9 de junho de 2011

ESPECIAL SANTO ANTÔNIO DE PADUA

Carta de João Paulo II pelo 8º centenário

Ao Revmo. Padre Lanfranco Serrini OFMConv., Presidente em exercício da União dos Ministros Gerais Franciscanos.

1. Foi com viva satisfação que fiquei sabendo que as quatro Famílias franciscanas se preparam para celebrar, com oportunas iniciativas, o Oitavo Centenário de nascimento de Santo Antônio, figura carismática universalmente venerada e invocada.

Toda a Ordem Franciscana está engajada na preparação do jubileu de seu exemplo e modelo, juntamente com a cidade de Pádua, que acolhe em seu território o centro da devoção a Santo Antônio, e a cidade de Lisboa, onde o santo nasceu.

A comemoração do Oitavo Centenário tornar-se-á frutuosa no nível eclesial, se ela suscitar uma invocação unânime a fim de que Santo António, por seu exemplo e sua intercessão, impulsione os cristãos de nosso tempo a esforçarem-se na busca dos fins mais nobres e mais elevados da fé e da santidade.

Para que esta esperança comum se realize, é necessário que todos os pastores e os fiéis redescubram, por uma devoção sincera, a pessoa de Santo Antônio, estudem seu itinerário espiritual, saibam descobrir suas virtudes, escutem docilmente a mensagem que brota de sua vida.

2. Sua existência terrestre durou apenas 36 anos. Ele passou os primeiros catorze anos na escola episcopal de sua cidade. Aos quinze anos, ele decidiu entrar para os Cônegos Regulares de Santo Agostinho; aos 25 anos, ele foi ordenado sacerdote: dez anos de vida caracterizados por uma busca ardente e rigorosa de Deus, por um estudo intenso da Teologia, por um amadurecimento e progresso interior.

Mas Deus continuava a interrogar o espírito do jovem padre Fernando: este era o nome que ele unha recebido na fonte batismal. No Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, ele conheceu um pequeno grupo de Franciscanos da primeira hora, que de Assis iam para Marrocos para lá testemunhar o Evangelho, mesmo que lhes custasse a vida. Nesta circunstância, o jovem Fernando experimentou uma nova aspiração: a de anunciar o Evangelho aos povos pagãos, sem deter-se diante do risco de doar a sua vida.

No outono de 1220, ele deixou seu mosteiro e se colocou no seguimento do Pobrezinho de Assis, tomando o nome de Antônio. Ele partiu, então, para Marrocos, mas uma grave doença obrigou-o a renunciar a seu ideal missionário.

Então, começou o último período de sua existência, ao longo do qual foi conduzido por Deus por caminhos que ele jamais tinha pensado em percorrer. Após tê-lo arrancado de seu solo natal e afastado de seus projetos de evangelização no além-mar, Deus o conduziu a viver o ideal da forma de vida evangélica em terra italiana.

Santo António viveu a experiência franciscana apenas onze anos, mas ele assimilou o ideal a tal ponto que o Cristo e o Evangelho se tornaram para ele uma regra de vida encarnada no quotidiano. Ele disse num sermão: "Por ti nós deixamos tudo e nos fizemos pobres. Mas, porque és rico, nós te seguimos para que nos enriqueças... Nós te seguimos, como a criatura segue o Criador, como os filhos seguem o Pai, como as crianças seguem a mãe, como os famintos o pão, como os doentes o médico, como aqueles que estão fatigados a cama, como os exilados a pátria" (Sermones II, p. 484).

3. Toda a sua pregação foi um anúncio contínuo e incansável do Evangelho "sine glossa". Um anúncio veraz, corajoso, límpido. A pregação era sua maneira de acender a fé nas almas, de purificá-las, de consolá-las, de iluminá-las (ibid. p. 154).

Ele construiu sua vida sobre o Cristo. As virtudes evangélicas, especialmente a pobreza em espírito, a mansidão, a humildade, a castidade, a misericórdia, a coragem da paz foram temas constantes de sua pregação.

Seu testemunho foi tão luminoso que, em minha peregrinação ao seu santuário em Pádua, no dia 12 de setembro de 1982, eu quis apresentá-lo à Igreja, como já o havia feito o Papa Pio XII, com o título de "homem evangélico". De fato, Santo Antônio ensinou de uma maneira eminente, fazendo do Cristo e do Evangelho uma referência constante da vida quotidiana e das opções morais, particulares e públicas, sugerindo a todos que alimentem nesta fonte a coragem de um anúncio coerente e atraente da mensagem da salvação.

