12 de maio de 2013

Retratos de Mães



As mães  podem ser consideradas  a alma de nossas famílias. Convido a todos a percorrem comigo uma galeria de retratos de mães.

O primeiro quadro que desejo mostrar-lhes é de uma mulher jovem. Tem vinte e poucos anos. Está para dar à luz pela primeira vez. Ela e o marido não pensam em outra coisa senão no dia em a menina vai nascer, porque é uma menina, e vai se chamar Fernanda.  Há nove meses convivem, misteriosa e carinhosamente, com ela. Tudo está preparado: o berço, as roupinhas, os sapatinhos, as chupetas, as mantas cor-de-rosa, os gorrinhos para proteger do frio. Já tem padrinho e madrinha escolhidos. E quando a menina nascer será o céu na terra. Quando a menina sai do seio da mãe, tudo se faz festa e alegria. A jovem mulher não é  apenas a esposa do marido mas a mãe de Fernanda, a criança mais linda da face da terra.

Lá está aquela jovem mulher-mãe no canto da sala. O filho, seu primeiro filho, remexe-se no berço, acordou e está faminto. Chora desesperadamente. Ali, no canto da sala,  a mãe dá o peito ao pequenino e contempla com um sorriso esse pinguinho de gente, agora serenando, abrindo e fechando os olhos. Reza por ele. Pensa no futuro do menino. Pensa em seu casamento que precisa ser sólido. Pensa no mundo, em como preparar o filho para viver no mundo. De repente, saciado, o menino dorme e a jovem mãe leva-o de volta  ao berço, puxa as cortinas e deixa que seu pequeno sonhe com os anjos, continuando a cantar suavemente uma cantiga de ninar.

Vejo aquela outra mulher, de origem  italiana, natural de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul. O retrato foi tirado na década de vinte com uma daquelas máquinas fotográficas que faziam fumaça. Mulher forte, generosa. Ela e o marido colocaram dez filhos no mundo. Todos sobreviveram. Apenas Sofia nasceu mirradinha e quase não  “vingou”. Os outros foram vencendo.  Um deles hoje é prefeito da cidade e uma das meninas está em Brasília, trabalhando no Ministério da Educação. Casa simples, de colonos, com fogão de lenha, quintal grande, grande área nos fundos com uma imensa mesa.  Os filhos foram pelo mundo, moram perto ou longe. Voltam sempre à casa daquela senhora de mãos calejadas de rachar lenha, de cuidar da estrebaria das vacas, de trabalhar na roça com o marido, com chapéu de palha na cabeça, aqueles imensos chapéus de palha. No domingo das mães, a casa fica cheia. Come-se bem, há grande alegria no ar, cantos italianos, muita polenta, muitas danças e tudo é festa. E um bom vinho.

Ali está aquela outra mãe. Os filhos estão crescidos estudando em faculdades. Os três vêm à missa das 18 horas quase todos os domingos.  O marido é piloto de avião e vive no ar… O três sentam-se no terceiro banco perto do altar lateral de São José.  Ela é professora de português numa  Escola Estadual. Depois da missa voltam a casa para o lanche de domingo, antes de recomeçarem a vida na fatídica segunda-feira. Os meninos são adolescentes quase jovens. Ainda vão à missa.  Mas vivem antenados, Facebook…  Por enquanto, as coisas estão tranquilas. Vamos ver até quando eles participarão da missa de domingo. Por enquanto vão.

Há o retrato daquela mulher ainda jovem, mãe de dois garotos. De repente, ela ficou sabendo que seu marido tinha uma “namorada” e que tinha mesmo um filho com a outra… Quando tudo ficou provado, a mulher  exigiu a partida do marido que queria continuar com a vida do jeito que estava… Ajudou a colocar todas as suas coisas em caixas e malas. Passou a ser mãe e pai dos garotos. De quando em vez passa perto dela uma nuvem de tristeza. Ela não é mais a esposa do pai de seus filhos.

Aquela senhora já está bem idosa. Tem muita dificuldade em andar. Vestida com um tailleur azul marinho com blusa branca senta-se no primeiro banco da igreja. Ali será rezada a missa de corpo presente do filho mais velho que morreu num terrível acidente de carro. Ficará perto do caixão do filho. Participa da missa com serenidade. Terminada a encomendação do corpo, beija o caixão e pede que levem para a casa. Não se sentia em condições de ver o sepultamento do filho. Preferia ficar sozinha se entregando a Deus.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Extraído de: http://www.franciscanos.org.br/

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