12 de maio de 2012

Essas mulheres chamadas mães


Nossa “janela” de maio se escancara para as mães, mães de todos os jeitos, mães que enfeitam a face da terra. Maio é o mês das mães. Maio em que pensamos em nossas mães.

a) Ação de graças pelas mães

Senhor Deus,

Colocamos diante de teu amor previdente e providente a vida de nossas mães.

Que nesse tempo de maio possa chegar até teu coração esse hino de agradecimento que brota de nossos corações de filhos.

Graças te damos pelo seio que designaste que seria o espaço do começo de nossa vida.

Ali estivemos escondidos durante meses.

Fomos alimentados com o sangue, o ar, o leite, o carinho dessas mulheres que aprendemos a chamar de mães, matrizes, fontes de vida.

Nós te damos graças pelos cuidados que nos foram dispensados na infância, na adolescência e na juventude: pela roupa lavada e cheirosa, pelo purê de batata, pelo macarrão com queijo e molho de tomate, pelo suco de laranja, pela mousse de maracujá e pela cuca de banana.

Nós te damos graças pelas conversas que tivemos com a mãe, quando saíamos com ela, quando nos levava ao pediatra, ao “barbeiro”, ou simplesmente para um passeio no parque, quando ela nos fazia visitar a igreja, nossa paróquia, quando nos levava a visitar os avós e os tios.

Nós te damos pelas histórias que a mãe contava respeito da família, de sua infância, das coisas que ela viveu e tinha no coração, do cinema mudo, dos bailes, da banda que tocava no coreto da praça.

Sim, nós te damos graças de modo muito especial por essas conversas no tempo da adolescência e da juventude e pela xícara de café com leite que ela nos preparava quando voltávamos da escola, alguns dias o café se fazia acompanhar de uma broa de fubá ou de um bolo de chocolate.

Nós te damos graças pela presença da mãe no dia da formatura com seu vestido azul com bolinhas brancas, seus sapatos de salto, sua bolsa azul marinho.

Nós nos lembramos com carinho da figura da mãe nos dias de Natal, nas comemorações dos aniversário, na festa de nosso casamento, nas conversar que tivemos para “salvar” nosso casamento. Nós te damos graças, Senhor, pela trajetória e pela história dessa mulher única da vida de cada um.

E, Senhor Deus, perdoa se temos no fundo do coração uma tristeza, a tristeza de não termos mais, perto de nós, porque tu levaste a mãe que tivemos e que agora está assentada à mesa do banquete celeste diante de teus olhos.

Que ela interceda por nós junto a ti, por nos que temos uma imensa saudade dela.

b) A mãe do traficante

Dona Rosa, mãe de um homem de trinta anos, há 3 anos preso e tendo mais dois para cumprir, dizia mais ou menos o seguinte:

“Meu nome é Rosa. Nasci a 23 de agosto, dia de Santa Rosa de Lima. Por isso ganhei esse nome tão bonito e que me orgulho de portar. Foi minha mãe que o escolheu. Sou conhecida na vizinhança como Rosinha. Nos últimos tempos, bem nos últimos anos, as pessoas referindo-se a mim simplesmente dizem: “mãe do traficante”.

De um lado as pessoas me evitam… sem motivo… de outro lado, sinto que sou objeto de piedade e de compaixão. “Coitada da Rosinha…”.

Vivo há dez anos o pesadelo de ter um filho envolvido na questão do consumo e do tráfico de drogas. Agora está na cadeia. Andou roubando muito e fazendo outras loucuras. Cumpre uma longa pena. O que me incomoda e me faz sofrer é que seus “colegas” ou “comparsas” estão soltos… Alguns sumiram do mapa. Parece que dois ou três deles, nossos antigos vizinhos, tentaram entrar no presídio disfarçados de bombeiros hidráulicos para soltar meus filhos… mas já de longe foram espantados pelos seguranças e desapareceram no meio do mato… Soube isso pelo radinho de pilha que tenho…

Meu Deus, como tudo isso é triste! Lembro-me do tempo da gravidez do meu menino, do seu nascimento, meu menino esperto, bonito demais com olhos grandes e esverdeados. Chamava a atenção de todos. Era a cara do avô, meu pai. Esse meu filho que hoje é simplesmente chamado de traficante tinha bochechas coradas, cabelos encaracolados feito um Menino Jesus de presépio, menino cheio de graça e boniteza. Era uma graça quando ia dormir. Fechava os olhos, dizia uma oração, pedia água benta para fazer o sinal da cruz, me dava um beijo estalado e molhado e ia dormir e eu chorava de alegria só de ver meu bonito menino. Quando saímos, ele pedia moedinhas para dar aos pobres que fosse encontrando… Perguntava a cada o nome e onde morava… uma doçura de criança.

Um dia a ventania começou a soprar… um dia… uma porção de dias, colegas, desculpem, uma porção de homens maus, de colegas que não eram colegas, uma porção de homens de motocicletas e carros estranhos foram fazendo a cabeça de meu filho quando ele tinha entre quinze e dezesseis anos… Ai começou o inferno. Poucos anos depois foi procurado pela polícia, preso e condenado. Hoje, o meu filho, que tinha os cabelos parecidos com os cabelos do Menino Jesus, é o preso traficante e eu sou a mãe do traficante. Meu nome é Rosa, mas quase todos me chamam de Rosinha. Hoje quase todos dizem “a mãe do traficante”.

Frei Almir Ribeiro Guimarães

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