Vivia na cidade de Assis, na região do vale de Espoleto, um homem chamado Francisco (1 Celano 1)
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Todo mundo conhece Francisco da cidade de Assis. Ele é patrimônio da humanidade. Esse Francisco, esse italiano natural da verdejante região da Úmbria, experimentara no peito o anseio pelas coisas grandes e foi se tornando o Irmão Francisco, Frei Francisco. Não havia nascido para a mesmice e a mediocridade, para a banalidade e para a rotina. Tudo nele se revestia do novo, da novidade que procede do Deus de toda novidade.
Frei Tomás de Celano, contemporâneo de Francisco, foi encarregado de escrever a biografia oficial do santo. É ele, pois, que nos pinta um quadro com os traços desse Francisco do mundo inteiro que continua cativando todos os tempos.
“Como era bonito, atraente e de aspecto glorioso na inocência de sua vida, na simplicidade das palavras, na pureza do coração, no amor de Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no trato afetuoso, no aspecto angelical! Tinha maneiras simples, era sereno por natureza e de trato amável, muito oportuno quando dava conselhos, sempre fiel às suas obrigações, prudente nos julgamentos, eficiente no trabalho e em tudo cheio de elegância. Sereno na inteligência, delicado, sóbrio, contemplativo, constante na oração e fervoroso em
todas as coisas. Firme nas resoluções, equilibrado, perseverante e sempre o mesmo. Rápido para perdoar e demorado para se irar, tinha a inteligência pronta, uma memoria luminosa, era sutil ao falar, sério em suas ações e sempre simples. Era rigoroso consigo mesmo, paciente com os outros e discreto com todos.
Muito eloquente, tinha o rosto alegre e o aspecto bondoso, era diligente e incapaz de ser arrogante. Era de estatura pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, rosto um tanto longo e fino, testa plana e curta, olhos nem grande nem pequenos, negros e simples, cabelos castanhos, pestanas retas, nariz proporcional, delgado e reto, orelhas levantadas mas pequenas, têmporas chatas, língua apaziguante, fogosa e aguda, voz forte, doce, clara e sonora, dentes unidos, iguais e brancos, lábios pequenos e delgados, barba preta e um tanto rala, pescoço fino, ombros retos, braços curtos, mãos delicadas, dedos longos, unhas compridas, pernas finas, pés pequenos, pele fina, descarnado, roupa rude, sono muito curto, trabalho contínuo.
E como era muito humilde, mostrava mansidão para com todas as pessoas., adaptando-se a todos com facilidade. Embora fosse o mais santo sabia estar com os pecadores como se fosse um deles” (1Celano 83).
Este foi o retrato de Frei Tomás de Celano. Muitos preferem simplesmente designá-lo de Frei Francisco, de Irmão Francisco. Durante poucos anos, um pouco mais de quarenta, percorreu os caminhos desta terra e deixou lembranças nas pétalas das flores, no espelho das águas, nas chagas dos leprosos e no voo das cotovias. Ele honrou a humanidade. Foi nosso irmão e o retrato mais acabado de Jesus Cristo.
Éloi Leclerc, franciscano francês, foi martirizado na alma e sofreu no corpo os horrores da Segunda Guerra Mundial. Em obra do outono de seus dias (O Sol nasce em Assis), o autor faz uma reflexão sobre o grande drama humano da guerra, dos campos de concentração, da desumanidade. Mas o livro é também “a história de um encontro maravilhoso: meu encontro com um daqueles homens tão raros de nossa história que não nos deixam desesperar do ser humano. Trata-se de Francisco de Assis. Se espírito – o espírito de Assis, como é chamado – nos traz a luz, uma luz da qual precisamos atrozmente. Aquele homem fez surgir no meu coração o Sol, e com o Sol toda a criação. Foi para ele que me voltei. Foi a ele que eu pedi o segredo de uma verdadeira fraternidade humana. Pouco a pouco, além das grandes aflições e das tragédias deste mundo, Francisco abriu minha alma para a harmonia profunda das coisas e de tudo o que vive. Num universo desencantado, ele foi para mim o encantador. Mostrou-me o caminho de uma verdadeira humanidade, corrigindo o que o nosso humanismo dos direitos humanos tem de limitado e mesmo de ambíguo e perigoso. Parece-me que, se a humanidade um dia encontrar a alegre esperança e o sentido da caminhada para sua realização, será na direção inaugurada pelo Pobre de Assis” (Vozes, Petrópolis, p.9-10).
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João Bernardone conhecido como Francisco
• Filho de Pedro Bernardone, comerciante de tecidos e de Pica, que pertencia a uma família da região francesa da Provence.
• Exerce a profissão do pai, na venda de tecidos.
• Rapaz dotado de um espírito muito vivo.
• Generoso e alegre; gosta dos divertimentos e de cantos; gosta de passear pela cidade de dia e de noite.
• Generoso nos gastos, dissipa em noitadas e festanças o que tem e o que ganha.
• Falta-lhe medida na maneira de se vestir: veste-se mais suntuosamente do que permitem suas condições.
• Cortês em seus comportamentos e palavras faz o propósito de não dizer palavras injuriosas e ofensivas e resolve não dar resposta aos que o provocam maldosamente.
• Ambicioso, audacioso, empreendedor.
• É escolhido como rei da juventude; pagas as despesas e tem humor jovial.
• Aproxima-se dos pobres e generosamente os cobre de esmolas.
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Síntese de sua trajetória
Minúscula biografia
• Nascido em Assis, no vale de Espoleto, na Itália em 1181 ou 1182. Passa sua juventude no luxo e nas diversões. Sonha com a glória e quer ser cavaleiro ( quer entrar no universos das armas). Com a idade de vinte anos, devido às rivalidades entre as cidades italianas, ele é feito prisioneiro em Perugia alguns meses.
• Insatisfeito com a vida que leva Francisco faz uma peregrinação a Roma ao longo da qual troca seus ricos trajes com os trapos de um mendigo.
• Em oração na velha igreja de São Damião, Francisco compreende que o Senhor lhe dirige a palavra para que ele restaurasse a igreja que estava em ruínas. Vendendo o que tem busca realizar esta missão. Seu pai, farto com as loucuras do Filho, com o gastar tudo em benefício dos pobres pela a intervenção do bispo de Assis. Francisco resolve então abandonar tudo, colocar suas vestes nas mãos de seu pai e seguir o Pai do céu.
• Ouve o evangelho do envio dos apóstolos que deviam partir em missão sem nada. Esta foi a grande revelação de sua vida. Alguns assisienses se juntam a ele.
• Francisco redige sua primeira Regra e faz uma viagem a Roma para pedir a confirmação por parte do Papa.
• Em 1212 uma jovem de dezesseis anos, Clara, resolve seguir a Pobreza pregada por Francisco.
• Naquele ambiente das Cruzadas e desejando encontrar-se com os muçulmanos como irmãos, Francisco parte para o Egito para encontrar o Sultão e falar-lhe de Deus e de Cristo.
• Em 1223 redige uma nova Regra.
• Em 1224, já doente e exausto, Francisco recebe os estigmas do Cristo crucificado.
• Morre a 3 de outubro de 1226, com a idade de quarenta e quatro anos. É canonizado dois anos mais tarde pelo papa Gregório IX.
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Para continuar a reflexão
Começos da vida de Francisco - 2 Celano 3-4
Para refletir
1. O que mais chama sua atenção nestes texto?
2. O que você já conhece a respeito de Francisco de Assis?
EXTRAÍDO DE: http://www.franciscanos.org.br/n/?p=10520
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