1 de julho de 2010

REFLEXÕES EM TORNO DAQUELES QUE CHEGAM

Nós, franciscanos, nos rejubilamos quando o Senhor orienta jovens e menos jovens a ingressarem em nossas fileiras. Francisco de Assis e santos frades continuam atraindo pessoas para essa trilha da vida consagrada franciscana. Inspirados na leitura de Jaldemir Vitório (A pedagogia na formação, Paulinas, 2008, p. 80-84), gostaria de chamar atenção para algumas características dos rapazes que batem à nossa porta.

1. A base humana dos que chegam é muito frágil. Não poucos provêm de famílias desajustadas, recompostas. Há mesmo os que desconhecem quem seja seu pai. Uns foram criados por uma avó. Essas carências familiares terão repercussão na vida comunitária e no amadurecimento afetivo. A família, e principalmente uma família cristã, costuma ser um suporte básico na vida.

2. Muitas vezes, os que chegam tiveram uma formação intelectual pouco satisfatória. Freqüentaram escolas públicas, nem sempre de boa qualidade. Muitos deles trabalharam durante o dia e fizeram seus estudos à noite, cansados, sem grande proveito. Não conseguiram ter uma visão de mundo, com honrosas exceções. Precisariam de um reforço de estudo.

3. Sua formação cristã pode deixar a desejar. Fizeram um catecismo em vista da primeira eucaristia. Alguns freqüentaram grupos de jovens nem sempre com aprofundamento doutrinário. Alguns, provenientes de certos movimentos, ao contrário, aprenderam as coisas da fé e adquiriram o gosto pela leitura e pelo estudo. Muitos dos nossos jovens não sabem o que vem a ser um projeto cristão. Talvez até aquele momento nunca tenham tido a ocasião de fazer uma experiência pessoal de Deus. Também não captaram o real significado da Eucaristia. Por isso, o tempo do acompanhamento vocacional não pode ser abreviado ou encurtado demais. Os vocacionados precisam aprender o que vem a ser um projeto cristão para a vida e, de modo especial, em nosso caso um projeto franciscano de viver.

4. Há os que querem ser frades de hábito, sandálias, coroa franciscana, bonitinhamente. Nada se deve ter contra a veste e o hábito, mas a vida franciscana não é folclórica e romântica. Assim, antes de ingressar no postulantado e noviciado será importante que a vida escolhida não seja fuga para uma território protegido... Será preciso ter cuidado.

5.Transcrevo literalmente observações de nosso autor. Os que chegam “são filhos da Modernidade e pós-modernidade, com seu componente de individualismo, hedonismo, consumismo, incapacidade de compromissos definitivos. Conhecem muito bem os meandros da informática. A tecnologia os empolga. Formadores de mais idade desconhecem a linguagem dos formandos quando se embrenham pelos neologismos criados com o aportuguesamento de termos de língua inglesa: deletar, atachar, linkar. E ficam maravilhados em ver os formandos lidarem com aparelhos sofisticados com a desenvoltura de quem os conhece de longa data. Por nada deste mundo, os formandos admitem abrir mão de seus celulares, laptops, computadores e outras parafernálias eletrônicas. Preferem a comunicação virtual das salas de chats e do Orkut ao diálogo real com irmãos e irmãs da comunidade”.

6. Importante que os candidatos possam, aos poucos, aceitar sua história, terem a capacidade de mudar o que precisa ser mudado, integrando no seu hoje as feridas e machucados do passado. Serão levados a reconciliar-se com a própria história.

7. Aos poucos, essas criaturas do ruído e do barulho, serão levadas a viver, por vezes, uma solidão habitada por Deus típica da vida religiosa. No tempo do discernimento vocacional, a vivência de momentos de silêncio e de solidão não podem faltar.

8. Mais uma vez, uma citação literal, no tocante à sexualidade dos que chegam às nossas portas: “Para os jovens, a sexualidade não tem mistério. Desde muito cedo têm vida sexual ativa (é claro que nem todos). Assumir um projeto de vida celibatário é demasiado exigente. Daí resolverem a seu modo as carências afetivo-sexuais. O fenômeno da homossexualidade ativa e militante difundiu-se a ponto de sair do controle das equipes de formação, causando sérios conflitos nas casas de formação. Por outro lado, é possível haver vocacionados que fizeram uso de psicotrópicos ou foram viciados em bebidas alcoólicas e trazem consigo as marcas dessas experiências”.


Frei Almir R. Guimarães

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