Sobre esta árvore o Senhor, como um valente guerreiro, ferido diante combate em suas mãos, nos pés e em seu lado divino, curou as chagas de nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa (Teodoro Estudita, Liturgia das Horas II, p. 610)
1. O valente guerreiro caminhou a passos decididos rumo a Jerusalém onde haveriam de se dar os acontecimentos últimos de sua trajetória. Abandonado por todos, aparentemente até mesmo pelo próprio Pai, Jesus experimenta o frio da solidão. Houve feridas em seu interior: a incompreensão dos religiosos de seu povo, a indiferença de tantos, a negação dos próximos mais próximos. Houve a cruz e as feridas de seus membros: mãos, pés e a ferida do seu lado divino. Os místicos sempre ficaram fascinados com essa ferida do lado divino.
2. Triste o espetáculo dos feridos, de tantos feridos. Nos campos de guerra, nos combates na grande cidade, em assaltos e acidentes encontramos muitos feridos. Corpos despedaçados, sangue misturado da lama e vida se esvaindo… A dor das feridas é indescritível. Aquele serzinho sonhado pelos pais, educado com amor, pessoa que foi crescendo, agora é adulto. Foi ele enviado com colegas, como soldado, para defender a pátria em campos de guerra. E na vastidão de um campo ou no meio de pântanos alguns morrem e muitos outros saem feridos. Uns sem braços, outros com as vísceras expostas, outros com chagas purulentas…Esses tantos feridos.
3. O filho de Maria tem seu corpo cheio de chagas. Sofre nas mãos e nos pés. Sofre de solidão. Teodoro Estudita (sec. IX) se extasia diante do tema da cruz, do lenho da cruz, da árvore nova. Nela foi alçado Jesus, árvore que tem como fruto, o mais belo de todos os filhos dos homens e ao mesmo aquele mais parecia com verme. A árvore do paraíso levou à morte. Esta nova árvore, a árvore do homem das chagas, do valente guerreiro, é a árvore da vida. “É uma árvore que não gera a morte, mas a vida, que não difunde as trevas, mas a luz; que não expulsa do Paraíso, mas nele introduz. A esta árvore subiu Cristo, como um rei que sobe num carro triunfal, e venceu o demônio, detentor do poder da morte, para libertar o gênero humano da escravidão do tirano” (p. 610).
4. Há esses seres humanos jogados nos campos de guerra depois de uma batalha, derrotados, mortos, recolhidos para serem sepultados. Antes que ele, o mais belo de todos os filhos dos homens, desfigurado por sua paixão, fosse tirado da cruz e levado para o sepulcro, seu lado foi aberto, saíram sangue e água, frutos que saboreamos na mesa da eucaristia e na piscina do batismo. Somos seres fortalecidos e criaturas límpidas e tudo devemos ao lado divino de Jesus.
5. Na história da salvação muitos personagens já haviam prenunciado a cruz do lado aberto. Noé escapara da morte numa frágil arca de madeira. Moisés destrói as serpentes venenosas com sua vara. Abraão prenunciou o cruz quando colocou seu filho amarrado sobre um feixe de lenha. Sobre a cruz, o lado divino de Jesus nos curou da morte e nos levou rumo à vida: “Pela cruz a morte foi destruída e Adão recuperou a vida. Pela cruz todos os apóstolos foram glorificados, todos os mártires coroados e todos os que creem, santificados. Pela Cruz fomos revestidos de Cristo, ao nos despojarmos do homem velho. Pela cruz, nós ovelhas de Cristo, fomos reunidos num só rebanho e destinados às moradas celestes” (p. 611).
6. “Senhor Jesus, vivo e ressuscitado. No mistério da fé, vejo uma claridade em teu lado, lado aberto e transfigurado, lado reluzente, lado do valente guerreiro que morreu de amor para o amor fosse derramado em nossos corações. Tu nos deste a alegria de viver”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/
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