Na quinta-feira, pela manhã, o bispo reúne os sacerdotes e o povo e celebra com eles a missa do crisma.Belíssima essa cerimônia no dia da Instituição da Eucaristia! Nesta missa são consagrados os óleos para os sacramentos: óleo dos enfermos, dos catecúmenos e do crisma.
Belíssimo o quadro! O bispo, pastor da diocese, aquele que conta com o ministério dos sacerdotes que estão à frente das comunidades. Sim, os sacerdotes são colaboradores do bispo em seu múnus. Muitos dos concelebrantes são párocos, cuidam mais diretamente do povo de Deus. Outros são colaboradores: animam a catequese, trabalham com os jovens, acompanham os doentes, tomam para si a causa dos mais abandonados. Na celebração da manhã da quinta-feira estão esses homens que, levando a sério sua vocação, são os continuadores da obra de Jesus, que, como o Mestre, vão dando a vida pelos seus. Emocionante ver, na concelebração, os padres bem idosos, caminhando com dificuldade, apoiados em bengalas ou conduzidos delicadamente pelos padres mais jovens. Que beleza! A unidade e a riqueza do presbitério! Para além de todas as dificuldades e problemas que possam viver é belo vê-los reunidos na Missa do Crisma.
Aos sacerdotes é aplicada a Palavra de Isaías: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim. Enviou-me para levar a boa nova aos pobres e curar os de coração despedaçado, anunciar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros e a publicar um ano de graças...” (Isaías 61, 1-2).
Quinta-feira santa é o dia do padre. É dia de agradecer a Deus os sacerdotes todos que passaram por nossas vidas e que nos marcaram profundamente.
Os que são sacerdotes conhecem tudo aquilo que vivenciam e vivenciaram: ministros de uma palavra de vida, animadores e estimuladores de uma comunidade de fé, esperança e caridade, pessoas que buscam as ovelhas perdidas e levam à santidade os que estão perto e por perto, homem da Eucaristia, deste homem, que como Cristo, se faz dom para os seus.
A missa da tardinha, missa vespertina da Ceia do Senhor, é uma das mais densas e mais belas de todo o ano litúrgico. Ela comemora a primeira missa, a ceia-refeição – ao longo da qual Jesus instituiu a Eucaristia para que sua Presença se perpetuasse viva no sacramento de seu Corpo e de seu Sangue.
A refeição pascal judaica, familiar e festiva, era o memorial da libertação do Egito: comia-se ritualmente o cordeiro pascal, como na noite em que outrora, Deus tinha libertado os hebreus das mãos do faraó. Jesus faz desta celebração, antecipadamente, memorial de sua paixão, morte e ressurreição, Páscoa nova em que a salvação é ofertada a todos.
O cordeiro é ele mesmo. O banquete é a refeição anunciada pelos profetas, núpcias de Deus com seu povo. A tarde desta quinta-feira é um dia festivo. O templo está enfeitado. Arranjos de flores e velas de certo porte. Os paramentos são brancos e o sino toca. Há o canto do Gloria. Há festa no ar.
Ceia do Senhor! Ceia parecida com nossas ceias e ceia tão diferente. O pão do trabalho, da pena, do suor. O vinho da dor e da alegria. Tudo isso simboliza labor, dor, alegria, vida O pão e o vinho se tornam o Corpo e o Sangue do Senhor, cuja memória celebramos carinhosa e respeitosamente. Os que participam desta ceia vivem com os irmãos as ceias de todos os dias.
Quinta-feira santa é o dia da caridade e do serviço. O lavapés, conservado apenas pelo evangelista João, não deveria ser omitido neste dia. Trata-se de um dos gestos expressivos e significativos e que deixa transparecer algo do mistério de Jesus. Ele é aquele que serve. Os seus discípulos são convidados a alegria da partilha. Tal se dará na medida em que formos pessoas de serviço: serviço em casa, serviço no trabalho, serviço aos vizinhos, aos prisioneiros e doentes, serviço prestado às grandes necessidades da comunidade da Igreja, aos nossos irmãos na fé. O Senhor e Mestre, antes da Ceia, tira o manto e lava os pés dos seus. Esse gesto de abaixamento e de serviço prenuncia a cruz.
Depondo as vestes, Jesus despoja-se de si. Depõe a sua vida para os seus e inclinando-se diante deles mostra até onde vai o amor de Deus. Lavar os pés é gesto operado por escravos e aqui é o Senhor quem o realiza. Serviço e ceia se interpenetram. Quando Jesus pede que os seus façam sua memória tomando o pão e o vinho pede também que tornemos sua figura presente no serviço que prestamos, serviço feito a partir do exemplo que dava. Um autor afirma: Os gestos que Jesus realiza ao lavar os pés dos seus discípulos são humanos, humaníssimos e indicam, no dia a dia, o lugar onde a Eucaristia se torna vida, existência e realidade. Do contrário é apenas um rito. Lavando os pés dos seus, Jesus continua realizando o que se sempre fez: amou os seus até o fim...
No meio da ceia o Mestre tem o coração apertado. Ele ficaria só, numa terrível solidão.
Terminada a celebração da missa da ceia há uma procissão do Santíssimo até a capela da reposição. Depois, os celebrantes desnudam os altares. Tudo parece desolação. O Esposo foi arrancado dos seus. O sacrário está escancarado. Vazio. A vigília diante do Santíssimo lembra a oração de Jesus em Getsêmani. Os fiéis cristãos desejam estar com o Senhor, sem dormir, como havia acontecido com os apóstolos, aqueles cheios de sono, que deixaram o Mestre só, definitivamente só. Tudo isso acontece depois da ternura da celebração da Ceia do Amor.
Frei Almir Guimarães
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