28 de fevereiro de 2014

Traços e rasgos de um homem chamado Francisco.


Ele viveu há muito tempo, nessa  Idade Média das luzes e das sombras, das grandes universidades e das bruxarias, de luminosidade e de escuridão. Viveu num canto da terra cheio de verde, numa cidade marcada pelo verde, pelas montanhas altaneiras. Francisco de Assis não podia ser de outro lugar senão dessa terra encantadora. Era um ser normal cheio de desejo de grandeza. Vai para cá e vai para lá.  Busca aqui e ali. É feito prisioneiro, cai doente e refaz-se. Com suas roupas bonitas é o rei da juventude. Homem do cantar, das cortesias, das festas, das danças, das representações cênicas.  É um ser trabalhado pelo Mistério. Não é apenas um doce homem amigo dos animais e da flores. Foi levado, pela graça, até o mais profundo do mistério da encarnação.

Deus grande e belo que havia se avizinhado dos homens no rosto do menino da palhas e no semblante do condenado fascinou esse homem que foi se transformando. Começou a divisar no leproso, nos mais abandonados, traços de um  Amado que andava rondando seu coração. Um Amado que queria todo seu coração. Nas grutas e nos campos floridos, esse Jesus ressuscitado, provavelmente, andou pedindo tudo dele:  que ele, esse Francisco se fizesse um despojado de coisas dispensáveis, um cuidador dos irmãos, um promotor de reconciliação, um admirável homem livre que pudesse ir aos confins do mundo dizendo que o Amor merece ser amado.

Aos poucos esse italiano da Umbria  foi se dando conta que alguma coisa fora se operando: o Amado vivia nele.  Ele respirava o ar das bem-aventuranças,  tinha a impressão de ir para o ermo como ele,  percorria os caminhos da terra com um jeito “crístico” na fala e nos gestos. E quando chegou o fim das coisas, na terra nua deitou-se, fez a última de suas plásticas litúrgicas: no seio de sua fraternidade acolheu a morte, o desfecho como se acolhe uma irmã muito querida.  Fascinado pelo Cristo, homem das alturas, irmão de todos e de tudo. Pessoa sem desejo de dominar, de manipular.  Em suma o Reino de Deus feito gente.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Nenhum comentário:

Postar um comentário