6 de fevereiro de 2015
"Aquele que se fez paciência até o último momento"
Somos os felizes discípulos da Igreja que nossa é mãe e mestra. O Ressuscitado, aquele que dá sentido à nossa vida, tem sua casa especial nessa assembleia dos seus seguidores, que é a comunidade da Igreja. Ela, ao longo do tempo, vai nos formando na qualidade de discípulos. De maneira concreta crescemos no amor do Senhor vivenciando os tempos litúrgicos. Nesses meses de março e abril vamos sendo envolvidos pela quaresma e pela páscoa. Somos levados, de modo particular, a contemplar os últimos momentos do Amado. Textos bíblicos, cânticos, responsórios, antífonas colocam-nos diante do Crucificado e somos convidados a procurar abrigo na fenda feita pela lança do soldado no lado de Jesus. Contemplamos o Coração do Redentor.
Tenho diante dos olhos uma bela página de São Cipriano, do Tratado sobre o bem da paciência.
Cipriano afirma que aquele que dissera ter descido para fazer a vontade do Pai, entre outras maravilhas de suas virtudes pelas quais expressou os sinais da divina majestade, observou a paciência paterna pela prática da mansidão.
“Todos os seus atos, imediatamente após a sua vinda, são assinalados pela presença da paciência”.
Essa paciência se mostra em sua atitude de viver em nossa e de nossa fraqueza.
“Sendo imortal, não recusa tornar-se mortal para que, inocente, morresse pela salvação dos culpados. O Senhor é batizado pelo servo; assim o que haveria de perdoar os pecados, não recusa lavar seu corpo no banho da regeneração. Jejua durante quarenta dias e através desse jejum os outros são alimentados; sente fome para que os que estiverem com fome da palavra e da graça se saciem com o pão celeste”.
Há uma manifestação de paciência toda peculiar de Jesus no trato com Judas:
“Não é de admirar que junto aos companheiros obedientes se mostrasse de tal maneira que pôde suportar Judas ao extremo. Com paciência infinita, toma alimento com o inimigo, sabendo-o inimigo doméstico, sem publicamente manifestar, nem recusar o ósculo do traidor”.
Impressiona-nos sempre o silêncio majestoso do Senhor no alto da cruz e a maneira nobre como enfrentou, pacientemente, tantas afrontas.
“ Durante a própria paixão, antes que chegasse à crueldade da morte e à efusão do sangue, ouviu pacientemente as injúrias das palavras e tolerou as blasfêmias. Recebeu daqueles que o insultavam, escarros – ele que com saliva, pouco antes, abrira os olhos ao cego. Foi flagelado, quem pela força do próprio nome, flagela o diabo com seus anjos. Foi coroado de espinhos que, com flores eternas, coroa os mártires. Sofreu açoites na face, com palmas, quem concede verdadeiras palmas aos vencedores. Foi despojado da veste terrena quem aos outros veste com a imortalidade. Foi alimentado com fel quem oferece alimento celeste. Foi com vinagre saciado em sua sede, que brindou os outros com bebida salutar”.
Assim, nós, discípulos do Senhor, contemplamos a virtude da paciência encarnada em sua vida e somos convocados adorá-lo na cena final de sua vida:
“Ele, inocente, justo, a própria inocência e a própria justiça, é julgado entre os criminosos e, com falsos testemunhos, é esmagada, ele, a própria verdade. É julgado quem há de julgar, Ele, a Palavra de Deus, em silêncio é levado ao sacrifício. E quando, junto à cruz do Senhor, as estrelas se confundem, os elementos se perturbam, a terra treme, a noite encerra o dia, ele não fala e não se move, nem manifesta sua majestade, nem ao menos durante a própria paixão. Até o fim, perseverante e continuamente, tudo é tolerado, para que se consuma, em Cristo, a plena e perfeita paciência”.
Nas primeiras sextas-feiras de cada mês é colocado diante de nossos olhos o penúltimo ato da trajetória de Jesus: a morte que ele viveu com toda paciência, com paciência plena e perfeita.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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