4. Precisamente porque estava cheio de amor pelo Cristo e pelo Evangelho, Santo Antônio "ilustrava com espírito de amor a divina sabedoria que ele tinha tirado da leitura assídua das Sagradas Escrituras" (Pio XI, Carta Apost. "Antoniana sollemnia", 1.3.1941).

As Sagrada Escritura era para ele a "terra parturiens" que faz nascer a fé, funda a moral e atrai a alma por sua doçura (cf. Sermones, Prólogo, 1,1). Recolhida numa meditação plena de amor pela Sagrada Escritura, a alma se abre - segundo sua expressão - "ad divinitatis arcanum". No curso de seu itinerário para Deus, Antônio nutriu seu espírito neste segredo insondável, encontrando aí sua sabedoria e sua doutrina, sua força apostólica e sua esperança, seu zelo infatigável e sua ardente caridade.

É da sede de Deus, do anseio por Cristo que nasce a Teologia; para Santo Antônio, ela era a irradiação de seu amor por Cristo: uma sabedoria de um valor inestimável e uma ciência de conhecimento intuitivo (cognição); um cântico novo "in aure Dei dulce resonans et animam innovans" (cf. Sermones, III, 55, e I, 225).

Santo Antônio viveu uma maneira de estudar com uma paixão que o acompanhou ao longo de toda a sua vida franciscana. O próprio São Francisco o havia escolhido para ensinar "a santa Teologia aos irmãos", recomendando-lhe, no entanto, que cuidasse nesta tarefa, de não extinguir seu espírito de oração e de devoção (cf. Fontes Franciscanas, p. 75).

Ele empregou todos os meios científicos, que então se conheciam, para aprofundar o conhecimento da verdade evangélica e tornar seu anúncio mais compreensível. O sucesso de sua pregação confirma o fato de que ele soube falar a linguagem de seus ouvintes, conseguindo transmitir de uma maneira eficaz o conteúdo da fé e fazendo com que a cultura popular de seu tempo acolhesse os valores do Evangelho.

5. Desejo de todo o coração que as celebrações do centenário de Santo Antônio permitam a toda a Igreja conhecer sempre melhor o testemunho, a mensagem, a sabedoria e o ardor missionário de um tão grande discípulo de Cristo e do Pobrezinho de Assis.

Sua pregação, seus escritos, e sobretudo a santidade de sua vida ofereçam também aos homens de nosso tempo indicações muito vivas e estimulantes no que diz respeito aos esforços necessários à nova evangelização. Hoje, como naquele tempo, nós temos necessidade de uma catequese renovada, fundada sobre a Palavra de Deus, especialmente sobre os Evangelhos, para levar o mundo cristão a compreender de novo o valor da Revelação e da fé.

A comunidade dos fiéis deve tomar consciência sempre nova da eterna atualidade do Evangelho, reconhecendo que, através da pregação, a figura do Verbo encarnado se nos apresenta de novo, como se realizou pela pregação de Santo Antônio, autêntica, atual, próxima de nossa história, rica em graça e capaz de suscitar nos corações uma intensa efusão de caridade sobrenatural.

Os escritos de Santo Antônio, tão ricos de doutrina bíblica, mas igualmente tão intensamente portadores de exortações espirituais e morais, são ainda hoje um modelo e guia para a pregação.

Entre outras coisas, eles mostram amplamente quanto, dentro da celebração litúrgica, o ensinamento homilético pode levar os fiéis a fazerem a experiência da presença atual do Cristo que ainda anuncia o Evangelho a seu povo a fim de obter sua resposta na oração e no canto (cf. Sacrosanctum Concilium, 33).

Convido, pois, todos os membros da grande Família Franciscana a esforçarem-se por difundir um são conhecimento do santo Taumaturgo, tão venerado nas comunidades cristãs do mundo inteiro. Que revivam, entre os irmãos das Ordens franciscanas, sentimentos de autêntico fervor no anúncio da verdadeira fé, bem como um ardente zelo pela pregação, pelo conhecimento e aprofundamento da Palavra de Deus, uma dedicação incessante e ardente pela nova evangelização, já às vésperas do terceiro milênio cristão.

Rogando ao Senhor, Mestre e Pastor de todas as almas, que, por intercessão de Santo Antônio, insigne pregador e Patrono dos Pobres, seja dado a todos seguir fiel e generosamente os ensinamentos do Evangelho, concedo-lhe uma especial bênção apostólica, bem como a toda a Família franciscana e a todos aqueles que nutrem devoção por este grande santo.

Vaticano, 12 de junho de 1994, no 16° ano de nosso Pontificado.

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