jesus ou César. Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado. Quando se faz a escolha de César ou Jesus, Pilatos para não ter problema com o poder do Império e das autoridades prefere lavar as mãos e deixar que os sumos sacerdotes dos judeus respondessem pela condenação.

A acusação perante Pilatos soa que Jesus, Rei dos Judeus e como tal, é perigoso também para a segurança do Império Romano. A pena era a crucificação para as pessoas revolucionárias contra a ordem social e política do Estado Romano. As autoridades colocam Jesus contra o Império. O poder das autoridades fala mais alto! Morre o mais fraco. O poder do Império sempre vence!
A morte de Jesus deve ser interpretada como consequência de sua missão. Jesus sabia que a sua vinda poderia incomodar o poder arrogante e opressor daquela época, pois ele disse somente a verdade, anunciou o projeto do Reino de Deus e apontou os erros das autoridades. Muitas vezes o poder passa por cima dos mais fracos, para manter sempre no lugar privilegiado. Os interesses egoístas às vezes falam mais alto!

Hoje quantas pessoas não têm voz e vez na sociedade. Os mais fracos são condenados, são excluídos, são oprimidos e injustiçados. Quantas pessoas que usa o poder para diminuir as pessoas e até humilhá-las. Hoje temos muitos escribas e fariseus que são apegados as Leis, são pessoas moralistas, incoerentes e egoístas. Podemos ver nos noticiários das TV’s, os que exercem o poder político, os que criam leis e se tornam incoerentes e corruptos.

Frei Luciano Lopes, OFM.

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