Texto de Frei Vitório Mazzuco Fº
Nas Fontes Franciscanas e em toda a tradição de estudos, que gira em
torno destas Fontes, fala-se que Francisco tinha uma certa aversão aos
estudos; podemos aceitar isto como verdade? Como, então, falar sobre ou
justificar a existência de uma Escola de Teologia Franciscana com forte
cunho intelectual? Francisco não é alguém contrário aos estudos, o que
ele não queria era a sedução do status do poder de quem sabe; que o
frade teólogo não se inchasse de orgulho e santa presunção, já que na
Idade Média a teologia era considerada a ciência de todas as ciências; e
o saber, na época, era portador de status e poder.
Ao exercitar a desapropriação, a vivência da pobreza, a minoridade, ele
se dizia ignorante, idiota, iletrado, simples e totalmente despojado de
qualquer domínio que possa vir da intelectualidade. Não queria estar
acima de ninguém. Ser ignorante era o seu jeito convicto de ser Menor.
Para a nossa compreensão, ignorante é analfabeto. Para o mundo medieval
era comum o analfabetismo; 80% da população não sabiam ler, nem
escrever.
Saber ler e escrever era privilégio de uns poucos: nobres,
monges e clero com suas instâncias hierárquicas. Como filho de um
notável mercador de Assis, Pedro Bernardone, e participando da classe
nos novos ricos de seu tempo, ele tem a oportunidade de estudar junto à
Escola Episcopal (uma espécie de escola paroquial) que ficava na igreja
de San Giorggio (hoje Basílica de Santa Clara).
Lá, ele estudou os
rudimentos de latim e gramática com monges beneditinos que prestavam
este serviço aos filhos privilegiados da nobreza e da burguesia
crescente. Os monges usavam como cartilha a Sagrada Escritura e os Hinos
Litúrgicos, sobretudo as antífonas e os salmos. A repetição constante
de textos bíblicos e litúrgicos era o método de alfabetização. Francisco
aprendeu não mais que umas trezentas palavras em latim. Não era um
analfabeto; tinha algum conhecimento de matemática pois ajudava nas
contas dos negócios de seu pai; aprendeu com Bernardo de Quintavalle e
Pedro Cattani algumas noções de Direito Comercial. Conhecia também
rudimentos da língua francesa; sua mãe era da França e seu pai tinha
verdadeira paixão pela França, para onde viajava frequentemente a
negócios. Com a mãe aprendeu canções de gesta da cavalaria francesa,
valores e costumes da corte, o “sprit de finesse”; e com o pai palavras
precisas da comunicação formal em francês.
Continua....
Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/
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