16 de junho de 2015

“Mudar”, continuação da reflexão sobre o Capítulo da OFS



Frei Almir Guimarães, OFM.

Estamos para celebrar, em agosto de 2015, mais um Capítulo eletivo da OFS do Brasil. Foram fixados como tema e lema  para este encontro  que vai acontecer em Castanhal, PA:  “Nosso ser hoje: mudar segundo o Evangelho para mudar o mundo”.  Do Evangelho à vida e da vida ao Evangelho. 

 Aqui vão pingos e respingos em torno do tema.

1 – Mudar é uma palavra com muitos e variados significados: mudar de casa, mudar de opinião depois de ter melhor compreensão a respeito de uma questão ou de uma problemática;  mudar de visual; mudar para melhor ou para pior;  mudar uma maneira de se viver o casamento, mudar um jeito de evangelizar… e assim por diante.  Quando se escolhe tal tema para nortear um Capítulo, pensa-se na urgência de uma transformação  dos irmãos e das fraternidades da OFS. Tudo isso em vista transformar a realidade em que vivemos.  Nossa vida de franciscanos só tem sentido no coração da Igreja. A mudança do coração tem tudo a ver com a conversão evangélica.

2 – Antes de tudo pensamos na mudança interior, pessoal de cada um. Mudança que seja interior, trabalho sério de transformar o amargo em doce e o doce, em amargo. Jesus nos convida à conversão e a crer na Boa Nova. Converter-se é acreditar que Jesus é o Reino, a força do amor de Deus que se aproximou de nós.  Converter-se é acolher na fé a iniciativa gratuita de Deus que decidiu, em Jesus, nos visitar em pessoa para nos  salvar, quer dizer, nos fazer entrar numa felicidade sem fim.  É mudar a direção da vida, ter bastante fé para renunciar a se considerar com centro absoluto e autossuficiente e assim colocar diante de nossos olhos o seguimento de Jesus, como nossa vida e nosso futuro. É aceitar não fazer a vida sozinho mas com outros e para os outros.  No começo de tudo não estou eu, mas o Amor de  Deus (cf.  Michel  Hubaut,  Chemins d’intériorité avec  saint François).

3 – Como cristãos estamos sempre em processo de conversão: importância do exame de consciência mais ou menos frequente, tentativa de fazer silêncio interior para que ressoe a voz do Amado que não quer nosso coração endurecido, nem envolto pela mesmice da rotina. Temos tido momentos de revisão de vida pessoal? Temos procurado regularmente a confissão sacramental? Valorizamos os atos penitenciais? Nossos capítulos avaliativos detectam os caminhos para que  nossa fraternidade dê passos adiante?

4 – Essa mudança interior e na fraternidade se opera em corações desarmados que acolhem, de modo especial, as orientações do Sermão da Montanha de Mateus. Não seria o caso estudarmos mais de perto  essas diretrizes do Sermão que nos faz não pessoas da lei certinha, mas da generosidade sem limites? Não seria isso mudar?  Não seria mudar tentar nos impregnar do espírito das admoestações/exortações do Pai Francisco estudando-as em particular ou em grupo? Será que nosso estudo das  Fontes não é seco, árido e sem repercussão na vida?

5 – Mudar significa fazer um sério empenho de se viver as dimensões mais densas e profundas da vida em  fraternidade.   Reuniões formais, longas, cansativas, não são sacramento da fraternidade.  Mudaremos o jeito de nossos encontros  Nada de formalismos, nada de rigidez legal. Claro que haveremos de nos ater ao básico.  Os irmãos chegarão a tempo, haverão de trazer no bojo de seu coração o desejo de encontrar, a sede de conviver.  Cada Fraternidade criará seu jeito de fazer reunião. Os que vivem como irmãos vão pelo mundo tentando criar espaços de fraternidade  onde ninguém é superior a ninguém e todos sintam que o coração do outro é abrigo certo.  Os que vivem em fraternidade vão pelo  mundo criando grupos fraternos.

6 – Parece fundamental mudar o modo de receber os que chegam. Dar tempo ao tempo.  Deixar que sejam simpatizantes  por um bom tempo, sem pressa de encaixá-los em nossos esquemas.  Sentir qual o ritmo das batidas de seus corações, o que querem, por onde andaram, porque chegaram até nós, como  fazer com que venha à tona a verdade de cada um.  Criaremos espaços de escuta, de desejo que eles se exprimam, espaços de alegria verdadeira.

7 – Mudar significa colocar o ideal da santidade de vida pessoal e comunitária em primeiro lugar. Não queremos ser um grupo superficial e medíocre. A vida de oração pessoal, o esquentar a sopa para um doente e um miserável, o desejo de enxugar a lágrima dos que choram fazem parte da santidade. Duas sugestões práticas:  mudar a maneira como fazemos retiros e sempre ter um trabalho na linha do enxugar o suor da fronte dos que sofrem.

8 – Nossas comunidades paroquiais em seu agir pastoral deverão poder contar com os franciscanos seculares, sem que estes venham a perder sua identidade. Há crianças que precisam de catequistas que  vão da vida para o Evangelho e do Evangelho para a vida.  Há casais que necessitam ser levados a viver a graça do matrimônio por meio de franciscanos seculares competentes e peritos na arte conjugal franciscanamente,  quer dizer, que não vivem a idolatria do consumismo. Há situações de injustiça aqui e ali que serão denunciadas pela voz dos seculares e por seu jeito de posicionar-se diante das coisas e dos bens.

9 – Os temas a serem abordados, estudados, dissecados, na reunião geral e em outros momentos: mundo da comunicação digital (ou da incomunicação);  educação dos jovens; construção do casamento;  homoafetividade;  cultura do provisório.  Estes temas precisam ser novidade de nossos grupos.  A fraternidade é espaço de reflexão para que os irmãos se posicionem diante das “novidades”.

10 – Segundo Frei José Antonio  Merino, frade menor espanhol,  para que a renovação se efetue será preciso um retorno ao Evangelho mais puro,  sem amenizações, quer dizer viver a mensagem de  Jesus com coragem e alegria; estabelecer um diálogo franciscano com outras religiões;  relançar uma cultura e mística ecológicas;  viver uma cultura do encontro e do encantamento;  promover valores humanos que levem à ética da frugalidade.

Extraído de: http://www.franciscanos.org.br/

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