21 de dezembro de 2013

O Natal ao modo de Francisco de Assis

Por Frei Edson Matias, OFMCap.


A espiritualidade franciscana está fundamentada em três momentos da vida de Jesus: nascimento, eucaristia e cruz. Aproximamos nesses dias de um desses pilares que é o Natal. Francisco quis celebrar o Natal diferentemente. Quis vivenciá-lo. Na espera da solenidade pediu para organizar a festa.

Francisco colocou animais e pessoas em um presépio vivo para despertar em si e em todos as sensações daquele momento. Ele quis vivenciar, ‘fazer experiência’. Quis sentir em seu próprio corpo como foi/é o nascimento do salvador. O santo não busca simplesmente entender com a mente, com construções teóricas e/ou doutrinais estabelecidas. Em sua simplicidade quer ‘ver’. Francisco é afeto. Quer vislumbrar, sentir em si a doçura do menino Deus.

Ao debruçar sobre a manjedoura devia querer/fazer a mesma vivência que teve com o leproso. Quis se colocar no lugar, ‘ver’ nos olhos do menino, como nos do leproso, o reflexo de Deus revelado. Na manjedoura pôde contemplar – sem formular qualquer ideia – a gratuidade de Deus e estende-la a toda criação.

A gratuidade de todas as coisas no resplendor do modo de ser de Deus. O rio que corre, a flor que desabrocha, o pássaro que voa, etc.. Todas as coisas em harmonia. Essas não procuram ser vistas ou admiradas, simplesmente são. Assim se apresentou Deus a Francisco. Um Deus diferente dos dogmas, dos grandes discursos, mas um Divino de poucas palavras e de grande envolvimento afetivo.

O natal é este tempo do resgate dessa vivência originária de nosso carisma. Aquilo que foi despertado em Francisco de Assis está bem ali em ‘Belém’. Em um estábulo, gratuitamente, nasce nosso Salvador. Não é um deus-rei rico ou poderoso. Não nasce em berço de ouro ou em palácio. O Reino de Deus se fez na manjedoura, no lava pés e na cruz. Na ‘história’ de Jesus não há trono, não há ‘reino’, nem servos subservientes. O imaginário religioso franciscano deve purificar-se de toda tentativa de fazer de Jesus um Imperador aos moldes dos cargos imperiais e estadistas. Somente assim se conseguirá adentrar no modo de operar do Espírito intuído pelo pobrezinho de Assis.

A celebração do natal nos leva a contemplar os grandes mistérios de Deus. Este Jesus próximo, humano, que nos dignifica, humaniza e diviniza. Presépio, lava pés e cruz, nosso modo de ser franciscano, revelando a maneira de agir de Deus: a gratuidade.

Que neste natal possamos aprender com a gratuidade de Deus revelado no presépio. Que
nosso coração esteja aberto para esse menino que nasce. 
T

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