2 de fevereiro de 2010

O MAL NÃO É LÓGICO

A luta contra o pecado parece interminável para nós que fomos a causa de sua entrada na natureza humana e em toda naturalidade. Não existe efeito sem causa nem causa sem efeito e em se tratando da desordem na criação, não podia ser diferente; pois ao homem foi dado pelo Senhor ordenar todas as coisas e administrar toda a sua obra natural. No entanto, com o advento pecado e a consequente queda do homem, o mal estabeleceu o seu reinado provisório no mundo, embotando o reinado do homem na obra da criação; mas esse reinado das trevas tem começo e fim porque o Bem prevalece sempre, visto que a Deus tudo pertence.

De fato, sentimos os efeitos do pecado e da presença do mal em toda parte desse nosso habitat natural, pois, quanto mais os homens pecam mais aumentam suas dores, agonias e frustrações, porque pecar é encontrar-se com o demônio autor e princípio do pecado e que está por trás de todo pecado, gerando o desequilíbrio e toda a maldade que vemos na face da terra. Em outras palavras, pecar é ceder ao domínio do mal a liberdade e a autoridade que nos foi dada por Deus para que o servíssemos neste mundo. É como disse Jesus: “Em verdade, em verdade eu vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo”. (Jo 8,34).

Por outro lado, diz o Senhor: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. (Jo 8,31-32). “Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? Ou que dará o homem em troca da sua vida? Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos”. (Mc 8,34-38).

O Papa Bento XVI em sua audiência geral do dia 03/12/08 (© copyright Libreria Editrice Vaticana), falou o seguinte a respeito do mal:

“O fato do poder do mal no coração humano e na História da humanidade é indesmentível. Mantém-se a questão: como explicar este mal? [...] A fé diz-nos que existem dois mistérios de luz e um mistério de noite que, no entanto, está rodeado pelos mistérios de luz. O primeiro mistério de luz é o seguinte: a fé diz-nos que não há dois princípios, um bom e um mau, mas um único princípio, o Deus criador, e que este princípio é bom, somente bom, sem sombra de mal (Cf.Tia 1,13). É por isso que o ser também não é um misto de bem e de mal: o ser como tal é bom, e, portanto é bom ser, é bom viver. Tal é o anúncio feliz da fé: só existe uma origem, que é boa, o Criador. [...]

Em seguida vem um mistério de obscuridade, de noite. O mal não provém da origem do próprio ser, não é igualmente original. O mal provém de uma liberdade criada, de uma liberdade mal utilizada. Como foi isso possível? Como se produziu isso? As coisas permanecem obscuras. O mal não é lógico. Apenas Deus e o bem são lógicos, são luz. O mal permanece misterioso. [...] Podemos [até fazer inferência, mas não explicá-lo ainda totalmente]; não podemos falar dele como de um fato que se segue a outro [e ponto final], uma vez que se trata de uma realidade mais profunda. Continua a ser um mistério de obscuridade, de noite.

Mas surge de imediato um mistério de luz. O mal provém de uma origem subordinada. Deus é mais forte, com a Sua Luz. É por isso que o mal pode ser ultrapassado. Então a criatura, o homem, pode ser curado. [...] Tanto assim é que, em última análise, vemos que o homem não só pode ser curado, mas efetivamente o é. Deus introduziu a cura. Ele entrou pessoalmente na história.

À origem permanente do mal, Ele opôs a origem do bem puro. Cristo crucificado e ressuscitado, novo Adão, contrapõe ao rio poluído do mal um rio de luz. E este rio está presente na História: lembremo-nos dos santos, dos grandes santos, mas também dos santos humildes, dos simples fiéis, e perceberemos que o rio de luz que provém de Cristo está presente, é poderoso”.

Ou seja, por meio do Seu Filho Jesus Cristo, Deus refez a sua obra tal qual é a sua vontade. Portanto, em Cristo Jesus nosso Senhor, já fazemos parte da Nova Criação; porém, não mais revestida dessa natureza mortal, mas sim, da imortalidade do Filho amado de Deus que ressuscitou e nos deu ressuscitar como Ele. É como o Senhor mesmo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?” (Jo 11,25-26).

Ao que respondemos com essa linda profissão de fé de Marta, na ressurreição: “Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo”. (Jo 11,27).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

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