20 de junho de 2010

DE COMO AS COISAS COMEÇARAM EM SÃO DAMIÃO...


Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

O texto de reflexão de hoje tenta captar em que consistia a vida das pobres irmãs bem no começo, quando mal e mal se instalaram junto à igrejinha de São Damião. Temos sempre diante dos olhos o livro de Chiara Giovanna Cremaschi, Chiara di Assisi. Un silenzio che grida (p. 49-50).

Para podermos compreender o início dos inícios temos que nos reportar ao Testamento de Clara. A leitura de algumas dessas linhas nos coloca diante de coisas simples, mas fundamentais. Era preciso inventar o novo.

“Depois que o Altíssimo Pai celestial, por misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado pai Francisco, pouco depois de sua conversão, com algumas irmãs que Deus me dera logo após a minha conversão, eu lhe prometi obediência voluntariamente, como o Senhor nos concedera pela luz da sua graça através da vida admirável e do ensinamento dele. Vendo o bem-aventurado Francisco que nós, embora frágeis e fisicamente sem forças, não recusávamos nenhuma privação, pobreza, trabalho, tribulação nem humilhação ou desprezo do mundo, e até julgávamos tudo isso as maiores delícias, como pôde comprovar freqüentemente em nós a exemplo dos santos e dos seus s frades, alegrou-se muito no Senhor. E, movido de piedade para conosco, assumiu o compromisso, por si e por sua Ordem, de ter sempre por nós o mesmo cuidado diligente e a mesma atenção especial que tinha para com seus irmãos. E assim, por vontade de Deus e do nosso bem-aventurado pai Francisco, fomos morar junto da igreja de São Damião, onde em pouco tempo o Senhor nos multiplicou por sua misericórdia e graça, a fim de que se cumprisse o que tinha predito por seu santo. Pois, antes tínhamos morado em outro lugar, por pouco tempo” (24-32).

1. Agora as irmãs chegam ao seu espaço. Elas vão morar junto da igrejinha de São Damião. Para nós, franciscanos, São Damião evoca uma página dourada de nossa família espiritual. Aquele crucifixo! E lá foram se instalar esses mulheres, nossas irmãs, mulheres pobres, bonitamente pobres e desejosas de viverem à sombra do amor de Deus manifestado em Jesus e tão presente nos espaços de São Damião. Ali acontece o verdadeiro começo da vida das irmãs e que tem como fundamento a pessoa de Clara. E Francisco, ele mesmo ou através dos seus frades daquele tempo e de sempre haveriam de cuidar dessa fraternidade das damianitas.

2. Francisco confia nelas. Sabe que são tenazes e capazes de suportar a pobreza e os desafios. Clara revela em suas filhas que Francisco reconhecia força e vigor nessas frágeis mulheres...

3. Ali Clara entra como peregrina e forasteira, nesta casa pobre e despojada. Ali haverá a contemplação do Deus, único bem, a vontade de viver somente para ele. Esta a base da vida de Clara e de suas duas companheiras. Esse caminho Clara assume porque Deus mesmo o revelou ao coração sob a inspiração de Francisco.

4. Ali entra para fazer penitência, entrar num caminho verdadeiro de conversão que quer percorrer ao longo de toda a sua vida. Os franciscanos são penitentes. Essa a nossa profissão. Entrar num esquema de vida novo. Mudar o coração. Deixar o desejo de posse, de brilho e viver de outro modo.

5. No momento em que Francisco leva as três irmãs para São Damião, para elas começa alguma coisa completamente nova, que precisará ser inventada. Há umas poucas certezas básicas que fundamentam o seu “estar juntas”:

  • Iluminação do Espírito Santo para seguir os passos de Cristo pobre e crucificado no estilo de Francisco.
  • Trata-se de tomar o Evangelho como constante ponto de referência deixando-se levar pela graça num abandono sem restrições nas mãos do Pai das misericórdias.
  • A pobreza absoluta será um ponto fundamental inquestionável.
  • Da mesma forma será ponto básico o amor exclusivo pelo Senhor Jesus Cristo alimentado por longa e incessante oração. As três irmãs, como conseqüência, haveriam de se querer e, juntas, amar os mais pobres.
  • A concretude de uma pobreza escolhida por amor e vivida na alegria comportava um desprezo por parte da sociedade da época, sobretudo pelas famílias nobres às quais as três pertenciam. Clara e suas duas primeiras companheiras colocam-se na categoria do minores, os últimos da escala social, aqueles que não contam.

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