“O ato de fé em Jesus se realiza e se torna concreto abrangendo a realidade do homem em todas as suas dimensões, tanto as do corpo como as sociais e históricas. A adesão à sua pessoa, que se vive na nova comunidade, tem exigências radicais e comporta rupturas e o sacrifício de certas realidades e certos valores. A renúncia que se faz a certas realidades e certos valores ou é um ato de desespero e demissão ante o sentido da existência, ou a abertura da ordem terrena à realidade de Deus que vem do alto como graça.
A renúncia ao mundo é um gesto que só se torna possível pela graça da fé no fato de que, em Jesus, Deus se dá gratuitamente ao mundo e que essa graça não pode ser arrancada nem pelo uso do mundo e o compromisso com ele nem pela simples fuga. Aliás, só quem tem com o mundo uma relação positiva pode abandoná-lo como valor positivo.” (Karl Rahner).
Se no evangelho, como no trecho de ontem, Jesus multiplica os apelos à renúncia, se convida a carregar a própria cruz e segui-lo, não é para que o homem fuja do mundo, mas sim para que o assuma e seja radicalmente ( = firmado como as raízes das plantas) fiel à condição humana.
Enquanto o homem pecador procura ser feliz, tratando de evitar tudo o que faz sofrer e como que eliminar a morte, e se apoiando unicamente naquilo que a vida presente pode oferecer, o cristão é convidado pela fé a enfrentar esta vida com o máximo realismo. Através do sofrimento, e mesmo da morte, ele dá sua contribuição insubstituível ao êxito da aventura humana. Se lhe acontece ter tristezas enquanto o mundo se alegra, sua tristeza, na realidade, é fecundidade de vida. Sabe que a morte é o caminho para a vida. Mas só obterá isso seguindo Jesus sob o impulso do seu Espírito e seu santo modo de operar.
Impregnado de amor de Deus, está o homem entregue às tarefas deste mundo, que ele executa não superficialmente ou apoiando-se nos próprios recursos humanos. As duas breves parábolas de São Lucas são uma severa advertência contra qualquer compromisso superficial. Antes de empreender uma construção é necessário sentar-se e fazer os cálculos, como igualmente antes de enfrentar uma guerra. A fé é algo de radical e precisamos interrogar-nos se estamos prontos para tudo! É a opção de um homem maduro, que avalia atentamente o que lhe propõe a mensagem cristã. Não é fé de conveniência nem fácil romantismo nem desejo de pertença sociológica! Uma opção “madura” de fé exige, particularmente, autonomia e dedicação, valores inseparáveis. A autonomia, pela qual alguém é ele mesmo, inclui a aceitação de si mesmo, a aceitação dos outros aos quais se pertence na convivência, a aceitação do outro no amor e no matrimônio, a aceitação do sentido da existência. Além disso, a autonomia implica um plano de realização de si que leve em conta esse contexto ambiental e uma tomada de posição pessoal que se torna abertura à dedicação. Dedicação significa capacidade de estreitar laços com as pessoas ou com as coisas, desinteressadamente, respeitando o valor das pessoas e das coisas, respeitando a própria dignidade.
A educação para a fé, especialmente nos jovens, deverá levar em conta essas observações. Se não se forma uma personalidade autônoma nas relações consigo mesmo, com o próximo e com Deus através da “experiência”, corre-se o risco de comprometer o crescimento. Educação para a fé é educação integral; parte da recusa da simples aprendizagem mnemônica, da cultura livresca, enciclopédica, e procura inserir o jovem na comunidade como lugar de experiência do encontro com Deus.
Mas sendo a fé primariamente dedicação pessoal, resposta a um amor que se manifesta a nós, até a educação para a dedicação humana se torna importante, porque nos faz capazes de nos dedicarmos a Deus. A família é o lugar ideal para uma educação da fé. O amor é a dedicação entre pai e mãe, a doação de todas as suas energias aos filhos possibilitam a compreensão do amor de Deus por nós e estimulam a corresponder mais concretamente. T
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