Por Frei Vitório Mazzuco Fº
Francisco não criou uma escola teológica, mas sua teologia é uma
descoberta feita na prática dos divinos mistérios que acompanham o seu
itinerário. A sua mística é mergulhar no Deus Altíssimo. Do Beato
Egídio, companheiro de São Francisco e grande contemplativo, temos a
afirmação de uma profundidade e atualidade extraordinária: “O homem faz
de Deus uma imagem segundo a sua compreensão, mas Deus é sempre tal e
qual”. A partir deste Dito de Frei Egídio, podemos dizer da
singularidade de São Fran cisco e sua experiência de Deus: ele deixa
Deus ser Deus. O Santo de Assis é, sobretudo, conhecido como o amante da
Senhora Dama Pobreza, como o cantor das belezas criadas, como o homem
evangélico por excelência, como o verdadeiro frade menor, mas nos seus
Escritos e nas Fontes Franciscanas ele é apresentado como o “Servo de
Deus”; e entre os seus primeiros biógrafos encontram-se numerosas
afirmações que centralizam a experiência primária de Francisco como
experiência de Deus.
Francisco transferiu a sua relação com Deus a um plano de concretude
transparente e intensamente vivida. Hoje, ele ainda é qualificado como o
“Peregrino do Absoluto”. Vejamos as evidências da mística de Francisco
nestes relatos de seu biógrafo Tomás de Celano: “Francisco, o homem de
Deus, corporalmente distante do Senhor, lutava para manter o espírito
presente no céu; e, já feito concidadão dos anjos, somente a parede da
carne o separava. Toda a sua alma tinha sede de seu Cristo, ele lhe
dedicava não só todo o coração, mas também todo o corpo. Relatamos umas
poucas maravilhas das suas orações a serem imitadas pelos pósteros, o
quanto vimos com nossos olhos, conforme é possível transmitir a ouvidos
humanos.
Fazia de todo o tempo um ócio santo para gravar a sabedoria no coração,
para parecer que não fracassava, caso não progredisse. Se por acaso as
visitas dos seculares ou quaisquer negócios o surpreendiam,
interrompendo-o antes de terminar, ele voltava novamente às realidades
interiores. Na verdade, o mundo era insípido para quem se alimentava da
doçura celeste, e as delícias divinas o fizeram delicado para as
grosserias dos homens. Para não estar sem cela, fazia do manto uma
pequena cela. Muitas vezes, faltando-lhe o manto, para não revelar o
maná escondido, cobria o rosto com a manga. Sempre interpunha algo aos
presentes, para que não conhecessem o toque do esposo, de modo que
inserido entre muitos no estreito espaço de um navio, rezava sem ser
visto. Finalmente, não podendo nada destas coisas, fazia do peito um
templo. O esquecimento de si e a absorção em Deus fizeram desaparecer
tosses e gemidos, respirações duras e gestos externos”.
Continua ...
Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/
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