Abraça todas as coisas com o afeto de inaudita devoção, falando com elas sobre o Senhor e exortando-as a louvá-lo. Poupa os candeeiros, lâmpadas e velas, não querendo com sua mão extinguir o fulgor que era sinal da luz eterna. Anda com reverência sobre a pedra em consideração daquele que é chamado de Pedra. Quando precisa recitar aquele versículo: Vós me exaltastes sobre a pedra, para expressá-lo mais reverentemente, diz: “Vós me exaltastes aos pés da Pedra”.
Proíbe aos irmãos que cortam lenha cortar pelo pé toda árvore, para que tenha esperança de brotar de novo. Manda que o hortelão deixe sem cavar a faixa de terra ao redor da horta, para que, a seu tempo, o verdor das ervas e a beleza das flores apregoem que é belo o Pai de todas as coisas. Manda traçar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e que produzem flores, para que elas evoquem os que as contemplam à recordação da suavidade eterna.
Recolhe do caminho os vermezinhos, para que não sejam pisados, e manda que sejam servidos mel e ótimos vinhos às abelhas, para que elas não morram por falta de alimento no rigoroso frio do inverno. Chama com o nome de irmão todos os animais, conquanto entre todas as espécies de animais prefira os mansos. Quem seria capaz de narrar tudo? Na verdade, toda aquela bondade fontal, que há de ser tudo em todos, já se manifestava a este santo como tudo em todos”.
Quem escreveu o Gênesis, certamente, andou primeiro pela natureza. Francisco não tem uma relação romântica com as coisas, como podemos pensar, mas sim uma relação de consanguinidade. Ele não conquistou o mundo das criaturas pelo intelecto, mas sim pelo Amor que tinha no coração. Era um artista da vida, e o artista é aquele que pinta a estrutura num quadro de paisagem, e põe na tela a sua profundidade. Francisco é o artista e sábio que deu sabor às estruturas. A veste que vestiu seu corpo não deu apenas a beleza da veste, mas a beleza do corpo, mente, alma e coração. Francisco revestiu-se da vida. Suas palavras eram em função da verdade das coisas; ele sabia usar a informação para ser um aprendiz das verdades de todas as coisas que estavam ali no cotidiano, aos pés do familiar, bem próximo. A pátria do humano é o que está mais percebido e valorizado. Ao pensar as coisas, as imagens, os símbolos, Francisco conquistou as coisas não para o uso, mas para o louvor.
A pós-modernidade vive no esquecimento das coisas mais familiares e tem medo das ruas e estradas. O medo esconde o olhar e prende os passos. Francisco nos liberta e destrava para que possamos voltar a uma devoção às coisas da terra. Ele é o gênio do gosto, do belo e do bom; ele é o padroeiro da comunidade dos que amam a Beleza e quer que toda a ação humana seja um esplendor. Quem vê a beleza em tudo o que existe está sendo sempre vendo o celestial. Quem vê o limpo e transparente, vê bem a profundidade. A civilização pós-moderna não permite mais a beleza dos pés descalços. Francisco marcava o chão com seus pés ou com uma surrada sandália; nós deixamos as marcas das grifes de nossos caríssimos tênis. O humano de hoje já não sente mais o chão, então, como dizer que aqui passou alguém? Se tivermos medo da espessura do caminho, não iremos muito longe.
Continua...
Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/
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