1 de janeiro de 2010

1ª SEXTA-FEIRA DO MÊS-AMAR SEM LIMITES

Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 13, 1).

1. Ressoa sempre aos nossos ouvidos, principalmente nos momentos em que somos profundamente verdadeiros ou que fazemos a doída experiência do pecado, as palavras do quarto evangelista a respeito de Jesus: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Mais não podia amar, amou-os em extremo, amou-os sem limites. Um Deus que ama, que se contorce de dores e mesmo assim ama e deixa ainda que se lhe abram o peito para mostrar a fonte de tal amor, ou seja, seu coração.

2. Deus é uma fornalha de amor. Não é um policial que controla nossos gestos e palavras, não é o deus frio dos filósofos, não é um velhote bonachão que passa a mão em nossas cabeças perdoando nossas ingratidões. Deus é eternamente é amor. O Pai ama o Verbo e amor do Verbo pelo Pai se faz no laço do Espírito. Eterna doação de amor. Esse Deus resolve sair de si, criar, formar os humanos, colocar dentro deles um desejo de infinito, fazer deles objeto de seu amor sem limites. Deus fala ao homem por meio de toda a criação; céu, terra, abismos, gelo, neves. Bernhard Häring escreve: “O céu e a terra cantam a beleza da glória do Eterno. A criação é revelação da glória e do amor sobretudo através de sua beleza e prodigalidade”. Ficamos extasiados diante de tanto esplendor... Pena que os humanos estejam destruindo a criação que nos revela o amor do Senhor!

3. E a Palavra, o Verbo que está na criação ganhou carne, rosto e vida na figura de Jesus. Ele é o Emanuel, o Deus conosco, Filho do homem, um de nós. Deus colocou em Jesus não somente o seu poder, mas todo o seu amor. Cito ainda B. Häring: “Deus é nosso criador, o grande artista que faz de nós imagem e resposta ao seu amor. Mas isto ainda não basta: em seu Verbo eterno encarnado ele é, ao mesmo tempo, nosso irmão, o amigo mais íntimo, nosso Salvador, nosso médico divino, inclusive, segundo ousada imagem da Escritura, nada menos do que esposo de seu povo, de sua Igreja, da humanidade redimida”

4. O Verbo penetra sem reservas em nossa miséria. Coloca-se decididamente ao lado dos pobres e dos pequenos. O Deus grande e belo se acerca daquilo que é fragilidade. Assim, quer arrancar livremente de nós uma resposta amorosa. O Filho de Deus partilha nossos cansaços, nossa desilusão e nossa fragilidade. Carrega o peso de nossos pecados. Tem tanto empenho em nos arrancar da miséria em que vivemos que compassivo e abalado pelo pecado chega a suar sangue em Getsêmani. Sim, tendo amado os seus, amou-os até o fim.

5. No alto da cruz Jesus dá o sim definitivo ao mistério incompreensível do amor expiatório. Entrega-se à morte sem desespero e no meio de incredulidade e ódio dos circunstantes. O pecado é vencido e derrotado pela força e energia do amor de Jesus, amor sem limites. Um Coração que amou até o fim. Vale, neste contexto lembrar das palavras vigorosas de Paulo dizendo do amor do Pai por nós: “Quem não poupou o seu próprio Filho e o entregou por todos nós, como não haverá de agraciar em tudo junto com ele ?(...) Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? (...) Pois eu estou convencido que nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8, 31ss).

6.O discípulo predileto, nas linhas seguintes da citação de abertura, vai falar do lavapés e da ceia com os apóstolos antes da partida. João tem o olhar voltado para o cenáculo. Cenáculo lembra Eucaristia. O mistério do amor e da autoaniquilação de Jesus é a prova mais acabada de amor. Quis Jesus dar uma presente supremo desse gesto no alto da cruz no sacramento do amor sob as espécies do pão e do vinho. Continua nos amando, amando até o fim. Convida-nos, a nós que participamos da Eucaristia, a darmos a vida pelo mundo. Permanecendo na Eucaristia Jesus quer atrair os corações. As batidas do coração humano de Jesus continuam na glória do Ressuscitado.

Nada e ninguém podem nos separar do amor de Cristo manifestado em seu peito amor, tão cheio de amor.

Texto inspirado no livro El Sagrado Corazón de Jesús y la salvación del mundo, Bernhard Häring, Ed. San Pablo, Ed. San Paulo, Bogotá, 1995, p. 20-25).

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